Jimi Hendrix: "alguns falaram que essa é a pior música que já fizemos, mas eu acho que é a melhor"

Hoje, seria no mínimo alucinante a ideia de que Jimi Hendrix fosse um músico ativo, com fãs atrás dele, uma agenda de turnês e de quem você poderia ter conseguido um autógrafo na porta do hotel ou no local dos seus shows.

No entanto, é verdade que Hendrix era um músico como qualquer outro da época. Claro, as pessoas estavam cientes do seu talento de abalar a terra e vendo o surgimento do melhor e maior guitarrista de todos os tempos, mas sua base de fãs ainda tinha fortes opiniões positivas e negativas sobre sua música, do mesmo jeito que os fãs possuem para qualquer figura popular até hoje. 

Basicamente tudo o que Hendrix lançou em vida é bajulado e com razão, mas por uma razão ou outra, uma canção sua em particular aparentemente não foi aprovado aos olhos dos seus fãs na época do seu lançamento.

Estamos falando da música "Burning of The Midnight Lamp", lançada no 3º álbum de estúdio de Jimi Hendrix, "Electric Ladyland" (1968), que foi a tentativa de Hendrix com seu rock psicodélico no estilo da canção "Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band" dos BEATLES filtrado por seu inimitável blues cósmico. Como se isso não bastasse, também é intensificado simplesmente pelas maiores vozes que já ecoaram pelo planeta Terra, a cantora Aretha Franklin fazendo os back-vocais.

Conforme está escrito no livro, "Jimi Hendrix: Electric Gypsy", pelos autores Harry Shapiro e Caesar Glebbeek, Jimi Hendrix havia dito sobre a canção "Burning of The Midnight Lamp": “Algumas pessoas dizem que essa é a pior música que já fizemos. Eu acho que é a melhor. Mesmo que a técnica não seja ótima, mesmo que o som não seja claro e mesmo que as letras não possam serem ouvidas corretamente, essa é uma canção que você frequentemente ouve e volta a escutar novamente”.

Mas como sempre, o que interessa é o que o artista em questão se sente em relação ao seu trabalho e aqui na música "Burning of The Midnight Lamp", podemos dizer que é um mundo à parte do uivo de blues super carregado do seu disco de estreia, "Are You Experienced" (1967), construído em torno de um gancho de cravo ressoante entrelaçado com sua execução em uma guitarra Fender Stratocaster infundida no pedal de distorção wah-wah. Há verdadeiras habilidades de composição em jogo aqui, e então, você chega nas letras que lidam com a depressão e a solidão de Hendrix com uma franqueza alarmante.

É impressionante que esta canção viu a luz do dia também como o lado-b anexado ao single da música "All Along The Watchtower", de tanto apreço que Hendrix teve por essa música. Sendo escolhida como um lado-b, talvez foi por isso a razão pela qual foi tão estranhamente recebida pela base de fãs de Jimi Hendrix na época. Não quer dizer que seja um trabalho diferente do que ele vinha fazendo, apenas é um trabalho profundamente e nuamente pessoal, algo que Hendrix tinha dentro de si e não queria deixar recalcado, independente se as pessoas ou os executivos da gravadora não fossem gostar.

As pessoas tendem a reagir negativamente a esse nível de abertura se não estiverem acostumadas - mais especificamente o público mainstream. O que é estranho porque, como Hendrix disse nesse mesmo livro, a música não é nada se não universal: “Há algumas coisas muito pessoais nesta canção, mas eu acho que todos podem entender o sentimento de quando você está viajando e não importa qual seja o lugar que você está indo, tipo, não há lugar que você possa chamar de lar. É o sentimento de um ser humano em uma pequena casa velha no meio de um deserto onde ele está queimando a lâmpada da meia-noite... Você não quer que as coisas sejam pessoais o tempo todo, mas elas são”.

Além de tudo, Jimi Hendrix foi alguém que sentiu tudo o que todos os outros sentem e canalizou isso para sua transcendência musical. Alguns fãs ou ouvintes podem se sentir desconfortáveis ​​com esse nível de abertura e intimidade - porque às vezes nós não queremos admitir coisas que são inerentes a nós - mas isso é apenas um sinal de que Hendrix estava alcançando essas pessoas de uma forma que elas não estavam acostumadas, mais parecendo que estavam levando um tapa na cara tendo que admitir suas verdades escondidas e espelhos quebrados. 

É um sinal de que você está criando uma arte que se baseia no relacionável, mas que de alguma forma alcança o divino e seu humanismo. Hendrix passou a vida inteira buscando isso e acreditamos firmemente que ele queria que aqueles que realmente ouvissem e sentissem sua música e mensagem fizessem exatamente o mesmo.

"Burning of The Midnight Lamp"