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  • by Brunelson

Dave Abbruzzese: "naquela época, chegávamos no estúdio consolidando ideias e não com as músicas prontas" - Parte 1/2


Dave Abbruzzese - ex-baterista do PEARL JAM da formação clássica, que adentrou ao grupo para fazer a turnê do seu álbum de estreia, "Ten" (1991), e que gravou a bateria nos álbuns "Versus" (2º disco, 1993) e "Vitalogy" (3º disco, 1994) - foi entrevistado pelo site Songfacts e dentre vários assuntos, falou sobre a dinâmica da banda entre seus membros durante essa época e escolheu os melhores bateristas da era grunge.


Matt Cameron é o baterista mais longevo que atuou no PEARL JAM em toda a sua história e mesmo sendo também o baterista do SOUNDGARDEN, para muitos o melhor baterista que passou pelo grupo foi Dave Abbruzzese - de 05 bateristas que passaram pelo PEARL JAM. De 1991 a 1994, Abbruzzese cuidou muito bem da bateria nos shows e no estúdio, se juntando ao grupo em agosto de 1991, poucos dias antes do álbum de estreia ser lançado - ele já era o 3º a passar pelo kit de bateria.


Abbruzzese foi indicado pelo baterista anterior do PEARL JAM, Matt Chamberlain, que saiu para aceitar o convite de ser baterista da banda de apoio do Saturday Night Live, lendário programa de auditório da TV americana.


“Esse cara tem essa coisa de John Bonham (baterista do LED ZEPPELIN), mas também com uma sensação ótima”, deixou escrito Chamberlain no livro "PJ20" do PEARL JAM (2011). 


Quando foi convidado pelo PEARL JAM, Abbruzzese rapidamente se mudou para Seattle, fez uma tatuagem do bonequinho símbolo da banda, o Stickman, e se juntou à viagem selvagem de turnês enquanto o grupo estava subindo a alturas inimagináveis - o disco "Nevermind" do NIRVANA ainda seria lançado em 01 mês. Mas chegando no 2º semestre de 1994, Abbruzzese foi demitido do grupo. 


"Qualquer um que ouça esses discos percebe que ele é um grande baterista", disse Stone Gossard no livro "PJ20", guitarrista do PEARL JAM. "O problema não era sua forma de tocar bateria. O problema era que ele precisava se encaixar em um grupo de 05 personalidades fortes e muito diferentes".



PEARL JAM seguiu em frente com o baterista Jack Irons (1º baterista do RED HOT CHILI PEPPERS) que ficou até 1998. Desde então, Cameron assumiu e está na banda até hoje.


Confira a 1ª de duas partes dessa entrevista, com Abbruzzese falando também sobre tocar bateria na era grunge e as histórias por trás de vários clássicos do PEARL JAM que ele co-escreveu.



Jornalista: Qual é a melhor bateria em uma música da era grunge?


Dave Abbruzzese: Eu teria que ser tendencioso e dizer que foi algo meu, porque foi nisso que prestei mais atenção, mas Dan Peters do MUDHONEY é fantástico, Sean Kinney do ALICE IN CHAINS sempre mandou muito bem e Dave Grohl do NIRVANA, tipo, sua bateria era multidimensional para aquela banda, mas meio unidimensional no grande esquema de baterias, ou seja, ele era uma potência.


Abbruzzese: Eu vejo os bateristas da era grunge como os heróis anônimos desse gênero, porque no hair metal que estava acontecendo antes nos anos 80, eram as guitarras que impulsionavam as bandas, então, quando o grunge apareceu, voltou ao bom e velho rock n' roll onde a bateria conduzia a banda. Grupos como o THE WHO e LED ZEPPELIN eram considerados apenas rock e pra mim a bateria impulsionava essas bandas. Esse empurrão, puxão e a tensão criada pelas partes da bateria, é o que definiu a música e sustentou todos aqueles riffs.


Abbruzzese: E então, quando chegamos no METALLICA eram coisas de guitarra. E depois com as bandas hair metal surgindo, continuou sendo coisas focadas na guitarra. No grunge ou na música alternativa, Jimmy Chamberlin do SMASHING PUMPKINS, Dave Grohl, eu, Matt Cameron e até mesmo Jack Irons, tipo, a maneira como Irons tocava bateria na banda ELEVEN, quero dizer que eles realmente impulsionavam a música. Mesmo ao vivo nos shows, a bateria foi vital para aquele som, então, é difícil escolher uma, mas eu sei quanto trabalho coloco em várias músicas, então, estes são realmente os únicos em que julgo a bateria (risos).



Jornalista: E quanto ao PEARL JAM, de qual canção você mais se orgulha do ponto de vista da bateria?


Abbruzzese: Bem, todas elas prestaram a mesma atenção aos detalhes. Algumas delas já vinham escritas e com uma linha meio pronta, como "Not For You", "Tremor Christ" e "Spin The Black Circle". Quero dizer, essas músicas vinham como uma ideia e a bateria foi gravada enquanto eu criava as minhas partes e linhas naquele mesmo instante, mas teve canções como “Immortality” nas quais eu pensei muito no arranjo da parte da bateria (todas lançadas no disco "Vitalogy").


Abbruzzese: Mas para o álbum "Versus", meu fator decisivo em como abordar uma música foi a maneira como Stone Gossard se movia quando apresentava o riff, observando a maneira como ele literalmente se mexia. Se a cabeça dele andasse de um lado para o outro, eu queria criar um sulco que apoiasse esse movimento. Se eu começasse a tocar e o movimento do corpo dele mudasse, então, eu adotaria uma abordagem diferente até chegar a um ritmo que o mantivesse se movendo da mesma maneira que ele se movia antes de eu ter começado a tocar. Eu levava as fitas cassete dos ensaios para casa e apenas ouvia e sentia algo que tornaria minha parte importante na música.


Abbruzzese: “Immortality” é uma canção do disco "Vitalogy" e é aquela que quando a ouço, fico muito orgulhoso do que fiz por causa de todas as sutilezas que ficaram gravadas. Pra mim, uma boa parte de bateria é como uma boa trilha sonora de um filme. Eu não queria fazer coisas que se destacassem e parecessem chamativas ou desnecessárias, sendo que nessa música há tantas partes intrincadas em cada linha e fico muito orgulhoso que elas não saltaram para fora, elas ficam exatamente onde deveriam e apoiando a música.



“Immortality”


Jornalista: Falando em sutilezas, qual sutileza diferente você gosta em uma música de outro baterista?


Abbruzzese: Jimmy Chamberlin faz muitas coisas sutis, mas a maneira como elas foram apresentadas na música do SMASHING PUMPKINS são realmente diretas, então, não foram totalmente em formas sutis, foram intrincadas também... Eu teria que dizer Dave Grohl na música “All Apologies”. Há algumas coisas que ele fez naquela música com seu pé no chimbal, brilhos e algumas notas fantasmas. Esses discos foram mixados com muita maestria, sabe? Se você estiver ouvindo-os, poderá ouvir as sutilezas, mas no geral, quando você aumenta o volume, elas simplesmente se misturam ao momento em vez de se destacarem, por isso que soam trincadas também.


Abbruzzese: Essa é uma das coisas que faz de Dave Grohl um baterista com um enorme legado. Ele foi capaz de realmente conduzir uma música e ao mesmo tempo bater na porra de sua bateria, apenas incluindo aquelas suas pequenas arrastadas sutis. A maneira como ele move o chimbal na música "All Apologies" enquanto bate forte na caixa, tipo, coisas assim você realmente não ouve mais e é possível sentir isso quando estamos escutando esta canção. Eu acho uma coisa legal e apenas adiciona um elemento quase de música disco ao aspecto punk rock.


Abbruzzese: Eu sou um grande fã do baterista Tony Thompson da banda CHIC, e Tony tocou com Robert Palmer no THE POWER STATION e fez ótimas coisas no material de David Bowie e tudo mais. Ele simplesmente tinha isso, uma voz na bateria com uma batida constante, sendo que Dave Grohl fazia muito disso também nos discos do NIRVANA e realmente gosto disso. Havia um funk rock em seu punk rock que eu apreciei muito. Isso me lembrou de Greg Errico, o baterista do SLY & THE FAMILY STONE. A tensão que Dave criou com o chimbal e o resto de sua bateria, quero dizer, ele era o baterista certo para aquela banda. Com Krist Novoselic (baixista) recuando a ele e Kurt Cobain sempre no topo da batida, Dave foi capaz de apoiar ambos e defini-los ao mesmo tempo.



Jornalista: O que você lembra sobre a composição da música “Go” do PEARL JAM? Você escreveu o riff da guitarra desta canção, certo?


Abbruzzese: Sim. Isso foi no apartamento da cantora Kristen Barry. Eu tinha acabado de chegar em Seattle. Antes, eu estava morando em um quarto individual no 5º andar em um prédio de 05 andares, o que era um lixo. E então, Kristen saiu em turnê com a sua banda. A casa de Kristen era, eu acho, a mesma casa da atriz Bridget Fonda no filme Singles, sabe? Eles usaram o mesmo apartamento dela para as filmagens, mas Kristen Barry tinha acabado de sair em turnê, então, ela teve a gentileza de me deixar ficar em seu apartamento para que eu pudesse sair daquele prédio de 05 andares e que não tinha elevador. Ela tinha um violão e uma das primeiras noites dormindo lá eu peguei ele para tocar e esse riff começou daí... Foi quando escrevi a música “Angel” também (ficou de fora do disco "Versus").


Abbruzzese: Alguns meses depois, eu tinha o meu próprio violão e estava brincando com afinações alternativas porque essa era a grande atração de Stone na época, sabe? Eu nunca tinha tocado assim antes e comecei a brincar um pouco e dei continuidade àquele riff, mas de uma forma mais lenta do que ficou gravada mais tarde no álbum.


Abbruzzese: Eu tinha gostado, pois era uma coisinha furtiva. Depois, fui ao nosso local de ensaio, o porão da Galleria Potato Head com um espaço muito pequeno de 02 metros e meio. Era onde ensaiávamos e quando cheguei lá um dia, Stone tinha acabado de comprar novos amplificadores. Eles estavam todos conectados e ligados num volume muito alto. Naquele momento não tinha ninguém comigo dentro da sala, peguei a guitarra dele e comecei a tocar esse riff nos amplificadores dele. Eu acho que eles eram da Peavy, quando eles lançaram um novo cabeçote e um novo amplificador, tipo, estava um som crocante pra c...


Abbruzzese: Comecei a tocar aquele riff de uma forma mais rápida do que tinha criado e Stone entrou na sala e falou: “Hey, o que é isso?” Eu mostrei pra ele, começamos a mexer nas coisas, Jeff Ament (baixista) e Mike McCready (guitarrista) entraram logo depois e começamos a tocar todos juntos.


Abbruzzese: Eu já vinha tentando apresentar esse riff algumas vezes, mas simplesmente não colava. Eu pegava um violão, começava a tocar e ninguém falava nada, então, deixava pra lá, porque assim que você receber um não verbal, nunca mais irão querer saber de outra coisa sua, mas um dia, todos começaram a mexer nesse riff juntos e de repente, nossa, sentei na bateria e pensei: “O que vou fazer com essa coisa agora?” Eu comecei a tocar, foi quando Eddie Vedder entrou e começou a fazer a melodia vocal e todo mundo adorou na hora.


Abbruzzese: Mais tarde, a maneira como estávamos trabalhando para esse disco onde a música "Go" foi lançada, "Versus", nós realmente não estávamos consolidando canções naquela hora gravando no estúdio, estávamos consolidando ideias. Sabíamos que tínhamos uma ideia para uma música, mas não chegamos com elas prontas, a mantivemos soltas e todos tiveram espaço para procurar e passear por diferentes caminhos que procuravam. Quando estávamos gravando no Site Studios em Nicasio, Califórnia (zona rural), acordávamos, tomávamos café da manhã e começávamos a gravar uma música às 10hs da manhã ou algo assim. Normalmente, se Eddie já tivesse as letras prontas, o nosso produtor, Brendan O'Brien, estaria mixando aquela música no mesmo dia antes do jantar, e depois do jantar nós ouviríamos como tinha ficado a versão final. Sabe, nós apenas trabalhamos duro nesse álbum.


Abbruzzese: Foi interessante gravar o disco "Versus", porque quando começamos a rastrear as canções, elas ainda estavam tão soltas que eu realmente não tinha nenhuma peça de bateria definida para elas. Para a música "Go", o começo dela sou eu tocando e eu tinha um metrônomo comigo, mas os caras da banda não conseguiam tocar bem com um metrônomo, então, eu estava tocando o groove da bateria só para mostrar a eles onde eu estava no andamento da canção para que todos pudessem ouvi-lo. E então, depois daquela intro, iniciamos a contagem e apenas começamos juntos. A seção intermediária da canção apareceu enquanto estávamos gravando, naquele exato momento – a grande bateria no meio da música me refiro. Isso nunca existiu nos ensaios e simplesmente saiu do nada na hora em que a estávamos gravando e funcionou.


Abbruzzese: Gravar esse disco, pelo que eu li em entrevistas, foi difícil para Eddie, mas foi realmente um disco fácil de fazer onde tudo funcionou muito bem. Eu me lembro de estar animado com a música "Go" e até preenchermos toda a papelada de publicação e direitos autorais, eu nunca a tinha considerado “a minha música”. Nunca olhei para uma banda dessa forma. Eu apenas olhava para isso como se fosse uma ideia que tive e junto com a banda se transformou na música que é.


Abbruzzese: Quando Stone me disse: “Qual é a sensação de ter sua música em um disco?” Eu falei: "Nunca pensei assim. Essa não é realmente minha música, foi uma ideia que eu tive, mas nós fizemos dela uma música". E essa conversa foi o motivo pelo qual no álbum "Ten" embaixo de cada canção dizia algo como: “Vedder/Gossard” ou “Vedder/Gossard/Ament”. Sabe, tinha os nomes de todos separadamente, mas no disco "Versus" ficou o nome de todo mundo por causa dessa conversa que tivemos onde pra mim, era apenas uma ideia até a banda fazer dela uma música, então, meio que adotamos essa atitude durante todo o álbum para que todos fossem escritores do disco.



Jornalista: Quanto à letra da música "Go", é sobre a caminhonete de Eddie?


Abbruzzese: Sim. Todos nós dirigimos até Nicasio para gravar o disco "Versus", de Seattle até Marin County, e foi basicamente um lamento para a sua caminhonete: "Não avance sobre mim, não avance sobre mim agora. Nunca agi antes, não avance sobre mim agora", porque a caminhonete dele estava muito ruim no caminho até lá (risos).







"Go"








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