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Pearl Jam: o contexto que envolve o videoclipe da música "Jeremy"
- by Brunelson
- 31 de mar.
- 7 min de leitura
Atualizado: 1 de abr.

Para muitos puristas do grunge, a MTV parecia o inimigo comum de qualquer banda que quisesse se levar a sério.
E no que diz respeito a Seattle, era tudo sobre música, então, por que se preocupar em ter que passar uma maquiagem e deixar tudo glamoroso quando uma simples camisa de flanela e calça jeans era tudo do que você precisava?
Mas a MTV também tinha seu lado artístico e quando o PEARL JAM tentou explorar isso para o videoclipe da música "Jeremy" (1º disco, "Ten", 1991), o canal de música os bagunçou tanto que eles se recusaram a fazer clipes até 1998.
Por outro lado, não é como se os vídeos do PEARL JAM fossem peças de vanguarda do cinema quando eles iniciaram a carreira. Desde o início, a banda se preocupava mais em melhor representar como eles são como uma banda ao vivo, sem firulas e camuflagens em seu som. Os videoclipes das outras canções que também foram lançadas no álbum "Ten" - "Even Flow" e "Alive" - é apenas uma performance ao vivo do grupo com edições de imagem de um mesmo show, tanto que essas versões apresentadas não são as mesmas que foram lançadas no disco.
E para fechar o quarteto de clipes que o PEARL JAM lançou para promover o disco "Ten", veio o da música "Oceans", mostrando a banda em uma praia do Havaí com cenas do vocalista Eddie Vedder surfando, e outras cenas cinematográficas do mar, ondas, rios e paisagens. Nada produzido performaticamente.
Mas antes de gravarem o clipe da canção "Oceans", tinha chegado a hora em que eles iriam se dedicar totalmente a um vídeo produzido em estúdio pela 1ª vez. E a música escolhida não poderia ser outra: "Jeremy".
De todas as clássicas canções que o álbum "Ten" nos oferece, parecendo mais uma coletânea se você o escutar do início ao fim, esta foi a música mais próxima de uma reportagem/história real que eles tinham feito, contando a história de um garoto da escola que atirou em si mesmo na frente dos seus colegas de sala de aula. Sendo assim, assuntos como esse não podem ser encarados levianamente e junto com o diretor Mark Pellington, o PEARL JAM criou o tipo de obra-prima cinematográfica arrancada de um pesadelo - coisa rara ou extinta em tempos atuais e há muito tempo já.
Cada cena do videoclipe possui um significado intencional quando se trata de pintar a imagem que está rodando dentro da mente da criança Jeremy. De queimar parafernálias escolares como se fosse uma efígie a eventualmente apontar a arma para si mesmo, o vídeo não é para os fracos de coração, mas ainda é provavelmente a melhor maneira de contar essa história real.
Pelo menos, era isso que o PEARL JAM queria que você visse. Porque assim que os chefões da MTV viram um vídeo com um ator mirim enfiando uma arma na boca, eles perderam a cabeça e insistiram que o grupo cancelasse tudo. E como esse vídeo foi gravado e lançado em 1992, podemos dizer que o PEARL JAM já estava querendo flertar com o "não" - ou pelo menos essa palavra já estava no pré-consciente da banda - portanto, eles recusaram o pedido dos executivos da MTV e a mesma lançou o clipe em uma versão editada sem a cena final crucial.
As mães e pais preocupados poderiam ter ficado felizes, mas quando o clipe começou a passar na MTV, o mundo percebeu que esta cena final era apenas a ponta do iceberg, onde vimos uma banda de rock - isso mesmo, banda de rock - mostrando uma pletora de questionamentos, sentimentos e indagações, sobre pontos da vida dos seres humanos que não eram abertos e discutidos em público até aquela época - mais um sintoma de uma verdadeira obra de arte, aproveitando a ferramenta para passar uma mensagem em 1º lugar.
Toda a intenção da música e do videoclipe é de conscientizar a todos sobre a saúde mental, depressão, visão de mundo, autorreflexão, espelhos quebrados, falta de afeto e atenção dos pais e bullying dentro do sistema escolar.
E falando mais ainda sobre a atitude do PEARL JAM, já que as massas tinham tanto problema com o vídeo, Vedder estava convencido de que tinha coisas melhores para fazer do que se preocupar se os pais do mundo inteiro gostavam ou não do que ele fazia. Se ele conseguisse passar sua mensagem em um vídeo artístico para a MTV, então, ele teria tanto controle sobre sua música quanto pudesse.
Depois do álbum "Ten", o PEARL JAM só viria a fazer um videoclipe em 1998 da música "Do The Evolution" (5º disco, "Yield"). E novamente, sem se preocupar com a aparição dos membros da banda, o mesmo é inteiramente apresentado em formato de desenho animado, onde mais uma vez as imagens falam por si mesmo e uma grande mensagem - que mais parece um tapa na cara - é apresentada ao mundo.
A música e clipe de "Jeremy" pode ser um ótimo exemplo de entidades corporativas e comerciais querendo enfiar o dedo em lugares onde não pertencem a eles, deturpando e distorcendo a verdadeira mensagem que uma cultura - produto, não - queira mostrar de uma forma mais séria e crua de como o sistema escolar e a decadência dos (inter)relacionamentos pai/mãe aos seus filhos, afetou aqueles que lutavam com suas vidas cotidianas e levavam a culpa por tudo.
Seguem algumas estatísticas sobre os prêmios e rankings que o single e videoclipe da canção "Jeremy" angariou em sua vivência:
Escolhido pelo canal VH1 como a 11ª melhor música dos anos 90 e a 32ª melhor música de 25 anos atrás a partir do seu lançamento em 1991.
Escolhido pela revista Rolling Stone como o 36º melhor videoclipe de todos os tempos e a 48º melhor música desde os BEATLES.
Escolhido pela MTV como o 19º melhor videoclipe de todos os tempos e ganhador de 04 prêmios do MTV Video Music Awards, incluindo Melhor Vídeo do Ano.
Escolhido pela revista britânica Kerrang como o 85º melhor single de todos os tempos.
Ficou em 5º lugar no ranking da Billboard, Top 10 na Irlanda, Top 13 na Polônia e Top 15 no Reino Unido.
Ganhou Disco de Ouro nos EUA e Brasil e Disco de Prata no Reino Unido.
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