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Alice in Chains: "as músicas do lado-b do vinil de 'Dirt' estão naquela sequência porque contam uma história"

  • by Brunelson
  • há 12 minutos
  • 4 min de leitura
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Entre os guardiões da cultura punk rock e do rock alternativo em Seattle, o ALICE IN CHAINS não conquistou imediatamente a mesma credibilidade de nomes como NIRVANA e PEARL JAM ao público mainstream quando o grunge explodiu no começo dos anos 90. 


Ao contrário desses futuros companheiros da comunidade grunge, a maioria dos integrantes do ALICE IN CHAINS tinha suas raízes no heavy metal, com suas músicas pesadas, lentas e arrastadas sendo mostradas ao mundo.


E conforme a banda foi ficando conhecida com o surgimento do grunge, até mesmo os mais céticos foram forçados a reconhecer que Jerry Cantrell (guitarrista e compositor desde sempre) e Layne Staley (vocalista original) estavam compondo músicas muito fortes no ALICE IN CHAINS — tanto sonoramente quanto liricamente falando. 


Até porque os materiais mais obscuros do som do ALICE IN CHAINS não foram inventados para seguir nenhuma tendência.


Durante as sessões de gravação do seu 3º trabalho de estúdio, o clássico e multiplatinado álbum "Dirt" (1992), Staley estava em meio ao seu vício em heroína, enquanto o baixista Mike Starr e o baterista Sean Kinney lutavam contra o alcoolismo - e Cantrell com seus próprios vícios também. Ao mesmo tempo, bem em frente ao estúdio onde o ALICE IN CHAINS estava gravando esse disco, houve saques e tumultos desenfreados nas lojas e centros comerciais, após o veredicto do julgamento de Rodney King, que absolveu 04 policiais de Los Angeles que o espancaram quase até a morte por ele ser negro (isso que foi filmado e mesmo assim não deu em nada essa pouca vergonha que o ser humano ainda é capaz de fazer). 


Era uma época sombria e feia, junto com a espiral louca em todos os sentidos que foi o grunge, com o ALICE IN CHAINS sendo uma das bandas que também refletia essa vibração.


Então, quando Cantrell disse que as canções lançadas no álbum "Dirt" exigiu que ele cavasse fundo e encontrasse o som mais pesado com assuntos desagradáveis que conseguisse achar, era a mais pura verdade. Esse é um disco que ficou marcado na história do rock com alguns dos riffs mais devastadores dos anos 90 e praticamente sinônimo do que foi aquela época, com tantas músicas de sucesso que somente esse álbum produziu, que a lista fica extensa (praticamente a metade do disco): "Them Bones", "Dam That River", "Down in a Hole", "Rooster", "Would" e "Angry Chair". 


E em termos de gerar polêmica, foram os hinos sobre heroína não tão sutis que também atraíram muita atenção na época quando o álbum "Dirt" foi lançado, que seriam as canções "Junkhead", "God Smack" e "Sickman" — essa última que Cantrell destacou como um desafio direto ao seu colega de banda, Layne Staley.


"Layne veio até mim um dia e me disse para escrever a música mais doentia que eu pudesse. A coisa mais doentia, mais sombria, mais fodida e mais pesada que eu pudesse escrever, e foi isso o que eu fiz", explicou Cantrell no encarte da coletânea do ALICE IN CHAINS, "Music Bank", sobre a canção "Sickman". "Eu escrevi a música 'Sickman', mostrei a ele, e Layne escreveu as letras".


Até hoje, as canções que falam sobre heroína no disco "Dirt" são difíceis de ouvir, o que não é ajudado pelo conhecimento do destino final de Layne Staley, já que ele morreu de overdose em 2002 e sempre travou sua própria batalha contra as drogas durante toda sua vida. As palavras que ele colocou na canção "Sickman" a tornam particularmente deprimente, como por exemplo: "Posso sentir o volante, mas não consigo dirigir / Quando meus pensamentos se tornam meu maior medo / Qual a diferença, eu morrerei / Nesse meu mundo doente / Que porra eu sou / Leproso por dentro".


Staley diria mais tarde em entrevista que lamentava como alguns fãs reagiram às suas composições confessionais, interpretando de alguma forma músicas como "Sickman" como uma glorificação do uso de drogas.


Cantrell também defendeu as canções do álbum "Dirt" quando foi entrevistado pela revista Rip em 1993: "Acho que a música 'Sickman' não é tão ruim assim. Achei que a maior parte do problema viria das canções 'Junkhead' e 'God Smack'. Sabe, essas músicas são colocadas em sequência no lado-b do nosso vinil. As canções de 'Junkhead' até 'Angry Chair' estão todas em sequência por um motivo: porque contam uma história. Começa com uma atitude ingênua e juvenil na música 'Junkhead', tipo: 'Drogas são ótimas, sexo é ótimo, rock'n' roll, yeah!'. Então, à medida que avança, há um pouco de amadurecimento e uma pequena compreensão do que se trata, e o personagem da história reconhece que não é realmente sobre isso do que se trata".


Cantrell concluiu: “Boa parte disso é uma história e é para ser assim. É meio avassalador e desagradável às vezes, talvez perturbador, mas é por isso que todas essas músicas estão juntas no lado-b do disco. Mesmo que seja perturbador, não é algo com que ninguém mais precise se preocupar ou a maneira como alguém precisa viver a vida”.


E para arrematar, só faltou Cantrell dizer nessa entrevista (em outra entrevista ele já confirmou essa informação) que a última música do disco "Dirt", a clássica "Would", fala sobre o falecido vocalista do MOTHER LOVE BONE, Andy Wood, que tristemente também foi levado pelas drogas após uma overdose de heroína em 1990. Ou seja, seria o desfecho final desse álbum "conceitual" do ALICE IN CHAINS.


Confira o lado-b do disco "Dirt" na íntegra logo abaixo:


"Junkhead"


"Dirt"


"God Smack"


"Iron Gland"


"Hate to Feel"


"Angry Chair"


"Would"


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