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  • by Brunelson

Smashing Pumpkins: entrevista pela revista Premier Guitar - Parte 2/3


Confira a 2ª parte desta bela entrevista que a revista Premier Guitar realizou com Billy Corgan e Jeff Schroeder, respectivamente, frontman e guitarrista do SMASHING PUMPKINS.


Jornalista: É engraçado, porque depois que você lançou algumas músicas em divulgação ao novo álbum, "Cyr" (10º disco, 2020), como por exemplo a faixa-título e "The Colour of Love", algumas das músicas mais pesadas do álbum foram lançadas. Houve até uma publicação do site Louder que disse... Billy Corgan: Eles emitiram um pedido de desculpas? Jornalista: Sim! Eles estavam se desculpando por um artigo anterior em que admitiram terem sido "um pouco prematuros" com as observações deles sobre a natureza do disco "Cyr". Antes, eles haviam publicado: "Só podemos presumir que Billy Corgan odeia guitarras e está deliberadamente brincando com as nossas emoções". Tipo, achei muito engraçado ler que "Billy Corgan odeia guitarras"... Corgan: É raro receber um pedido de desculpas da mídia e eu sabia que isso iria acontecer. Falei sobre isso com o pessoal da banda, tipo: "No minuto em que alguém ouvir um sintetizador, irão reagir de forma exagerada". É por isso que gostei da estratégia de lançar várias músicas antes do álbum ser lançado, para dar tempo às pessoas para absorvê-las. Corgan: (risos) Para alguém que odeia guitarras, tenho certeza que vendi muitas guitarras de outras marcas, certo? Não só isso, quero dizer, a Electro-Harmonix basicamente dedicou o seu relançamento da guitarra Big Muff ao SMASHING PUMPKINS, porque os ajudamos a reconstruir a sua marca, então, eu acho que fizemos bem com as guitarras (risos). Jeff Schroeder: É estranho porque uma das maiores músicas do SMASHING PUMPKINS é provavelmente a canção "1979" (3º disco, "Mellon Collie and The Infinite Sadness", 1995), o que estaria muito de acordo com um álbum como "Cyr", pois combina elementos eletrônicos com certos estilos de tocar guitarra. Se você realmente absorveu todo o catálogo do SMASHING PUMPKINS e até músicas que foram sucessos, como “Ava Adore” (4º disco, "Adore", 1998), não me parece que esse tipo de música do álbum "Cyr" seja tão estranha assim, mas se você pensar na banda apenas pelas canções "Bullet With Butterfly Wings" (também lançada no 3º disco) ou "Cherub Rock" (2º disco, "Siamese Dream", 1993), então, posso ver que seria chocante. Mas para as pessoas que realmente conhecem a amplitude e largura da banda - mesmo no tempo em que eu estou no grupo desde 2007 - sempre fizemos coisas com folk acústicas, metal e componentes eletrônicos. Sempre fez parte da receita. Jornalista: Muitos guitarristas e bandas famosas, como John Frusciante do RED HOT CHILI PEPPERS e grupos como NINE INCH NAILS, usam sintetizadores da mesma forma que usam guitarras... Corgan: E quanto a Eddie Van Halen? Ele compôs uma das maiores músicas de todos os tempos num sintetizador, a canção "Jump". Eu cresci numa geração que desconfiava muito dos sintetizadores. Até a banda QUEEN deixou escrito no encarte de um álbum deles: “Sem sintetizadores”. Estamos apenas em um mundo diferente agora e é apenas música, certo? Você está me dizendo que Bach (música clássica) não teria usado um sintetizador se ele tivesse acesso a um? Os grandes compositores da música clássica usaram tudo o que tinham na frente deles e nós também. Com a gente foram pedais fuzz, guitarras e então, eventualmente, acabou se transformando em outras coisas. Todo mundo sempre faz disso algo maior do que nós e acabamos tendo que falar sobre algo que não temos em particular, quero dizer, nós apenas fazemos música, entende o que eu quero dizer? Jornalista: O álbum de retorno dos membros originais em 2018, "Shiny and Oh So Bright, Vol. 1" (9º disco, somente a baixista D'arcy não voltou), produzido por Rick Rubin, foi a primeira vez que você trabalhou no estúdio com o guitarrista James Iha em 17 ou 18 anos (membro original). Como você voltou ao ritmo com ele? Corgan: Para o crédito de Rick Rubin, ele meio que nos jogou no fundo da piscina... Nós apenas aparecemos, começamos a gravar e não houve uma reunião de estratégias (risos). Nós apenas voltamos ao que sempre fizemos, estabelecemos um círculo, rastreamos músicas e fizemos o que fizemos de forma muito rápida. Gravamos as 08 músicas daquele álbum em 04 semanas, o que para nós é como um disco gravado em velocidade máxima, sabe? Eu gosto daquelas músicas, mas simplesmente não sinto que o nosso trabalho gravado de forma rápida seja o nosso trabalho mais representativo. O nosso trabalho mais representativo é aquele em que dedicamos tempo para encontrar algo novo para dizer. Então, de várias maneiras, o disco "Shiny and Oh So Bright, Vol. 1" foi o que você esperaria de uma gravação feita muito rápida. Já o álbum "Cyr" é mais da nossa tradição, que é enfiar o pé em algo novo e ver o que sai. Jornalista: Jeff, como foi essa experiência para você gravar junto com James Iha? Schroeder: As pessoas sempre me perguntam: “Foi estranho para você?” Porque, você sabe, a pessoa que você basicamente substituiu está voltando, mas nunca houve nenhuma esquisitice e de fato, com o tempo, foi uma grande bênção pra mim, porque agora Billy faz as suas coisas na guitarra, James também faz as suas coisas e isso realmente me permite ser eu mesmo no grupo. Eu não tenho que emular a guitarra de mais ninguém e apenas faço o que eu quero fazer... Na verdade, foi muito libertador. Jornalista: Billy, quando você está em casa compondo uma música, que tipo de violão você toca? Corgan: Eu tenho esses 02 velhos violões da Gibson - provavelmente da década de 40 - os quais realmente gosto. Os violões daquela época tendem a ter o pescoço em V. Eles possuem realmente uma sonoridade metálica e eu não sei por que, mas por algum motivo eu prefiro compor músicas em violões que soem mais percussivos. Eu percebi uma vez quando estava ouvindo as demos inéditas de John Lennon e se você ouvir algo como a música "Strawberry Fields Forever", você realmente ouve o ritmo que ele toca e percebe que a magia de muitas de suas canções é o ritmo entre a forma como ele canta e o ritmo entre a forma como ele toca. Eu realmente levei isso a sério e há algo sobre tentar encontrar o ritmo interno em uma música para estabelecer uma narrativa permanente que você poderá gravar mais tarde. Jornalista: Quando se trata do processo de estúdio para a gravação do álbum "Cyr", a maior parte do disco foi arranjada e escrita por Billy. Jeff, como você aborda entrar nessa conversa e adicionar as suas próprias cores de guitarra? Schroeder: Eu ainda morava em Chicago na época, então, estava mais entrando e saindo do estúdio conforme as coisas iam tomando forma. Eu estava lá e pude participar dessas conversas, e até tentamos algumas versões iniciais de músicas com mais guitarra rock e acabamos não usando. Basicamente, quando é hora de começar a adicionar as guitarras, geralmente tornam-se sessões virtuais e eu vou trabalhar em casa por um tempo e demonstrar as minhas ideias, para que em seguida possamos empilhá-las em cima da gravação, fazer uma mixagem e analisa-las. Ou quando estamos juntos, ouvimos e pensamos: "Oh, esta é uma boa ideia". Então, talvez esta tal ideia se torne parte da gravação final... É mais como terminar uma pintura e daí você começa a analisar: "Hmmm, talvez precise de um pouco mais disso aqui ou poderia usar um pouco daquilo ali", e vamos procurando as coisas necessárias. Na verdade, é um trabalho muito difícil porque não é como: "Hey, apenas entre e toque o que quiser". Não, leva muito tempo, pensamento e muito esforço. O álbum "Cyr" foi uma gravação muito metódica, onde cada centímetro desse disco foi discutido numerosas vezes (risos). Jornalista: Billy, sempre gostei da sua maneira de contar histórias. Para o álbum "Cyr", você criou os arranjos ou as letras primeiro? Corgan: O que tento fazer enquanto faço os arranjos da música é esboçar melodias vocais, mas não vou muito fundo nelas. Eu apenas meio que crio um "riff" vocal sobre os arranjos e então, realmente não detalho o que vou cantar ou como vou cantar até que esteja escrevendo as letras. Muitas das músicas do disco "Cyr" eu escrevi as letras na noite anterior da gravação da música ou na mesma manhã no dia da gravação, onde apenas mergulho com força e tento, não improviso, mas tento me colocar em um lugar onde tenho que tomar decisões. Jornalista: Isso é impressionante, porque eu li as letras deste álbum e você usa palavras de maneiras atípicas. Por exemplo, na música “Adrennalynne”, você usou a palavra “jake” quase como um verbo. Corgan: Sim, “jaked”. Essa é uma palavra que você não ouve muito (risos). Jornalista: Você conseguiu algumas dessas palavras de coisas que está lendo ou de diferentes culturas? Há muita coisa acontecendo por aí... Corgan: Claro, ótima pergunta! Eu leio muito, tipo, a minha média é provavelmente de 80 a 100 livros por ano, então, gostaria de pensar que sou alfabetizado. Mas, além disso, acho que sou atraído por palavras que não são usadas muito comumente porque é como encontrar um livro antigo e soprar a poeira dele. Há algo curioso sobre, bem, por que essa palavra significa algo e então por que não significa algo? Sabe aquela coisa esquisita no Google onde você pode ver onde uma palavra não é mais usada? Você digita uma palavra e ele literalmente mostra como o uso da palavra diminuiu com o tempo. Como “cynosure” ou um desses tipos de palavras. Você verá que lentamente esta palavra foi usada até 1950 e depois caiu em desuso. É tão estranho como a cultura funciona com as palavras, sabe? Acho que há 50 anos atrás o americano em geral usava 2.500 palavras em seu vocabulário e agora baixou para 1.500. Portanto, estamos vendo uma grande redução na linguagem e estou atraído por empurrar novamente os limites. Também sou um grande adepto do icônico autor William Burroughs, que realmente acreditava nisso - e David Bowie também era um grande devoto disso - e dependendo de como você usa as palavras e em que sequência, elas revelam uma energia oculta. A ideia principal é que eu poderia dizer 05 palavras para você em uma determinada sequência e você pensaria: “Ah, tanto faz”, mas eu poderia dizer essas mesmas 05 palavras em uma sequência diferente e você ficaria ofendido e nunca mais falaria comigo. Então, eu realmente gosto de brincar com a linguagem dessa forma. Como guia, sabe? Apenas tento ver o que me incomoda e se isso me deixa desconfortável, geralmente é uma coisa boa. Jornalista: Como você acabou de dizer sobre combinações de palavras, acho que na música "Confessions of a Dopamine Addict" (lançada no álbum "Cyr"), você começa com uma frase muito simples: "O amor é fácil". Eu amo como isso começa junto com o conceito do videoclipe e o que está acontecendo durante a música. Corgan: Há até uma palavra lá, "inamorata". Eu meio que conhecia a palavra, mas tive que procurá-la e... É realmente uma palavra? Eu inventei essa palavra do meu cérebro? Porque isso também acontece às vezes e mesmo às vezes ouço e penso: "Será que não poderia ter escolhido algo um pouco menos estranho?" Corgan: Mas há algo sobre violência nisso e eu uso essa palavra vagamente. Há algo sobre o desconforto de ouvir palavras que você não está acostumado a ouvir e fraseologias que são onomatopeias diferentes daquela que você está acostumado a ouvir. Percebo que nos últimos 10 anos, o uso das palavras está ficando cada vez mais reducionista. Menos palavras, as mesmas palavras, o mesmo tipo de vogais, os mesmos quatro acordes... Eu sou um pouco vitoriano no sentido de que estou reagindo contra tudo isso. Jornalista: Sintetizadores, guitarra e baixo interagem no disco "Cyr" e muitas vezes são difíceis de distingui-los, mas há tantas camadas interessantes neste álbum... É difícil dizer o que é realmente uma guitarra ou um sintetizador. Corgan: Isso é de propósito. Acho que é divertido brincar com guitarras que soam como sintetizadores e sintetizadores que soam como guitarras. É uma combinação de muitas coisas. Tenho um teclado famoso, o Yamaha CS-80. É aquele que a banda ELO usou muito. Eles são muito caros e difíceis de conseguir e sempre que você consegue um, eles quase sempre estão quebrados ou danificados. Então, eu estava usando bastante ele nas gravações. Schroeder: Basicamente, em muitas músicas há muitos fantasmas das partes de sintetizador, onde eu usaria o Helix e dois pedais fuzz DI, e isso criaria um tipo de sintetizador muito agitado, mas ainda teria a energia da guitarra, sabe? Essa era a arma secreta esquisita e a guitarra Yamaha que eu toco possui essa faixa de frequência específica na qual se encaixava. Era sempre, tipo: “Nossa! Lá está ela”. Foi mágico. Jornalista: Billy, você tocou baixo na gravação do álbum "Cyr"? Corgan: Sim, eu sou tradicionalmente o baixista da banda no estúdio, então... (risos). Há muito baixo tocando nesse disco e descobrimos que mesmo para músicas que possuem, vamos chamá-lo, mais de uma base de baixo de sintetizador, que, ao colocar um baixo real lá, meio que o anima de uma forma que o traz à vida e me faz pensar nas vezes em coisas do NEW ORDER e coisas assim. Há algo sobre essa combinação, há algo de lindo na limpeza de um sintetizador por si só, mas adicionar um pouco de baixo o torna um pouco mais rock 'n' roll.


Confira o videoclipe da música "Confessions of a Dopamine Addict", citada aqui nesta entrevista e que foi lançada no novo álbum do SMASHING PUMPKINS, "Cyr":


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