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  • by Brunelson

The Doors: resenha da música "Light My Fire"


Em 17 de setembro de 1967, quatro músicos californianos entraram no Studio 50 em New York para apresentar o seu segundo single no programa de auditório da TV americana, The Ed Sullivan Show.

Sendo uma proeminente plataforma da música popular dos anos 60, uma apresentação nesse programa tinha a capacidade de levar um artista underground a um público americano que iria comprar os seus discos.

Se você sabe alguma coisa sobre o THE DOORS, a icônica banda de rock que misturava blues, psicodelia, poesia e teclados, então, você conhece a história – ou conhece alguma versão dela.

Ao longo de quase 55 anos de biografias semi-precisas, relatos recontados e lendas transmitidas, a sua performance se tornou um pilar mítico da própria narrativa da banda, onde o vocalista Jim Morrison incorporou a sua imagem contra cultural desafiadora ao seu apogeu absoluto diante de um público americano moralmente mortificado.

Essa performance na TV é bastante contida de Morrison - pelo menos no início de sua carreira - sem explosões vulgares, intoxicação pública ou incidentes de exposição indecente, apenas sendo um vocalista carismático vestido em calças de couro e longas mechas de cabelo cantando uma canção de amor.

De acordo com a maioria dos relatos, Morrison estava nervoso por ser transmitido para milhões de telespectadores e fez pouco mais do que ficar no seu lugar com os olhos fechados. Na verdade, o único sinal de que algo estava errado vem quando a banda entra no primeiro refrão da música.


A câmera pisca para o tecladista Ray Manzarek e ao fundo, o guitarrista Robby Krieger dá um sorriso irônico. Krieger sabe o que acabou de acontecer: Morrison cantou o verso que a banda prometeu excluir da música a pedidos da direção do programa, um verso que representava uma interseção entre o uso recreativo de drogas e o ardor eufórico da paixão e do amor - uma linha que o próprio guitarrista escreveu.


E tudo isso perante a performance da música "Light My Fire" (1º disco, "The Doors", 1967), transcendendo a banda para o reino dos mitos do rock and roll sem amarras de origens humildes ou realidades banais. Em vez disso, o legado duradouro da música envolve em "ficar chapado", "pira funerária", solos ao vivo de teclado de 05 minutos e puros lamentos hedonistas de luxúria.


Se você quiser, funciona maravilhosamente como um microcosmo de toda a experiência do THE DOORS destilada em uma única música.

As origens da canção “Light My Fire” estão enraizadas em uma banda jovem que simplesmente ainda não tinha material suficiente para apresentar ao público. Morrison, o líder e principal compositor, pediu aos outros membros da banda que contribuíssem com qualquer coisa que pudessem ter para completar um setlist. Krieger, que na época não estava muito confiante em sua própria habilidade de composição, voltou com uma música de guitarra flamenca inacabada que tinha apenas um único verso e refrão.

Quando Krieger trouxe a música "Light My Fire" para a banda, imediatamente acessou o inconsciente coletivo dos membros do THE DOORS.


O baterista John Densmore adicionou uma batida latina, Manzarek adicionou uma figura de introdução inspirada nas fugas da música clássica de Bach, e Morrison adicionou o segundo verso referenciando "pira funerária". Krieger ficou inicialmente descontente com as referências à morte, mas Morrison argumentou que era necessário ter tons contrastantes de luz e escuridão.

O resultado foi um retrato harmonicamente desafiador, musicalmente denso e totalmente sinistro de amor eterno. A combinação da formação de música folclórica de Krieger e o treinamento clássico de Manzarek, fez com que a música tivesse uma progressão de acordes incomum, especialmente para as rádios convencionais.


Se trata de uma relíquia que não é mais produzida já faz muito tempo, pois vai contra a premissa de que músicas populares precisam ser o mais simples possível, com 03 acordes ou um pouco mais. A canção "Light My Fire" tem pelo menos 12 acordes, sem contar as inversões e suspensões - mesmo para a edição cortada para as rádios.

Já essa edição de rádio foi inicialmente uma fonte de discórdia...

A banda se sentiu fortemente em não excluir os solos da música, mas quando as rádios começaram a pedir uma versão mais curta que pudesse ser tocada fora dos shows experimentais noturnos que apresentavam material mais longo, THE DOORS percebeu que poderia ter um hit em suas mãos.

Apesar de perder a extensão fascinante da seção intermediária que destaca a musicalidade especializada da banda, a edição da música “Light My Fire” não perde em nada do seu poder singular ou áurea ameaçadora.

A história a partir daí é um território bem trilhado na carreira do THE DOORS e se não fosse pela música "Light My Fire", é provável que o THE DOORS nunca tivesse transcendido às alturas penetrantes que alcançaram e tudo graças à química de quatro indivíduos dispostos a empurrar a arte que tinham para o mundo em geral.







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