Peter Buck: guitarrista do R.E.M. sobre a musicalidade subestimada do punk rock
Quando o punk rock explodiu no final da década de 70, rapidamente se tornou conhecido pela sua moda revolucionária, postura política firme e aquela atitude desafiadora "do it yourself".
No entanto, uma coisa pela qual a cena raramente é notada foi pela sua proficiência musical. Para ser justo, a imagem predominante do punk rock era o espírito de “aqui estão 03 acordes, agora comece uma banda”, o que levou a uma imagem de que poucos artistas punk realmente sabiam tocar seus instrumentos de forma técnica e teórica.
E nos anos 80, o punk rock iria ser colocado lado a lado às bandas do glam metal e mesmo não sendo reverenciado por sua opulência musical - assim como os holofotes do mainstream estavam voltados ao glam metal - a influência do punk rock nas cenas posteriores foi muito importante e decisiva para a forma como o rock é tocado até hoje. Gerando uma variedade de movimentos díspares, do hardcore, rock alternativo e grunge, o retorno do investimento punk foi incomparável.
E uma das bandas que muito deve aos sons revolucionários do punk rock foi o R.E.M. Claro, o grupo tinha uma tendência a ser mais suave, maduro e filosófico do que a agressividade do punk rock, mas a linhagem certamente estava lá se você resolver colocar um microscópio focando as linhas de baixo em suas canções.
Assim como o guitarrista do R.E.M, Peter Buck, que também sempre apreciou o gênio musical do punk rock, para ele os influenciadores daquelas bandas punk do final dos anos 70 veio do estilo de cantar e presença de palco de Iggy Pop sendo vocalista do THE STOOGES.
Até mesmo para o R.E.M, onde Buck admitiu a influência do THE STOOGES citando a música "No Fun" de 1969 (1º disco, "The Stooges"), quando o R.E.M. foi gravar seu 9º álbum de estúdio em 1994, "Monster".
Como Buck disse ao site The Line of Best Fit em 2019: "Eu ouço a canção 'No Fun' do THE STOOGES e acho que uma música nossa como 'I Took Your Name' é uma espécie de descendente direto dela. Não é praticamente os mesmos acordes, mas apenas aquele tipo de progressão de acordes monolítica de duas notas que é grande e barulhenta, o que eu sempre adorei isso neles”.
E é verdade... Muito antes do punk rock, o THE STOOGES foi pioneiro em um estilo de músicas monolíticas e guitarras estridentes que desencadeariam o boom do punk rock 01 década depois, onde muita daquelas bandas punk do final dos anos 70 citam o THE STOOGES como uma de suas influências.
Buck continuou: “Por mais que eu ame o álbum 'Raw Power' (3º disco do THE STOOGES, 1973), esse material é difícil de tocar, assim como é difícil tocar a canção ‘No Fun’ direito também, mas é fácil acertar os acordes. Nunca ouvi ninguém cantar uma música do THE STOOGES tão bem quanto o THE STOOGES”.
O guitarrista do R.E.M. finalizou, citando os criadores do punk rock, os RAMONES: "Mais do que o THE STOOGES, os RAMONES eram vistos como músicos pouco qualificados e quase qualquer um consegue descobrir os acordes de uma música dos RAMONES, mas novamente, nunca ouvi ninguém tocar as músicas dos RAMONES tão bem quanto os RAMONES".
Essa conclusão em benefício ao punk rock, onde em alguns cantos é menosprezado e não dão o valor devido a sua simplicidade, funciona como um encapsulamento perfeito do movimento punk rock como um todo, ou seja, nunca se tratou de ser capaz de tocar escalas, ter um alcance de 03 oitavas em seu vocal ou a capacidade de criar solos de guitarra incrivelmente virtuosos. Estava tudo na atitude, sentimento e necessidade, assim como de qualquer sujeito de querer botar pra fora suas coisas e servir disso uma terapia para si.
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