top of page
  • by Brunelson

Tom Morello: "não deixe para trás quem você é no que você faz no dia-a-dia"


O guitarrista das bandas RAGE AGAINST THE MACHINE, AUDIOSLAVE e PROPHETS OF RAGE, Tom Morello, foi entrevistado pela revista britânica Kerrang e dentre vários assuntos, falou também sobre a sua influência musical, o que está por vir com a 2ª reunião do RAGE AGAINST THE MACHINE, Chris Cornell e mais.


Confira alguns trechos dessa entrevista:

Jornalista: Você falou sobre ser um grande fã de "metal suburbano das ruas" na adolescência, mas quais foram as suas primeiras memórias musicais?

Tom Morello: Eu era filho único com uma mãe solteira e ela não era uma grande ouvinte de música, mas eu ouvia a música que ela tinha por perto, como discos do THE TEMPTATIONS e daquela banda WAR. O meu tio-avô, Carlo Morello, foi violinista na Orquestra Sinfônica de Chicago por 40 anos, então, também havia música clássica, mas não foi uma grande parte da tapeçaria da minha juventude.

Morello: Eu encontrei música por conta própria. Como colecionador de quadrinhos (gibi), tipo, quando vi o disco "Destroyer" do KISS pela primeira vez, eles eram a minha banda favorita antes mesmo de ouvir uma nota de sua música. Se eu visse o KISS na capa de uma revista, eu compraria aquela revista e depois leria sobre as outras bandas e artistas nela. LED ZEPPELIN, RUSH, BLACK SABBATH, AC/DC... Eu não tinha irmãos mais velhos me mostrando discos, foi no grupo de amigos que fui descobrindo a música.


Jornalista: Descobrir o punk rock foi um ponto de virada, certo?

Morello: No começo era só hard rock e heavy metal, depois veio o punk rock. Eu adorava metal, mas o conteúdo lírico - coisas sobre ocultismo e groupies - não era algo com o qual o meu eu de 13 anos de idade sempre pudesse se relacionar. THE CLASH e SEX PISTOLS falaram comigo de uma forma que me fez perceber que você pode fazer música que é super rock e sendo inteligente, com um ponto de vista com o qual eu poderia me identificar - menos a ver com o diabo e coisas assim...


Jornalista: Você sempre enfatizou a importância da transição de um músico habilidoso para um artista. Você pode identificar quando isso aconteceu?

Morello: O momento real de revelar a minha arte pode ter sido informado pelas viagens pelo mundo afora de minha mãe e meu tio Carlo tocando na sinfônica de Chicago, o meu trabalho com grupos anti-racistas e outras coisas, mas realmente se resumiu a uma passagem de som realizada à tarde, onde o RAGE AGAINST THE MACHINE iria abrir um show para 02 bandas cover na faculdade do vale de San Fernando, California, quando ainda éramos uma banda de garagem.

Morello: Cada uma dessas bandas cover tinha um guitarrista destruidor e eu assisti a passagem de som de ambos e percebi que eles tinham uma ótima técnica. Então, percebi que se já havia 02 desses caras em um show numa tarde de quarta-feira, não precisava ser 03. Isso me fez realmente mudar de perspectiva e comecei a olhar para a guitarra de forma desconstruída como um pedaço de madeira com um monte de fios e eletrônicos. Sim, outras pessoas já tocaram enormemente como Chuck Berry, Eddie Van Halen e Kirk Hammett (METALLICA), mas percebi que havia outras maneiras diferentes de tocar guitarra.

Morello: Além disso, eu já tinha saído de uma gravadora com a banda LOCK UP que tinha antes. Já estava cansado de seguir as regras, fazer o que a gravadora nos dizia e tentar soar como as outras bandas. Não funcionou, então, eu também posso soar como eu mesmo e comecei a criar um dialeto dentro do mundo da guitarra rock quando formamos o RAGE AGAINST THE MACHINE.


Jornalista: Vocês se consideravam uma banda de protesto neste momento inicial de carreira?

Morello: É mais o que o vocalista Zack de la Rocha era e é, um letrista brilhante. E por acaso encontramos uma banda de 04 pessoas que poderia abraçar sem desculpas essas políticas radicais ultrajantes, mas nunca houve o pensamento de fazer um show naquela época, muito menos gravar um álbum ou fazer outras pessoas ouvirem a nossa música. Tínhamos o objetivo de gravar 01 fita demo que fosse basicamente um disco para nós mesmos. Não poderíamos gravar um álbum com uma gravadora, porque eles estariam interessados em nós? Acho que esse foi um dos maiores motivos pelos quais a música se conectou.


Jornalista: Esse é o melhor caminho para jovens artistas com ideias revolucionárias?

Morello: Com certeza. Você deve ser o artista e o músico que deseja ser, em vez de ser aquele que Tom Morello diz para você ser. Porque você pode ter ideias que podem flanquear qualquer uma das minhas. Você tem uma responsabilidade sempre que entra no mundo das artes: dizer a verdade no que faz e incorporar suas convicções à sua vocação. Isso pode se aplicar se você é um músico, um jornalista ou um carpinteiro... Não deixe para trás quem você é no que você faz no dia-a-dia.


Jornalista: Mais de 30 anos depois do primeiro show do RAGE AGAINST THE MACHINE e em 2022 o álbum homônimo de estreia fazendo 30 anos de vida, quão animado você está para voltar aos palcos para a turnê em março de 2022?

Morello: Eu não poderia estar mais animado. Não há nada como aquele sentimento de relacionamento entre a banda e seus fãs. Descrevê-lo como elétrico seria vendê-lo significativamente abaixo do valor. Especialmente durante esses tempos terríveis, parece uma voz que precisa se reafirmar.




Jornalista: Foi mais divertido ou deprimente ver as pessoas expressarem o seu choque pelo fato do lado político assumido do RAGE AGAINST THE MACHINE?

Morello: Eu provavelmente estava tanto me divertindo quanto alarmado. A interpretação generosa desse fenômeno é que ele mostra o poder da banda de se lançar amplamente às redes. As pessoas são atraídas por essa banda e outras pelo poder da música. Existem outros que são atraídos pela mensagem da música, então, há algumas pessoas que são expostas a uma mensagem naquela música que de outra forma não estariam. Elas são forçadas a enfrentar isso e concordar ou discordar do que estão ouvindo.

Morello: Além disso, existem pessoas que não têm a menor ideia do que se trata ou que selecionam partes da música que ressoam com elas, sem qualquer compreensão do que os escritores pretenderam. Acho que vimos todos os tons disso, mas novamente, acho que é um sintoma de um processo bem-sucedido de criação de uma música incrível que não seja apenas para lhe pegar no refrão.


Jornalista: Já se passaram 15 anos desde o lançamento do último álbum de estúdio do AUDIOSLAVE, "Revelations" (3º disco, 2006). Como você se sente olhando para aquela banda?

Morello: Eu amo esse corpo de trabalho... É difícil separar os sentimentos positivos sobre a criação dessas músicas dos sentimentos de perda sobre Chris Cornell. É agridoce, mas por mais que eu fosse amigo e colega de banda de Chris, nunca deixei de ser um fã dele. Ser capaz de ouvir a sua linda voz cantando sobre esses discos e nos discos do SOUNDGARDEN, TEMPLE OF THE DOG e seu material solo, é um pequeno consolo para o fato de que ele não está mais aqui... O brilho do seu trabalho nunca será ofuscado.


Jornalista: Que tipo de artista você procura para ter influência hoje em dia?

Morello: Posso ser influenciado tão facilmente por um antigo disco de Bob Dylan quanto por um novo álbum de uma nova banda. No passado, costumava buscar conscientemente discos dos quais nunca tinha ouvido falar. Agora, parece que estou em um voo solo, porque gravei tantos discos e toquei tantos solos de guitarra, tipo, como faço para escrever um novo dialeto que ainda é surpreendente e emocionante para mim?


Jornalista: Para finalizar e quando tudo estiver dito e feito, qual você gostaria que fosse o seu legado?

Morello: Isto exigiria uma perspectiva enorme de coisas que eu não tenho, porque ainda estou tão no meio de fazer isso todos os dias que não tenho tempo para refletir sobre a totalidade. Só estou criando todos os dias e todos os dias tentando fazer o meu melhor para curar o planeta, lutar contra o poder e chutar a bunda das pessoas com solos de guitarra destruídos. O resto deixarei para os historiadores do rock.

Mais Recentes
Destaques
bottom of page