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  • by Brunelson

The Who: resenha do disco "Live at Leeds" (1970)


Em seu auge, THE WHO era uma banda de rock sísmico que também governava os conceitos de apresentações ao vivo.

Na década de 60, a cortina estava caindo na contracultura hippie e o THE WHO, uma banda que encontrou diferentes identidades dentro de tendências e movimentos culturais, teve que mais uma vez encontrar o seu lugar em pé na sociedade para permanecer relevante.

No início dos anos 60, eles estavam na vanguarda do movimento londrino com hinos brilhantes para a juventude, músicas como "My Generation", "I Can't Explain" e "Substitute". Quando o Woodstock Festival aconteceu em 1969 nos EUA, THE WHO tinha o horário marcado para se apresentar às 05:00hs da manhã, subindo ao palco num visual totalmente transformado de como era no início de carreira.

Eles não estavam mais vestindo os seus ternos imaculados e em vez disso, o guitarrista Pete Townshend começou a usar macacões brancos, o vocalista Roger Daltrey usava jaquetas de veludo cotelê com mangas franzidas, o baixista John Entwistle estava em um plano totalmente diferente em termos de moda, enquanto o baterista Keith Moon era rápido demais para perceber ou estava escondido atrás de uma nuvem de fumaça explosiva.

Na verdade, o grupo (e Keith Moon em particular) não se identificava com o movimento hippie e eles estavam relutantes em se apresentar no Woodstock. Townshend supostamente entrou numa discussão com Jimi Hendrix sobre quem iria se apresentar primeiro (novamente, assim como foi no Monterrey Festival), já que ambos estavam destruindo as suas guitarras na época.


O guitarrista do THE WHO havia comentado na época sobre o movimento hippie: “Achei que todo os EUA havia enlouquecido”.

THE WHO provaria estar em um comprimento de onda diferente de qualquer outra banda da época, mesmo antes de gravar o que muitos consideram o melhor álbum de rock ao vivo de todos os tempos, o disco "Live at Leeds". Eles retornariam às suas raízes, não como uma banda de início de carreira, mas como uma banda artística, resultando em seu álbum de 1967, "The Who Sell Out" (3º disco), que viu na exploração da propaganda como uma forma de divulgar a arte.

Eles fizeram propagandas simuladas em suas músicas e salpicadas com outros grandes sucessos, como na canção "I Can See For Miles". Eles queriam mostrar ao mundo o uso da propaganda como arte e como uma forma de rebelião contra o movimento de contracultura hippie.

Em 1968, devido a problemas legais com o seu produtor, Shel Talmy, que produziu sucessos da banda como a música "I Can't Explain" e que estava obtendo uma quantidade "considerável" de royalties, THE WHO teve que fazer turnês incansáveis ​​e infindáveis ​​apenas para manter-se à tona financeiramente falando. Com alguns ingredientes-chave no lugar, a banda se tornou uma máquina bem azeitada ao vivo. Townshend decidiu largar as drogas, ficou sóbrio e começou a estudar a filosofia de Meher Baba, que influenciaria diretamente na 1ª espécie de ópera rock do guitarrista, o álbum "Tommy" (4º disco, 1969).

Um álbum conceitual com um tema e enredo unificador, o disco "Tommy" conta a história de um menino que fica surdo, mudo e cego, depois de testemunhar a morte dos pais através de um espelho. Ele finalmente recupera os sentidos através de um estado de graça e se junta a um culto - por falta de uma palavra melhor.


Tudo isso é muito paralelo à vida de Pete Townshend...

"Tommy" viria a ser um grande álbum de sucesso, vendendo mais de 200 mil cópias nos EUA e apenas nas 02 primeiras semanas de lançamento. Isso tornaria o THE WHO milionário e Townshend falou sobre esse disco: “O verdadeiro 'eu' de Tommy representa o objetivo – Deus – e o 'eu' ilusório é o professor, a vida, o caminho e tudo isso. A união destes é o que torna Tommy consciente. Eles o fazem ver, ouvir e falar, para que ele se torne um santo ao qual todos acorrem”.

“A vida do menino começa a representar toda a natureza da humanidade, onde todos nós temos esta surdez, o ato de ser mudo e cegueira auto impostas", disse Townshend, antes de acrescentar: “Desse modo, fico mais preocupado com o que realmente acontece em nossa vida”.


Com o enorme sucesso do álbum "Tommy", THE WHO teve que descobrir como eles iriam dar sequência a esse disco brilhante e numa tentativa de dissipar os descrentes de que a banda ainda era uma força de rock n' roll ao vivo a ser reconhecida, Townshend sabia que queria lançar um álbum ao vivo.

Tendo gravado o seu show no Woodstock – que eles odiaram – e 02 semanas depois gravando o seu show no Isle of Wight Festival – que foi brilhante – Townshend agora tinha mais de 80 horas de gravações ao vivo para filtrar e descobrir o que eles iriam usar.





Tudo isso e mais, está sendo retirado do aclamado livro de memórias de Pete Townshend, "Who I Am" (2012), onde ele deixou também escrito: “Não houve tempo suficiente para percorrermos por 30 shows, além disso, agora tínhamos mais 08 shows que tínhamos gravado na Inglaterra, incluindo o show mais recente realizado no London Coliseum... Pra mim, ouvir 38 shows levaria 05 dias direto num estúdio e o disco ao vivo nunca aconteceria se não fizéssemos algo rapidamente”.

Então, os membros do THE WHO acabariam jogando todas as fitas de gravação destes shows no lixo, queimando-as para que os "contrabandistas" não pudessem pegá-las, no entanto, Townshend comentaria sobre isso como “a decisão mais estúpida da minha vida”.


Queimar todas as gravações acenderia um insight em suas mentes para fazer um álbum ao vivo de forma rápida. A pirataria na época era um problema muito sério e Townshend procurou vencê-los em seu próprio jogo, fazendo a capa do álbum "Live at Leeds" parecendo como se fosse pirata (foto).

THE WHO realizou um show no refeitório da Universidade de Leeds em 14 de fevereiro de 1970 e na vizinha Hull City no dia seguinte, onde eles gravaram os 02 shows. O engenheiro de som de longa data da banda, Bob Pridden, disse sobre a banda durante aqueles dias em uma entrevista para a revista Rolling Stone: “Foi quando eles estavam pegando fogo, a banda estava trabalhando o tempo todo e apenas no topo do seu jogo. Como uma unidade de apenas 04 pessoas, uma banda não poderia ser melhor naquela época”.

Pridden continuou sobre as semanas que antecederam ao lançamento desse disco ao vivo: “Cerca de 02 anos antes do álbum 'Live at Leeds', pensei em tentar gravá-los com alguns microfones conectados a um gravador, então, eu trouxe um rolo Akai de 07 polegadas e meia e comecei a gravar os shows nele. Passamos disso para um Vortexion onde você pode levar um D.I. (entrada direta) nele e em seguida, coloquei 02 microfones nele e fiz a mixagem”.

THE WHO era notório por seus shows eletrizantes cheios de caos e anarquia. Townshend também deixou escrito em seu livro sobre esse disco: “Toquei com mais cuidado do que o normal e tentei evitar as notas descuidadas que ocorriam com frequência, porque eu sempre estava tentando tocar e pular ao mesmo tempo”.


Porém, o álbum "Live at Leeds" não foi totalmente ao vivo.

Houve alguns problemas técnicos que ocorreram e ao ouvir as fitas gravadas, os backing vocals não foram gravados corretamente. Townshend escreveu em sua biografia: “Eu organizei uma sessão no Pye Studios, coloquei para tocar todo o show e John Entwistle (baixista) e eu, simplesmente cantamos juntos. Nós cobrimos os backing vocals em 01 take somente, para preservar o imediatismo de uma apresentação ao vivo”.

"Live at Leeds" ainda continua sendo um dos álbuns de rock ao vivo mais reverenciados até hoje e influenciando inúmeros músicos. Toda banda que quer tocar ao vivo e lançar um material do mesmo, deve definitivamente ouvir esse disco.


Como concluiu Pridden ao relembrar sobre aqueles anos: “Estávamos fazendo história, mas não éramos a história e nunca pensamos em fazer história. Éramos apenas menestréis errantes andando por aí e se divertindo”.


Track-list:


1. Young Man Blues

2. Substitute

3. Summertime Blues

4. Shakin' All Over

5. My Generation

6. Magic Bus

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