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  • by Brunelson

Chris Cornell: resenha do novo livro autobiográfico "Total Fucking Godhead" pela revista K


Soundgarden


O livro "Total Fucking Godhead: The Biography of Chris Cornell" (foto) examina toda a vida e música do incrível vocalista/guitarrista que ficou conhecido inicialmente com a banda SOUNDGARDEN.


Mesmo antes da trágica morte de Chris Cornell tornar isso ainda mais irritante, havia muito tempo um buraco negro na literatura musical em torno de um dos filhos mais famosos de Seattle. Na introdução do fantástico novo livro do autor e jornalista Corbin Reiff (da revista Spin), esse prego é cravado em particular na cabeça dos fãs e historiadores.


“Me lembro de ficar irritado que houvesse uma infinidade de livros sobre a história do grunge, Kurt Cobain, NIRVANA, PEARL JAM e ALICE IN CHAINS, mas nenhum sobre Chris Cornell e apenas 01 livro sobre o SOUNDGARDEN".


Para esse fim, Corbin pôde manter a cabeça em linha reta e reuniu mais de 300 páginas para contar a história musical de Chris Cornell. Porém, com uma das primeiras advertências do autor na introdução, ele explica as muitas maneiras pelas quais foi impedido de ter reunido mais cedo este projeto.


"À medida que surgiam as questões legais sobre os seus bens em torno do falecimento de Chris Cornell, eu sentia a ansiedade das pessoas em querer falar sobre ele o tempo todo", explica o escritor. “Então, as entrevistas que levaram meses no planejamento foram remarcadas e em seguida canceladas por completo. As pessoas que estavam ansiosas para compartilhar as suas memórias e fornecer fontes adicionais, pararam de retornar aos meus textos, telefonemas e e-mails”.


Enquanto Corbin ainda se baseia em suas próprias entrevistas com amigos e colaboradores de toda a vida de Cornell, o que é particularmente impressionante é a maneira como ele conduz o enorme feito de deixar informações díspares de entrevistas, livros e outras fontes, tudo em um só lugar.


De certa forma, isso até é favorável a Corbin. Particularmente durante a intensa atenção da mídia a que ele foi submetido nos anos 90 - quando até o seu corte de cabelo era manchete - Chris Cornell costumava ser sincero sobre a sua música, com a introdução de canções íntimas no palco.


Corbin, que claramente passou uma quantidade absurda de horas assistindo a programas no YouTube, explora isso de maneira brilhante, construindo uma tapeçaria de insights que provavelmente nem o fã mais dedicado de Chris Cornell teria acumulado de forma independente.


O que também deve ser enfatizado aqui é que, em muitos aspectos, a tarefa a seguir para Corbin é inegavelmente gigantesca. Algumas biografias do rock lutam para transmitir com sucesso a evolução de uma pessoa numa banda, enquanto Chris Cornell esteve em muitas. Juntamente com detalhes biográficos restritos e sua ascensão à fama com o SOUNDGARDEN, o livro com o sombrio título de "Total Fucking Godhead" se torna o somatório da Sub Pop, co-fundada por Bruce Pavitt, ao som do SOUNDGARDEN.


Posteriormente este título havia sido adotado pela banda como o seu slogan não oficial de suas primeiras turnês. A narrativa de Corbin também situa esta fase da banda, além das raízes, desenvolvimento do som de Seattle, grunge e todos os seus afluentes - as pessoas, bandas, gravadoras e as tragédias.


Além disso, também há o TEMPLE OF THE DOG, a diversificada carreira solo de Cornell, a formação e implosão do AUDIOSLAVE e a reunião final com o SOUNDGARDEN, tudo numa operação focada a laser.


Começando com a infância e a vida familiar conturbada de Chris, Corbin muda do momento epifânico em que descobriu os BEATLES, para um dos maiores vocalistas de todos os tempos que havia iniciado a sua carreira musical como baterista. Sem mencionar os seus anos como lavador de pratos e outros bicos...


Em contraste, o advento do grunge tornou-se tão bem-humorado a ponto de ser mítico e limítrofe em 2020, mas em virtude ao seu forte foco no SOUNDGARDEN, Corbin dá uma nova vida a esse período. Embora os contornos ásperos da história pessoal de Chris Cornell sejam bem conhecidos, é a riqueza de detalhes que Corbin traz à tona que torna o livro tão impressionante, talvez não mais do que em sua infecciosa - para não mencionar meticulosa - atenção à música de Cornell.


SOUNDGARDEN era uma banda que não precisava se preocupar em compor músicas no clássico compasso 4/4, quando o seu repertório em compor canções eram em compassos cotidianos de 3/4, 5/4, 9/4 ou 15/8. SOUNDGARDEN estava exigindo a sua musicalidade e o mesmo ocorre com a dissecação de Corbin ao revelar como uma simples demo chamada "Hillbilly" floresceu e se tornou na icônica música "Rusty Cage". Além das afinações, contra-tempos, as inspirações subjacentes e até o colapso de trabalhar no estúdio, são analisados de maneira esclarecedora.


Uma coisa que torna o livro "Total Fucking Godhead" tão eminentemente legível, é o quão bem concebido e ainda cheio de detalhes ele se move - como num verdadeiro videoclipe. Porém, a 2ª metade do livro acelera numa velocidade vertiginosa a partir do momento em que chega à batalha de Chris com os opioides prescritos durante o início do AUDIOSLAVE.


Enquanto as primeiras 236 páginas lidam com a infância de Chris, a explosão do grunge, a ascensão e separação do SOUNDGARDEN em 1997, o restante das 100 páginas percorrem a maior parte de sua carreira solo, com o AUDIOSLAVE e das reuniões com o TEMPLE OF THE DOG, MAD SEASON e o SOUNDGARDEN.


Isso não quer dizer que esses capítulos não sejam fascinantes, detalhados ou reveladores - eles certamente são - mas alguns fãs, particularmente do trabalho pós-milênio de Chris Cornell, talvez tenham desejado o mesmo nível de atenção a esses álbuns, da mesma forma que foi reconhecida ao material anterior do SOUNDGARDEN na 1ª metade do livro.


Infelizmente, o capítulo 16 oferece uma inspeção necessária do que permanece para muitos ao redor do mundo uma ferida ainda aberta: a morte de Chris Cornell. Na época, ele estava em uma posição verdadeiramente notável na sua carreira, com o SOUNDGARDEN reunido há 07 anos, 01 álbum lançado e outro em fase de preparação, uma porta aberta para a reunião do AUDIOSLAVE, uma carreira solo que estava em plena floração com participação em trilhas sonoras, além das centelhas de luz que poderiam vir novamente através do TEMPLE OF THE DOG e MAD SEASON.


Ainda há perguntas sem respostas para o que aconteceu em 17 de maio de 2017 na cidade de Detroit, mas é à luz disso que é importante destacar a maior força deste livro: a lente pela qual Corbin escolhe enquadrar a vida de Chris Cornell. O livro necessariamente termina com uma nota de tristeza, mas não se enganem, o mesmo não é construído como uma tragédia de 52 anos em câmera lenta. É uma celebração!


Seja na literatura, colunas de notícias, reportagens, documentários ou filmes, tudo compõe a história não apenas de Chris Cornell, mas também de muitas das vidas mais próximas dele, como lidando com a overdose fatal do seu companheiro de apartamento, Andrew Wood (vocalista do MOTHER LOVE BONE). Tudo isso está presente no livro e é tratado com delicadeza.


No entanto, é para o crédito eterno de Corbin que ele equilibre esse desespero com alegria. Sim, o ser humano vulnerável por trás do talento extraordinário de Chris Cornell é rastreado (assim como a sua compaixão), de quando ajudou o vocalista do FILTER e ARMY OF ANYONE, Richard Patrick, na clínica de reabilitação.


Você pode derramar uma lágrima ao ler este livro, mas certamente também irá sorrir. É um verdadeiro reflexo de um cantor que, no palco, poderia fazer o público chorar com a sua música, mas também irrompeu em histeria através de sua inteligência auto-depreciativa e nítido sarcasmo.



O site rockinthehead havia publicado outra recente matéria sobre este livro. Confira:


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