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  • by Brunelson

Stone Temple Pilots: resenha do álbum "Tiny Music... Songs From The Vatican Gift Shop"


Antes de cair direto no álbum "Tiny Music...", uma introdução.


Em 2015, a revista GQ publicou um tributo logo após ao falecimento do vocalista original do STONE TEMPLE PILOTS, Scott Weiland, intitulado "Rock’s Greatest Poseur".

A manchete era uma referência picante e injusta ao status ignóbil do STONE TEMPLE PILOTS na década de 90 como a última cópia do grunge, uma banda destinada a ser comparada desfavoravelmente ao PEARL JAM e NIRVANA - pelo jeito, para sempre pela mídia...

Mas “poseur” tinha sido um termo originalmente aplicado ao STONE TEMPLE PILOTS por razões mais profundas do que alegações de mera "copiação" sonora. Para os letristas de música da era do rock alternativo e grunge, Weiland e seus companheiros de banda eram vistos como "charlatões" pelos veículos de comunicação, um grupo de oportunistas devassos que aproveitaram a onda grunge e pularam no 1ª vagão de trem que apareceu - o que nunca foi verdade.

“Eles continuam sendo uma piada nacional por suas vergonhosas personificações de PEARL JAM e NIRVANA”, observou o venerável crítico de rock em 1994, Greil Marcus. “Com Kurt Cobain morto, ouvir os seus sentimentos e inteligência transformadas tão alegremente numa mercadoria de outra pessoa, é uma atitude repugnante”.

Em dezembro de 2015, Scott Weiland foi encontrado em posição fetal dentro do ônibus de turnê de sua banda na época, THE WILDABOUTS, em Minneapolis. Ele tinha 48 anos e sofreu uma overdose de cocaína.

No momento de sua morte, a vida de Weiland estava praticamente destruída.


Em 2013, ele foi demitido do STONE TEMPLE PILOTS, o que ocorreu depois que ele já tinha sido demitido de quando era vocalista do VELVET REVOLVER. Weiland estava afastado dos seus dois filhos, muitas dívidas públicas, ainda sentindo muito a morte de seu irmão, também em luto ao falecimento do guitarrista (e amigo) do THE WILDABOUTS e se recuperando do diagnóstico de câncer que tanto a sua mãe quanto seu pai haviam apresentado.

Além de profissionalmente, o terem filmado com uma performance letárgica e aparentemente drogada do hit do STONE TEMPLE PILOTS, “Vasoline”, e que se tornou viral - junto com a sua banda, THE WILDABOUTS.

O legista local posteriormente determinou que Weiland morreu devido à toxicidade de uma mistura de drogas prescritas, MDA e de cocaína. O vocalista também tinha doenças cardiovasculares, asma, aterosclerose, distúrbio bi-polar, depressão e várias substâncias prescritas em seu sistema corporal: Lunesta, Klonopin, Viagra, Dalmane, Buprenex e Geodon.

Aquela havia sido a última parada em uma jornada de décadas no abismo que começou, na época em que ele foi acusado de tomar a expressão autêntica de dor de outra pessoa (Kurt Cobain) e se transformar numa "mercadoria".

Toda essa introdução foi feita, porque o artigo da revista GQ tentou mudar o significado de “poseur” de cabeça pra baixo, na verdade elogiando Weiland por sua habilidade de se mover entre muitos estilos diferentes de música.

No entanto, a picada dessa palavra permaneceu...

O cara morre sozinho em um ônibus de turnê, possivelmente a pior e mais solitária morte imaginável para um músico, e ele ainda é chamado de poseur? Não parecia justo, especialmente considerando como "poseur" agora é visto como um termo que é melhor deixar para trás na cultura musical excessivamente crítica dos anos 90. No mínimo, os seus críticos mais severos deveriam ter admitido que Scott Weiland, na verdade, não estava fingindo a sua própria dor e miséria emocional...

Vou dar um passo adiante: A ideia de que o STONE TEMPLE PILOTS é digno apenas de elogios indiretos - eles eram bons em ser falsos! - é pura besteira da mais grossa. Os seus primeiros 05 álbuns de estúdio mais do que se destacaram como uma das músicas rock mais melodiosas e compulsivamente tocáveis dos anos 90.

Deixe-me apontar outra coisa que deve ser óbvia agora: STONE TEMPLE PILOTS não soa nada parecido com o PEARL JAM, NIRVANA ou qualquer outra banda grunge. É verdade que todos esses grupos se inspiraram no mesmo poço de influências do hard rock dos anos 70, mas o STONE TEMPLE PILOTS tinha uma interpretação distinta nesse material de origem que divergia significativamente de seus contemporâneos, especialmente na época em que o álbum "Tiny Music... Songs From The Vatican Gift Shop" (3º disco, 1996) foi lançado.

Com o benefício do retrospecto, parece claro que a difamação "fraudulenta" resultou quase inteiramente por causa do videoclipe da música "Plush" (1º disco, "Core", 1992) em que Weiland canta com um vocal mais grave - talvez não por coincidência, foi dirigido por Josh Taft, que também dirigiu os videoclipes do PEARL JAM para as canções “Alive” e “Even Flow”.

E musicalmente, a música “Plush” foi criada em 1989, ou seja, 02 anos antes do lançamento do álbum de estreia do PEARL JAM, "Ten" (1991), mas qualquer um que realmente fosse acompanhar o STONE TEMPLE PILOTS depois de ouvir a canção “Plush” - em vez de repetir o pensamento preguiçoso de alguns críticos de música - poderia ouvir quão rápido eles mudaram com também sucessos subsequentes nos álbuns "Purple" (2º disco, 1994) e "Tiny Music...".

Enquanto muitos artistas do rock alternativo que vendiam discos de platina reagiram à fama recuando defensivamente para a santidade de influências e significantes do punk rock/rock independente, a música do STONE TEMPLE PILOTS ficou ainda mais grandiosa e cativante.

Na época em que gravaram o álbum "Tiny Music..." (que inclusive será relançado num box com 03 CD's em julho de 2021), eles eram uma banda super melódica em roupas de hard rock, habilmente demonstrando as suas influências de David Bowie, do período psicodélico dos BEATLES, artistas e bandas como THE CARPENTERS e John Denver, além de jazz e da bossa-nova brasileira. Todos temperos que os membros da banda amavam desde a infância.





Claro, STONE TEMPLE PILOTS dificilmente era uma banda de um homem só nos anos 90. O motor musical do grupo sempre foram os irmãos DeLeo (guitarrista e baixista), que cresceram em New Jersey tocando covers de RUSH e KING CRIMSON, antes de conhecerem Scott Weiland no final dos anos 80.

Numa entrevista com os irmãos DeLeo em 2016, poucos meses depois da morte de Weiland, as suas emoções ainda estavam cruas e complicadas. Embora pudessem elogiar ao falar sobre o seu ex-vocalista, eles também estavam irritados com a maneira como ele havia repetidamente descarrilado a banda durante toda a carreira (nas palavras do baixista Robert DeLeo: "Somente a turnê do nosso 1º álbum que correu normalmente e completa").

Tudo começou quando Weiland foi parar na prisão por comprar crack em 1995.

"Passei metade da minha vida cheio de falsas esperanças e com toda a intenção de tentar ajudá-lo, mas tudo isso levou ao que estamos falando agora", o guitarrista Dean DeLeo havia dito nessa entrevista, num tom que era ao mesmo tempo triste e ressentido. “Quando eu era criança, o termo ‘estrela do rock’ era intrigante pra mim, pois significava algo... À medida que envelheci e comecei a trabalhar com alguém que abusava desse termo, percebi Scott cada vez mais repulsivo, porque não conheço nenhum outro ramo de trabalho em que você pode simplesmente chegar atrasado para trabalhar ou não aparecer, ou aparecer para trabalhar realmente fora de si e ainda ser glorificado no seu emprego... Foi uma merda, péssimo pra mim e foi péssimo para Robert e Eric Kretz (baterista)”.

Depois de demitirem Weiland em 2013 - a gota d'água foi quando ele tentou agendar uma turnê em comemoração aos álbuns "Core" e "Purple" com a sua banda, THE WILDABOUTS - eles trabalharam brevemente com o vocalista do LINKIN PARK, Chester Bennington, onde chegaram a lançar o EP "High Rise" ainda em 2013, mas Bennington pediu para sair amigavelmente do STONE TEMPLE PILOTS em novembro de 2015 - por não conseguir conciliar as agendas das duas bandas, junto com a sua família.

Já com Jeff Gutt nos vocais, STONE TEMPLE PILOTS lançou 02 álbuns de estúdio em sua nova fase.

Mas voltando para 1996 e junto com o álbum "Tiny Music..." do STONE TEMPLE PILOTS, houve uma série de lançamentos de grandes álbuns de bandas que ainda estavam no topo do mundo, como por exemplo: "No Code" do PEARL JAM; "New Adventures in Hi-Fi" do R.E.M; "Down on The Upside" do SOUNDGARDEN; "Pinkerton" do WEEZER; "Unplugged" do ALICE IN CHAINS; "Evil Empire" do RAGE AGAINST THE MACHINE e "Dust" do SCREAMING TREES.


Embora todos esses álbuns tenham se saído relativamente bem - em alguns casos lançando singles de sucesso e vendendo milhões - chegando ao final da década eles tiveram a companhia da cena do new-metal e da música eletrônica.

Na gravação do álbum "Tiny Music...", STONE TEMPLE PILOTS se mudou para uma enorme casa situada num terreno de 100 acres no Vale de Santa Ynez, Califórnia: “Estávamos voltando às nossas raízes”, observou Robert DeLeo. Eles foram inspirados nos expansivos álbuns de rock clássico dos anos 70 gravados em mansões, assim como você pode ouvir este sintoma particularmente em músicas estilo LED ZEPPELIN como "Trippin' on a Hole in a Paper Heart" e à versão turbinada a la ROLLING STONES na canção "Big Bang Baby", que nesta última música teve a bateria gravada na área externa da casa no gramado do quintal, enquanto havia cavalos à distância os observando.

Enquanto os DeLeo's flexionavam os seus músculos musicais no álbum "Tiny Music..." mergulhando de maneira incrível no jazz rock e bossa-nova na canção "And So I Know", Weiland colocou a sua marca musical no disco ao contribuir sozinho com letra e música na canção "Tumble in The Rough” (que chegou a ser lançada como um dos singles do álbum).

No entanto, é como letrista, vocalista e incrível presença de palco, que Weiland deixou a sua marca mais significativa.


Em músicas do álbum "Tiny Music...", Weiland tipicamente se atém a um evocador, mas também comentando sobre a glória comercial e crítica do rock alternativo que estavam querendo começar a desaparecer, com letras como: “Estou procurando uma nova sensação do rock” (de “Tumble in The Rough”); “Venda a sua alma e dê um autógrafo” (de “Big Bang Baby”); “Mas eu não estou morto e não estou à venda” (de “Trippin' on a Hole in a Paper Heart”); “Só porque você é tão clichê / Não significa que não será pago” (de “Ride The Cliche”).

A música mais desconfortável a esse respeito é a magnífica e sonhadora "Adhesive", na qual Weiland reflete sobre a sua própria irrelevância iminente com cinismo distanciado sobre notas de guitarra em câmera lenta: "Venda mais discos se eu estiver morto / Flores roxas mais uma vez / Espero que seja mais cedo / Espero que esteja próximo do ano fiscal de álbuns corporativos”.

Essas linhas são tão contundentes sobre a promessa fracassada da cultura alternativa comercializada e financiada pelas principais gravadoras, quanto qualquer coisa nas linhas do álbum "In Utero" do NIRVANA, mas as qualidades meta-textuais no disco "Tiny Music..." - um álbum de rock alternativo dos anos 90 que comenta sobre o rock alternativo dos anos 90 - são fáceis de se incorporar dado o quão esse disco soa luxuoso.

Foi uma maldição ao STONE TEMPLE PILOTS querer soar como uma banda inteligente e sofisticada aos críticos dos anos 90?

Afinal, olhando para trás, faz você se perguntar quem eram os verdadeiros "poseurs"...


Track-list:


1. Press Play

2. Pop’s Love Suicide

3. Tumble in The Rough

4. Big Bang Baby

5. Lady Picture Show

6. And So I Know

7. Trippin’ on a Hole in a Paper Heart

8. Art School Girl

9. Adhesive

10. Ride The Cliche

11. Daisy

12. Seven Caged Tigers






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