Beastie Boys: matéria exclusiva da revista Spin de 1992 sobre o novo álbum do grupo na época, "Check Your Head"
by Brunelson
há 44 minutos
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Essa história foi publicada originalmente na edição de maio de 1992 da revista Spin, com a banda de New York, BEASTIE BOYS, sendo matéria de capa da revista (foto).
Confira na íntegra essa reportagem, quando o grupo estava residindo em Los Angeles e gravando seu novo álbum na época, "Check Your Head" (3º disco, 1992):
Vivendo 01 ano com o BEASTIE BOYS.
Em maio de 1990, o meu telefone tocou, perguntei quem era, e uma voz desconhecida disse: "Ricky Powell". E eu respondi, achando que era um trote: "Assim como na famosa frase do BEASTIE BOYS: 'Mano, jogue a toalha, porque sua garota foi fodida por Ricky Powell'"?
“Isso mesmo. Agora me escuta aqui”, ele disse diretamente. “O que é isso de você ficar menosprezando o BEASTIE BOYS na revista Spin?”
Meu Deus... Na minha matéria intitulada, “Mapa do Hip Hop da América” (Revista Spin, junho de 1990), eu tinha escrito: “Los Angeles, a propósito, também funciona como uma casa de repouso para os rappers aposentados, BEASTIE BOYS, e seu produtor, Rick Rubin”. Então, eu fiz o que qualquer jornalista faria naquela situação: culpei meu editor.
Isso acalmou Ricky Powell e foi uma coisa boa, porque Ricky Powell — fotógrafo de meio período, personalidade da TV a cabo, professor substituto e comediante de stand-up — é o que você pode chamar de "o 4º Beastie".
Claro, da mesma forma que houve muitos “o 5º Beatle", então, há alguns "o 4º Beastie" por aí.
Há o DJ Hurricane, que assumiu a função na banda desde seu 1º disco em 1986 até o ano de 1997. Há Mario Caldato Jr. — o novo engenheiro de som e co-produtor da banda e co-autor de 06 músicas lançadas no novo e brilhante álbum de estúdio do BEASTIE BOYS, "Check Your Head". E finalmente, há o amigo de colégio de Caldato Jr., Mark Ramos (também conhecido como Nishita), um mestre carpinteiro e tecladista que entrou no grupo quando uma garota bateu com o carro no portão de entrada do condomínio de apartamentos que o BEASTIE BOYS tinha alugado em 1989 durante a gravação do álbum anterior, "Paul’s Boutique" (2º disco, 1989). Nishita consertou o portão antes que os verdadeiros proprietários ficassem sabendo e depois ajudou a banda a construir seu novo estúdio. No final, ele co-escreveu 09 músicas para o álbum "Check Your Head" e adicionou seus teclados saborosos em uma variedade de texturas, variando do jazz do tipo Jimmy Smith ao rock progressivo do tipo Richard Wright do PINK FLOYD.
No entanto, ainda havia apenas um Ricky Powell. Ele cresceu no bairro West Village em New York, jogando basquete nas ruas e indo para a escola primária junto com a irmã de Adam Horovitz (vocalista/guitarrista do BEASTIE BOYS), Rachel.
Eventualmente, ele excursionou pelo mundo com a banda, registrando tudo com sua câmera fotográfica Instamatic a carnificina de várias turnês que acompanharam a estreia multiplatinada do BEASTIE BOYS de 1986, o álbum "Licensed to I'll". Hoje em dia, ele fica por lá, esperando a banda fazer uma turnê novamente — e ainda irritado com o antigo empresário da banda, que supostamente não deixaria o grupo fazer uma turnê para promover o disco "Paul's Boutique" a menos que se apresentassem em arenas. Se Ricky Powell andasse com qualquer outra banda, ele seria um lacaio. Mas talvez mais do que qualquer um dos próprios membros do BEASTIE BOYS, ele é simplesmente um velho descolado.
Em outras palavras, eu vi a minha brecha para falar: "Então, Ricky, o que os garotos estão aprontando?" Eles estavam trabalhando em um novo álbum, ele me disse. Como uma banda de verdade e tocando seus próprios instrumentos. Eles agora tinham seu próprio estúdio e tudo mais que precisavam. "Caralho, Ricky", eu disse, tentando parecer legal. "Essa é uma ótima história. Você não conseguiria me apresentar a eles, conseguiria?"
Ricky Powell disse que veria o que poderia fazer, e no começo de 1991 ele me deu o número de telefone de Michael Diamond, conhecido como Mike D (vocalista/baterista do BEASTIE BOYS). Deixei várias mensagens em sua secretária eletrônica, mas sem sucesso. Porém, um dia, finalmente consegui falar com ele. A única coisa que me lembro daquela nossa 1ª conversa ao telefone foi ele me dizendo: "Gene Simmons do KISS é um homem rico e de bom gosto".
Eles me autorizaram fazer a matéria e contar toda a história do vindouro disco, mas eu teria que esperar até que eles terminassem algumas coisas do álbum novo. Isso não aconteceu até junho de 1991. Mesmo quando eu estava em Los Angeles, eu não podia ir ao estúdio deles até que eles terminassem de gravar alguns vocais — finalizado à 1:30hs da madrugada.
Sexta-feira, 15 de junho de 1991.
A sala de controle da mesa de som do estúdio do BEASTIE BOYS é equipada com um sofá confortável e as paredes são cobertas como o quarto de uma criança, com fotos coloridas assustadoras da banda, um pôster do disco, "Why Can’t We Be Friends", da banda WAR, e 02 retratos de Michael Jackson em bordas veludo preto tiradas em Tijuana, México.
“Você deve ser o cavalheiro da revista Spin”, Adam Yauch diz (vocalista/baixista do BEASTIE BOYS), estendendo sua mão longa e fina para me cumprimentar. Eu esperava que Yauch, conhecido como MCA, fosse o lenhador urbano e peludo que eu temia no álbum "Paul’s Boutique" — o cara que resmungou em uma entrevista por trás de uma barba espessa que ele “fazia discos desde que você chupava o pau da sua mãe”. Em vez disso, encontrei um cara magro, barbeado, quase fantasmagórico e tímido. Andando pelo estúdio de meias nos pés, ele se vira para algumas máquinas de rolos de fitas de gravação, onde ele e Caldato Jr. estavam mexendo em um instrumental de reggae.
Da sala de controle, olho pelas janelas de 02 portas à prova de som para a sala de ensaio do estúdio, onde o BEASTIE BOYS construiu um palco, uma rampa de skate e uma cesta de basquete — vejo Mike D mirando a bola de basquete para arremessar vestido em seu short azul de malha dupla e com a camiseta dos Meters. Eu me pergunto: "Mas que porra são os Meters?" Mike D é mais ríspido do que eu imaginava, mas a sua "pele" melhorou desde o último álbum.
Enquanto isso, na sala do toca-discos é difícil ver a cara de estrela de cinema de Adam Horovitz (também conhecido como Ad-Rock), porque ele puxou um gorro de esqui de malha verde sobre o rosto, onde somente os olhos ficavam à mostra. Nem todos vem ao mundo com uma estrela em si - apenas pessoas como Ad-Rock são. Agora mesmo, ele está ocupado gritando: "Something's got to give", sobre uma batida espasmódica da música de mesmo nome que será lançada no novo álbum. Como muitos dos vocais do novo disco, estes são processados para dar a eles um tom deliciosamente doentio através de um som "metálico".
"Something's Got to Give"
Mike D me oferece algo para beber e como esperado, o frigobar está cheio de cerveja. Infelizmente, é cerveja de maçã. Pego a única cerveja de verdade que sobrou do frigobar e a área da cozinha está cheia de sucos de frutas, pizzas vegetarianas e uma cafeteira.
Depois de um tempo, estão todos na sala de ensaio e sem nenhum aviso prévio, uma jam session espontânea irrompe a sala. Mike D corre para sentar atrás de sua bateria e Adam Horovitz, embora supostamente o guitarrista da banda, coloca o baixo de Adam Yauch em seu corpo. O tecladista, Nishita, que certa vez foi atingido por frutas por colegas estudantes durante um recital de um acampamento de guitarristas formado por Robert Fripp (guitarrista do KING CRIMSON), adiciona um pouco de percussão ao som. O resultado é uma jam cafona, mas descolada, não muito diferente de uma trilha sonora de um filme pornô.
Yauch não participa em nenhum momento, e depois de 10 minutos, eles se voltam para o basquete. Mike D fica viajando toda vez que toca na bola. Yauch, que é um skatista talentoso, é praticamente um spazz (termo no basquete usado para um jogador habilidoso que tem facilidade em aplicar dribles), e Horovitz é o mais atlético dos 03 membros do BEASTIE BOYS. Mesmo assim, eu me lembro de pensar que eles jogavam basquete tão bem quanto tocavam seus instrumentos, mas em retrospecto, essa é uma avaliação injusta devido as suas proezas musicais.
Na manhã de domingo, nos encontramos no restaurante chamado Hamburger Hamlet para a minha 1ª e única entrevista formal com todos os três membros do BEASTIE BOYS ao mesmo tempo. No caminho até lá, eu zombo de Mike D por ele ter a fita cassete trilha sonora de um filme do ator Steven Seagal. Foi quando ele coloca para eu escutar uma fita com o 1º gostinho do novo som do BEASTIE BOYS, um riff de somente 03 notas com eles cantando: "Funky boss get off my back" (da canção "Funky Boss"). No restaurante, Mike D e eu entramos e ficamos tomando café gelado esperando pelos 02 Adams — que se sentem confortáveis com a não pontualidade da Costa Oeste dos EUA.
"Funky Boss"
Quando os outros 02 membros do BEASTIE BOYS finalmente chegam, Mike D começa a reclamar do videoclipe do R.E.M. da música “Shiny Happy People” que está passando na TV.
Adam Yauch: "Mike quase entrou em uma briga com o vocalista do R.E.M. Agora, Mike está em uma missão maluca para encontrá-lo".
Adam Horovitz: O Estado da Georgia (da banda R.E.M) é muito longe para encontra-lo, mas ouvi dizer que Sting está aqui na praia de Malibu na California".
Mike D: "Mas Sting parece estar em forma".
Horovitz: "Você pode se esgueirar por trás dele, fique agachado no chão, que eu o empurro sobre as suas costas".
Mike D: "Mas Sting é o tipo do cara que vai nos processar".
Acontece que Mike D estava genuinamente puto com Michael Stipe (vocalista do R.E.M), porque algum outro membro do R.E.M. desrespeitou o BEASTIE BOYS em uma entrevista para a Q Magazine da Inglaterra. Mas quando ele começa a falar novamente sobre a dança absurda de Stipe no videoclipe, os outros 02 da banda sentem que é hora de colocar Mike D "na linha".
Yauch: "Na verdade, quando Mike está sozinho em casa, ele fica dublando os discos do R.E.M. na frente do espelho".
Horovitz: “É, o Mike fica cantando... Mas eu nem me importo com essa música deles, cara!"
Mike D: "Ah, vocês estão ficando moles…"
Jornalista: "A fonte que veio até mim disse que é você quem está ficando mole, Mike, por comprar patê de atum gourmet".
Yauch: "Sim, Mike, isso não é uma atitude legal. O rapper Big Daddy Kane também está comprando essa merda o tempo todo!"
Mike D: "As pessoas não percebem o quanto as estrelas do rap sempre gostaram de comidas gourmet. A marca de enlatados, Chef Boyardee, não é brincadeira!"
Horovitz: "Eu ouvi uma música do SALT-N-PEPA uma vez, onde elas citam todos os rappers de New York, mas elas não nos citaram! Eu estava ouvindo aquela merda e pensando: 'Mas que porra é essa?'"
Falar sobre rappers de New York menosprezando o BEASTIE BOYS nos leva inevitavelmente ao grupo de rap, 3rd BASS. Eles brincam sobre como um dos membros do 3rd BASS, o MC Serch, supostamente costumava aparecer na casa de Mike D para saírem juntos — com Mike D jogando coisas nele toda vez que o chamava. E Adam Yauch afirmou que os fãs do BEASTIE BOYS pensam mais sobre isso do que a própria banda.
Yauch: "MC Serch parece ter uma coisa estranha nele por ser um rapper branco e tal".
Horovitz: "Eu entendo, mas ele tem que resolver essa merda antes de começar a andar por aí na rua. Eu vi Pete Nice (membro do 3rd BASS) na barbearia esses dias atrás, mas ele não me disse nada disso pra mim".
Mike D: "Ah, cara, de repente só quero dizer a todos que nós estamos voltando com força com esse novo álbum!"
Yauch: "(Pegando meu gravador) Hey, me dá isso daqui, porque vou fazer algumas rimas agora mesmo!"
Mike D: "Honestamente, as pessoas esperam letras de rap do tipo: 'Eu sou tão hardcore, que atirei em 08 filhos da puta antes de sair de casa!' Quem se importa com isso, cara?"
Jornalista: "Bem, vocês parecem felizes aqui".
Horovitz: "Ontem estávamos felizes na casa de Mike".
Yauch: "Sim, eu tenho uma vida boa".
Mike D: "Eu definitivamente sou grato todas as manhãs quando acordo, então, não tenho muita treta na minha vida".
Jornalista: "Ad-Rock (Adam Horovitz), você disse ontem que não estava empolgado para sair em turnê novamente".
Horovitz: "Na verdade, estou muito ansioso para pegar a estrada. Só queria que não tivéssemos que sair de casa. Fico estranho e sinto falta dos meus cachorros e da minha namorada... Quer saber, eu vou levar meus cachorros na turnê!"
Yauch: "Eu estou pronto para sair em turnê".
Mike D: "E eu estou realmente a fim de fazer estes shows".
Horovitz: "Não quero parecer que não estou a fim, só estou brincando".
Mais tarde, Horovitz afirmou novamente que ele estava "apenas brincando", mas não tenho tanta certeza, então, lhe pergunto: "A vida estável em Los Angeles é prejudicial?"
Mike D: "Pode até ser prejudicial, mas eu não me arrependo em ter amadurecido na vida".
Jornalista: "É exatamente isso o que eu quero dizer".
Enquanto Mike D me leva de volta ao hotel, ele joga a fita cassete da trilha sonora daquele filme de Steven Seagal pela janela do carro na avenida Sunset Boulevard. É a coisa mais travessa que verei qualquer um dos BEASTIE BOYS fazer pelos próximos 06 meses. Durante aquele meio ano que fiquei com eles e conhecendo eles, entrevistei formalmente cada um deles apenas mais 01 vez. Isso foi em outubro de 1991, quando os acompanhei novamente enquanto eles cuidavam dos negócios burocráticos da banda em um dia típico de trabalho.
Embora ele não pareça mais um lenhador urbano, Adam Yauch realmente mora em uma cabana de madeira no bairro Hollywood Hills, em Los Angeles. Aos 27 anos de idade, ele é o membro mais velho da banda e suas têmporas já estão ficando grisalhas. Embora todos os membros do BEASTIE BOYS estejam passando da fase de meninos para homens, Yauch é sem dúvida o mais maduro entre os três.
Talvez ele seja apenas o músico mais experiente entre eles. Yauch toca baixo há 12 anos e em 1984, ele era assistente de um engenheiro de som no famoso Shakedown Studios do proprietário e produtor, Arthur Baker. Logo em 1985, Yauch lançou um single, "Drum Machine", com um engenheiro de som chamado Burzootie. Não apenas experiente, Yauch também é notavelmente focado e ele sempre foi determinado: “Ir para o colégio no Brooklyn em 1979 vestido de punk foi definitivamente um pequeno desafio muito legal por ser incomodado pelos caras mais velhos”.
Durante a gravação do novo álbum, a banda começava a trabalhar no meio da noite até o início da manhã, mas Yauch voltava para casa e continuava trabalhando duro em seu próprio estúdio caseiro.
Foi ideia dele de que o novo disco fosse todo instrumental, mas quando isto se mostrou inviável, Yauch foi o primeiro a estourar rimas para a criação das letras. Consequentemente, sua vibração amorosa informa o álbum inteiro, culminando na última música do disco, "Namaste", um rap inspirador e inspirado pelo fluxo de consciência de Yauch que soa como um cruzamento com a canção "Riders on The Storm" do THE DOORS.
Mas a música “Namaste” não é brincadeira. Ela reflete onde Yauch estava durante a gravação ao vivo dos instrumentos musicais quando a ideia era lançar um disco instrumental. Hoje em dia, colocada lado a lado às outras canções lançadas no álbum "Check Your Head", esta canção está em um clima mais tradicional do BEASTIE BOYS, mas na época de sua criação, Yauch quase nunca bebia ou fumava maconha. Em vez disso, ele passava seu tempo: “Entrando em contato com meu eu superior lendo textos espirituais e verificando diferentes perspectivas de vida".
“Namaste”
Começamos um novo dia indo para a casa de um amigo de Yauch para gravar um instrumento indiano chamado tamboora (que é usado na música “Finger Lickin’ Good”). Depois disso, almoçamos em um restaurante indiano e no caminho fomos a uma loja de discos onde ele explicou essa nova vibe da banda.
“Finger Lickin’ Good"
Quando os rapazes do BEASTIE BOYS se conheceram, as garotas, Kate Schellenbach e Jill Cunniff, estavam no grupo com eles. Schellenbach fazia parte do YOUNG ABORIGINES, a banda punk hardcore formada antes do BEASTIE BOYS, e Cunniff estava sempre com eles fazendo algumas participações, mas quando o produtor Rick Rubin apareceu, as meninas dizem que seu sexismo trouxe à tona o pior até então não visto no grupo.
Felizmente, Yauch superou a vontade de escrever músicas sobre “atirar em pessoas e desrespeitar mulheres”, músicas que ele agora afirma serem irônicas. “Eu estava em uma caça louca por mulheres naquela época. Agora eu tenho uma namorada, mas não é como: ‘Oh, eu não posso dizer isso por causa da minha namorada’. Não, é que isso realmente não passa mais pela minha cabeça”.
Yauch acrescentou: “Se coisas fodidas estão acontecendo na minha vida, é provavelmente porque coisas fodidas estão acontecendo na minha cabeça”, porém, nem preciso dizer que a vida de Adam Yauch não é fodida.
Jill Cunniff se pergunta se a nova suavidade do BEASTIE BOYS em suas letras e som afetará o senso de humor do garoto que co-escreveu o roteiro da comédia abortada da banda nos anos 80, chamada Scared Stupid — com o vendedor de sorvetes gritando pela rua: "Pegue enquanto estão quentes".
"Mas você pode colocar suas preocupações em espera”, assim como Yauch canta nas letras da canção “Pass The Mic”. Por um lado, Yauch não é só amor e beijos no novo álbum (confira a parte dele cantando na música “Professor Booty”). E por outro, ele parece confortável com a marca indelével que a cidade de Los Angeles deixou nele sendo nativo de New York: “Muitas pessoas em New York acham que em Los Angeles é tudo fácil, porque eu também costumava dizer esse tipo de merda, sabe? E queria dizer que estou com saudades de New York".
“Pass The Mic”
“Professor Booty”
Diz a lenda que Adam Horovitz falou uma vez que sabia que seria famoso desde o dia em que nasceu.
Certamente ele tem a confiança que gera seu carisma: “O que você vai dizer que eu já não saiba?”, ele pergunta nas letras da música “Pass The Mic”, acrescentando que: “Eu sou como Clyde / E estou firme na batida” (citando o ex-jogador de basquete da NBA do New York Knicks, Walt “Clyde” Frazier).
Eu não ia contar a esse cara nada que ele já não soubesse. Ele conquistou o mundo antes dos 21 anos de idade e namorou várias garotas de Hollywood, antes de se decidir por seu verdadeiro amor (naquela época), a atriz Ione Skye. Como Horovitz gosta de dizer: "Você sabe como é".
Na verdade, você que está lendo essa matéria e eu, não sabemos. É por isso que Horovitz é um herói para as crianças de todas as raças e classes — desde o ator e herdeiro do petróleo, Balthazar Getty, às dezenas de adolescentes americanos da classe média que ainda telefonam para o número encontrado no encarte do álbum "Paul's Boutique". Horovitz está apenas vivendo a nossa fantasia: "Eu consegui", ele diz sem se gabar. "Eu sou o garoto mais sortudo do mundo e eu amo isso. Eu amo isso!"
Em um dia típico, Horovitz se encontra para tomar café da manhã em uma lanchonete com sua namorada, Skye, e seu amigo ator, Max Perlich, e qualquer outra criança de Hollywood que apareça ali do nada. Depois de almoçarmos em um restaurante pela Sunset Boulevard, vamos até a loja de discos mais próxima, mas Horovitz já tem a maioria daqueles discos para vender.
Ele me mostra sua sala de jogos no quintal da sua casa, onde há um toca-fitas de 08 canais, uma bateria caindo aos pedaços e um retrato do personagem Mush Mouth. Em seu quarto, assistimos a um vídeo sobre reggae da banda THE GLADIATORS: "Ouça essa voz", ele diz com uma sinceridade inesperada e desarmante. "Eu assisto a essa fita de vídeo cassete todo dia, porra!"
No período da tarde, nos dirigimos até uma cafeteria e eu digo que Kate Schellenbach se lembra de como, quando eles ainda eram adolescentes, Horovitz: “Parava para telefonar para sua namorada em cada cabine telefônica que passávamos”.
Ele também acumulou contas telefônicas enormes depois que conheceu Molly Ringwald na turnê do 1º álbum do BEASTIE BOYS, "Licensed to I'll". Ele e Ringwald também foram para a Irlanda para rastrear suas raízes (a mãe de Horovitz é irlandesa). Além do mais, de acordo com Horovitz, ele conheceu Skye quando ainda estava saindo com Ringwald: “Eu fiquei aqui em Los Angeles e esperei até poder sair com ela, meio que secretamente”.
Na cafeteria, Horovitz pede para a garçonete abaixar o volume de uma balada poderosa que está tocando nos alto-falantes: “Eu odeio essa merda, cara... Michael Bolton. Eles simplesmente pegam tudo de você e não dão nada em troca”.
Isso me lembra da música "Gratitude", onde Horovitz canta como uma estrela do rock: "Quando você tem muito a dizer / Isto se chama gratidão". Não há muitas palavras no novo álbum do BEASTIE BOYS - existem muitas músicas instrumentais ou com poucas palavras - mas não porque a banda não tenha nada a dizer, mas porque eles tem muito a dizer.
"Gratitude"
"É isso. Se eu tivesse que dizer alguma coisa, seria algo como a canção ‘Lighten Up'", complementou Horovitz.
"Lighten Up"
Ainda assim, ele minimiza desnecessariamente sua forma de tocar guitarra que é bastante saborosa. E eu me pergunto se sua relutância em querer fazer os vocais não é o resultado de ter medo de ser o frontman que ele está tão obviamente fadado a ser: "Não, teria que ficar mais com Adam Yauch que é o nosso James Dean (ator)", ele diz, já recuando. "Eu não sei cantar, eu só gosto de estar em uma banda". Desviando o olhar, ele acrescenta: "Eu gosto do vocal de Mike D. Nós continuamos tentando fazê-lo seguir também em carreira solo, mas ele não quer".
Há algo sobre Mike D... Ele é o membro da banda preferido por todos — até mesmo o favorito dos outros 02 membros do grupo. Depois de todos esses anos, eles ainda não conseguem evitar dizer seu nome com a maior alegria: "Mike D!" Os outros 02 membros da banda ajudaram a criar o visual de Mike D nos anos 80: um cafetão branco usando um colar com o símbolo da Volkswagen. Mas quando o produtor Rick Rubin sugeriu que eles poderiam continuar a banda sem Mike D, esse foi o começo do fim para Rubin.
Mike D certamente está no comando de suas próprias coisas hoje em dia. Assim como ele canta na música "Finger Lickin' Good": "Eu tenho um milhão de ideias que nem sequer comecei a agitar". Mike D é o porta-voz do grupo, um elo entre a banda e um mundo de pessoas quadradas. Ele lida com a imprensa, contadores e promotores. Seu aparelho de fax e telefone no carro não são apenas adereços. Enquanto os outros alugam casas, Mike D é dono do "Club D", uma vila espanhola com piscina personalizada, geladeiras abaixo de zero e tudo mais. Sua namorada, Tamra, é um pouco mais velha e já foi casada. Ele também tem participação parcial em uma loja de roupas descolada chamada X-Large, onde vende as camisas que ele mesmo fabrica. O advogado da banda, Ken Anderson, diz que Mike D terá sua própria marca algum dia e os negócios nunca atrapalham o seu prazer.
“Basicamente, tudo o que há em minha vida é música. Discos, batidas, coisas novas e aprendizado”. Já sólido como baterista, Mike D tem potencial para ser um profissional de estúdio do tipo Steve Gadd (renomado baterista de estúdio). Ele não gosta apenas de música. Ele é música. De fato, na parte de trás do seu boné de baseball preferido está costurada a frase cunhada pela lenda da discoteca, o músico e produtor francês Cerrone: JE SUIS MUSIC (Eu sou música).
“Eu cresci totalmente na merda alternativa, cara”, disse Mike D. “Eu vim para a merda do rock só depois, que foi o oposto de como você cresceu. Eu imaginei que se a maioria dos garotos da escola iria fumar maconha e ficar ouvindo LED ZEPPELIN, então, foda-se isso e vou pegar o caminho contrário”.
Mike D se preocupa que as crianças de hoje não se sintam tão fortemente sobre música quanto quando ele e eu crescemos. Quando a diferença entre punk e maconheiro era um grande problema: “Eu odiava o LED ZEPPELIN naquela época. Não era sobre a música, era mais sobre a cultura”.
Como Jill Cunniff aponta, a cultura adolescente que ela e Mike D absorveram como punks no final dos anos 70 era um ideal muito urbano, liberal e sofisticado. Antes que os atletas entrassem na onda do hardcore, a cena era uma dádiva para desajustados e nerds. Nas ruas, Mike D, Cunniff, Schellenbach, Yauch, o guitarrista original do BEASTIE BOYS, John Berry, e outros, brincavam de esconde-esconde nas ruas e se espancavam uns aos outros vestidos em tubos de papelão gigantes. Uma vez unidos, eles davam as mãos em um círculo e faziam cara feia para os idiotas que tropeçavam em seu território.
Por mais diferente que isto fosse do meu próprio passado suburbano convencional, Mike D e eu de alguma forma nos encontramos no meio do caminho depois de todos esses anos. Enquanto ele agora fuma maconha e ouve jazz, eu agora dou a hora do dia ao meu som hardcore. Mike D me conhece muito bem, mas eu o pressiono e eventualmente ele admite uma questão: “Nossa imagem de uma pessoa ouvindo um disco nosso, é alguém comprando o vinil na loja, olhando para a arte do disco, chegando em casa vai fumar um baseado, coloca os fones de ouvido e começa a escutar o álbum. O que, de certa forma, eu acho que é um conceito do rock clássico”.
“De uma forma muito grande”, eu acrescento. “Essa é precisamente a imagem contra a qual o punk rock reagiu”.
“Sim, isso é verdade”, Mike D me responde, finalizando a entrevista.
Na verdade, era apenas meia verdade. Mas o que eu quero dizer, é que o novo disco do BEASTIE BOYS, "Check Your Head", foi o melhor álbum de rock progressivo desde o álbum "Physical Graffiti" do LED ZEPPELIN. Assim como eu tenho que admitir, que na verdade, é o melhor disco punk rock desde o álbum "London Calling" do THE CLASH.
Eu tinha sido justificado, mas foram os BEASTIE BOYS que triunfaram.
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