Scott Weiland: matéria exclusiva da revista Rolling Stone/EUA
* Matéria publicada apenas 19 dias após o falecimento de Scott Weiland.
by: David Fricke - 22/12/2015 (jornalista a mais de 30 anos da Revista Rolling Stone)
02 dias depois que Scott Weiland (ex-vocalista original do STONE TEMPLE PILOTS) foi encontrado morto em sua cama no ônibus de turnê na cidade de Bloomington, Minnesota (com a sua atual banda, THE WILDABOUTS), o guitarrista do STONE TEMPLE PILOTS, Dean DeLeo, estava em seu carro quando a rádio começou a tocar a música "Creep" da sua própria banda e que foi lançada no álbum de estreia, “Core” (1992).
"Creep"
"Isso realmente me bateu forte no coração", o guitarrista falou da canção, uma balada moída com uma rendição amarga em que Scott oferece o seu gancho devastador cantando com uma convicção visceral: "Eu sou metade do homem que costumava ser".
"Ele me levou de volta para quando gravamos esta música", o guitarrista continua, lembrando como o STONE TEMPLE PILOTS (com Dean, Scott, o baterista Eric Kretz e o baixista Robert DeLeo, irmão mais novo de Dean) havia gravado a canção "Creep" em uma noite no estúdio Rumbo Records, na cidade de Los Angeles.
"Começamos depois do jantar e ouvimos de volta a gravação em torno das 23:30hs da noite. Tivemos todas aquelas velas acesas na sala de controle do estúdio, só nós 05 estávamos lá..." (que foi a banda completa com o produtor deste álbum, Brendan O'Brien). "Todos se entreolharam logo quando a música havia terminado e sabíamos que havíamos capturado alguma coisa com ela".
Dean também observou algo que Brendan O'Brien disse a ele depois da morte de Scott, assim como eles haviam relembrado nas primeiras sessões de gravação desta mesma canção: "Brendan me disse: 'Quando aquele gato felino caminhou até o microfone, eu sabia que tínhamos um disco de sucesso'".
O álbum “Core” vendeu mais de 08 milhões de cópias só nos EUA e instituiu Scott Weiland como uma das vozes mais populares de comando da revolta grunge dos anos 90. Ele também marcou o início do ricochete de Scott entre a glória de rockstar com a sua crise extrema, incluindo o grave vício em heroína com repetidas viagens para clínicas de reabilitação, mais um tempo em prisões, 02 casamentos fracassados e relações musicais rompidas.
Ao longo de 02 períodos com o STONE TEMPLE PILOTS, o vocalista fez 06 álbuns de estúdio que venderam mais de 20 milhões de cópias em todo o mundo. Ele também era o nº 01 com o álbum de estreia do VELVET REVOLVER em 2004.
Mas o VELVET REVOLVER havia demitido Scott em 2008 citando o seu comportamento "cada vez mais errático".
No mesmo ano, STONE TEMPLE PILOTS havia retomado às atividades, mas em 2013, depois de uma reunião tumultuada entre si, os outros membros do grupo emitiram uma declaração em que a 2ª passagem de Scott pela banda estava "oficialmente encerrada".
O baterista relatou: "Não foi uma coisa espontânea, sabe? Por qualquer meio que tenha ocorrido", defendendo a ação em demitir o seu vocalista de banda. "Ele estava fazendo escolhas e estas escolhas estavam deixando todos mal".
Ainda em 2013, os 03 excursionaram e chegaram a gravar um EP, "High Rise", com o vocalista do LINKIN PARK, Chester Bennington, até que no mês de novembro de 2015, Chester anunciou que não estava tendo tempo suficiente para se dedicar às 02 bandas e a sua família, deixando assim o posto de vocalista do STONE TEMPLE PILOTS em aberto até o momento...
A morte de Scott no dia 03 de Dezembro de 2015 aos 48 anos de idade, veio de longe há ser o centro das atenções na mídia em geral (enquanto que ele lutava para promover o recente álbum de estreia da sua nova banda, THE WILDABOUTS, em clubes e pequenos salões). As autoridades de Minnesota não tinha emitido uma causa da morte a tempo de sair na imprensa, mas a polícia local relatou a descoberta de vários medicamentos de prescrição no ônibus onde Scott foi encontrado morto, bem como 02 sacos de uma substância mais tarde identificada como cocaína.
Jamie Weiland, 3ª e última esposa de Scott (que não é a mãe dos seus filhos), disse que o seu marido estava bebendo muito antes da turnê do THE WILDABOUTS ter começado. Ele havia dito para que ela o acompanhasse na turnê para que ele conseguisse parar de beber junto dela, sendo que ela se juntou a ele na estrada por 01 semana em novembro de 2015.
Como uma embalagem de arena do STONE TEMPLE PILOTS nos anos 90 e, muito recentemente, “brincando” com o VELVET REVOLVER, Scott foi um dos vocalistas mais jubilantes/agressivos da história do rock’n roll, cantando músicas como "Dead & Bloated" do STONE TEMPLE PILOTS através de um megafone (lançada no disco, "Core"), enquanto que ele espreitava no palco com o seu felino deslizamento corporal.
"Dead & Bloated"
"Dean, Eric e eu, nós conseguíamos ‘manobrar’ as pessoas em um show", disse Robert DeLeo, “mas era Scott quem estava nos levando, sabe? Ele tinha o poder e o carisma... Era como se estivéssemos sendo batizados todas as noites".
Scott também foi um vocalista de grande variedade dramática. A partir da ironia chiada da canção "Sex Type Thing" do álbum “Core”, à clareza lamuriosa da música "Sour Girl" lançada no 4º álbum de estúdio do STONE TEMPLE PILOTS em 1999, "Nº 4", ele era um letrista espirituoso e incisivo que apontou em cheio as linhas mais implacáveis de si mesmo.
"Sex Type Thing"
"Sour Girl"
"Eu fiz desculpas para um milhão de mentiras / Mas tudo que eu consegui foi uma humilde torta de temperamentos", Scott cantou na música "Tumble in The Rough", do 3º álbum do STONE TEMPLE PILOTS de 1996, “Tiny Music... Songs From The Vatican Gift Shop”, o qual foi gravado durante um dos seus piores períodos de vício em heroína.
"Tumble in The Rough"
Em 2001, Scott foi diagnosticado com transtorno bipolar e ele observou esta situação ironicamente em uma música do STONE TEMPLE PILOTS lançada neste mesmo ano, "Bi-Polar Bear" (5º disco, “Shangri-La Dee Da").
"Bi-Polar Bear"
"Havia um grande espelho lá para Scott e tomando o que ele viu em si mesmo, tenha ele gostado ou não, o tornou em algo grande musicalmente falando", relatou Robert.
"Scott estava bem ciente de onde estava em sua carreira e de como ele chegou lá", diz o empresário de Scott, Tom Vitorino, que havia começado a trabalhar com o vocalista em julho de 2015. Vitorino se recorda de uma reunião inicial que ele teve com Scott: "Ele havia me dito: 'Eu tenho certeza que você já ouviu todas essas coisas que falam sobre mim... Por que você iria querer trabalhar comigo mesmo assim?' E então, eu disse a ele: 'Porque você não sofre da falta de talento, Scott'".
Scott Weiland nasceu Scott Richard Kline, em 27 de outubro de 1967 na cidade de San Jose, California. Seus pais se divorciaram quando ele tinha 02 anos de idade. Crescendo em Chagrin Falls, Ohio, em seguida, Huntington Beach, California, Scott tomou o último nome do novo marido da sua mãe, David Weiland, quando ela havia se casado novamente.
Scott e Robert DeLeo, originalmente de New Jersey, reuniram-se em 1985 para começar uma banda. Em 1990, eles estavam vivendo e tocando em Los Angeles com Dean e Eric, sendo que eles já tinham gravado demos das músicas "Wicked Garden" e "Piece of Pie", e que futuramente seriam regravadas para serem incluídas no álbum de estreia da banda, “Core”.
"Wicked Garden"
"Piece of Pie"
Robert se lembra de escrever canções com Scott, enquanto que os 02 tiveram empregos por toda a avenida da Sunset Boulevard, Los Angeles. Nesta época, Robert trabalhava em uma loja de guitarras e Scott encaminhava modelos para sessões de fotos. "Eu chamava Scott e mostrava alguns riffs para ele. Eu tinha uma melodia, apresentava a Scott, e ele fazia as letras e as melodias vocais por conta própria e do jeito certo de ser".
"Tudo era fácil para ele. Poderia montar num cavalo, praticar esqui aquático ou jogar basquete", falou Dean. “Quando o STONE TEMPLE PILOTS fez um churrasco depois de filmar o videoclipe da música 'Plush' do nosso 1º álbum, Scott fez um frango apimentado que foi espetacular", complementou em frenesi o guitarrista da banda. Mas o vocalista não conseguia parar com a sua "preocupante corrida... Ele teve dificuldades em aceitar ajuda, permitindo-se a receber somente poucas vezes".
"Plush"
Scott Weiland começou a experimentar drogas no ensino médio, mas o 1º uso de heroína foi na turnê final do álbum “Core” no ano de 1993, quando o STONE TEMPLE PILOTS pegou a estrada junto com o BUTTHOLE SURFERS. Ele famosamente descreveu as profundezas do seu vício em uma história relatada e que foi matéria de capa da revista Rolling Stone/EUA no ano de 1997: "Eu não sentia que tinha fôlego bom o suficiente, ao menos se tivesse em uma mão a seringa e na outra mão o serviço de emergência para chamar".
03 anos mais tarde e depois de 07 meses de prisão por violar a sua condicional, ele alegou que a sua compulsão ainda o perseguia profundamente: "É esta euforia que vem por você saber que quase perdeu a sua vida, mesmo sabendo que eu estou nesta situação por causa das drogas".
As drogas lhe custaram caro de várias maneiras. O irmão mais novo de Scott, Michael Weiland, morreu em 2007 por complicações cardíacas depois de anos por abuso de drogas. Então, na primavera passada, 01 dia antes do álbum de estreia do THE WILDABOUTS ter sido lançado, o guitarrista da sua banda, Jeremy Brown, havia morrido por uma overdose acidental de medicamentos de prescrição de acordo com Lucas Keller, empresário de Scott naquele momento.
Scott era "como um fantasma" no funeral de Jeremy Brown, disse Lucas Keller: "Ele era o seu melhor amigo e em seguida, nós tivemos que ter uma conversa mais tarde para decidir: o que vamos fazer agora? Scott tinha de sair fora daquela coisa toda com o STONE TEMPLE PILOTS, onde ambos estavam recentemente estabelecendo as ações legais decorrentes da sua demissão. Ele estava inspirado, fazendo um novo álbum com uma nova banda e o guitarrista morre... Era um monte de coisas acontecendo na vida dele ao mesmo tempo, sabe?"
A morte do guitarrista do THE WILDABOUTS "completamente destruiu Scott”, confirmou a viúva. Depois, ele reconstruiu o THE WILDABOUTS e saiu em turnê, mas "mesmo até poucas semanas antes da morte de Scott, quando eu o via, ele sempre falava sobre Jeremy, todos os dias... Ele sempre tinha lágrimas em seus olhos quando falava do seu amigo e ex-guitarrista de banda".
Ainda assim, Scott tinha planos ambiciosos para 2016: um novo álbum de estúdio com o THE WILDABOUTS, mais turnês e um acréscimo de materiais não divulgados para o seu livro autobiográfico lançado em 2011, “Not Dead & Not For Sale". "Ele era tão obstinado pela sua paixão pela vida nos primeiros anos...", falou o baterista Eric Kretz. "Eu realmente esperava que ele voltasse um dia ao STONE TEMPLE PILOTS para ter uma nova chance".
Após a morte de Scott Weiland, o baixista Robert DeLeo entrou na sua garagem onde ele mantém a história de vida em memorabilia do STONE TEMPLE PILOTS. "Eu estava olhando para todas as coisas que eu guardei", disse Robert, finalizando: "É assim que eu quero olhar para trás e ver Scott, para o que ele adicionou na minha vida".
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ps: Para finalizar esta bela matéria em homenagem a Scott Weiland, seguem 02 videoclipes para completar toda a discografia do STONE TEMPLE PILOTS com Weiland nos vocais:
"Interstate Love Song" (2º disco, "Purple", 1994)
"Between The Lines" (6º disco, "Stone Temple Pilots", 2010)