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  • by Brunelson

Foo Fighters: entrevista para a revista Entertainment Weekly - Parte 1/3


FOO FIGHTERS passou os últimos 25 anos se tornando numa das bandas de rock mais confiáveis do planeta.


E antes do seu novo 10º álbum de estúdio ser lançado, o grupo refletiu sobre os seus altos e baixos numa entrevista magnífica para a revista Entertainment Weekly.


Das cinzas do NIRVANA ele se ergueu como uma fênix e assim nasceu uma nova era do rock, mas Dave Grohl dificilmente poderia ter sonhado que o FOO FIGHTERS se tornaria talvez o último grande herói da guitarra, lançando uma série de álbuns de ouro e platina e com o seu último disco, "Medicine at Midnight" (2021), reacendendo a tocha bruxuleante do rock and roll em intermináveis tours pelo mundo.

Agora, prontos para comemorar atrasado o seu 25º aniversário depois que a pandemia atrapalhou os planos do mundo inteiro, FOO FIGHTERS deu uma espiada para trás nos momentos selvagens que fizeram - e às vezes quase desfizeram - a banda.


Confira a 1ª parte dessa entrevista, onde toda a banda vai narrando a história do grupo, como se formaram, como outros membros entraram na banda, sobre os videoclipes e mais...

Venha Como Você É

Dave Grohl (vocal e guitarra, 1995 - presente): Eu sempre gravei coisas sozinho em um estúdio no porão da minha casa, mas mantive todas essas músicas em segredo porque estava terrivelmente inseguro sobre a minha voz, minhas letras e minha composição. Foi mais apenas uma saída criativa pra mim.

Grohl: Eu me lembro que no final de 1994, decidi que queria continuar tocando depois de um ano realmente difícil após a morte de Kurt Cobain, mas eu não queria apenas pular de volta na bateria porque isso iria trazer emoções muito conflitantes em mim.

Pat Smear (guitarra, 1995-97, 2006 - presente): Quando ainda estávamos no NIRVANA, me lembro de pelo menos uma ocasião encostado no carro de Dave e ouvimos em fita-cassete o que ele estava fazendo, e gostei muito e lhe disse: "Nossa, você deveria trazer essas músicas para a banda".

Grohl: Dei uma fita a Pat porque o amava e confiava nele. Eu não daria para a minha mãe e nem para a minha irmã. O fato de que Kurt Cobain considerou a música "Marigold" realmente me surpreendeu. Eu apenas pensei que era uma coisa melódica e só.


"Marigold" (NIRVANA)


Grohl: Quando eu estava gravando essas coisas, nunca imaginei que viraria uma banda, muito menos uma que duraria 25 anos. Eu apenas pensei que era um projeto divertido fora de estar no NIRVANA. O conceito foi inspirado no baterista do THE POLICE, Stewart Copeland, que fez discos sob o nome de Klark Kent, mas ele nunca se creditou nos discos. Foi um projeto paralelo anônimo que ele fez e eu achei muito legal, porque ele estava na maior banda do mundo, mas poderia escrever e tocar todas essas músicas sozinho num estúdio.

Nate Mendel (baixo, 1995 - presente): Eu estava numa banda chamada SUNNY DAY REAL ESTATE em Seattle no início dos anos 90, mas estávamos em processo de desintegração e Dave veio a alguns daqueles últimos shows nossos em Seattle. Tínhamos alguns amigos em comum e enquanto eu estava me perguntando o que fazer a seguir, Dave estava pensando no que fazer com essa fita cassete que ele tinha gravado sozinho, o que acabaria sendo exatamente o 1º disco do FOO FIGHTERS.

Grohl: Eu liguei para Nate do nada depois de conhecê-lo algumas vezes e disse: "Eu tenho uma seção rítmica (baterista e baixista) flutuando por aí e acho que vocês poderiam me dar uma mão", porque o baterista do SUNNY DAY REAL ESTATE, William Goldsmith, se tornou no primeiro baterista do FOO FIGHTERS também. Fui até a casa de Nate e sempre me lembrarei disso, porque ele tinha um pequeno amplificador pra ele tocar o baixo e eu ligava a minha guitarra numa máquina de karaokê.

Smear: Algum tempo depois que Dave conseguiu ensaiar com Nate e William juntos em Seattle, ele me ligou em Los Angeles e disse: "Hey, você realmente quer fazer isso?" Eu disse: "Sim!" E eu me lembro de dirigir até o aeroporto e parar na Black Market Music, que era uma loja legal de instrumentos musicais usados que ficava no caminho. Entrei na loja, comprei um amplificador, carreguei no avião e apareci no ensaio com ele.

Grohl: Quando Pat se juntou ao NIRVANA, ele trouxe uma lufada de ar fresco para a banda. Passamos por muita coisa nos poucos anos antes de Pat se juntar a nós e se você já passou um tempo com Pat, ele é apenas uma supernova brilhante de vida e amor. Ele realmente é o que é, uma pessoa engraçada, considerando que ele fez parte de uma das bandas de punk rock mais perigosas da história da música, THE GERMS, mas ele é uma das pessoas mais gentis, amorosas e brilhantes que você já poderia conhecer em toda a sua vida.

Mendel: Primeiro, tocamos no armazém de um amigo em Seattle apenas para alguns conhecidos e depois, num local público chamado Velvet Elvis, um teatro de vanguarda onde as pessoas também poderiam fazer apresentações cênicas... Depois, fomos ao clube noturno, Satyricon, em Portland.

Grohl: Ninguém tinha ouvido o nosso disco ainda e tínhamos a banda de Seattle, THE PRESIDENTS OF THE USA, abrindo este show em Portland para nós. Na época, eles tinham grandes sucessos nas rádios com as canções "Lump" e "Peaches". Eles eram os novos queridinhos de Seattle, um power trio incrível, superdivertidos, alegres e todos da plateia cantavam juntos as suas músicas. Eles abriram para nós e nos surpreenderam, sendo que depois, quando fomos nos apresentar, percebemos que boa parte do público já tinha ido embora... Me lembro de pensar na hora: "Porra, vai ser uma estrada difícil de percorrer, cara".

Taylor Hawkins (bateria, 1997 - presente): Comigo foi assim que aconteceu... Eu conheci Dave, Nate, Pat e William Goldsmith, o baterista original do FOO FIGHTERS, em turnê quando eu tocava bateria para a banda de Alanis Morissette e no mesmo período do lançamento do álbum homônimo de estreia do FOO FIGHTERS em 1995, e eu amei aquele disco, sabe? Eu ainda amo esse álbum e provavelmente porque eu ainda era apenas um fã, entende o que quero dizer? Eu ainda não fazia parte dessa máquina.


"This is a Call" (1º disco, "Foo Fighters", 1995)


Hawkins: Então, eu realmente nunca pensei que haveria uma oportunidade para um dia tocar no FOO FIGHTERS, nunca. Nem necessariamente achava que eu era o baterista certo, mas sempre gostei muito da música da banda. Naquela época, eu sabia que Alanis provavelmente estava pensando em seguir uma direção um pouco menos agressiva, especialmente por causa da maneira como estávamos tocando as músicas nos shows, o que realmente funcionou muito bem e nós éramos ótimos, mas eu soube que o baterista do FOO FIGHTERS tinha saído e eles estavam procurando alguém, então, liguei para um amigo que conhecia Dave - isso foi antes dos telefones celulares. Eu peguei o número de Dave, liguei pra ele e disse: "Hey, ouvi dizer que vocês estão sem baterista agora", e Dave me disse: "Sim. Você tem alguma boa recomendação?" Eu respondi: "Bom, e quanto a mim, seu idiota?" (risos)

Grohl: Eu pensei que ele nunca deixaria a banda de Alanis Morissette naquela época, porque eles estavam lotando estádios em todo o mundo. Eu pensava: "O quê? Ele vai querer pular em nossa van Dodge vermelha e tocar na porra dos clubes noturnos novamente?"

Grohl: Existe dentro da comunidade de músicos, especialmente em Los Angeles, um círculo de informações entre bateristas. Bateristas conhecem bateristas, e bateristas estão sempre procurando por um show. Bateristas são como paisagistas - você precisa de um corte de jardim, eles virão. É verdade! E bateristas também são como tubarões, se eles pararem de se moverem, eles morrem.

Hawkins: O meu primeiro obstáculo foi o mesmo que o primeiro baterista nunca superou, que foi: "Como você é baterista de um dos maiores bateristas de todos os tempos do rock and roll?" Você tenta ser como Dave ou tenta ser diferente de Dave? Ou tenta encontrar o meio-termo? Demorei um pouco para encontrar a minha própria zona, por assim dizer.

Grohl: Para os testes, eu tinha mandado 01 fita cassete para Taylor com algumas das novas músicas que seriam lançadas no álbum "The Colour and The Shape" (2º disco, 1997). Quando nos reunimos, acho que foi na hora de tocarmos a canção "Monkey Wrench", eu tinha ido até a casinha dele na praia, liguei a guitarra, ele se sentou e nos primeiros segundos que ele começou a bater na caixa da bateria, eu soube na hora, cara, eu juro por Deus... Eu estava, tipo: "Isso é tudo o que eu preciso ouvir. Eu te amo, cara. Você acabou de prejudicar a minha audição pelo resto da minha vida em 03 segundos, mas você tem que estar na banda".

Hawkins: Para ser honesto, é muito mais árduo do que tocar com Alanis Morisette (risos).

"Monkey Wrench" (2º disco, "The Colour and The Shape", 1997)


Em pontos separados, Nate Mendel e Pat Smear deixaram a banda

Mendel: SUNNY DAY REAL ESTATE estava se reunindo e rapidamente ficou claro pra mim que eu não poderia estar nas duas bandas, então, liguei para Dave para dizer que estava saindo da banda, mas imediatamente tive aquela sensação de roer o meu estômago.

Grohl: Ah, eu estava puto da vida, tipo: "Cara, nós fizemos um pacto!" Eu estava no estado da Virgínia, na casa da minha mãe, e meu amigo Jimmy e eu fomos ao nosso bar favorito, uma churrascaria chamada Ribsters. Me lembro de ter ficado tão bêbado que voltamos pra casa e passamos por cima de todos os gramados do bairro com o nosso carro - crianças, fiquem na escola e não usem drogas!

Grohl: Mas então, por volta das 08:00hs da manhã, a minha mãe entrou no meu quarto me acordando e entregou um enorme telefone sem fio ou qualquer outra coisa, e era Nate dizendo: "Cara, sinto muito. Mudei de ideia". Dissemos um ao outro que nos amávamos, chorei, desliguei o telefone e voltei a dormir... E vomitei, eu acho.

Com a adição de mais um membro, a programação foi definida

Chris Shiflett (guitarra, 1999 - presente): Eu estava tocando numa banda chamada NO USE FOR A NAME. Foi um momento estranho, porque tínhamos acabado de gravar um novo álbum e eu estava em New York visitando alguns amigos, quando recebi um telefonema do empresário de turnê do FOO FIGHTERS sobre tentar fazer um teste para a banda.

Shiflett: Era verão de 1999, então, eles enviaram fitas cassete para todos que iriam fazer o teste de audição. Eu peguei aquelas 04 músicas que me mandaram, sentei no quarto na minha casa em San Francisco, toquei guitarra junto com elas e as aprendi o melhor que pude. Fui para Los Angeles e lembro que cheguei lá um pouco mais cedo do horário combinado e pude ouvir eles tocando lá dentro no estúdio, então, eu sabia que estava ouvindo a audição de outra pessoa.

Shiflett: Fiquei sentado na recepção do local, o que me pareceu uma eternidade, mas provavelmente foi cerca de uns 15 minutos somente... Era apenas o meu psicológico falando quando terminou a audição da pessoa que estava tocando com eles: "Ah, merda, eles estão todos vibrando com quem está lá dentro que acabou de tocar muito bem com eles, o cara detonou mesmo". E então, a porta se abriu e o cara saiu, e eu entrei lá para fazer o meu teste e Dave apenas me disse: "Oh, meu Deus, cara, você nos salvou! Aquela pessoa não queria ir embora".


Grohl: A coisa mais importante no mundo do FOO FIGHTERS não é se você se encaixa musicalmente, é mais se você se encaixa pessoalmente e emocionalmente. Se você está no FOO FIGHTERS, não é por causa da maneira como você toca o seu instrumento, é por causa de quem você é. Temos mais pré-requisitos emocionais do que pré-requisitos musicais.

Grohl: Taylor se encaixa nisso por causa do seu amor pelo QUEEN, GENESIS, YES e RUSH. Pat se encaixa por causa do seu amor pela antiga música punk rock. Nate e eu temos a mesma formação musical. Fomos criados por DEVO, B-52s e OINGO BOINGO, e então, descobrimos a música punk rock e hardcore e nos apaixonamos por DEAD KENNEDYS, BAD BRAINS e BLACK FLAG. Nós pulamos em vans quando adolescentes, dormíamos agachados no chão e nós 02 compartilhamos uma experiência muito semelhante, o que é importante porque, A: você tem o conjunto de habilidades de sobrevivência, como atravessar a Europa com U$ 7 dólares por dia; e B: você também usa essas experiências iniciais como referência ou base para que uma vez que você tiver condições de comprar uma van com ar condicionado, você vai dizer: "Essa van também tem vidros elétricos? Puta merda! Isso é incrível!"

Grohl: Sem dúvida, Chris é o músico mais talentoso da banda. Eu não sei o que teria acontecido se ele não tivesse entrado... E Rami Jaffee (tecladista) é um vagabundo maluco da paz e amor. É como hippies com bandagens na cabeça... Ele também se tornou parte do FOO FIGHTERS.

Os videoclipes irreverentes da banda rapidamente se tornaram um grampo da MTV

Grohl: Os clipes das músicas "Learn to Fly" (3º disco, "There is Nothing Left to Lose", 1999) e "Big Me" (1º disco, 1995), foram dirigidos pelo nosso amigo, Jesse Peretz, que também era músico - ele tocava baixo no LEMONHEADS. Quer eu fosse uma comissária de bordo, piloto de avião ou zombando de um comercial de doces, eu só queria fazer ele rir, sabe?

Hawkins: O clipe de "Learn to Fly" era apenas eu e Dave cuspindo ideias. Algumas delas vieram de experiências psicodélicas da vida real e outras apenas por quererem ser engraçadas. Hoje, eu interpretando uma garota, não sei, acho que poderia fazer isso quando éramos jovens e bonitos? (risos) Eu confundi muitos homens naquela época...

"Learn to Fly" (3º disco, "There is Nothing Left to Lose", 1999)


Mendel: Eu amo o videoclipe da música "White Limo" (7º disco, "Wasting Light", 2011), porque foi feito por todos nós com uma pequena câmera Super 8 em apenas 01 tarde. Havia uma visão muito específica de ser uma espécie de vídeo punk rock hardcore invertido dos anos 80, como algo que o SUICIDAL TENDENCIES teria feito. Acho que acertamos em cheio nesse aspecto e o lendário frontman do MOTORHEAD, Lemmy Kilmister, está fazendo uma participação especial no vídeo... Eu até comecei a andar de patins e realmente ficou engraçado no clipe.


"White Limo" (7º disco, "Wasting Light", 2011)


Smear: Eu realmente gostei de fazer o clipe da música "Big Me", que foi o nosso vídeo da bala "Mentos", mas em geral, clipes assim não são os mais divertidos de fazer, tipo: "Preparar, ação... Corra!" Quero dizer, o resultado foi incrível e amei muito! Mas 04 horas na cadeira de maquiagem para deixá-lo pronto com figurino e tudo, e mais 03 horas para tirar tudo, é muito complicado.

Shiflett: O meu primeiro videoclipe eu entro no set de filmagem e vejo aquelas cadeiras de diretor para todos nós da banda com o nome de cada um escrito atrás delas. Nunca esquecerei, fui até a minha cadeira e estava escrito: "Shizlett". Sim, essa é a cadeira do cara novo, bem ali (risos).

Grohl: Ainda hoje, adoro todo o processo em ficar envolvido na criação de videoclipes.


"Big Me" (1º disco, "Foo Fighters", 1995)


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