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  • by Brunelson

Ramones: a resenha do álbum "Animal Boy"


Ramones

A biografia dos RAMONES, “Hey Ho Let’s Go: A História dos Ramones”, escrita pelo jornalista musical inglês, Everett True, foi lançada originalmente em 2002.


Este jornalista era da revista Melody Maker e foi a mesma pessoa que "descobriu" o grunge em 1989 e mostrou à imprensa britânica, antes ainda do gênero explodir no mainstream em 1991.


Portanto, segue logo abaixo um trecho desse livro onde é destacado o 9º álbum de estúdio dos RAMONES, “Animal Boy”, e que havia sido lançado em 1986:



Os RAMONES começaram a gravar o seu 9º álbum de estúdio, “Animal Boy”, em Dezembro/1985 – tirando um tempo para tocar em seu show (semi) anual de Ano-Novo, em New York. No público, o humor estava otimista - os músicos estavam entusiasmados com a recente turnê europeia. “As coisas estão ótimas quando está só a banda”, riu Joey Ramone (vocalista). “O problema são as garotas..., umas encrenqueiras”.


Com a lógica típica dos RAMONES, eles dispensaram os serviços de Tommy e Ed Stasium (respectivamente, ex-baterista dos RAMONES que depois virou produtor da banda; e o engenheiro de som do grupo, que juntos haviam gravado o 8º disco da banda, “Too Tough to Die”, 1984), apesar do 8º álbum de estúdio ter sido o seu mais aclamado disco pelos críticos e pelos fãs em anos!


Então, a banda trouxe Jean Beauvoir (produtor do futuro single de “Animal Boy”, a canção “Bonzo Goes to Bitburg”, lançada ainda em 1985 e que posteriormente foi incluída no disco) para supervisionar os procedimentos no Intergalactic Studio, New York. O grupo começou a tocar em uma fórmula mais hábil e convencional, porque era mais fácil e barato.


Joey, continuando a sua crise de composições, escreveu apenas 02 novas canções para o álbum – a música “Mental Hell” (um sumário dos seus sentimentos sobre os RAMONES durante o começo dos anos 80) e o lixo absoluto da canção “Hair of The Dog”. Ele canta nessa última música: “O que tem de tão errado com o pelo do cachorro?”. Se Joey estava cantando sobre o que ele conhecia, ele precisava parar de ser tão indulgente consigo mesmo e redescobrir o seu agudo senso de humor. Ao menos, a música “Mental Hell” tem uma parte ótima ao estilo da banda BUZZCOCKS.


“Não é justo!”, Dee Dee Ramone (baixista) reclamou para Bill Black, jornalista da revista New Music Express. “É Johnny, cara! (guitarrista). Joey apresenta uma ótima melodia e Johnny não quer por causa disso ou daquilo. Ele dizia: ‘Eu não vou tocar acordes menores! Eu não vou tocar guitarra solo! Eu não vou para a Inglaterra!’. Ora, pelo amor de Deus! É por isso que Joey já queria fazer o seu disco solo naquela época...”


“Não é conflito”, atenuou Joey, sempre diplomático, “mas eu tenho ideias que gostaria de explorar, porém, ainda estou amadurecendo... Ainda estou comprometido com essa banda”.


“Eu também!”, concordou o baixista. “Eu tenho um álbum solo a caminho, mas não posso trabalhar nele agora porque tenho que escrever letras para os RAMONES”. A banda explicou as suas razões por terem demitido Tommy como produtor, com a sua usual indiferença. “Ele endoidou, cara!” Dee Dee declarou. “Ele fez aquele álbum da banda REPLACEMENTS e depois eles o demitiram..., mas ele faz isso em todos os álbuns, sabe? Ele mantém tudo nos eixos durante a gravação, então, no meio da mixagem, ele começa a falar consigo mesmo e a estapear a si também”.


“Ele gosta de comer, sabe?”, disse Joey. “Nunca tínhamos nada pronto porque ele sempre tinha que ir a algum lugar para comer. Foi uma verdadeira reunião de trabalho com esses caras, um disco muito bacana, mas... É divertido trabalhar com Jean Beauvoir também”, acrescentou defensivamente.


O principal problema de “Animal Boy”, era que nele não havia mais um único som discernível dos RAMONES, soando tão deslocado como os membros da banda provavelmente se sentiam. A guitarra poderia ter sido tocada por qualquer um e a bateria de Richie Ramone estava fugindo ao modelo original de Tommy (e que Marky, 2º baterista, fazia muito bem). Os RAMONES estavam se tornando um emprego em que (quase) não era preciso bater o cartão.


Ouça a música “She Belongs to Me”, uma doce balada de Dee Dee em parceria com Jean Beauvoir. É uma linda canção de amor não correspondido, com Joey fazendo com a voz o mesmo que Ronnie Spector fazia (ex-vocalista da banda THE RONETTES) – o que foi absolutamente arruinado por sintetizadores que seriam substituídos por guitarras se dependesse de Tommy - ou Phil Spector teria usado cordas de verdade para acompanhar (produtor do 5º álbum da banda, “End of The Century”, 1980).


Poucos anos antes, Johnny teria vociferado contra a inclusão de sintetizadores. Agora, o seu silêncio era indicativo de que ele pouco estava se importando, contanto que o trabalho fosse completado e o disco estivesse finalizado para que os RAMONES pudessem cair na estrada mais 01 vez...


A canção “Crummy Stuff”, de Dee Dee, é uma franca e divertida explosão punk sobre a mediocridade da vida no velho estilo dos RAMONES – de novo desperdiçada pelos pretensiosos teclados repetitivos. As músicas “Animal Boy” e “Apeman Hop”, são parecidas com a canção “Cretin Hop” (lançada no 3º disco) com 01 milésimo de sua qualidade (sinto muito, mas cretinos e retardados são muito mais divertidos do que idiotas) – para usar aqui, mais 01 vez, a analogia do roadie dos RAMONES, George Tabb, de que isso era estúpido-estúpido e não estúpido-esperto. Como o guitarrista e fã, Mark Bannister, observou para Dee Dee em 1994, era como se alguém tivesse dito: “Vamos escrever sobre aleijados ou coisa parecida porque é o que costumávamos fazer”.


“Eu sei”, Dee Dee replicou. “Era o que falávamos, tipo: ‘Caso você tenha visto 01 anão, então será um bom dia!’ Mas aquela história de ‘homem-macaco’ da canção ‘Apeman Hop’, estava me dando nos nervos. Foi ideia de Johnny...”


A música “Love Kills”, escrita para a inclusão no (bastante risível) filme do diretor Alex Cox, chamado “Sid & Nancy” (que trata da relação conflituosa do ex-baixista do SEX PISTOLS com a sua namorada, a qual a canção nem foi usada), poderia ter saído do álbum “Too Tough to Die”, mas está longe de ser boa. Dee Dee canta hipocritamente: “Sid e Nancy estavam acabados / Quando você é viciado em heroína / Sabe que nunca vencerá / Drogas não valem a pena”. Ele cantava em um estilo que não era próprio, mas de um sarcástico canalha punk cuspidor, tirado de uma série de comédia da TV dos anos 80... Coisa que os RAMONES nunca foram.


As músicas que Dee Dee escreveu com Johnny não eram muito boas. Vasos sanitários e ereções de 25 centímetros soam fora do lugar em um disco dos RAMONES. Novamente, é estúpido-estúpido e não estúpido-esperto.


As 03 melhores músicas do álbum, preocupantemente o bastante, haviam sido feitas pelos ramones não originais – pelo produtor Jean Beauvoir e pelo baterista Richie Ramone. A canção “Bonzo Goes to Bitburg” (depois re-intitulada por “My Brain is Hanging Upside Down”, por insistência de Johnny) foi premiada como o melhor single independente no New York Music Awards de 1985. Mas quando chegou na hora dessa música ser lançada para promover o álbum em 1986, a crise EUA x Líbia havia eclodido e Dee Dee estava lamentando a letra dessa canção: “Pobre Reagan (presidente dos EUA na época), nunca deveríamos ter falado mal dele. Ele está indo tão bem agora! Deveríamos explodir todos eles! Matá-los!! Vamos explodir toda a Inglaterra se for preciso!”


Os RAMONES, assim como todos os americanos, estavam temerosos em estar na Inglaterra por conta das represálias terroristas aos EUA e que tinham novamente criado uma crise em todo o planeta, exceto a eles. Dee Dee continuava proferindo longos discursos vazios contra qualquer um que esboçasse a menor inclinação em ser “anti-americano” (como ele mesmo dizia) e batendo na tecla de como os RAMONES poderiam ter sido explodidos quando tocaram em Berlin, porque eram um alvo muito visível.


E havia o excelente single no estilo new wave da canção “Something to Believe In” (Beauvoir/Dee Dee outra vez) – quase sufocado por seu igualmente ótimo vídeo clipe, filmado em forma de paródia de todos os singles de caridade da época, tipo um concerto como o Live Aid (ocorrido em 1985). Re-intitulado como “Ramones Aid” e introduzido por um locutor convincente, explicando por que se deveria contribuir para a causa dos RAMONES, o vídeo clipe era reasseguradamente bobo sendo um retorno bem-vindo ao senso de humor dos “bro”. O clip teve um impacto tão forte que gerou o infeliz efeito colateral de fazer as palavras sinceras e solitárias de Dee Dee parecerem quase uma piada, mas a música ainda é ótima com o seu profuso teclado.


A Warners Bros. (que havia comprado a gravadora dos RAMONES, Sire Records) gostou tanto que lançou esse vídeo clipe como o 1º single americano em 05 anos da banda (!!!) junto com a música, “Animal Boy”.


No lado A desse mesmo single, duplo no Reino Unido, a música “Somebody Put Something in My Drink” é também ouro puro! Humor negro do mais novo membro dos RAMONES (baterista Richie), grunhido e berrado de forma chocante com um gancho matador – pobres cordas vocais de Joey.


“Nós queríamos que Richie se sentisse parte da banda, sabe? Amamos o cara!”, Joey explicou. “Nunca deixamos o baterista escrever depois que Tommy saiu, porque Johnny, Dee Dee e eu, sentíamos quase como se nós 03 apenas fôssemos a banda. Antes, quando Marky estava no grupo (nessa época, ex-baterista dos RAMONES), ele tentava nos dar canções, mas não eram muito boas – ele nem as tinha escrito, o seu irmão é quem fazia as músicas - mas Richie é um PHIL COLLINS regular”.


“Sim”, o baterista riu. “Eu escrevo no piano... Aquilo foi uma experiência pessoal”, Richie disse ao jornal semanal de New Jersey, East Coast Rocker, sobre a letra da música “Somebody Put Something in My Drink”. “Foi muito mal, era ácido LSD. Foi uma brincadeira, mas poderia ter me levado ao suicídio. Mandei para baixo um gin com tônica e antes que pudesse perceber... Eu tive de ser internado por 02 semanas em uma instituição. Eles tiveram que me levar em uma camisa de força até lá... Eu escrevi a música nessa instituição”.


Ao falar durante a entrevista, o baterista deu a impressão de estar abusando do humor e do sarcasmo dos RAMONES. No mesmo artigo, ele contou sobre ter sido amarrado em um túmulo no cemitério como parte de sua iniciação nos RAMONES. “Ainda não me recuperei daquele ácido ruim. Ainda volto a cada 20 dias à instituição como parte do tratamento. Por isso insistimos em ter refrigerante em lata em nosso camarim e não deixar ninguém abrir, nunca!”


A regra realmente existiu, mas foi mais devido à predileção da equipe que acompanhava os RAMONES nas excursões em temperar os refrigerantes com outras bebidas. Nada deixado aberto estava livre de ser visto como receptáculo para um xixi, como parte ativa de um jogo muito justo de sacanagens mútuas.


O álbum “Animal Boy” foi lançado em Maio/1986 com uma capa que mostrava os RAMONES em frente a uma jaula de um gorila, com Richie segurando 01 chimpanzé. “Eu queria usar o zoológico do Bronx, New York, como locação”, lembra o fotógrafo George Dubose, “mas eles nos deram um ‘não’ categórico. O plano B era alugar Zippy, o chimpanzé que estreou no talk show da TV americana, Later With David Letterman. Então, construí uma casa de macaco com estacas de madeira e uma corrente pendurada. Botamos Legs McNeil (co-fundador da revista Punk Magazine) e outro roadie fantasiado de gorila ao fundo, parecendo bem real”.


O álbum entrou nas paradas britânicas como nº 31, provavelmente por causa dos intensos esforços de marketing em favor do seu selo independente inglês. A maior parte da imprensa britânica de resultados permaneceu centrada nas diferenças de momento entre os ramones (membros) nessa época – e no fato da banda ainda não ter acabado.


“Ficávamos em quartos de hotel em andares diferentes”, gracejou Richie. “Podíamos nos odiar, mas saíamos do hotel para tocarmos unidos e era muito bom”, comentou Joey. “Nas últimas turnês tínhamos um ônibus, mas nessa atual economizamos e usamos uma van. Excursionamos pela Inglaterra em uma van e foi divertido – é claro que houve brigas, era mais como uma sessão de psicodrama sobre rodas, mas toda essa merda é só parte disso”.


“Eu acho que seria uma verdadeira vergonha se nos separássemos sem 01 único verdadeiro sucesso. Gostaria que os RAMONES fossem lembrados em um nível maior”, o vocalista disse ao jornal East Coast Rocker.


No jornal, The New York Times, Jon Pareles disse que os RAMONES “falam por indivíduos perturbados e excluídos”, elegendo o disco “Animal Boy” como o álbum da semana, enquanto Robert Christgau, do jornal Village Voice – um velho fã dos RAMONES – “não tinha tanta certeza”, dizendo que se sentiu “abominavelmente atingido ou esquecido”, em especial ao comparar o álbum aos trabalhos anteriores da banda. O grupo, entretanto, ainda estava otimista.


“Não queremos nos tornar paródias de nós mesmos”, Joey disse ao jornalista John Wilde, da revista Sound, “continuando apenas porque temos de continuar, de jeito nenhum!” Ele então, contradisse a si mesmo ao falar: “Não precisamos romper com a banda, nós podemos continuar para sempre”.


A banda estava ansiosa para corrigir alguns equívocos também...


“Quando 04 pessoas levam os créditos por algo que apenas 01 fez, é quase como ser roubado”, Joey comentou sobre o espinhoso problema dos créditos nas músicas. “Se você tem algo a oferecer que é único, é a sua personalidade, sabe? No começo, sentíamos que tudo deveria ser dividido por 04 – e depois por 03, quando Tommy saiu – e então, uma vez que decidimos, todos aceitaram. Na maioria das bandas se você escreve 01 canção, você fica com todos os royalties para si. Uma boa parte do motivo de ainda estarmos juntos é que tudo é dividido igualmente”. Assim, a generosidade de Joey (e Johnny, o principal parceiro não criativo) não se estendia aos bateristas, sendo que esta situação logo criaria problemas.


Legs McNeil sintetizou muito bem o diagnóstico dos RAMONES nessa época: “Eles não desfrutam do sucesso que tiveram. Estão sempre amargos pelo sucesso que não tiveram. Não tiveram ‘O’ disco de sucesso. Não foram respeitados como os fundadores do punk rock. Não obtiveram o respeito que mereciam por isso e aquilo. Eram tão preocupados com o que diziam sobre eles como nenhuma outra banda que já conheci!”


Isso me surpreende... Não pensava que eles se importavam.


No final de 1986, ao término da turnê de “Animal Boy”, era difícil dizer quem era o maior trouxa...


A indústria da música, por jamais ter dado uma boa oportunidade aos RAMONES - apesar de apoiar artistas muito menos divertidos.


Os RAMONES, por seguirem adiante lançando discos e fazendo shows - apesar da imprensa que insistia em ignora-los.


Os fãs, por continuarem a apoiar uma banda que nem acreditava mais em si, contente em lançar um novo disco a cada 02 anos como uma solução mambembe de um problema.


Joey, por ainda acreditar que a cada novo disco dos RAMONES traria o sucesso comercial que sempre o iludia e que no fim, a indústria lhe daria o seu merecido lugar como um músico talentoso e de grande influência.


Richie, por acreditar que após 04 anos e centenas de shows, conseguiria ser aceito como igual pelos outros integrantes da banda. Era uma crença ingênua, talvez, mas ainda razoável. Aliás, ele não tinha composto mais músicas que Johnny nos últimos 02 álbuns?


Arturo Vega (iluminador e designer dos RAMONES, criador do clássico logo da banda), Monte Melnick (gerente de turnê do grupo) e outros membros da família estendida dos RAMONES, por continuarem lutando por uma causa que deu todo sinal de estar moribunda – ou talvez ainda se divertissem com isso.


Algo, com certeza, teria que mudar...


Track-list:


1- Somebody Put Something in My Drink

2- Animal Boy

3- Love Kills

4- Apeman Hop

5- She Belongs to Me

6- Crummy Stuff

7- My Brain is Hanging Upside Down

8- Mental Hell

9- Eat The Rat

10- Freak of Nature

11- Hair of The Dog

12- Something to Believe In

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