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  • by Brunelson

Billy Corgan: dentro da mente do gênio mal entendido do Smashing Pumpkins


Confira a matéria, entrevista e livro que a revista britânica Kerrang realizou com/sobre Billy Corgan, frontman do SMASHING PUMPKINS. O livro irá se chamar "The Smashing Pumpkins: The Misunderstood Genius of Billy Corgan" (foto).


Quem é o verdadeiro Billy Corgan? Depois de décadas atormentando e sendo atormentado por jornalistas e fãs, encontramos o vocalista/guitarrista do SMASHING PUMPKINS num estado de espírito contemplativo, olhando para trás, para o seu legado artístico e o que está por vir...

Billy Corgan é um homem ocupado, agitado e apressou-se em se prevenir. Mesmo com a turnê cancelada e os bloqueios ativados, SMASHING PUMPKINS têm sido diligente.

Nesta sexta-feira (27/11/2020) a banda lançará o 10º álbum da carreira, "Cyr", um disco duplo com 20 músicas que será o volume 02 do álbum de retorno dos membros originais em 2018, "Shiny and Oh So Bright, Vol. 1" (9º disco), o primeiro a apresentar a formação clássica com Billy Corgan, guitarrista James Iha e o baterista Jimmy Chamberlin em quase 02 décadas (somente a baixista D'arcy não voltou).

Além disso, em seu próprio estúdio, há um trabalho em andamento para uma sequência do imenso álbum "Mellon Collie and The Infinite Sadness" (3º disco, 1995), que ainda não sabemos se será o volume 03 dessa trilogia de retorno, já que Corgan admitiu em entrevista que também está nos seus planos lançar um volume 03.

Se tudo se concretizar desta forma, tente imaginar a convergência de histórias passados mais de 25 anos...

A certa altura, ele tinha mais de 40 músicas fervendo ao mesmo tempo, mas então, ele começou a retrabalhar em outras 40 canções para o relançamento do álbum "Machina The Machines of God" para comemorar os 20 anos de vida (5º disco, 2000, o último gravado com a formação original completa).

E enquanto aguardávamos a entrada online de Corgan para iniciarmos a nossa entrevista, o seu atraso pode ser perdoado devido as sua atividades - ou prioridades ainda maiores: “Desculpe pelo atraso, estava lidando com coisas de crianças”, ele se desculpa com uma risada paterna quando finalmente aparece na tela do computador. “Este será o título do seu livro: ‘Corgan Culpa as Crianças por Tudo Isso'".

Envolvendo-se em um moletom enquanto se acomoda no laptop na sua casa em Chicago, Corgan está de bom humor - ótimo, mesmo! O tempo extra com a sua família este ano foi uma bênção e mesmo com tudo isso o trabalho continua acelerado, mas é uma coisa boa: “Acho que se eu não estivesse ocupado, ficaria muito louco agora”, ele nos diz, embora isso esteja em perspectiva. “A minha família lutou na 2ª Guerra Mundial e na Coreia, e aquelas pessoas passaram por coisas muito, muito piores. Para nós nesta geração, acho que nunca houve algo que enfrentamos assim que nos fez ter que pararmos por mais de 05 minutos e pensar sobre o que está acontecendo e para onde tudo isso vai”.

Ainda assim, sendo "um tipo cigano" de ser, ficar parado por muito tempo nunca foi o jeito de Billy Corgan. Em 2018, SMASHING PUMPKINS lançou o álbum de retorno dos membros originais, "Shiny and Oh So Bright / Vol. 1", um disco que apresentou somente 08 músicas que teceram através de um mundo psicodélico e onírico, com o ocasional olhar de volta para o rock alternativo familiar do SMASHING PUMPKINS dos anos 90.

Agora, com o lançamento do álbum "Cyr", mais parece um banquete gigantesco de músicas emulando uma bateria eletrônica, amplamente baseada em sintetizadores e teclados que se espalham em 02 discos (álbum duplo), onde as guitarras deixam uma marca sutil em seu rastro. Corgan sorri e diz que, além de ser um voto de confiança na reunião da banda, após a velocidade de entrada e saída do seu disco antecessor - onde o famoso produtor Rick Rubin foi o produtor e “não nos deu tempo para colocar a cabeça nisso” - também foi a primeira vez desde 2000 que “podemos fazer um álbum do SMASHING PUMPKINS da maneira tradicional, o que leva uma eternidade. Estamos sempre tentando ser a banda que nunca fomos antes".

“As pessoas nem sempre gostam do que fazemos, mas estamos muito orgulhosos”, afirma ele, refletindo sobre esse movimento perpétuo. “Estamos mais orgulhosos por termos feito algo novo do que pelo fato das pessoas gostarem ou não”.

"Quer as pessoas entendam isso ou não, a nossa história está ditando que algumas pessoas não conseguem mais nos entender da forma que entendiam antes”, afirma o vocalista, secamente, o que não é a preocupação de Corgan e nunca foi.

No início de carreira e nos primeiros shows da banda em Chicago, as pessoas não entendiam. Quando o álbum "Mellon Collie and The Infinite Sadness" os transformou em uma das maiores bandas do planeta, as pessoas não entendiam. Hoje em dia, algumas pessoas ainda não entendem.


“Se estivéssemos preocupados assim, nunca teríamos conseguido sair de Chicago”, ele dá de ombros.

As pessoas nem sempre entendem Billy Corgan, ao ponto de pensarem que ele transparece uma imagem de ser pseudo rabugento, excessivamente sério, espinhoso com a imprensa, com a qual conversar e ter uma conexão é difícil.

Esse homem não está aqui hoje.

Quando ele fala, ele é enérgico e entusiasmado. Ele ri com frequência e a certa altura, nos diz que: "Você e eu poderíamos conversar por horas sobre metal, Ozzy Osbourne, JUDAS PRIEST, BLACK SABBATH ou qualquer toca de coelho que você queira abrir". Mas talvez o melhor de tudo, Corgan é honesto e aberto.

Porque Billy Corgan realmente não dá a mínima para o que você pensa - ou ele está realmente tentando testar o que você pensa, de certa forma.

Um exemplo recente: a última turnê do SMASHING PUMPKINS marcando a reunião da banda, apresentou um setlist gigante com teatralidade que deixou alguns fãs se perguntando o que exatamente eles estavam vendo. Tendo começado os shows de forma sóbria e sombria tocando a música "Disarm" sozinho, com fotos de sua infância montadas num telão, pelas 03 horas de show o clima variava tanto que parecia ser traduzido em diferentes idiomas.

Primeiro: por que a banda estava fazendo um cover de Stairway to Heaven do LED ZEPPELIN?

Segundo: é um Billy Corgan sendo carregado pela multidão como um poderoso ícone religioso?

“Pedi que as pessoas me escrevessem depois da turnê e elas falaram: ‘Você acha que é Deus, porra, o que há de errado com você?’”, diz ele "Você tem um garotinho, você tem esse cara cantando a canção 'Stairway to Heaven', provavelmente a maior e mais inchada música de rock de todos os tempos. Enquanto fazemos isso, há um ícone religioso meu sendo empurrado pela arena... Como você coloca todos esses pontos de dados juntos? Você não consegue, cara! Você vê, esse é o ponto principal. O que aconteceu com aquela criança que pode fazê-la pensar no futuro que ela é Deus? Ou um deus. Ou poderia ser um deus?"

Você pode tentar digerir isso e entender imediatamente - ou ter dificuldade - mas então, como Corgan disse, esse é o ponto principal: “Quando você está lidando com art rock, é basicamente bater e correr. O que as pessoas pensam que sabem ou o que pensam que acreditam não é exato, porque na verdade, nada é exato. Ocasionalmente, você precisa 'provocar' os fãs para que eles saibam que este é um mundo de sonhos e que não há problema em brincar com essas coisas".

“Acho fascinante como as pessoas se consolidam com uma identidade específica”, explica ele. “Tenho certeza de que você tem uma imagem em algum lugar da sua vida onde você pensa: ‘O que eu pensava sobre isso no passado?’ Isso significa que você não estava sendo você mesmo ou não estava sendo real naquele ponto? Não. É só isso que você era e hoje você é diferente. Tipo, hoje eu sou pai, mas 25 anos atrás eu era uma aberração que tomava ácido LSD! O que é mais verdade? Nem todos podem ser verdadeiros ao mesmo tempo”.

"Esta verdade está enraizada no SMASHING PUMPKINS desde o início", afirma Corgan, um impulso de estar propositalmente do lado de fora para ser incorporado. "Se nós somos os esquisitos, eles pensaram, então, vamos ser os mais esquisitos de todos".

No entanto, isso não era apenas uma coisa da banda... Quando criança, as pessoas “mexiam" com Billy Corgan. As pessoas também haviam "mexido" com o pai dele: “Talvez seja algo em nossos genes ou algo assim”. Entretanto, em vez de se retirar, Corgan "mexeu" com eles de volta: “É uma coisa de Chicago”, diz ele.

Quando ele se tornou adulto e depois um adulto famoso, isso se tornou parte de como o frontman lidaria com o negócio da música. “Se um jornalista quisesse me provocar, eu simplesmente iria com mais força pra cima dele”, Corgan admite. “Eu não estava pensando no amanhã, simplesmente não me importava, sabe? Então, nós pensamos, ‘Ok, vai se foder’. Quando você está numa banda que na maioria das vezes recebe críticas negativas por tudo que você já fez, que atitude você teria? Você chegou à conclusão de que é pessoal".

“Muito da minha reação ao mundo quando eu era jovem, foi como: 'Bom, se você não vai me aceitar como eu sou, então, eu vou irritá-lo com o que eu não sou'”, ele continuou. “Se você já teve críticas de alguém e eles disseram que não gostam de você, a sua resposta é meio que importuná-los um pouco, também dizendo: 'Você não é tão bom, cara'. É assim que eu me sentia sobre o mundo. Eu olhava em volta para várias bandas que estavam sendo celebradas e pensava: 'Bom, você não é tão bom'. Olhei para os jornalistas que estavam tentando me dizer quem eu era e quem eu não era e pensava: 'Você não é tão bom'. E isso criou em mim uma atitude que provavelmente era um pouco infantil, mas me permitiu uma liberdade que eu não teria de outra forma”.

Se Billy Corgan se arrepende ou não disso, é discutível, e ele não acha que poderia ter acontecido de outra maneira...


Mas a vida é assim. O que é importante é o que você aprendeu e tirou das coisas para trazê-lo ao presente.

“Agora que tenho filhos, gostaria de ter o histórico na minha vida e a confiança para ser quem eu fosse, porque acho que essa pessoa é muito legal e talentosa”, diz ele. “Mas eu não tinha isso. Eu não tive esse apoio em minha vida. Eu não tinha isso na minha família. Eu não tinha isso muitas vezes, mesmo na minha própria banda. Então, a minha reação foi ser uma espécie de criatura que reage. Eu estava disposto a permitir que Billy Corgan fosse destruído e se tornasse um instrumento de deboche, ridículo e de zombaria. Acho que muitas coisas artísticas interessantes aconteceram a partir disso no SMASHING PUMPKINS, mas no fundo é uma história triste. Quer saber, não quero ser pessoal com você, mas pessoas como você teriam me aceitado como eu era em 1992?”

Essa pergunta é impossível de responder em 2020, mas falando com Corgan sobre essa forma de trabalhar, fica claro que tem sido uma bênção e uma maldição. A liberdade de assistir repetidamente “o espantalho de Billy Corgan queimar” nas mãos de jornalistas e fãs confusos, resultou em “abrir a criatividade e a inspiração para a música que eu não teria encontrado de outra forma”. Mas ele observa ironicamente que também tem sido “ruim para os negócios”.

"O rock'n'roll é", diz ele, "um jogo bobo de maquiagem. Grande e maravilhoso, mas mesmo assim um jogo e que não é real”. Existem personagens, como ele próprio, que são expostos nesse jogo. Ele admite que o SMASHING PUMPKINS "mijava" na imprensa nos anos 90 só porque achava engraçado: “A imprensa queria um molde de como deveria ser o SMASHING PUMPKINS, então, nós demos a eles”, o que também faz parte do jogo. “Foi um bom esporte, mas a minha jornada no geral não foi agradável”.

“Quando jovem, eu mesmo tomei a decisão de que era assim que iria navegar nessas águas e foi isso mesmo que eu fiz”, diz ele. “Eu poderia te dizer que foi uma coisa artística legal de se fazer, mas pessoalmente, pra mim, não foi uma boa ideia (risos). Foi muito difícil pra mim... Tinha momentos em que eu entrava numa entrevista com uma xícara de chá e só queria ter uma boa conversa com alguém, mas as pessoas logo começavam a me criticar sobre alguma coisa”.

Isso é uma coisa, mas quando afeta o que está dentro da banda, bem como o que está fora, a vida se torna muito mais difícil, porque o SMASHING PUMPKINS são pessoas que realmente conhecem você e o seu interior, mas quando a vida imita a arte e as coisas começam a se quebrar, Corgan descobriu que é um lugar muito mais solitário do que apenas rir de críticas negativas.

“Sobre o público, você sempre pode dizer: ‘Bom, eles são loucos e não me entendem’”, ele ri. “Mas quando as pessoas ao seu redor perdem a fé em seu trabalho, é muito difícil voltar para a mesma coisa em que você encontrou consolo. Então, é aí que todo o artifício de diferentes personalidades e artifícios artísticos na esfera pública realmente não o protege da mágoa pessoal, quando você sente que as pessoas ao seu redor não acreditam mais em sua capacidade de fazer algo mágico”.

Quando a banda - ou pelo menos a interação Billy / James / D’arcy / Jimmy - se fragmentou, não tinha acabado. Corgan continuou a gravar álbuns do SMASHING PUMPKINS e fazendo shows como o SMASHING PUMPKINS conforme a vontade o levava. Os fãs permaneceram, mas também havia a sensação de que agora era um show de Billy Corgan.

Por sua própria admissão, Corgan não conseguia ver o que os fãs estavam recebendo ao pedir uma reunião com os membros originais, achando quase um rebaixamento em sua carreira. Ele tinha visto os seus heróis do BLACK SABBATH e JUDAS PRIEST voltando com as suas formações clássicas, mas "na minha própria situação, eu rejeitei a ideia".

“E mais tarde, eu pensei: ‘Você já superou isso!’”, lembra ele. “Acho que levei alguns anos para perceber o quão importante isso realmente é. Quando você está lá com os seus irmãos no palco e vê os rostos da multidão, você pensa: ‘Ok, agora eu entendi’”.

Além de compreender por que isso era tão importante para os fãs, também revelou por que é tão importante para ele. Algo maior do que quem criticou o quê ou sobre jornalistas liquidados, foi aqui que um estranho Billy Corgan realmente encontrou um lugar no mundo, com outras pessoas igualmente estranhas procurando a mesma coisa.

“A verdadeira história da banda é de uma família”, Corgan admite. “Acho que, quando era criança, passei por momentos tão difíceis com a minha própria família, que tentei criar a minha própria versão ideal de família na banda. E isso foi um sucesso na medida em que fui capaz de ter sucesso com aquela família. Então, a dor se tornou quando você não sentiu que recebeu de volta da família o que você pensava que merecia, ou é claro, que eles lhe contaram onde tiveram um problema com você em troca".

“A verdadeira vitória desta jornada maluca em que todos nós estivemos é que fomos capazes de fazer a paz dentro de nosso pequeno reino”, continua ele. “Muitos de nossos fãs também vieram de famílias disfuncionais e eu acho que eles vendo a separação da banda, voltarmos e só mais tarde retornarmos com os membros originais, acho que isso prejudicou eles também. Eu acho que há algo muito bonito na ideia de que se você aguentar por tempo suficiente, pode juntar as peças novamente. E eu sei que não está completo hoje, mas pelo menos conta uma história. A verdadeira beleza desta história é, sim, somos capazes de fazer uma música muito forte e manter algum nível de popularidade após 30 anos - o que por si só é milagroso - mas a verdadeira história é que fomos capazes de curar alguns dos relacionamentos nos bastidores até o ponto em que aquele componente, a base sobre a qual todo o resto foi construído, seja pelo menos sólido novamente".

De certa forma, você não quer resolver totalmente os mistérios de Billy Corgan, não quando ele está "armado" para um dia na reunião do conselho. E na verdade, há muito o que amar em Billy Corgan que brinca com a imprensa e se permite ser o “inimigo público nº 01".

Mas a honestidade e a gentileza dele são revigorantes e maravilhosas: Billy Corgan é um cara muito, muito do bem. É fácil "conquistá-lo". Ele é um entusiasta da música, tanto sua quanto de fã. Ele agradeceu a revista Kerrang por continuar a hastear a bandeira do rock'n'roll que ele tanto ama.

Até quando ele minimiza as coisas - em um ponto, quando dissemos que ele riu por último nessa história toda, ele bufou e sorriu, dizendo: "Eu não estou sabendo sobre isso" - há uma vulnerabilidade tímida que é bastante cativante.

E quando ele fala sobre a banda voltando como uma família, você pode ouvir isso no álbum "Cyr". Não porque pareçam estar compondo músicas como "Today", mas porque se sentem confortáveis o suficiente para assumir os riscos novamente.

Riscos grandes, mas eles parecem confiantes nisso.

E principalmente, você se sente feliz por Billy Corgan.

Há uma citação sua para a revista Kerrang em 1995, onde ele afirmou sem rodeios: "Eu tenho uma espécie de grande responsabilidade". Hoje, entretanto, a sua vibração é de contentamento estabelecido. Com a sua banda, ele consertou algo que não apreciava o quanto precisava. Em casa, a sua família de verdade também é excelente e como um homem que muitas vezes se surpreende e abala a percepção das pessoas, esta é a surpresa mais bem-vinda de todas.

"Está tudo bem e a vida é boa”, sorri Corgan. “As minhas prioridades são os meus filhos, família e a minha música, então, não posso reclamar. Na verdade, eu não poderia reclamar de nada. Eu me sinto abençoado e agradeço que pessoas como você se interessem e realmente é isso que vale pra mim. Não pode ser mais complicado do que isso e acho que essa é a vitória. É para chegar a um ponto de compreensão, clareza, confiança e é exatamente o que deveria ser".

“Não precisa ser mais complicado do que isso”.

Confira as 10 músicas lançadas pelo SMASHING PUMPKINS em divulgação ao álbum duplo "Cyr", que será lançado agora nesta sexta-feira que vem (27/11/2020):


"Cyr"


"The Colour of Love"


"Confessions of a Dopamine Addict"


"Anno Satana"


"Ramona"


"Wyttch"


"Wrath"


"Birch Grove"


"Purple Blood"


"Dulcet in E"


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