Neil Young: a música que levou 35 anos para ser lançada
by Brunelson
14 de set.
6 min de leitura
Atualizado: 22 de set.
Todos nós já ouvimos a história até agora. Bob Dylan e Leonard Cohen estão sentados juntos em um café parisiense. Dylan diz a Cohen: "Eu amo essa música, 'Hallelujah'. Quanto tempo você levou para escrevê-la?" Cohen responde: "Cerca de 07 anos. E 'Just Like a Woman' é a minha canção preferida de você, quanto tempo levou para escrevê-la?" Dylan toma um gole de café e responde: "Talvez uns 15 minutos".
É um momento instantâneo absolutamente perfeito de uma das grandes alegrias da música. Essa genialidade pode vir de anos de trabalho meticuloso em cada nota e sílaba individual ou de apenas brincar com alguns acordes em poucos minutos.
A década de 90 viu um Neil Young completamente rejuvenescido como um dos únicos remanescentes do rock clássico que o movimento grunge conseguia suportar, e essa energia permanece onde seus contemporâneos afundaram no circuito da nostalgia.
E acelerando até seu álbum de 2010, "Le Noise" (32º disco), o mesmo pode ser um exemplo perfeito disso. É um álbum emocionante, despojado e intransigente, construído em torno de acordes de guitarra distorcidos e rodopiantes, através do vocal inconfundível e imutável de Young.
Aninhado perto do final do disco está a canção "Hitchhiker", um dos destaques genuínos desse álbum. Uma meditação fascinante e quase desconfortavelmente honesta sobre a história de Young com as drogas, que dispensa qualquer coisa tão grosseira como uma metáfora para passar sua mensagem.
Com versos do tipo: “Você não me viu em Toronto / Quando eu experimentei um pouco de haxixe pela 1ª vez / Fumei com uma caneta e faria de novo se eu tivesse algum dinheiro”. Somos, então, presenteados com um assento na primeira fila enquanto Young nos leva através de suas aventuras com anfetaminas, valium e cocaína.
Dylan pode ter se gabado de escrever obras-primas em 15 minutos, enquanto Cohen pode ter suado por levar 07 anos. No entanto, a música "Hitchhiker" levou nada menos que 35 anos para se concretizar, com seu rascunho original sendo concebido em 1975. Na verdade, no livro biográfico de Young, "Special Deluxe", ele relembra sobre tocá-la para o próprio Dylan, que não ficou totalmente impressionado com a canção.
“Quando ele ouviu a música ‘Hitchhiker’, Dylan me disse: ‘Isso é honesto’, o que me faz rir toda vez que penso nisso porque o humor de Bob Dylan é tão irônico. Eu acho que era a maneira dele me dizer gentilmente que a canção não era muito inventiva, apenas que eu estava seguindo uma história e não inventando nada novo”. Para ser justo com Young, ele a tocou para Dylan junto com a música "Cortez The Killer", então, praticamente qualquer coisa nova que ele tocasse na hora teria dificuldade em comparação à clássica canção em que se tornaria "Cortez The Killer", sendo assim, a música "Hitchhiker" ficaria de fora do álbum "Zuma" (7º disco, 1975).
Desde então, com 35 anos de vida lhe ensinando alguma coisa, Young desenterraria esta canção para ser incluída no álbum "Le Noise", adicionando um verso final que muda toda a história, prestando homenagem aos seus primeiros anos na música, amigos e inimigos que vieram e se foram, e depois à sua família que ele se sente tão sortudo por ter.
Com isso, a música foi finalizada. Parecia sabedoria duramente conquistada e cautela aprendida - antes desaprendida - levando a um dos melhores momentos de Neil Young em uma carreira cheio deles.
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