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  • by Brunelson

Stone Temple Pilots: resenha do álbum "Core" pelos próprios membros da banda

Em entrevista para a revista Rolling Stone no ano de 2017, antes de relançarem o 1º disco do STONE TEMPLE PILOTS, "Core" (1992) - para comemorar o 25º aniversário do álbum - os irmãos Dean e Robert DeLeo (guitarrista e baixista) e o baterista Eric Kretz, compartilharam as histórias por trás de cada música lançada nesse disco de estréia.


Quando o guitarrista Dean DeLeo reflete sobre o tempo que envolveu o lançamento de "Core", a coisa que o impressiona é um fluxo constante de criatividade e a sensação de união que ele sentia com os seus colegas de banda na época. "Todos nós estávamos realmente ligados uns nos outros antes de gravar esse álbum. Nós 04 estávamos na sala de ensaio por pelo menos 05 dias na semana, sabe? Havia uma novidade no ar e com a novidade vem a empolgação".


Este entusiasmo espalhou-se pelas 12 músicas que o grupo gravou com o lendário produtor Brendan O'Brien, durante um período de 03 semanas, o que gerou 04 singles de sucesso - incluindo a canção hit, "Plush", e a sensível música acústica, "Creep", que se tornaram grampos da MTV com os seus vídeo clipes, bem como das rádios hard rock e alternativas de todo o mundo.


STONE TEMPLE PILOTS resistiu as comparações com os colegas titãs do grunge, PEARL JAM - e a controvérsia que veio de pessoas entenderem mal as letras em 1ª pessoa do vocalista Scott Weiland, na outra canção que também foi single, "Sex Type Thing" - para se tornar uma das maiores bandas da época. O álbum chegou ao nº 2 na parada da Billboard e certificou-se com 08 discos de platina, tornando-se o álbum mais popular na carreira da banda até hoje!


Desde então, o grupo - cuja formação em "Core" também apresentava um dos maiores frontman na história do rock, Scott Weiland, que morreu de overdose por cocaína em Dezembro/2015 - posteriormente lançou uma sucessão de álbuns que entraram no top 10 dos principais rankings musicais, em meio a rompimentos, reuniões e um curto período em que o vocalista do LINKIN PARK, Chester Bennington, liderou o grupo.


"Estamos trabalhando com alguém no momento... Ainda não quero citar nomes, mas estamos compondo músicas novas", disse Robert sobre o novo vocalista. "Eu não sei se ele é bem conhecido ou desconhecido, mas eu não o vejo como uma pessoa 'bem conhecida', sabe? Estamos compondo e esperamos terminar de gravar o novo disco e lança-lo em breve".


Hoje, sabemos que o novo vocalista do STONE TEMPLE PILOTS é Jeff Gutt.


Enquanto isso, a banda está comemorando o legado de "Core", lançando uma edição deluxe que apresenta 04 CDs, contendo uma versão remasterizada do disco original, demos, canções raras e gravações ao vivo (incluindo o show da banda no acústico da MTV em 1993), 01 cópia do álbum em vinil e 01 DVD contendo os vídeos musicais - bem como um livro de fotos com uma dedicatória escrita pelo jornalista da revista Rolling Stone, David Fricke.


"Scott não estando aqui para celebrar esse relançamento é um pouco melancólico", disse Robert. "Ele teve tanto a ver em contribuir para isso acontecer e ele não está aqui para aproveitar esse momento... Isto é um pouco agridoce para todos nós, porque estávamos no auge e escalando mais ainda, passando por tantas coisas e tendo várias memórias de algo que foi uma grande parte da nossa vida, enquanto ao mesmo tempo o que queremos fazer é seguir em frente e continuar a fazer música como STONE TEMPLE PILOTS".


Antecipando a reedição de "Core", Robert, Dean e Eric, conversaram com a revista Rolling Stone para compartilhar as histórias por trás de cada uma das canções do álbum e refletir sobre a influência de Weiland nos primeiros dias do quarteto.


Seguem as resenhas de cada música e na mesma ordem do disco:


"Dead & Bloated"

Robert DeLeo: Eu estava trabalhando em uma loja de guitarras na esquina da Sunset com a Gardner (Los Angeles) e Scott estava trabalhando numa agência de modelos que ficava do outro lado da rua, encaminhando modelos para as sessões de foto. Quando um de nós tinha uma ideia musical, ligávamos um para o outro. Ele normalmente tinha mais tempo de folga e já procurava completar a ideia musical. Foi perfeito porque, já que eu estava trabalhando em uma loja de guitarras, eu poderia pegar uma guitarra ali mesmo para compor. Scott realmente não tocava nenhum instrumento e quando ele tinha uma ideia, ele cantarolava para mim. Com a canção "Dead & Bloated" foi desse jeito que aconteceu, foi ele quem cantarolou para mim o riff que tocamos no verso da música.


Eric Kretz: Eu lembro que Scott e eu estávamos num restaurante mexicano em Beverly Hills e eles estavam vendendo margaritas por U$ 1,00 dólar. Tínhamos pedido um prato de enchiladas e ele me disse: "Hey, cara. Eu tive uma ideia". E ele começou a cantar: "Eu estou cheirando como uma rosa..." e veias estavam saindo do seu pescoço. Ele estava tão empolgado, sabe? Então, começamos a bater na mesa ao ritmo do que ele estava cantando e cara, estávamos trabalhando em algo bom ali.


Dean DeLeo: Eu tenho que ter muito cuidado com o que digo sobre as letras de Scott, porque eu não sei o quanto Scott realmente queria que as pessoas soubessem sobre o que ele estava escrevendo. Ele era uma pessoa que mantinha as suas cartas bem perto do peito e eu posso lhe dizer uma coisa, cara: Scott tinha 23 anos quando estava escrevendo essas letras, sabe? Quando estávamos gravando esse disco, e digo isso com humildade, sabíamos que, o que tínhamos era bom porque estávamos buscando o melhor um do outro. Eu acho que muito do conteúdo lírico desse álbum era sobre o grande ponto de interrogação que estava na nossa frente sobre o futuro, sobre o que aconteceria com os nossos entes queridos? O que iria acontecer com a nossa família? Onde nós estaríamos no futuro? Nós estaríamos em casa logo depois? Quando esse álbum começou a decolar, ficamos na estrada por 14 meses e não fomos nem para casa.


Kretz: Quando nós entramos no estúdio, Scott ficava cantando bem na frente da bateria, de frente para mim com um microfone na mão e apenas olhando para mim o tempo todo enquanto cantava. Era como se os jogadores de futebol batessem os capacetes uns nos outros antes do jogo começar para se empolgarem mais ainda, e eu apenas bati com tudo na porcaria da bateria nessa música.


Robert: O que você ouve no começo é Scott cantando no captador da guitarra de Dean.

"Sex Type Thing"

Dean: Eu tinha o riff do verso dessa canção há muito tempo e foi parte de uma música que tinha composto quando tinha 16 anos. Eu a compus em um lindo dia de verão e estava na garagem da minha casa - eu estava fazendo algum tipo de jardinagem ou algo assim - e a canção do LED ZEPPELIN, "In The Light", surgiu na minha mente (lançada no disco "Physical Graffiti"). Depois do verso dessa música do LED ZEPPELIN, um lick entra e se você colocar "Sex Type Thing" no topo desse lick, ela simplesmente se encaixa dentro. Era o que eu escutava quando ficava na garagem, sendo que devido ao ambiente e eco que dava, não era uma acústica perfeitamente audível porque eu escutava as notas entre aquelas notas. Eu corri para o canto da garagem, peguei o meu instrumento e a transpus para a guitarra com essa sonoridade na cabeça.


Kretz: O conteúdo lírico de Scott era bem ousado. Você se lembra do rapper ICE-T cantando aquelas músicas do BODY COUNT? Porra, lembra quão violento e chocante foi o conteúdo lírico deles na época? Eu não quero falar por Scott, mas isso nos influenciou, tipo: "Ok, Scott, como você pode chocar as pessoas nesse mesmo nível?"


Robert: Scott era totalmente contra a agressão sexual. Ele era muito sensível aos sentimentos das mulheres, mas uma vez que a canção está lançada, ela fica fora das suas mãos e todo mundo entende do jeito que eles quiserem.


Dean: Scott só não se preocupava quando as mulheres eram donas de si. Sair com ele era meio angustiante, porque você sempre sentia que uma briga poderia acontecer há qualquer momento. Você toma algumas bebidas e de repente algum sujeito no bar começava a gritar com uma garota ou começava a trata-la mal (mesmo sendo namorada dessa pessoa), e Scott falava: "Hey, cara! Não fale com ela desse jeito!". E nós ficávamos, tipo: "Nossa!". Ele tinha um grande respeito pelo poder feminino.


Kretz: Scott foi definitivamente anti-estupro nessa música, então, quando a canção foi lançada, muitas pessoas ficaram, tipo: "Oh, meu Deus! Você está promovendo isso?" E ele dizia: "Não, eu não estou promovendo nada disso. É uma reviravolta lírica tendo o ponto de vista na 1ª pessoa". Essa música teve muita repercussão na época, mas uma vez as pessoas percebendo o que ele estava fazendo e o tipo de pessoa que ele era, foi como: "OK, nós entendemos. Nem tudo é literal".

"Wicked Garden"

Robert: Esta é uma música antiga para nós. Eram 02 irmãos jogando merda contra as paredes... Provavelmente foi a 1ª demonstração que eu fiz com Dean quando morava no meu pequeno apartamento.


Dean: Robert já tinha algumas partes e eu criei o lick depois da introdução. Essa música foi meio que um Frankenstein que montamos juntos.


Kretz: Quando você ouve a versão demo na caixa do relançamento de "Core", a música já apresenta uns 90% da versão que foi lançada no disco - o padrão da bateria no começo e o pequeno solo de bateria também. Eu acho que a minha bateria estava indo um pouco além daquela sonoridade dos anos 80.


Robert: O vídeo clipe foi filmado em San Diego, California. É interessante como o vídeo clipe era uma parte muito importante para promover o seu álbum naquela época. Eu sempre tive essa coisa no fundo da minha mente que um vídeo mancha toda a mística de uma música, sabe? Você fica com uma certa impressão em sua mente depois de ver um vídeo e que não é a mesma quando se escuta apenas a música. Não me lembro qual era a imagem por trás daquilo que apresentamos no vídeo, mas não houve truques, apenas queríamos que a canção atingisse o ouvinte. Quando lançamos o nosso 2º álbum de estúdio, "Purple" (1994), tentamos nos envolver de verdade nas imagens dos vídeos, a qual você pode verificar no vídeo clipe da canção "Vasoline".

"No Memory"

Kretz: Eu não tenho memória sobre isso [risos].


Dean: Foi apenas uma peça que eu pensei que seria uma pequena transição para a música seguinte, "Sin". Quando Scott e eu estávamos morando juntos, houve momentos em que nós apenas saíamos na noite e ficávamos sentados por aí... Sempre foi bom tocar uma guitarra melancólica e entrar nesse clima.


Kretz: Na verdade eu me lembro um pouco, mas não muito... Estivemos no estúdio por 02 semanas e meia e Brendan O'Brien, o nosso produtor, disse que precisávamos adicionar algo ao álbum. Dean tinha aquela parte legal da guitarra que estava arquivada e é uma daquelas que você cria na hora ali no estúdio, sabe? Você leva algumas horas e continua desenvolvendo-a, colocando mais camadas e sons, tentando torná-la uma peça bonita e etérea. Quando estávamos terminando, ficamos, tipo: "Oh, meu Deus, isto seria uma ótima introdução para a música 'Sin'", porque os acordes se alinhavam.

"Sin"

Dean: Robert me ligou e disse: "Ouça essa coisa que acabei de compor". Como guitarrista, tropeçar em um novo acorde é ótimo, especialmente no acorde de abertura da canção "Sin". Eu realmente nunca tinha tocado esse acorde antes, sabe? Foi realmente um acorde muito simples, mas eu nunca tinha tropeçado em algo assim antes. Eu senti como se estivéssemos entrando em algum tipo de terreno sobrenatural usando esse acorde... Eu usei novamente esse mesmo tipo de acorde na abertura das músicas "Trippin' on a Hole in a Paper Heart" (lançada no 3º disco em 1996, "Tiny Music... Songs From The Vatican Gift Shop") e "Meatplow" (lançada no 2º disco em 1994, "Purple").


Robert: Quando eu olho para a canção "Sin" agora, é um pouco inspirada na banda RUSH no que diz respeito a guitarra. Eu sou um grande fã de Alex Lifeson (guitarrista do RUSH) e ele foi um dos meus primeiros ídolos na guitarra.


Kretz: Quando Tom Carolan veio nos ver tocar num clube realmente sujo em Hollywood, tocamos essa música no show (empresário da gravadora que viria a contratar a banda). Eu lembro que havia umas 30 pessoas lá naquela noite - talvez 20 - e aquela não era a melhor noite para um dos chefes da Atlantic Records aparecer para lhe ver tocar, mas nós tocamos como se fosse o nosso último dia na Terra, sabe? Foi tipo assim: "Nós temos que fazer isso, galera! Temos que abrir o show com a música 'Sin'". Nós realmente abrimos com ela, porque acho que tínhamos tocado ela pela 1ª vez naquele mesmo dia no ensaio ou talvez no dia anterior. Scott ainda não tinha as letras para ela e acho que fizemos a introdução por cerca de uns 40 segundos como abertura, mas era algo de que nos orgulhamos e Tom adorou.


Robert: Eu sempre gostei de tocar essa música nos shows e acho que na época em que estávamos a compondo, pensávamos em criar uma canção que fosse das mais eficazes para tocar ao vivo, sabe? E foi assim que aconteceu.

"Naked Sunday"

Dean: Esta música chegou muito tarde no processo de fazer o álbum e apenas começou com uma jam na sala de ensaio. A música inteira é de 02 acordes e eu estava dedilhando-os e Robert planejou o ritmo. Isso foi creditado a todos nós, porque na verdade éramos todos nós pulando nesses 02 acordes e fazendo qualquer coisa que queríamos.


Robert: Eu estava tentando fazer um R&B no baixo, tipo JAMES BROWN, sabe? Esta canção é o JAMES BROWN acelerado e mais alto. Nós tentamos incorporar isso ao nosso rock & roll e estávamos fazendo várias jams em um monte de coisas naquela época. Acho que o riff da canção "Vasoline" veio desta sessão também. Eu tinha um antigo Buick 1967, e o pisca-pisca daquele carro fazia sons de clique/estalos e eu inverti isso para o riff da música "Vasoline". Nós apenas encontramos ideias, começamos a empilhar e ambas se tornaram uma música.


Dean: Eu lembro que nós fizemos uma gravação dessa canção tarde da noite. A nossa engenheira de som, Tracy Chisholm, tinha acabado de terminar uma sessão e voltamos à meia-noite ao estúdio para escutar como havia ficado as gravações... Me lembro que ficamos até a manhã seguinte no estúdio, sendo que nós finalizamos as canções "Wicked Garden", "Naked Sunday" e uma 3ª que não me lembro agora. Estávamos todos um pouco sonolentos, porque já era umas 05:00hs da manhã e me lembro de ouvir Scott gravando os vocais e cantando aquela parte na música "Naked Sunday": "Olho por olho e dente por dente", e foi como se um despertador tocasse e a minha sonolência fosse completamente embora. Eu tinha acabado de ser trazido à vida e fiquei tão comovido com o que ele fez lá no estúdio e com a abordagem que ele trouxe para a canção, já que algumas letras Scott escrevia na última hora.


Kretz: Scott queria assumir um grande papel do personagem nessa música e nós meio que distorcemos um pouco os vocais nessa canção. Nós queríamos que essa música fosse vocalmente muito falada e foi uma canção muito boa e enérgica para ficar tocando naquela época. Nos anos 90, quando os shows tinham mosh pits, era apenas uma música tão divertida, enérgica e caótica para ser tocada nas apresentações... Me lembro dos braços agitados da plateia.

"Creep"

Dean: A canção "Creep" foi uma das músicas que Scott e Robert escreveram na época em que trabalhavam na mesma rua, um em cada lado da avenida. Eles criaram a canção juntos no banco de trás do carro de Robert, estacionado atrás da loja de guitarras onde ele trabalhava.


Kretz: Por causa da nossa idade, uma música como essa fazia muito sentido para nós. Eu ouvia muita rádio no banco de trás do carro, tipo, GORDON LIGHTFOOT, JIM CROCE, JOHN DENVER, FLEETWOOD MAC e ocasionalmente você ouviria algumas coisas do LED ZEPPELIN e um monte de coisas de PETER FRAMPTON, então, a música tinha um pouco de influência country e nos anos 70 foi definitivamente o que ouvíamos muito em casa, onde os nossos pais colocavam música country para ficar tocando o dia inteiro. A canção "Creep" não é uma música country, mas definitivamente também não é uma música 100% rock, seria algo que fica bem no meio.


Robert: Foi fácil compor uma música como essa, porque vocalmente, Scott poderia levá-la onde precisava ir. São basicamente os acordes básicos de country... Scott conseguia criar um personagem para as músicas que trazíamos para ele, assim como ele cantava nessa canção: "Bobby tem uma arma". Para mim, isso é basicamente uma referência para sair de casa aos 18 anos, se mudar para a Califórnia e viver a vida a todo vapor em questão de 05 anos ou mais, morando um pouco aqui e um pouco lá, sendo baleado... O resto dessa história poderia virar um livro ali mesmo.


Kretz: No 25º aniversário de "Core", você ouvirá que a versão original dessa música tinha uma seção inteira na ponte, mas não encaixava bem na música. Tenho certeza de que essa foi uma das coisas quando Brendan (produtor) apareceu e falou: "Vamos tentar sem a seção inteira da ponte e ver como ela vai ficar".


Robert: Eu acho que remover uma parte dessa ponte tornou a música mais comovente. Fez um pouco mais do que um ponto na canção, apenas tornando-a um pouco mais concisa. Eu acho que expressou o verdadeiro estado de humor da música.


Kretz: Quando nós gravamos a canção "Creep" com Brendan, depois tivemos um belo jantar num restaurante e voltamos ao estúdio para acompanhar o seu trabalho somente a luz de velas. A música já havia sido gravada antes a luz de velas...


Robert: Scott estava sempre criando o ambiente que ele precisava para se concentrar na sua performance ou para gravar os seus vocais.


Kretz: Nós estávamos todos sentados em um círculo. A bateria estava ao lado e nós apenas gravamos essa música ao vivo no estúdio. Esta foi a 1ª música que gravamos no estúdio para a seção de "Core" e foi um estrondo!


Dean: Depois que gravamos, todo mundo ficou muito solene, quieto... Já era tarde da noite e todos estavam um pouco cansados pelo dia de trabalho. Quando ouvimos a versão master da produção da música "Creep", lembro de ter visto a reação no rosto de Brendan e depois que a música terminou, todos nos olhamos e falamos: "Está tudo bem. Isso ficou muito bom".


Kretz: Eu posso estar enjoado da barriga e essa é uma das músicas do STONE TEMPLE PILOTS que quando ouço na rádio, não sinto nada de ruim no meu estômago, sabe? Porque eu sinto uma sensação muito pacífica dentro de mim... Eu tenho tantas lembranças de Scott por muito tempo que passamos juntos, onde muitas são boas e outras são ruins, mas para mim, essa é a música do STONE TEMPLE PILOTS que mais aparenta uma banda em completa harmonia uns com os outros.

"Piece of Pie"

Robert: A canção "Piece of Pie" foi uma combinação de algumas músicas anteriores que foram meio que reunidas, outro Frankenstein que fizemos juntos. Havia uma canção que ficou de fora do álbum "Core", chamada "Only Dying" - ela foi lançada na caixa de relançamento - e se você ouvir o pré-refrão dessa música, ela contém o mesmo ponto que aparece na canção "Piece of Pie". Depois que gravamos, não podíamos acreditar em quão grande e enorme ela soava, ainda mais com aqueles enormes alto-falantes na sala de controle do estúdio. Eu me lembro principalmente de apenas dizer na hora: "Cara, então é assim que a nossa música pode soar".


Dean: Antes de eu entrar na banda, tinha uma versão da música "Piece of Pie" que era um pouco diferente da versão que foi lançada no disco. Ela meio que tinha alguns dos elementos que acabaram saindo na versão oficial, e essa antiga versão eles fizeram quando ainda eram uma banda de garagem com um outro guitarrista, Corey Hicock, que era um amigo muito querido de Scott. Depois, quando a banda me chamou para ser o guitarrista, eles me pediram para fazer solos em 03 das músicas que haviam criado. Isso meio que abriu os olhos de todo mundo, porque era bem evidente para Scott que a sua visão era ter um guitarrista que estivesse fazendo o que eu estava fazendo. Infelizmente, Corey era um ótimo guitarrista base, mas não tinha a proficiência de tocar solos. Quando entrei, tornou-se mais uma coisa de rock, sabe? Quando eu apareci no ensaio e fiz o que eles me pediram, infelizmente chutei o cara para fora da banda... Ele já me perdoou e Corey é um garoto muito amável.

"Plush"

Kretz: Eu nunca ouvi falar dessa música [risos].


Robert: Esta canção começou como um pacote de exercícios para guitarra. Eu me apaixonei pelo riff country dessa música, sendo que eu também amo guitarra no estilo jazz, então, peguei o riff do country e os acordes de jazz e os coloquei todos juntos. Eu peguei uma guitarra e coloquei alguns tons mais escuros, com notas de baixo bem raiz nela. Foi só o meu amor pelo jazz e outros tipos de música, e tentar incorporar isso ao rock e torná-la um pouco mais interessante.


Dean: É uma linda canção! Eu ouvi pessoas tocarem essa música no piano e é apenas uma daquelas canções que realmente se transpõe para qualquer instrumento.


Kretz: Scott veio com o título e no começo pensamos que poderia ser uma das palavras para ser o nome do álbum. É apenas um tipo de palavra muito intrigante, sabe? Eu tenho certeza que quando ele ajudou a criar o nome VELVET REVOLVER (banda que Scott formou quando o STONE TEMPLE PILOTS estava em hiato) e o nome da sua própria gravadora, "Softdrive Records", ele estava tentando obter texturas nas palavras em seus pensamentos. Essa é apenas uma daquelas grandes palavras em que você sente a textura quando ouve a fonética.


Robert: Nós não sabíamos que a música "Plush" seria um mega-hit, mas sabíamos que era uma canção que no mínimo iria chamar a atenção. A nossa gravadora foi muito respeitosa conosco e nos deu controle criativo total sobre tudo nesse álbum. Claro, a intenção deles é vender discos e eles disseram: "Ah, esta será o 1º single". E nós falamos, tipo: "Não, essa não será o 1º single e além do mais, vamos enterrá-la no disco sendo a faixa nº 09". Nós fizemos isso intencionalmente, sabe? Não queríamos ser essa banda que teve um grande sucesso e então depois, as pessoas iriam dizer: "Ok, o que vem agora?" Nós queríamos ter uma carreira e não ser o tipo de banda que saiu com uma grande música e depois sumiu do mapa. Mas sim, quando essa canção foi lançada, tudo mudou.


Kretz: Você pode ouvir na versão demo que lançamos na caixa de relançamento, que liricamente as coisas ainda não estavam lá todas juntas, mas todas as partes da canção já estavam sim. Eu pude ver o quão oprimido Scott estava ficando com as letras que estava tentando escrever, porque havia tantos ganchos na música que ele tinha que escrever e ter corretamente cada palavra para encaixar nela. Nós escrevemos as letras no Oakwood Apartments em Los Angeles, um complexo de condomínios/hotel para curtas estadias, onde ficamos por cerca de 01 mês até encerrarmos todo o processo de gravação do álbum. Tinha quadras de tênis, piscinas e uma banheira de hidromassagem. Me lembro que depois de uma sessão de gravação, Scott e eu estávamos bebendo cerveja e sentados na banheira de hidromassagem, quando começamos a juntar o resto das letras para finalizar essa música, insinuando onde estávamos em nossas vidas, como chegamos lá, a incerteza do que o futuro era para nós e para as pessoas que amamos. Foi realmente uma coisa esotérica, mas foi definitivamente um jogo de palavras que juntamos e colocamos em parceria.


Dean: Tudo nesse álbum foi feito ao vivo. A faixa de guitarra na música "Plush", é uma faixa ao vivo tocando com Eric, Robert e eu. Estávamos bem na frente um do outro e era só nós fazendo acontecer.


Kretz: A linha da letra que fala sobre cachorros, é basicamente porque os cachorros sempre me fascinaram devido ao seu olfato que é incrível! Se alguém está chegando à sua casa e a pessoa está lá na esquina ainda, eles não precisam vê-lo, mas já conseguem sentir o cheiro. Eu coloquei essa parte da letra na canção, por causa da incerteza de quem vai estar por perto quando estivermos fora, o que vai acontecer e o quanto todos na banda amam os cachorros, o quanto nós amamos ter cachorros para serem cães de guarda e outros tipos de proteção. Eles são o melhor amigo do homem e sim, admito que hoje falando é uma coisa estranha, mas tudo fazia sentido na época. Com a palavra "máscara" nas letras, foi referente ao Dia dos Mortos, que é uma festa mexicana onde se usam muitas máscaras. Nós sempre estávamos empolgados com a arte étnica e se você olhar para a arte étnica, as máscaras são uma grande parte da sua história. Pode vir de 01 milhão de lugares diferentes.


Dean: Recentemente nós fizemos uma entrevista e a pessoa colocou para tocar somente a faixa vocal da canção "Plush". Eu nunca tinha ouvido isso antes e olhei para Robert e Eric, e estávamos todos com os olhos marejados. Ouvir o brilho de sua performance vocal foi incrível.

"Wet My Bed"

Robert: Eu acho que toquei a guitarra e o baixo nessa música. Foi sobre a criação de algo musical que Scott tinha em mente e ele também gostava muito de Jim Morrison (vocalista do THE DOORS), onde me parece que ela tem uma sensação muito parecida com Morrison. Era apenas mais uma pequena coisa passageira com a qual estávamos tentando ser artísticos para ir de música em música. É somente sobre isso...


Dean: Eu não estava lá na sala de ensaio com eles, porque a porta estava trancada, mas conseguia ouvir através da parede que algo estava acontecendo.


Kretz: Se você escutar com atenção, é possível nos ouvir sussurrando ao fundo nessa música. Nós estávamos lendo algumas revistas e falamos, tipo: "Precisamos fazer algum som estranho". Depois que gravamos, eu acredito que Scott nos disse: "Nós soamos como os BEATLES lá dentro". Você consegue escuta-lo fumando no microfone, o barulho do isqueiro e o papel queimando.


Dean: Eles ficaram lá por algumas horas. Era somente uma brincadeira de momento que se transformou no que foi lançado no disco.

"Crackerman"

Dean: Quando Scott e Eric moravam no centro da cidade, a 01 quadra do distrito Skid Row, Los Angeles, Scott saía para tomar o seu café da manhã e sempre havia algumas pessoas desabrigadas dormindo na rua, com as quais você podia conversar e algumas, infelizmente, estavam na rua por algum motivo do passado. São pessoas que são incapazes em ter cuidados médicos e se colocar em uma atmosfera mentalmente adequada. Tinha um cara que morava debaixo de uma escadaria e ele alegava que o seu nome era Crackerman. Scott lhe dava um pouco de pão e às vezes tomavam juntos o café da manhã, na rua mesmo, e ficavam conversando. Esse cara gerou essa música e Scott o via quase todos os dias, durante vários meses.


Robert: Esta música era um pouco diferente antes de Dean se juntar a nós. Foi outra música do tipo Frankenstein, onde fizemos juntos. Era mais uma coisa tipo R&B com um toque da banda KING CRIMSON. Nós todos crescemos escutando também o rock progressivo e nós éramos grandes fãs do grupo YES. O cara que originalmente iria produzir o disco "Core", Eddy Offord, foi o produtor dos primeiros álbuns do YES e foi engraçado, porque estávamos tocando as nossas músicas e de repente paramos, e foi naquele momento cômico que todos nós ficamos nos olhando e perguntamos a Eddy: "Como você conseguia aquele tipo de sonoridade com o YES?". Estávamos preferindo fazer perguntas sobre o YES, ao invés de tentar trabalhar em nosso próprio álbum, porque lá tinha um cara que sabia das respostas.


Kretz: Eu tenho certeza que essa canção é outra que foi gravada ao vivo no estúdio. Para mim, definitivamente a música "Crackerman" tem esse apelo, do tipo: "Isso é STONE TEMPLE PILOTS! Isso é o que soamos quando estamos todos juntos! São todos os elementos juntos de uma forma muito simples!"

"Where The River Goes"

Dean: A 1ª música que compomos quando eu entrei na banda. Eu tinha esse lick e todo mundo pulou para dentro na hora.


Robert: Dean e eu estávamos tocando juntos em New Jersey desde 1982, então, musicalmente falando, tendo essa familiaridade de tocar com o meu irmão de novo, foi o tipo de coisa que tudo colou no dia em que todos nos reunimos pela 1ª vez, sabe? Eu lembro daquele momento e foi explosivo, cara...


Dean: Eric desempenhou um papel muito importante nessa canção, onde ele colocou um acorde que liga as 02 partes da música.


Kretz: A única parte que eu apresentei foi o riff para a guitarra no refrão. Eu só bati na mesma clave musical e tive uma sensação muito boa, sabe? Esta foi provavelmente a 1ª música que fizemos uma gravação demo, quando a banda ainda se chamava MIGHTY JOE YOUNG. Quando você escuta a demo (também lançada na caixa de relançamento de "Core"), é 99% do que foi lançado no disco.


Dean: Scott começou a cantarolar algumas melodias e eu acho que as melodias sempre vieram antes das letras. Você podia ver Scott escrevendo enquanto ele estava cantarolando as melodias e ele era brilhante, cara. Ele foi um dos maiores letristas do nosso tempo, sabe? Eu posso dizer isso com confiança e orgulho.

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