Nirvana: confira trecho da entrevista perdida de Kurt Cobain para a revista brasileira Bizz de 1993
by Brunelson
há 4 horas
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Confira somente um trecho de uma entrevista perdida de Kurt Cobain para a revista brasileira Bizz de 1993 (provavelmente edição de janeiro ou fevereiro).
Na ocasião, NIRVANA estava no Brasil realizando suas lendárias apresentações em São Paulo e Rio de Janeiro fazendo parte do line-up de bandas do Hollywood Rock Festival naquele mês de janeiro de 1993, onde o grupo fechou as 02 noites do festival.
Cavando fundo no baú, o escritor que vos fala achou uma página rasgada da revista Bizz (mais precisamente a página 27, foto) onde consta parte da entrevista que Cobain concedeu a revista.
Segue essa página na íntegra aqui para você. A mesma já começa na metade de uma resposta do frontman do NIRVANA:
Kurt Cobain: ...vou ser um desses caras. Além disso, andei dando muito dinheiro para algumas causas, pesquisas de Aids, apoio a pessoas estupradas e tal. Ter iates ou casas ou coisas assim não faz parte do meu repertório. Passei anos fazendo bicos, como zelador e coisas assim. Vivi durante anos com uns US$ 200 dólares por mês, então, não estou acostumado a pensar em comprar coisas. Hoje entro em um shopping center e não tenho vontade de comprar nada, só discos. Mas eu sempre dei um jeito de comprar discos ou gravar.
Jornalista: Falando em discos, vocês andam fazendo uma campanha de contra informação. Cada hora dizem que terão um produtor diferente.
Cobain: Começaremos a gravar o disco novo em março e já fechamos com o produtor. Será mesmo Steve Albini e já temos algumas coisas para gravar (que foi o disco "In Utero", 4º e último trabalho de estúdio, 1993).
Jornalista: Você conhece o cara de onde?
Cobain: Ainda não o conheci pessoalmente, só falei com ele pelo telefone. Pareceu legal e os trabalhos dele são excelentes.
Jornalista: Boataria: andam dizendo que o disco pode ter números acústicos. Você está amolecendo com a paternidade?
Cobain: Não, não deve ser acústico. Talvez tenha alguma coisa, mas será um disco bem rock'n roll. Pouca distorção e mais ênfase nas canções. Bem mais próximo do disco "Incesticide" (3º trabalho de estúdio, 1992) que do álbum "Nevermind" (2º disco, 1991).
Jornalista: Gostei muito da música "New Wave Polly", do disco "Incesticide".
Cobain: É como eu estava dizendo, esse é o período do rock que eu mais gosto: punk rock e new wave. Tentamos compor músicas desse tipo o tempo todo. Mas não conseguimos, aquela bateria reta e rapidinha é difícil demais.
"New Wave Polly"
Jornalista: Existe uma previsão para o lançamento do disco?
Cobain: Mais ou menos. Deve ser na metade do ano. Nesse meio tempo, tenho várias coisas para fazer. A principal é produzir o disco do MELVINS.
Jornalista: Vocês vão sair em turnê de novo este ano?
Cobain: Sim, mas não aguento mais tocar nesses lugares gigantescos. Chegar, tocar e ir embora da cidade. Porra, nós viajamos pelo mundo todo nesse último ano e eu não conheci nada. Nossa próxima turnê, depois do lançamento do disco, será por lugares bem menores, clubes e não arenas. Assim fazemos 02 ou 03 shows por cidade e temos tempo para conhecer as pessoas e os lugares. E os shows saem muito melhores.
Jornalista: O problema é que no Brasil, quando vem uma banda grande, é sempre para tocar nesses estádios. E é a única chance da moçada ver vocês...
Cobain: Eu sei. Nós vamos fazer o melhor que pudermos.
Jornalista: É que para muita gente, inclusive a moçada daqui, vocês passaram a representar um novo estilo de vida, uma alternativa não só musical. Você pode não confiar nos veículos que transmitem essa imagem, mas tem que lidar com isso...
Cobain: Quero aproveitar para falar de uma revista. Foi um crime o que ela fez.
Jornalista: A revista Veja...
Cobain: É. Krist Novoselic (baixista) nunca, nunca, nunca diria que "80% do nosso público é idiota". Nem fodendo! É verdade que a maioria das pessoas - a média das pessoas - está afundada na apatia e na ignorância, mas o nosso público... A maioria são apenas garotos curtindo rock e muitos deles entendem o que estamos tentando passar. Nosso público tende a ser exatamente o contrário do tipo apático. É o problema da mídia. A grande mídia sempre erra, sempre... Não adianta você falar "A", eles irão entender "B". É um nível completamente diverso... Eles simplesmente não conseguem entender do que estamos falando. Por isso é que estamos deixando de falar com a grande mídia, ou pelo menos regulando com as nossas entrevistas. Falamos com fanzines livremente e sempre que nos procuram, porque são pessoas que pensam como nós, vem do mesmo lugar de onde viemos e entendem o que dizemos. A grande mídia só nos fode e não vale a pena perder tempo.
Jornalista: Você não acha que é um pouco severo com a ignorância e a alienação das pessoas? Quero dizer, não existem razões para a maioria da nossa geração - e da nova geração - ser um bando de patetas? Ninguém vira um panaca de graça.
Cobain: Olha, tem muita informação rolando por aí. Se você se interessar e quiser saber o que está acontecendo no mundo, basta correr atrás que vai conseguir. Eu era assim, sempre tentando saber mais e sempre procurando. E sinto que muitos dos nossos fãs são assim também.
Revista Bizz pág. 27
Confira a performance do NIRVANA no Hollywood Rock Festival no Brasil em janeiro de 1993, tocando a música "School" (1º disco, "Bleach", 1989) em sua apresentação no Rio de Janeiro: