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  • by Brunelson

Beastie Boys: dissecando a história por trás da capa de alguns álbuns da banda


BEASTIE BOYS era tudo num pacote só e além de sua musicalidade ímpar, a identidade visual deles era muito legal, surreal, artística e hilária, tudo ao mesmo tempo.

Durante os anos 80 e 90, os BEASTIE BOYS eram incomparáveis quando se tratava do(s) seu(s) estilo(s) de som e identidade visual. Era um trio de rap que lançou álbuns brilhantes com belas artes e videoclipes incrivelmente originais e que criaram novos gêneros próprios.


Não foi exatamente o trabalho de uma pessoa só, mas Adam Yauch, também conhecido como MCA (vocalista/baixista), certamente dirigiu essa visão artística da banda e como forma de homenagear esse grupo e suas artes visuais nas capas, contracapas e encartes dos seus discos, o site Eye on Design havia feito uma matéria especial entrevistando os principais envolvidos na criação das capas dos álbuns do BEASTIE BOYS.

Confira em ordem cronológica de álbuns lançados, mas nem todos os discos da banda foram relacionados pelo site que preparou essa reportagem, dos 08 álbuns de estúdio que o BEASTIE BOYS lançou na carreira:


Álbum: "Licensed to I'll" (1º disco, 1986)



A estreia inspirada na revista Mad, com o sabor colegial para acompanhar a personalidade irônica de garotos da fraternidade.



Stephen Bryam (Diretor de Arte): “O produtor Rick Rubin me disse que a ideia veio a ele enquanto voltava de Los Angeles num avião. Ele pensou no avião da capa do álbum se revelando como um acidente na contracapa do mesmo, o que daria um visual interessante. Eu estava de pleno acordo e não vejo isso como humor negro, mas como uma estupidez de alto funcionamento com um pouco de desenho animado dadaísta".

“O ilustrador Dave Gambale e eu, estudamos juntos na Academy of Art College em San Francisco. Imediatamente pensei nele depois do meu encontro com Rick Rubin e conversamos sobre essa ideia e pensamos em coisas que poderíamos colocar lá somente para dar risada. Nós escolhemos as siglas 'EATME' de trás pra frente na cauda do avião como se fosse um simples número de série, você sabe, algo para as crianças descobrirem sozinhas... Dave teve essa ideia e tenho certeza de que não o mandei revisar em nada do que tínhamos criado originalmente".

“Na época, o método de Dave era fazer uma colagem de algo usando cor preto e imagens xerocadas. Ele irreverentemente desenhava tudo com giz de cera Caran d'Ache. Certa vez, fui até ao estúdio dele e o encontrei comendo um sanduíche em cima de uma peça em que estava desenhando, usando um pouco de mostarda como pigmento. As impressões de suas artes são ásperas e às vezes toscas, e não seria intencionalmente montado com grande precisão. Era tudo um realismo muito fodido e antiaerógrafo. Achei que ele seria a expressão perfeita deste conceito em particular para o BEASTIE BOYS. Ele enviou a arte para mim por correio e eu disse 'ótimo' e Rick Rubin também aprovou. Uma vez, MCA chegou andando de skate pelo corredor do meu escritório, entrou na minha sala e trocamos algumas ideias sobre o encarte do disco, mas na maioria das vezes eu sempre lidei mesmo foi com Rick Rubin”.


Álbum: "Check Your Head" (3º disco, 1992)



BEASTIE BOYS se juntou ao seu antigo parceiro de quando eram contratados pela Def Jam Records, Eric Haze, numa época em que todos eles se viram morando em Los Angeles (nativos e residentes de New York).


Eric Haze (Designer e Diretor de Arte): “Com o álbum 'Check Your Head' estávamos todos morando na Califórnia naquela época e eu estabeleci o meu estúdio de design lá mesmo, fazendo trabalhos para vários artistas. Foram muitas reuniões, muitas conversas e várias outras ideias exercitadas antes de chegarmos ao que foi publicado para a capa, contracapa e encarte. Trabalhei mais de perto com MCA, que era o mais envolvido na identidade visual da banda".

“O designer raramente tem o luxo de ouvir as músicas antes de lançaram o álbum e a principal dica para o disco 'Check Your Head', foi MCA me dizendo que eles estavam tentando fazer o álbum soar como se tivesse sido gravado em uma torradeira. Peguei uma fotografia original e passei-a pela minha máquina de fax para digitalizá-la e em seguida, fiz um fotostatismo para essencialmente rebaixar a imagem fotográfica para a própria capa do disco. E a tipografia na capa é a minha caligrafia e não é grafite".

“A colagem na contracapa e encarte foi um grande esforço coletivo entre toda a banda, todas as suas namoradas e amigos. Foi uma espécie de reunião onde todos se sentaram juntos numa mesa com as suas fotos. Sendo o diretor de arte, eu estava envolvido no processo certificando de que fosse feito no formato, formas e contexto corretos, para que fosse possível aplicar na prática o que eu estava projetando”.


Álbum: "I'll Communication" (4º disco, 1994)


A foto na capa foi tirada pelo fotógrafo Bruce Davidson, em um drive-thru em Los Angeles no ano de 1964.

Gibran Evans (Designer): “No momento de produzir o encarte do álbum 'I'll Communication', eu tinha 22 anos de idade e fazia editoração eletrônica em tempo integral há cerca de 04 anos, e acredito que o principal aplicativo usado foi o QuarkXPress. Uma das minhas memórias distintas foi o nosso encontro inicial, que era eu sentado no meu computador com Adam Yauch ao meu lado, que estava segurando uma grande pilha de materiais, incluindo todas as fotos vistas no encarte do disco, letras e várias capas de álbuns de outros artistas como referência. Após o encontro inicial com Yauch, não tive nenhum contato pessoal adicional com os outros caras da banda, até que peguei Yauch nos bastidores do Lollapalooza Festival meses depois e aproveitei para perguntar se ele havia gostado do trabalho final que fizemos para a arte desse disco e ele havia me respondido afirmativamente".

“A foto de Bruce Davison seria a capa, a Árvore da Vida de Alex Grey seria uma propagação ilustrativa, junto com as fotos e as letras que seriam todas coloridas para o encarte do álbum. Uma das tarefas mais difíceis foi o pedido para usar uma fonte de estilo arquitetônico, porque na época ainda não existia o formato digital e felizmente eu tinha experiência no uso do Fontographer e solicitei que Jim Evans - que era o único ilustrador talentoso que eu conhecia - desenhasse cada letra, que escaneei, limpei no Illustrator e montei no Fontographer. O design gráfico nos anos 90 era relativamente primitivo, no entanto, achei tudo muito divertido e fascinante de fazer. Eu era jovem, adorava computadores e qualquer novo pedido era um desafio, pois era tudo relativamente novo naquela época”.


Álbum: "Hello Nasty" (5º disco, 1998)


A obra de arte do épico álbum duplo do BEASTIE BOYS, que exala energia de filme-b de monstros gigantes japoneses com o videoclipe da música "Intergalactic".


Bill McMullen (Designer): “Alguns meses depois de me mudar para New York, comecei a trabalhar com uma empresa chamada The Drawing Board, que era o departamento de arte dos discos da Def Jam Records iniciado por Cey Adams e Steve Carr. Mantê-lo como uma empresa independente da Def Jam permitiu que eles aceitassem trabalhos de outras gravadoras e clientes. Cey é um bom amigo do BEASTIE BOYS e quando a banda estava voltando para New York para terminar o trabalho no que se tornaria o álbum 'Hello Nasty', o grupo conversou com ele sobre a criação do encarte e arte do álbum. Então, o BEASTIE BOYS, que originalmente era da Def Jam Records, mas agora estavam na Capitol Records, estranhamente tinham o departamento de arte da Def Jam fazendo a sua nova arte para o disco. Cey sabia que eu era um grande fã da banda e me designou para trabalhar com eles, mas com um aviso: 'Eles são bons amigos meus, então, não vá estragar as coisas".

Cey Adams (Diretor de Arte): “Originalmente o álbum iria se chamar, 'Another Dimension', e esse era o título provisório para a impressão. No último minuto eles disseram que o nome seria 'Hello Nasty'. Eles eram tão espertos em pensar fora dos padrões, sabe? Quando fizemos essa capa, pensar numa lata de sardinha parecia realmente absurdo, mas encontramos uma maneira entre Bill McMullen e eu para fazer funcionar. Não poupamos despesas e foi durante os primeiros dias do design de computador, sendo que agora você pode fazer essas coisas rapidamente no Photoshop, mas naquela época, tínhamos que fazer numa lata de sardinha de verdade. Nós fotografamos os caras da banda e sobrepusemos colocando a lata em cima, então, na foto, eles realmente estão espremidos em uma lata de sardinha... Eu ainda tenho guardado as primeiras impressões”.


Álbum: "To The 5 Boroughs" (6º disco, 2004)


A carta de amor pós-11 de setembro dos nativos de New York para a sua cidade natal, foi despojada, direta e que se refletiu na escolha da arte para a capa do disco (único álbum 100% rap da banda em toda discografia).

Matteo Pericoli (Ilustrador): “Em fevereiro de 2004, recebi um e-mail muito gentil da esposa de Adam Yauch me perguntando se eu daria permissão à banda para usar uma parte dos meus desenhos de Manhattan Unfurled para o próximo álbum deles. Manhattan Unfurled foi um livro em formato 'sanfona' publicado pela Random House retratando os arranha-céus do East e do West Side vistos dos rios que ficam ao redor. Em seu e-mail, a esposa de Adam me disse que havia dado uma cópia do meu livro para Adam no Natal de 2002 e que ele estava muito empolgado com a ideia. A banda estava prestes a lançar um novo disco, o primeiro em 06 anos e que seria dedicado a New York, e eles sentiram que os meus desenhos realmente transmitiam uma sensação desta cidade em que nasceram e cresceram".

“A ideia de desenhar Manhattan a partir dos seus rios ao redor me veio em 1998, quando fiz a minha primeira travessia navegando toda a ilha. Fiquei tão impressionado com a sua energia e efeito que teve sobre mim, que tive que encontrar uma maneira de transformar essa energia em algo tangível. Depois que o primeiro pergaminho do West Side foi concluído, o que levou 01 ano para terminar, consegui o contrato do livro com a Random House e larguei o meu emprego diário que tinha num escritório de arquitetura. Esses pergaminhos são realmente muito longos, tipo, na verdade, cada um dos dois desenhos originais de Manhattan Unfurled possuem mais de 10 metros de comprimento".

“Levamos mais de 01 ano para eu e a editora desenvolver a produção do livro em formato 'sanfona' e recebemos os primeiros exemplares no final de semana anterior ao atentado terrorista de 11 de setembro de 2001. Jamais esquecerei disso... Depois da terça-feira seguinte ao 11 de setembro, percebemos que todo o nosso projeto havia se tornado numa outra coisa. Eu não diria político, mas certamente uma imagem e uma homenagem a algo que foi tragicamente e profundamente transformado”.


Álbum: "The Mix Up" (7º disco, 2007)


O álbum instrumental que ganhou o Grammy e que forneceu uma boa linha de surrealismo.

Bill McMullen (Ilustrador, Designer): “Com o disco 'The Mix Up', a banda queria criar um mundo que se parecesse com muitos dos álbuns mais antigos que os influenciaram. Como era um disco instrumental, eles queriam ênfase visual nos instrumentos, no processo de gravação e algo que representasse o fato de não ser um álbum típico deles. Começamos a criar ideias de que poderia haver essa ‘máquina de música’, uma espécie de dispositivo moedor de carne que se tornou numa engenhoca de Rube Goldberg que cospe instrumentos".

“Tornou-se um quebra-cabeça de forma livre que eles adicionavam ideias por meio de sugestões em e-mails ou telefonemas. Eu me esforcei para criar algo como as ilustrações em corte de alguns livros de R. Crumb ou Richard Scarry, onde havia muitos pequenos detalhes para encontrar e os caras da banda tinham muitas sugestões para torná-lo tão detalhado quanto acabou ficando. O grupo teve uma grande participação no trabalho que fiz para eles e o BEASTIE BOYS era uma banda muito visual, especialmente Adam Yauch, com quem trabalhei com mais frequência nessas coisas".

“O ponto culminante de tudo foi o interior do disco, onde fizemos uma sessão de fotos no próprio estúdio da banda. Começamos no início da tarde e havia uma luz fantástica vindo das janelas, sendo que Yauch instalou um rolo de papel que podia ser puxado pra baixo para criar uma foto perfeita. Os caras fizeram várias poses, fingindo levantar um grande cabo ou segurando algo acima de suas cabeças. Combinei essas fotos com as ilustrações, criando aquela vibe surreal da banda rastejando em meio aos instrumentos e cabos emaranhados. Tudo se encaixou muito bem e fiquei orgulhoso de ter feito parte de todo esse projeto”.

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