Stone Temple Pilots: guia para iniciantes; um lampejo de todos os álbuns de estúdio
O quarteto de San Diego, California, originalmente chamado MIGHTY JOE YOUNG, completou sua formação em 1989 quando o baixista Robert DeLeo convidou seu irmão guitarrista, Dean DeLeo, para se juntar à sua banda com o vocalista Scott Weiland e o baterista Eric Kretz.
Em 1992, eles assinaram com uma grande gravadora, a Atlantic Records, e completaram seu álbum de estreia antes de perceberem que teriam que mudar de nome, o qual já tinha sido bem estabelecido por um guitarrista blues de Chicago.
À medida que a música alternativa surgia na MTV e nas rádios com o grunge já estourando, os recém-apelidados agora como STONE TEMPLE PILOTS se tornaram grandes estrelas após o lançamento do multiplatinado 1º disco, "Core" (1992), mas o respeito dos críticos veio lentamente e de forma mais relutante. Ao longo dos anos 90, a banda ridicularizada injustamente como se estivesse aproveitando a onda grunge, ganharia vida própria com um dos vocalistas mais talentosos, carismáticos e de grande presença de palco de todos os tempos, Scott Weiland.
O grupo sempre passou por obstáculos que impedisse de levar seus compromissos de turnês e shows de forma intacta, com o baixista dizendo uma vez em entrevista que somente a turnê do 1º disco foi completa. Que a partir do 2º álbum as turnês ou shows eram cancelados por causa da conduta tóxica e errante de Weiland.
Em 2003 e com 05 álbuns de estúdio lançados, a banda tinha encerrado suas atividades, retornando em 2008 com uma turnê gigantesca que rodou o mundo e levando o grupo ao estúdio em 2010 para lançarem seu 6º disco. Depois, Weiland seria demitido do STONE TEMPLE PILOTS em 2013 pelos mesmos motivos do passado e seria substituído por Chester Bennington, vocalista do LINKIN PARK. Em 2015, Bennington (fã da banda desde a adolescência) pediu para sair amigavelmente do STONE TEMPLE PILOTS, alegando incompatibilidade de agenda com o LINKIN PARK e sua família.
Com o STONE TEMPLE PILOTS ainda sem um vocalista nesse período, Weiland viria a falecer em dezembro de 2015, após uma suposta overdose de cocaína. Com tanto baque assim na cabeça, o grupo voltaria a dar indícios de retorno com um novo vocalista somente em 2017, quando já no final quase desistindo e depois de testar zilhões de candidatos à vaga, eis que um dos últimos candidatos se apresentou e Jeff Gutt foi o escolhido, sendo assim o vocalista do STONE TEMPLE PILOTS até hoje.
Com o benefício do retrospecto, atualmente conseguimos enxergar que se a banda tivesse uma constância em sua carreira eles seriam maiores do que já são, talvez até sendo subestimados injustamente hoje em dia.
E como forma de homenagem a essa grande banda que foi uma das que levantaram a bandeira do grunge no início da década de 90 e obtendo seu reinado soberano na MTV e rádios principalmente no ano de 1994, resolvemos oferecer um guia para iniciantes com uma sobrevoada em cada álbum de estúdio que o STONE TEMPLE PILOTS lançou de todas as suas eras.
Confira em ordem cronológica:
Álbum: "Core" (1º disco, 1992)
A Atlantic Records inicialmente comercializou o STONE TEMPLE PILOTS para um público do metal, enviando eles em turnê abrindo os shows do MEGADETH e fazendo sua 1ª entrevista na MTV para um programa de metal.
O 1º single do álbum, a música "Sex Type Thing", foi uma canção anti-estupro que muitos interpretaram como um hino misógino pró-estupro. E o 2º single, a música "Plush", fala sobre o sequestro e assassinato de uma jovem.
Com letras e mensagens desse tipo, esse disco vendeu mais de 08 milhões de cópias em seu lançamento e ganhou um prêmio Grammy, com o vocal de Weiland na canção "Plush" sendo constantemente comparado ao de Eddie Vedder do PEARL JAM, já que o STONE TEMPLE PILOTS foi criticado como uma chegada tardia e indesejada ao movimento grunge.
"Core" continua sendo um álbum distintamente pesado e implacavelmente cativante que transformou a banda e o produtor Brendan O'Brien em pesos pesados da indústria musical. O'Brien até foi contratado depois para produzir o próximo álbum do PEARL JAM, "Versus" (2º disco, 1993), se tornando no produtor do STONE TEMPLE PILOTS em seus 05 primeiros álbuns de estúdio e do PEARL JAM por toda a década de 90 até 2013.
Esse disco é quase como uma coletânea, onde mais músicas clássicas surgiram como "Dead & Bloated", "Wicked Garden", "Creep" e "Crackerman", além dos 02 singles citados.
STONE TEMPLE PILOTS foi nomeado a "pior banda nova" pelos editores da revista Rolling Stone em uma edição de 1993, mas alguns meses depois, o 2º álbum da banda surpreendentemente começou a conquistar os mais céticos - antes tarde do que nunca.
"As emoções de Weiland agora estão dispostas a voar, enquanto a música está confiante o suficiente para se expandir dentro de sua arena rock escolhida", escreveu a jornalista Lorraine Ali da revista Rolling Stone após o lançamento do disco "Purple".
As 11 músicas desse álbum demonstraram o alcance surpreendente do STONE TEMPLE PILOTS, desde a guitarra psicodélica ao contrário e a bateria tribal da música "Lounge Fly", até a melodia vibrante do hit radiofônico e da MTV que foi a canção "Interstate Love Song".
Outros destaques ficam para a versão quebraceira da música "Unglued", que mais parece um cover do NIRVANA, sem contar outras clássicas canções que esse magnífico álbum nos presentou, como "Meatplow", "Vasoline", "Pretty Penny", "Silvergun Superman" e "Big Empty".
Esse disco também é uma coletânea do início ao fim.
Álbum: "Tiny Music… Songs From The Vatican Gift Shop" (3º disco, 1996)
Através de uma visão artística singular, expandindo seus horizontes, querendo se desgarrar da roupa grunge que eram vistos e adotando experimentos e instrumentos peculiares, esse é fácil o melhor álbum de toda a discografia do STONE TEMPLE PILOTS e também parece uma coletânea o escutando na íntegra.
Esse disco revelou Weiland como o mais dedicado acólito de David Bowie do rock mainstream dos anos 90, enquanto Robert DeLeo trouxe a beleza pastoral de fácil audição para a música bossa-nova, “And So I Know”, e a instrumental “Daisy”.
E a única canção da banda até hoje composta inteiramente pelo baterista Eric Kretz - o rock frenético e que se tornaria em outra clássica música da banda - “Trippin’ on a Hole in a Paper Heart”, simplesmente é uma das melhores para se escutar ao vivo e figurinha carimbada nos shows.
Mas o negócio não para por aí, com esse álbum também nos oferecendo mais músicas que se tornariam clássicas no panteão do grupo, como "Big Bang Baby" e "Lady Picture Show", além de uma das melhores canções da banda até hoje, "Adhesive", com seu solo de trompete.
No final dos anos 90, STONE TEMPLE PILOTS teve que abortar a turnê do seu disco anterior para que Weiland se internasse em uma clínica de reabilitação. Ele até retornaria ao grupo, mas os shows foram escassos nessa época com Weiland novamente se envolvendo nas drogas e passagens pela polícia.
Sendo assim, o grupo fez uma pausa prolongada enquanto seu vocalista tentava se recuperar novamente. Quando eles retornaram em 1999, a era do new metal estava a todo vapor e eles astutamente se inclinaram para um álbum mais pesado falando como um todo, que remetia ao disco de estreia e que acabaria se tornando no álbum mais pesado do grupo até hoje.
Mas como é de praxe da elasticidade da banda, o disco "Nº 4" também oscila fortemente na direção oposta com uma das músicas mais confortáveis de se ouvir do catálogo da banda, "Sour Girl", com resultados surpreendentemente excelentes nos rankings sendo lançada como um dos singles do álbum. Outra desse mesmo naipe é a esplêndida canção "I Got You".
STONE TEMPLE PILOTS foi uma das poucas bandas na história do rock que conseguiram lançar um punhado de álbuns em sequência onde o nível não decai em nenhum deles, não importa a ordem que você escute esses discos que foram lançados nos anos 90. Destaques também ficam para o martelo sonoro que abre o álbum, a música "Down", a canção "Pruno" com um dos melhores refrões de qualquer banda de qualquer era, além das músicas "Heaven & Hot Rods", "Sex & Violence" e "MC5" (sim, em homenagem), que poderiam muito bem terem sido lançadas no 1º disco.
E com o passar do tempo assim como um bom vinho, as canções "Glide" e "Atlanta" simplesmente se tornaram muito melhores e mais saborosas quando você escuta esse álbum na íntegra esperando a hora delas chegarem.
"Pruno"
Álbum: "Shangri-La Dee Da" (5º disco, 2001)
Esse álbum marcou o fim de uma era fechando a década de 90 com chave de ouro.
Aqui, vemos um grupo de músicos no controle do seu jogo e maduros em suas direções musicais, ou seja, esbanjando experiência de vida de uma forma tão fácil quanto jogar bolinha de gude.
O guitarrista Dean DeLeo se inclina para algumas de suas homenagens ao guitarrista Jimmy Page do LED ZEPPELIN em músicas como "Regeneration". Também temos a canção "Bi-Polar Bear", que é uma das músicas mais vulneráveis de Weiland escrita depois que ele foi diagnosticado com transtorno bipolar. O vocalista também vai longe nas letras da canção "Too Cool Queenie", invadindo a história de Kurt Cobain e Courtney Love.
Outros destaques ficam para outra bomba que abre o disco, a música "Dumb Love", e a não menos pesada canção, "Coma". Também a música "Hollywood Bitch" que era uma sobra de estúdio desde o disco "Purple".
Mas novamente, a banda possui um dom em criar canções suaves e lentas, como "Wonderful", "Hello it's Late" e "A Song For Sleeping", essa última em homenagem ao filho recém-nascido do vocalista Scott Weiland.
"Too Cool Queenie"
Álbum: "Stone Temple Pilots" (6º disco, 2010)
Com o grupo encerrando as atividades em 2003, o vocalista Scott Weiland foi chamado para o VELVET REVOLVER, enquanto isso os irmãos DeLeo (compositores desde sempre do STONE TEMPLE PILOTS) formaram o ARMY OF ANYONE, onde lançaram somente 01 álbum de estúdio e que seria o disco perdido do STONE TEMPLE PILOTS entre 2003 à 2010.
A banda retornaria em 2008 para alguns anos de turnês de reunião antes de gravarem seu 6º álbum de estúdio, que, devido ao retorno do grupo e com toda a ansiedade à vista para desfrutarmos de um disco de inéditas, infelizmente se tornaria no pior álbum de sua discografia até hoje.
Simplesmente não "salta" dos alto-falantes como seus álbuns anteriores, involuntariamente defendendo o quão importante o produtor Brendan O'Brien foi para o som do STONE TEMPLE PILOTS nos 05 primeiros discos.
Mesmo sem O'Brien no comando, poucas músicas se safam aqui, vide o single "Between The Lines", a canção "Take a Load Off" e talvez mais alguma. O que acontece aqui é a sonoridade das músicas, não apresentando nenhuma pesada da velha escola da banda e outras soando extremamente pop, mais parecendo fabricadas para tocarem nas rádios e querer angariar fãs da nova geração.
Uma pena, mas parece o tipo de álbum vazio de retorno que é esquecido por muitos e que sofreu com o hiato que a banda passou nos anos 2000.
"Between The Lines"
EP "High Rise" (2013)
Chester Bennington cresceu ouvindo STONE TEMPLE PILOTS e o vocalista do LINKIN PARK já tinha se apresentado com seus ídolos pela primeira vez em 2001, quando ambas as bandas estavam juntas em turnê, com Bennington e Weiland cantando juntos em um show a canção "Wonderful" do álbum "Shangri-La Dee Da".
Acelerando até 2013, STONE TEMPLE PILOTS tinha demitido Weiland, e Bennington assumiu como seu novo vocalista, embora ele ainda estivesse muito ocupado com o LINKIN PARK.
STONE TEMPLE PILOTS fez cerca de 60 shows de 2013 à 2015 com Bennington nos vocais e também lançou o EP "High Rise" com 05 músicas inéditas para deixar registrado esse momento na carreira de todos.
O grupo até se esforçou com o single da canção "Out of Time", oferecendo aqueles grandes e memoráveis refrões e riffs pomposos no estilo do STONE TEMPLE PILOTS, mas o EP parece apenas arranhar a superfície do que realmente é o STONE TEMPLE PILOTS.
Sendo justo, não é como o disco homônimo anterior de 2010, o que faz esse EP soar muito melhor e mais próximo das raízes da banda, mas na melhor das hipóteses, o EP "High Rise" bem na verdade mesmo parece que poderia ter sido o começo de algo, com uma nova banda com seu próprio nome e identidade.
O cantor que eles finalmente selecionaram quando já estavam desistindo de aplicar testes e testes com inúmeros candidatos, foi Jeff Gutt, um sujeito que andou pela indústria musical nos anos 2000, tanto competindo em duas temporadas do reality show musical, The X Factor, e lançando um álbum por uma grande gravadora sendo vocalista da banda de new metal de Los Angeles, DRY CELL.
Com o lançamento do single da canção "Meadow", ficou claro que eles estavam procurando por alguém parecido no timbre e tom melódico de Scott Weiland, e realmente, Gutt acerta o tom vocal de Weiland e até se parece um pouco com ele se fecharmos os olhos durante uma audição completa desse álbum.
Aqui sim, parece que a banda continua de onde havia parado no álbum "Shangri-La Dee Da", conduzindo e amadurecendo seu som para novos ritmos, contratempos e ao mesmo tempo soando familiar com lampejos dos anos 90. O ritmo hard rock da música de abertura, "Middle of Nowhere", as pitadas modernas misturadas com nostalgia nas canções "Guilty", "Six Eight" e "Finest Hour", e o blues grunge da música "Never Enough", são mostras de evolução de uma banda de rock.
Sem contar a cereja do bolo, a canção "Roll Me Under", pesada e robusta no melhor estilo do STONE TEMPLE PILOTS das antigas e que poderia ter sido lançada em qualquer um dos álbuns da era Scott Weiland dos 05 primeiros álbuns de estúdio.
Sucessos como as músicas “Creep” (1º disco) e “Big Empty” (2º disco) no acústico da MTV em 1993 (exatamente 01 dia antes da apresentação do NIRVANA e no mesmo local), já tinham demonstrado como o STONE TEMPLE PILOTS era propenso ao lado mais suave das coisas - contemporâneos grunge do ALICE IN CHAINS onde ambos conseguem transformar músicas elétricas em algo atraente e cheio de alma quando se tornam acústicas.
E assim, a banda levou toda a carreira para finalmente explorar seu lado tranquilo e acústico em um álbum de estúdio inteiro.
As músicas "Three Wishes", “I Didn’t Know The Time” e "She's My Queen", parecem terem vindas de um baú dos anos 90, com essa última simplesmente sendo uma das melhoras canções da banda de toda sua discografia. Fica o destaque também para a música "You Found Yourself While Losing Your Heart", com um solo matador de violão.
Só é uma pena que a banda ainda não tocou nenhuma das músicas do álbum "Perdida" nos shows...
Quando esse disco foi lançado, a revista Spin tinha escrito em sua resenha: “Com mudanças de humor, belos pianos, refinamento de violão com sonoridade italiana, a voz imponente de Jeff Gutt e violinos atmosféricos, o álbum 'Perdida' envolve o ouvinte, levando-o a uma jornada por paisagens sonoras em camadas”.
STONE TEMPLE PILOTS é desde sempre (apesar dos obstáculos na carreira) uma máquina de shows ao vivo, fazendo apresentações incessantes como se fosse uma banda jovem dos anos 90. Com o fim da pandemia, desde 2021 que o grupo vem fazendo shows nos 04 cantos do mundo e por enquanto eles querem aproveitar o tempo e não há indícios de retornarem ao estúdio para um novo álbum.
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