Neil Young: a música que fala sobre seu carro funerário
by Brunelson
30 de out.
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Atualizado: 31 de out.
"Long May You Run" é uma faixa-título do álbum de Neil Young de 1976 gravado junto com Stephen Stills. Esse disco foi lançado entre o 7º e o 8º álbum de estúdio de Young, e a música fala sobre comemorar um momento formativo na vida do músico, ao mesmo tempo em que presta homenagem ao veículo (carro) que permitiu que isso acontecesse.
À 1ª vista, soa como uma balada terna para um amigo ou talvez uma amante há muito perdido. No primeiro verso, Young canta: “Nós passamos por algumas coisas juntos / Com baús de memórias ainda por vir / Encontramos coisas para fazer em tempo tempestuoso / Longa corrida”. Essa referência a um “baú” cheio de memórias, sugere que a afeição de Young não é necessariamente por um companheiro humano.
A canção, "Long May You Run", escrita depois que Crosby, Stills, Nash & Young se separaram, é na verdade uma homenagem ao amado carro funerário Pontiac de Neil Young, chamado Mort. Young e Stephen Stills se conheceram em Los Angeles no início dos anos 60, primeiro colaborando juntos na banda BUFFALO SPRINGFIELD, antes de se juntarem a Crosby, Stills, Nash & Young. A música começou como um esforço conjunto entre Young e Stills.
Embora possa parecer incomum cantar uma balada tão terna sobre algo feito de aço, borracha e se referindo a um carro funerário, na verdade faz muito sentido ao seu autor — Young foi dirigindo o carro Mort de Toronto, Canadá, até Los Angeles no início dos anos 60, uma jornada que levou ao encontro de Stills e à formação do BUFFALO SPRINGFIELD.
Mas a canção "Long May You Run" é mais do que um tributo - é um elogio. Na época, Young estava no Canadá, levando Mort até a cidade de Sudbury, quando o carro começou a apresentar alguns ruídos estranhos. Depois de soltar seu último suspiro cheio de fumaça preta, Mort "morreu" na cidade de Blind River. Era tarde da noite e não havia ninguém por perto. Ou seja, Mort estava perdido "sem pai nem mãe".
“Bem, foi em Blind River, em 1962, quando te vi vivo pela última vez”, Young canta tristemente na música. A potente dor de Young rapidamente vai além do sentimentalismo, tornando-se quase cômica em sua sobriedade.
Na superfície, esta canção é sobre um carro — seu amado Mort, o Pontiac Buick Roadmaster 1948 — mas como todas as grandes músicas de Neil Young, não é apenas sobre uma coisa específica. É sobre o tempo, sobre a passagem de eras, sobre segurar memórias enquanto elas escapam por entre seus dedos como poeira no espelho retrovisor. O ritmo tranquilo da música, os acordes da gaita e o suave dedilhado acústico, evocam uma espécie de melancolia iluminada pelo sol, como assistir ao fim do verão chegando.
A voz de Young, sempre em algum lugar entre um sussurro e um lamento, carrega uma ternura aqui que nos atinge profundamente. Quando ele canta: “Nós passamos por algumas coisas juntos / Com baús de memórias ainda por vir”, parece que ele está cantando não apenas para um carro, mas para um tempo, um lugar, talvez até mesmo uma pessoa que ele não consegue trazer de volta.
A sua balada é intencionalmente irônica e toda a colaboração entre Stills e Young nunca foi levada muito a sério — muito menos pelos próprios músicos. Em 1976, Stephen Stills e Neil Young formariam a Stills Young Band e lançaram o álbum "Long May You Run". Stills contribuiu com 04 músicas, enquanto Young adicionou 05, incluindo essa faixa-título.
No entanto, o projeto desmoronou apenas 09 dias após a turnê de apoio ao disco, depois que os dois tiveram uma briga. Young abandonou a turnê abruptamente, deixando Stills com nada além de um telegrama que dizia: “Caro Stephen, engraçado como algumas coisas que começam espontaneamente terminam assim. Coma um pêssego. Ass: Neil”.
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