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Alice in Chains: resenha sobre o disco "Facelift"

by Brunelson

Alice in Chains

O álbum de estreia do ALICE IN CHAINS, "Facelift" (1990), foi o primeiro disco do grunge a entrar no mainstream. Para a banda que conseguiu esta proeza, as coisas nunca mais seriam as mesmas...


Mas para a primeira vez que o produtor desse disco, Dave Jerden, ouviu o ALICE IN CHAINS, ele pensou que estava numa bagunça sonora.


Era 1988 e Jerden, que acabara de produzir o inovador álbum de estreia do JANE'S ADDICTION, "Nothing's Shocking", tinha recebido uma fita demo da banda grunge por um amigo que trabalhava numa grande gravadora. Apesar do crescente zumbido em torno de sua cidade natal, Seattle, a música da banda estava em todo o lugar pelos clubes e bares regionais, mas nenhum produtor de ponta queria trabalhar com o grupo.


Porém, tinha uma música deles que Jerden escutou que parecia um som do futuro...


Numa entrevista concedida há um tempo atrás para o site Louder Sound, o produtor havia dito: “Eu esqueci qual era a música, mas era a coisa mais próxima do ALICE IN CHAINS que conhecemos agora com a afinação em drop D. Eu me encontrei com a banda um tempo atrás e contei a eles o que eu pensava, que as músicas deles eram uma bagunça... Eu também disse ao guitarrista Jerry Cantrell que gostava do que ele estava fazendo na época, que era como se o METALLICA tivesse acelerado os riffs de Tony Iommi (guitarrista do BLACK SABBATH) e depois os derrubado novamente em marcha lenta”.


A previsão de Dave Jerden foi no mínimo estrondosa.


Em 18 meses, ALICE IN CHAINS havia ultrapassado artistas como SOUNDGARDEN e NIRVANA para se tornar as primeiras estrelas do grunge. Com o seu álbum de estréia, "Facelift", eles se tornaram a primeira banda da cena de Seattle a vender meio milhão de discos, abrindo a porta para que todos os seguissem - e no carismático vocalista Layne Staley, eles tinham um cantor verdadeiramente icônico, torturado, tímido e finalmente condenado.


Só lembrando que o SOUNDGARDEN foi a primeira banda do grunge de Seattle a assinar com uma grande gravadora, seguido pelo MOTHER LOVE BONE e ALICE IN CHAINS na sequência.


“No álbum 'Facelift' foi onde o ALICE IN CHAINS encontrou o seu estilo”, Jerden continuou na mesma entrevista. “E na canção 'Man in The Box' foi a primeira música que introduziu o mundo ao som do grunge. Nunca foi um caso de sorte, sabe? Esse disco era para ser o que foi".


Quando Jerry Cantrell conheceu Layne Staley, o grunge mal brilhava nos olhos de Kurt Cobain. Era 1987, e os principais cachorros molhados da cena underground de Seattle eram bandas como o SOUNDGARDEN, MELVINS, SCREAMING TREES, MUDHONEY, MOTHER LOVE BONE e com saudações ao seminal grupo GREEN RIVER (citando somente alguns dos que alcançariam o mainstream no futuro).


Staley e Cantrell já possuíam um passado musical em Seattle com bandas de garagem, mas cada um com o seu grupo. Eles tinham muito em comum, como antecedentes familiares problemáticos. A mãe de Cantrell morreu de câncer quando ele era jovem e ele não era próximo ao seu pai (veterano da guerra do Vietnã). Já Staley, foi expulso de casa pela sua mãe.


Os dois pilares do ALICE IN CHAINS se uniram como uma família, para mergulharem num mundo de drogas, diversão e música.


"Nós nos conhecemos numa festa", disse Cantrell ao autor Mark Yarm, no livro Everybody Loves This Town. "Eu não tinha um lugar para morar, então, Staley me convidou para morar num lugar onde ele morava e que se chamava Music Bank. Ele era um cara legal e sua voz era incrível... Eu sabia que queria estar numa banda com ele logo de cara".


A dupla tropeçou em várias combinações de nomes de bandas antes de escolher ALICE IN CHAINS, com a formação sendo completada oficialmente pelo baixista Mike Starr e baterista Sean Kinney.


A fita demo do ALICE IN CHAINS, "The Treehouse Tapes", acabou nas mãos de Nick Terzo, relações públicas da Columbia Records e que acabou assinando com a banda. Nick Terzo passou para Dave Jerden, que disse à banda que eles deveriam entrar num estúdio para gravar outra demo com novas canções. Alguns meses depois, Jerden recebeu uma nova fita cassete com 06 músicas.


Uma destas canções era "Man in The Box", destinada a se tornar o grande sucesso do ALICE IN CHAINS.


Jerden falou: "Quando eu recebi a demo com as 06 músicas, ali tinha o futuro single 'Man in The Box' e todas as ótimas músicas que acabaram sendo lançadas no 1º disco, e foi quando eu realmente pensei que poderíamos ter alguma coisa".


Dave Jerden viajou até Seattle para começar a trabalhar no álbum de estréia do ALICE IN CHAINS. A banda o levou para os clubes locais, onde ele viu shows de alguns pioneiros do grunge como o SOUNDGARDEN e MOTHER LOVE BONE. "Você poderia dizer que algo estava no ar", Jerden falou. "Eu meio que estava ciente desse 'som de Seattle' do qual as pessoas estavam falando, mas estar lá pessoalmente parecia muito emocionante".


Não que o ALICE IN CHAINS fosse totalmente aceito pelos seus colegas do grunge logo de cara. O guitarrista do SOUNDGARDEN, Kim Thayil, lembrou que as primeiras demos do ALICE IN CHAINS "pareciam um pouco com a banda POISON". Kim Thayil alegou que o grupo mudou a sua abordagem quando ouviram o SOUNDGARDEN: "Jerry Cantrell me perguntou quais eram as notas para tocar uma música nossa chamada 'Beyond The Wheel' (1º disco do SOUNDGARDEN, 'Ultramega OK', 1988). Eu havia lhe dito: 'Existe uma coisa chamada de afinação em drop D'. Pouco tempo depois, eles gravaram uma demo das músicas que você ouve no álbum 'Facelift' e eles tocaram com essa afinação em drop D nelas”.


Os trabalhos para o disco "Facelift" começaram no London Bridge Studios, que fica a uma longa viagem do centro de Seattle. Apesar do crescente uso de drogas por Layne Staley, os problemas para a gravação deste álbum foram físicos - e não farmacêuticos.


"Sean Kinney havia quebrado o braço e não conseguia tocar bateria", lembra Dave Jerden. "Chegamos até a chamar o primeiro baterista do PEARL JAM para substitui-lo (Dave Krusen), mas ele não conseguia tocar no estilo do ALICE IN CHAINS, então, Sean Kinney tocou nesse disco com o braço quebrado".


A escuridão que iria descer sobre o ALICE IN CHAINS ainda estava longe, mas já permeava. Dave Jerden lembra que havia uma verdadeira camaradagem entre os membros da banda: “Esses caras vieram das mesmas loucas origens e se uniram como uma família”.


"Somos todos companheiros", disse Jerry Cantrell mais tarde para revista Spin. "Só queremos poder nos olhar nos olhos e dizer: 'Isso é muito legal'. É tudo o que você precisa, tipo, todo mundo curtindo a mesma coisa".


Músicas como "Man in The Box", "We Die Young" e "Bleed The Freak" foram gravadas com imagens sombrias, mas a banda posteriormente negou que fossem sobre drogas ou o estilo de vida associado. Layne Staley afirmou que a canção "Man in The Box" foi inspirada pela censura da mídia em massa, enquanto Jerry Cantrell afirmou que a música "We Die Young" surgiu, depois que ele viu uma gangue pré-adolescente de traficantes de drogas quando estava a caminho de um ensaio.


"Ver todas essas crianças de 09 à 11 anos de idade com ações explícitas traficando drogas, era igual a música 'We Die Young' para mim", escreveu Cantrell nas notas da coletânea "Music Bank" de 1999.


“Acredito que Layne Staley era uma pessoa sensível atraída pela escuridão”, Dave Jerden falou encolhendo os ombros, “mas nunca vi nenhuma evidência de drogas no estúdio, nem uma vez. Acredito que no disco 'Facelift', Staley estava retratando um mundo sombrio olhando de fora para dentro. Só mais tarde eles estavam lá dentro olhando para o mundo lá fora”.


A canção "We Die Young" foi lançada como single em julho de 1990, com o álbum "Facelift" surgindo 01 mês depois.


Parecia nada de mais na época, mesmo com o ALICE IN CHAINS demonstrando abertamente as suas influências do BLACK SABBATH, ainda mais com as icônicas harmonias entrelaçadas de Layne Staley e Jerry Cantrell com vocais celestiais ou infernais - dependendo da música.


Mas com o grunge ainda distante de enraizar-se na consciência pública de uma forma mais ampla, no começo foi uma venda difícil, como a própria banda descobriu em primeira mão.


A turnê The Clash of The Titans foi um dos principais pacotes turísticos do heavy metal no início dos anos 90. A perna americana começou em maio de 1991 e contou com o MEGADETH, SLAYER e ANTHRAX. A banda DEATH ANGEL deveria abrir os shows, mas teve presença cancelada após um acidente de ônibus.


É anunciado o ALICE IN CHAINS como substituto, não apenas um nome relativamente desconhecido, mas nem mesmo uma banda original de heavy ou thrash metal.


“Eles estavam lá na frente de 15 mil fãs do SLAYER, ANTHRAX e MEGADETH que estavam jogando coisas neles todas as noites", lembrou mais tarde em entrevista o guitarrista do ANTHRAX, Scott Ian. “Mas eles nunca deixaram nada daquilo lhes perturbarem, sabe? E então, é claro, logo depois a canção 'Man in The Box' estourou e todas as pessoas que estavam jogando copos de cerveja neles, saíram de suas casas e compraram o disco do ALICE IN CHAINS".


Lançado na primavera de 1991, o single "Man in The Box" largou de forma lenta. "No início a rádio não queria tocar, porque eles disseram que a voz de Layne soava errada", disse Dave Jerden. "Apenas uma estação de rádio do Texas aceitou tocar a música e a reação foi selvagem, então, todos começaram a seguir o exemplo".


A MTV finalmente lançou o videoclipe da música e o álbum "Facelift" começou a ganhar força rapidamente. Tendo vendido 40 mil cópias em seus primeiros meses, a aceleração veio forte e já tinham vendido mais de 400 mil cópias em seis semanas nas costas do single "Man in The Box".


Antes de NIRVANA, PEARL JAM ou SOUNDGARDEN, era o ALICE IN CHAINS que havia se tornado a primeira das bandas grunge de Seattle a conquistar o público.


Ainda havia muito trabalho a fazer. Logo após a turnê The Clash of The Titans, a banda começou uma longa turnê de mais de 60 shows de abertura para o VAN HALEN. Foi somente no final dessa turnê que Dave Jerden se reconectou com os membros do ALICE IN CHAINS, apenas para reencontrá-los em um estado de espírito muito diferente.


"Fui vê-los pouco antes de entrarmos no estúdio para gravar o álbum 'Dirt' (3º trabalho de estúdio, 1992)", disse o produtor. "Perguntei a eles: 'Como é ser famoso?' E todos disseram: 'Nós odiamos isso'. Especialmente Layne Staley, que havia me dito: ‘As pessoas tratam você como um objeto. Elas só querem um pedaço de você'".


O sublime vocalista já estava lidando com os seus próprios conflitos internos e ele já estava praticando o seu hábito em heroína que duraria até o fim de sua vida. Isso tornou a atmosfera no estúdio muito diferente de quando Jerden e a banda começaram a trabalhar no disco "Dirt".


"Algo tinha acontecido com aquela família, sabe?", disse o produtor. “Foram as drogas, isso era óbvio. Layne começou a gravar uma semana depois de sair da clínica de reabilitação. De repente, eles pareciam estar vivendo a escuridão que antes estavam apenas explorando em músicas como 'We Die Young', mas era aquilo o que eles realmente queriam e eu acho que você deve ter cuidado com o que deseja..."


O álbum "Dirt" foi um disco completamente mais sombrio e o verdadeiro ponto de partida para o ALICE IN CHAINS da era Layne Staley. A partir desta fase, houve momentos em que a fagulha de luz se dissipava da banda - emitiu mesmo o último forte brilho no acústico estelar da MTV em 1996 - mas as luzes se apagaram completamente quando o cantor se afastou da vida pública no 2º semestre de 1996.


Hoje, ALICE IN CHAINS se destaca como uma das grandes bandas dos anos 90 e da história do rock. O álbum "Dirt" é justamente a sua obra-prima, mas o disco "Facelift" não é menos importante. Sem ele, os anos 90 poderiam ter sido muito diferentes.


Track-list:


1. We Die Young

2. Man in The Box

3. Sea of Sorrow

4. Bleed The Freak

5. I Can't Remember

6. Love Hate Love

7. It Ain't Like That

8. Sunshine

9. Put You Down

10. Confusion

11. I Know Somethin'

12. Real Thing


Confira a outra matéria que o site rockinthehead já tinha publicado sobre o álbum "Facelift":


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