Radiohead: a música que o vocalista acha difícil de cantar
by Brunelson
26 de dez. de 2024
Os pontos fortes de qualquer grande cantor tendem a passar despercebidos para a maioria dos fãs de rock.
E enquanto somos acostumados a escutar aquele mesmo timbre vocal por décadas ou se apegar a gravação original de estúdio achando a coisa mais normal do mundo, muitas vezes passa despercebido a dificuldade técnica que algum cantor pôde ter enfrentado quando foi gravar aquela tal música no estúdio ou querendo executa-la em uma apresentação ao vivo.
Para o vocalista do RADIOHEAD, Thom Yorke, isto também se aplica e uma vez em entrevista ele revelou que a canção "Bloom" (8º disco, "The King of Limbs", 2011) pode ser um dos seus melhores momentos atrás do microfone, mesmo a considerando muito difícil de cantar.
Desde o primeiro dia, Yorke sempre foi um vocalista que consegue como poucos soar como se estivesse alcançando o mais fundo da alma do ouvinte, somente para espremer um pouco da emoção que talvez você nem saiba que tem dentro de você.
Mas essas acrobacias vocais não eram o foco principal do álbum mais subestimado do grupo, "The King of Limbs". Grande parte desse disco foca em batidas falhas e se baseia em loops em vez de desenvolvê-las como fizeram no álbum anterior, "In Rainbows" (7º disco, 2007), com a canção "Bloom" sendo uma indicação melhor do que esse álbum estava buscando.
Conforme o resto da música se desenrola, Yorke parece estar preso em seu vocal, quase como se sua voz estivesse ricocheteando em todos os outros instrumentos. Pode não ser o álbum ideal para apresentar a alguém que nunca escutou RADIOHEAD na vida, mas Yorke sabia que era exatamente assim que ele queria que sua voz soasse ao gravar esse disco.
Sendo entrevistado pela revista Rolling Stone, Yorke disse que achava que havia alcançado um nível diferente com sua voz nessa música: “Eu realmente gosto da canção ‘Bloom’. Na superfície, é bem simples, mas na verdade é uma verdadeira música sacana, o que é legal sobre ela. Você meio que tem que cantar dessa forma que seja muito aberta, mas quando você faz isso ao vivo, é muito mais difícil porque há muita coisa técnica acontecendo com todos os instrumentos e você tem que esquecer totalmente esse caos sonoro e entrar com essa voz realmente aberta”.
Olhando para a mecânica do que ele está fazendo, quase parece que Yorke precisa de capacidade pulmonar sobre-humana para atingir as alturas nessa música. Como ele também está tocando guitarra quase em todas as canções da banda, ter que sustentar uma nota por tanto tempo enquanto também mantém o controle do tempo rítmico, é o equivalente musical de tentar andar de monociclo e fazer malabarismos com dois bastões em chamas ao mesmo tempo.
Mas esse é o RADIOHEAD sempre impondo um novo desafio a cada álbum lançado e fazendo diferente do anterior. O ethos central do grupo é criar algo que ninguém tenha tentado antes e se isto significa ter que assumir algo difícil, eles simplesmente vão em frente só pra ver o que acontece.
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