top of page
by Brunelson
O baixista do PEARL JAM e membro fundador, Jeff Ament, foi entrevistado recentemente pela revista Guitar World e relembrou algumas histórias da época de gravação do álbum de estreia da banda, "Ten" (1991), dentre outros assuntos.
Quando Ament acordou no dia de ano novo de 2020, ele sabia que em poucos meses o seu grupo iria lançar o álbum "Gigaton" (11º disco), seu tão aguardado álbum e o primeiro desde 2013.
Já sabia das extensas viagens pelos EUA e Europa em divulgação ao novo disco, onde estava se preparando para ser o ano mais ocupado e importante em algum tempo.
No entanto, Jeff Ament está nesse momento relaxando com uma xícara de chá nos confins aconchegantes de sua casa no Estado de Montana, a meio mundo de distância dos palcos da Europa. As turnês, é claro, foram vítimas da atual pandemia global.
“Montana é onde cresci e normalmente volto pra cá quando não estou em turnê”, disse Jeff Ament em entrevista. “Estou fazendo o que normalmente faço, sabe? Eu entro no estúdio pela manhã e faço algum tipo de atividade à tarde, como andar de bicicleta, caminhar ou andar de skate”.
Relembrando aqueles dias caóticos no início de março, PEARL JAM estava na investida final antes de sua turnê começar em Toronto, Canadá, no dia 18 de março. À medida que as manchetes ficavam cada vez mais sombrias, a banda enfrentava algumas decisões difíceis.
“Passamos cerca de 02 semanas fazendo os ensaios da turnê”, diz Ament, “e íamos ter uma semana de folga para principalmente levar o nosso equipamento para a Costa Leste Americana".
"Todo mundo estava tentando descobrir o que estava acontecendo, porque não estávamos obtendo informações dos epidemiologistas naquele momento. Tivemos 03 ou 04 dias de conversas difíceis..."
"Ir para Toronto e ter fãs de mais de 10 países diferentes aparecendo no primeiro show, não parecia a coisa certa a se fazer. Percebemos: ‘Temos que cancelar isso agora, antes que as pessoas comecem a viajar’”.
Em 09 de março, a banda anunciou que a turnê seria adiada até 2021. Reconhecido por muito tempo por seu ativismo e caridade, PEARL JAM manteve 20 funcionários em sua folha de pagamento da turnê.
Amigável, envolvente e enormemente descontraído, Jeff Ament, 57 anos de idade, fala com a franqueza fácil de um homem inteiramente confortável em sua própria pele.
Ao longo dos anos, ele ganhou a reputação de um dos baixistas mais criativos e trabalhadores de sua geração. Ele tocou em várias bandas agora lendárias, com o PEARL JAM vendendo sozinho mais de 100 milhões de álbuns em todo o mundo, ganhando Grammys e entrando no Rock And Roll Hall Of Fame em 2017.
Sobre a pandemia, Ament ainda falou: “A minha esposa e eu entramos no carro e viemos para Montana. Assistíamos muito à TV e ouvíamos a rádio, mas depois de 03 ou 04 dias, estávamos nos sentindo exaustos, sabe? Percebemos que tínhamos que mudar as coisas. Ficar sentado, esperando que o apocalipse chegue, não é um estilo de vida saudável”.
Como ele é altamente prolífico e fortalecido por treinos extras na academia em preparação para a turnê, era quase inevitável que Ament fizesse um uso produtivo do bloqueio social: “Eu tinha uma tonelada de energia”, disse ele. “Finalmente falei: ‘Vou tentar compor e escrever 01 música todos os dias durante esta semana’. Esse foi o meu objetivo e quase sempre consegui”.
Quando ele não está praticando o seu lado musical, Ament muitas vezes pode ser encontrado patrulhando as pistas e rampas de skate locais. Ele arrecadou dinheiro e se envolveu em mais de 20 parques de skate, muitos em reservas de índios americanos e áreas rurais.
“Eu gosto muito de pistas de skate”, disse ele.
Nos anos 70, a crescente cultura do skate encontrou uma sinergia natural com o movimento punk rock, unida por seu status de "fora-da-lei" e sem frescuras. Vindo de Big Sandy, uma pequena cidade de Montana, Ament encontrou camaradagem e inspiração na cena local do skate e finalmente, isso preparou o terreno para a sua jornada na música.
“Eu vi skatistas criando as suas próprias bandas e isso me deu a confiança de que você realmente podia fazer qualquer coisa. Quando eu entrei no mundo do punk rock, eu vi que muitas dessas bandas realmente estavam fazendo de tudo, sabe? Estavam fazendo a sua própria arte, tocando os seus instrumentos e gravando as músicas elas mesmas. Essa foi a minha entrada como baixista... Logo de cara, eu estava numa banda. Na verdade, acho que estava em uma banda antes de tocar baixo!”
Ament se formou no colegial em 1981 e entrou na Universidade de Montana como graduado em Artes, com aspirações de jogar basquete e desenvolver as suas habilidades no baixo. Um encontro casual no início do seu 1º ano de faculdade, mudaria a sua vida para sempre.
“Tive a sorte de ter um cara da Califórnia morando no mesmo andar onde estava. O nome dele era Jon Donohue e já havia participado de algumas bandas de hardcore por lá. Nos demos bem logo de cara e nos fins de semana, apenas nos reuníamos e escutávamos um som. Colocava para tocar o álbum 'It's Alive' (1979) dos RAMONES e escutávamos todos os quatro lados do vinil, e dentro de um mês eu estava tocando músicas”.
Alimentado por uma paixão consumidora de dominar o seu instrumento, a abordagem principal de Ament era a autoaprendizagem: “Não era como se eu pudesse pagar para ter aulas com alguém e certamente não havia ninguém que gostaria de me ensinar riffs de punk rock. Eu tinha um pouco de formação musical, cresci tocando piano e estava no coral da escola, então, eu estava um pouco perto da música e aquilo foi muito útil pra mim”.
Ament mergulhou nas bandas punk rock da época, incluindo SEX PISTOLS, THE CLASH, DEAD KENNEDYS e BLACK FLAG: “Eu realmente aprendi a tocar apenas tocando junto com os discos”, ele pondera.
Em 1983, Ament abandonou a universidade depois que cancelaram o seu curso de design gráfico e no final de abril, ele se mudou para Seattle com U$ 40 dólares no bolso e um foco de se tornar músico. Ele lavava pratos, servia à mesa e servia café para pagar as contas, ao mesmo tempo em que construía uma rede de músicos locais - entre eles, Mark Arm e Steve Turner, que o convidou para se juntar à banda GREEN RIVER.
Comprometidos em seguir em frente, Ament e Gossard formaram o MOTHER LOVE BONE em 1988 com o feroz e talentoso vocalista Andrew Wood. O seu amálgama propulsor de rock de arena cativou tanto a cena quanto as grandes gravadoras.
Com o MOTHER LOVE BONE, Ament apresentou um estilo mais agressivo e funk rock, explicando: “Andy gostava muito de QUEEN, T. REX e Elton John, então, muito do MOTHER LOVE BONE veio disso, tipo, nós até aprendemos algumas músicas do QUEEN e John Deacon é um baixista incrível e descolado... Eu provavelmente estava ouvindo bastante QUEEN e THE CULT durante o MOTHER LOVE BONE”.
Mais uma vez, Ament e Gossard se reagruparam, desta vez formando a banda que os lançariam dos clubes escuros e suados de Seattle para os estádios e arenas do mundo inteiro. O álbum inovador de estreia do PEARL JAM em 1991, "Ten", surgiu no meio do caminho entre rajadas de guitarra do LED ZEPPELIN e a intensidade do punk.
Riffs super viciantes e refrões de tirar o fôlego, colocaram músicas como "Alive", "Jeremy" e "Even Flow" nas paradas do mundo inteiro, vendendo mais de 13 milhões de cópias em todo o planeta. O disco "Ten" é um banquete absoluto para os amantes do baixo, com as linhas poderosas e evocativas de Ament destacando-se por toda parte.
Descrevendo a sua abordagem para o álbum "Ten", Ament falou: “Depois que Andy morreu e Stone e eu decidimos continuar tocando juntos, pensei: ‘Preciso melhorar... Eu preciso mudar isso e aquilo. Vou me jogar no fundo do poço e vou aprender a tocar baixo fretless'. Acho que mais da metade desse álbum é só no baixo fretless, sabe? Usei o baixo de 12 cordas em três músicas e talvez a canção 'Porch' seja a única que gravei usando baixo com trastes... Todas as outras eu acho que gravei com o baixo fretless”.
Com base em influências de Tony Franklin, Mick Karn, David J. e Jah Wobble, Ament desenvolveu um estilo fluido que investiu no estilo clássico de rock do PEARL JAM com tons profundos, cremosos e elasticidade espessa.
“Stone estava sempre compondo do ângulo do LED ZEPPELIN, então, ver se o baixo fretless poderia funcionar nesse reino foi emocionante” e até hoje, Ament permanece um devoto fervoroso do fretless, acrescentando: “Mesmo no álbum 'Gigaton', usei o baixo fretless em algumas músicas e com o tipo de composição que tenho feito nesses meses pandêmicos, estou tentando usá-lo mais porque acho que é um instrumento muito subutilizado”.
Ao longo das 03 décadas do PEARL JAM, 11 álbuns de estúdio e milhares de shows, Ament cultivou cuidadosamente o seu papel como baixista e compositor.
“A minha função mudou ao longo dos anos. Quando começamos eram duas guitarras. Para a gravação do disco 'Ten', Stone estava escrevendo de um ponto de vista realmente direto e com riffs pesados, e eu fui um pouco mais agressivo naquele ponto em termos de querer que o baixo fosse proeminente. Para as músicas que eu criei, toquei com o baixo de 12 cordas".
À medida que o processo de composição coletiva do PEARL JAM evoluiu, o mesmo ocorre com a abordagem de Ament - não apenas para a sua própria composição, mas para os estilos variados dos seus companheiros de banda.
“Mudou muito”, diz ele. “Todos na banda escrevem músicas e cada um possui a sua abordagem com as suas próprias mãos que são realmente diferentes em termos de como eles tocam guitarra. Essa tem sido uma das coisas divertidas, de entender o ritmo interno de cada um e ajustar a minha forma de tocar a esse ritmo. É incrível que estamos chegando aos 30 anos de banda, mas eu diria que fazer esse último álbum foi tão divertido quanto já fizemos”.
Sobre os seus baixos, pedais e amplificadores, Ament falou sobre alguns:
“Eu tenho um P-Bass de meados dos anos 60 todo arranhando e que uso em toneladas de material. Tenho um Wal fretless e um Gibson EB3 de meados dos anos 60 para quando você precisa de algo forte. Em termos de amplificadores, há uma empresa chamada Analog Outfitters, que fabrica amplificadores com partes de órgãos (instrumento) antigos. Eles construíram dois ou três amplificadores pra mim e geralmente é o que eu uso no estúdio e nos shows também".
“Eu uso alguns pedais, como o Tech 21 Dug Pinnick, que tem um som realmente incrível. Eu tenho um Swamp Pickle que tem um som bem maluco, o que é ótimo”.
O jovem Jeff Ament se propôs a aprender algumas canções dos RAMONES e 03 décadas depois, ele é um dos músicos mais versáteis e respeitados de sua época. Além dos prêmios, as certificações de platina e toda a fama e fortuna que um astro do rock em ascensão poderia desejar, talvez a sua maior conquista seja o quão imperturbável ele é com tudo isso.
Para ele, só há uma maneira de medir o sucesso: “É se perguntar: 'Você está se sentindo feliz com o que está fazendo?' Pra mim, pode ser escrevendo uma música, tropeçar em uma ideia ou pode estar cometendo um erro, onde esse pequeno erro vai se tornar parte do seu repertório nos shows".
Mais Recentes
Destaques
bottom of page
コメント