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  • by Brunelson

Kurt Cobain: guitarras, pedais e amplificadores que usou até a gravação do álbum "Nevermind"


Segue a matéria que retiramos da revista (física) Guitar World de 1992, que relacionou o guia em definitivo das guitarras que Kurt Cobain usava e quebrava desde a sua adolescência, assim como pedais de distorção e amplificadores destruídos ou explodidos - somente até aquele momento em que essa matéria foi lançada pela revista, que terminaria na gravação do álbum "Nevermind" (2º disco do NIRVANA, 1991).

Décadas depois da sua morte, o eterno frontman do NIRVANA continua sendo um dos mais icônicos na história da guitarra.

Kurt Cobain deve ter se divertido quando revistas como a Guitar World e Guitar Player solicitaram entrevistas, assim como quando a Fender o abordou para projetar uma guitarra em especial, mas é aqui que existe outra ironia - embora Cobain sempre diga que não se preocupava muito com equipamentos, ele certamente possuía muito mais do que apenas um interesse passageiro nas ferramentas do seu ofício.

Cobain pode não ter colecionado guitarras/violões antigos da Gibson, Martins, D'Angelicos e tudo o mais, mas ele possuía um estoque excêntrico de modelos econômicos, produtos importados de baixo custo e "achados" em lojas de penhores - muitos perseguidos com a mesma paixão de um colecionador da Gibson em busca de uma Les Paul '59.

Mesmo quando ele podia pagar pelo melhor, o gosto de Cobain por instrumentos nunca mudou: “Coisas velhas sem valor (junk) são sempre as melhores”, disse Cobain com naturalidade para o jornalista Jeff Gilbert em entrevista à revista Guitar World em fevereiro de 1992. “Eu uso tudo o que posso encontrar nas lojas de lixo".

Ao longo dos anos, os rumores sobre Cobain usando processadores especiais e truques de estúdio para obter o seu som, proliferaram, então, concluímos que era hora de descobrir o verdadeiro fundo de verdade e revelar o equipamento que Cobain usava.

Para isso, a revista entrou em contato com as fontes mais confiáveis disponíveis - os revendedores que lhe venderam seus equipamentos, os engenheiros de som e produtores que trabalharam com ele no estúdio e os técnicos de som que cuidaram do equipamento da banda nas turnês.

Assim como essa revista, o autor dessa matéria também possui a biografia oficial do NIRVANA lançada enquanto o grupo estava em atividade, "Come As You Are: The Story of Nirvana" (1993), do autor Michael Azerrad, um livro que fornece excelentes informações com fotografias de fundo, as quais também analisamos com poucas entrevistas concedidas pelo próprio Cobain, sobre este assunto referente aos equipamentos instrumentais que ele usava.


O livro biográfico oficial sobre Kurt Cobain, "Mais Pesado Que o Céu", do autor Charles Cross, também serviu como um balde de ferramentas para formularmos essa matéria.

Cobain quase certamente iria rir (no mínimo) da ideia de uma revista ou site examinando os mínimos detalhes do seu equipamento: “Nunca considerei o equipamento musical muito sagrado”, disse ele uma vez, mas para os milhares de guitarristas que consideram a música de Cobain sagrada, é importante entender o quê e como ele tocou.

Kurt Donald Cobain nasceu em Aberdeen, Washington, em 20 de fevereiro de 1967 (próxima a Seattle). A sua primeira guitarra era usada e foi um presente do tio Chuck em seu aniversário de 14 anos de idade: “Assim que ganhei a minha 1ª guitarra, fiquei tão obcecado por ela...”, disse Cobain a Michael Azerrad. “Eu não acho que era nem mesmo uma Harmony. Acho que foi uma Sears” (foto).


Cobain teve aulas de guitarra por menos de 01 mês, apenas o tempo suficiente para aprender a tocar a música "Back in Black" do AC/DC. Esses 03 acordes lhe serviram bem quando começou a escrever as suas próprias canções logo depois.

Cobain logo decidiu formar uma banda. Um dia, um casal de amigos o convidou para fazer uma jam num local de ensaio que era um açougue abandonado. Depois disso, ele deixou a sua guitarra num armário que tinha no local e não retornou para pegá-la de volta.

Alguns meses depois, quando ele finalmente voltou ao local de ensaio, Cobain encontrou a sua guitarra em pedaços. Ele recuperou o braço, o hardware e a parte eletrônica, e fez um novo corpo para a guitarra em uma marcenaria, mas Cobain não tinha as habilidades para fazer o instrumento restaurado entoar corretamente.

Quando Cobain tinha 17 anos de idade, a sua mãe se casou com Pat O'Connor, cuja infidelidade subsequente levou a uma situação que facilitou muito a aquisição de equipamentos musicais por Cobain. Depois que a mãe de Cobain descobriu que Pat a estava traindo, ela jogou a sua coleção de armas no rio Whiskah.

Cobain observou as travessuras de sua mãe e mais tarde encorajou alguns dos garotos da vizinhança a pegarem as armas do seu padrasto. Cobain vendeu as armas e com o dinheiro comprou um amplificador Peavey Vintage usado com dois alto-falantes de 12 polegadas.

No início de 1985, Cobain foi morar com o seu pai biológico, que desencorajou as atividades musicais do seu filho e tentou convencê-lo a vender a guitarra. Depois de um tempo, Cobain pegou a sua guitarra e foi embora da casa do pai.

Ele quase perdeu novamente a guitarra quando a emprestou para um traficante, mas conseguiu recuperá-la somente alguns meses depois. Com essa guitarra desconhecida e o amplificador Peavey em mãos, Cobain formou a sua 1ª banda no final de 1985, chamada FECAL MATTER.

O amplificador Peavey desapareceu em algum momento entre o início de 1986 e no final de 1987. O baixista do NIRVANA, Krist Novoselic, lembra que Cobain emprestou o amplificador a ele por cerca de 01 semana, no que aparentemente foi uma tentativa amigável de fazê-lo ingressar na banda FECAL MATTER, mas Novoselic recusava as ofertas.

O amplificador desapareceu algum tempo depois disso. No final de 1987, Novoselic finalmente concordou em formar uma banda com Cobain e o baterista Aaron Burckhard, que eles chamariam de SKID ROW.

Fotos desta época mostram Cobain interpretando um modelo destro Sunburst Univox Hi-Flyer virado e amarrado para canhotos (foto).


De acordo com Azerrad, o amplificador de Cobain durante esse período era um minúsculo Fender Champ. Também nessa época, Cobain adquiriu um pedal de distorção Univox Superfuzz, mas que foi roubado do seu local de ensaio.

O nome da banda mudava frequentemente para nomes como TED ED FRED, PEN CAP CHEW, THROAT OYSTER, WINDOWPANE e BLISS.

Eventualmente, eles se estabeleceram como NIRVANA.

Quando Burckhard provou não ser confiável, Cobain e Novoselic o demitiram da banda e alistaram o baterista Dave Foster, para depois substituí-lo pelo baterista Dale Crover - temporariamente emprestado da banda MELVINS que eram amigos e mentores daquele adolescente Kurt Cobain.

Três semanas depois, em 23 de janeiro de 1988, NIRVANA gravou a sua 1ª fita demo no Reciprocal Studios com o produtor Jack Endino na cidade de Seattle - cujos primeiros créditos de produção, engenheiro de som e mixagem, já incluíam bandas como SOUNDGARDEN, GREEN RIVER, TAD e MUDHONEY.

Poucos meses depois de trabalhar com o NIRVANA pela 1ª vez, Endino tocou a fita demo da banda para Jonathan Poneman da Sub Pop Records, que contratou o grupo para o selo. Três das canções que o NIRVANA gravou durante aquela sessão acabariam sendo lançadas no álbum de estreia em 1989, "Bleach".

A banda gostou de trabalhar com Endino e eles voltaram ao Reciprocal Studios várias vezes durante o ano para gravar mais músicas, com Chad Channing já tendo substituído Dale Crover na bateria.

NIRVANA assinou um contrato com a Sub Pop e no final de dezembro de 1988, eles entraram novamente no Reciprocal Studios para gravar o disco "Bleach". O álbum foi gravado em três dias por U$ 606,16 dólares.

Como já sabemos, a maioria das canções restantes das várias sessões de gravação no Reciprocal Studios, foram lançadas anos depois no disco "Incesticide" (3º trabalho de estúdio, 1992).

“Quando o NIRVANA gravou o álbum 'Bleach', eles pegaram emprestado o meu amplificador, que era um Fender Twin dos anos 60”, lembrou Endino. “Eu sou um fanático por valvulados, então, tudo foi ajustado e dentro das especificações daquele amplificador".

“Kurt trouxe um pequeno amplificador 2x12 com 02 Celestions, provavelmente modelos de 70 watts. Ele estava usando um pedal de distorção Boss DS-1 laranja e essas guitarras Univox Hi-Flyers que pareciam Mosrites".

“Acabei ganhando um daqueles captadores dele uma vez, porque ele estava quebrando aquelas guitarras o tempo todo e eu perguntei: 'Você deve ter alguns captadores extras', e Kurt me disse: 'Ah, sim. Aqui está um'. Estava quebrado em duas partes, consegui juntar os fios e deu certo. Não é o captador de melhor som do mundo, mas parecia funcionar para ele”.

Em 1989, NIRVANA fez a sua 1ª turnê americana. De acordo com Earnie Bailey, um luthier de guitarras de Seattle que era amigo de Krist Novoselic e que muitas vezes trabalhava como técnico para a banda, o equipamento de Cobain para os shows durante esse período era uma guitarra Epiphone ET270 vermelho (foto), um cabeçote de amplificador Randall, um gabinete BFI Bullfrog 4x12 e um pedal de distorção Boss DS-1.


Quando a sua guitarra estava totalmente destruída, Cobain procurava substitutos baratos em lojas de penhores ou fazia com que a Sub Pop lhe enviasse guitarras via correios.

“Eu ouvi histórias do pessoal da Sub Pop falando sobre a destruição das guitarras de Kurt no início daquele contrato”, disse Endino. “Quando ele estava na estrada, Kurt ligava para eles e dizia: 'Não sei o que deu em mim, mas acabei de quebrar a minha guitarra'".

“Eu não acho que ele estava planejando quebrar guitarras desde o primeiro dia. Era apenas algo que ele fazia, sabe? Os pobres rapazes da Sub Pop ligavam para todas as lojas de penhores ao longo da costa da turnê, procurando por guitarras Univox”.

Entre as turnês, Cobain costumava comprar equipamentos da loja Guitar Maniacs na cidade de Tacoma, Washington, e da loja Danny's Music em Everett, também no estado de Washington - regiões próximas a Seattle.

De acordo com Rick King, proprietário da loja Guitar Maniacs, Cobain “comprou um monte de guitarras Univox Hi-Flyers, tanto a versão P-90 quanto aqueles com humbuckers. Ele quebrou muitas dessas guitarras. Vendemos a ele várias delas por uma média de U$ 100 dólares cada uma ao longo de 05 anos”.

Embora guitarras Univox Hi-Flyers equipadas com humbuckers aparentemente fossem as guitarras favoritas de Cobain nos dias pré-"Nevermind", ele frequentemente aparecia no palco com outros modelos, incluindo uma Gibson SG azul (foto 1) e uma cópia da Greco Mustang Sunburst para destro (foto 2) que ele comprou da loja Guitar Maniacs.



Cobain comprou o que provavelmente foi o seu 1º violão, um Stella 12 cordas (foto) por U$ 31,21 dólares, em 12 de outubro de 1989. Ele trouxe o Stella para o Smart Studios no estado de Wisconsin, para gravar algumas demos com o produtor Butch Vig em abril de 1990.


“Mal fica afinado”, disse Cobain ao jornalista Jeff Gilbert da revista Guitar World. "Eu tenho que usar uma fita adesiva para segurar as tarraxas de afinação no lugar". Em algum momento na história do Stella, as cordas de aço foram substituídas por seis cordas de náilon, das quais apenas cinco permaneceram intactas durante a sessão.

No entanto, o violão soava bem para Butch Vig, que gravou Cobain tocando uma versão acústica solo da canção "Polly" neste violão. Apesar de não ser da sessão de gravação do álbum "Nevermind", a versão lançada no disco da música "Polly" foi retirada desta session.

Cobain não parecia ser excepcionalmente específico sobre o equipamento com o qual estava tocando, com a notável exceção dos seus pedais de efeitos. Em algum momento no ano de 1990, ele comprou um pedal Electro-Harmonix (foto) da loja Guitar Maniacs e permaneceu com ele, sendo uma parte favorita e essencial de sua configuração até o fim da vida.


Já com Dave Grohl na banda desde 1990, em 1º de janeiro de 1991, Cobain usou o pedal Small Clone (foto) para gravar a música "Aneurysm", que mais tarde seria lançada como lado-b no single de "Smells Like Teen Spirit".



Antes de assinar formalmente com a Geffen Records em 30 de abril de 1991, NIRVANA recebeu um adiantamento de U$ 287 mil dólares pela gravação do álbum "Nevermind". O avanço poderia ser um pouco pequeno mediante contrato, mas serviu de recompensa pela vida que eles vinham levando fazendo as turnês por conta própria numa van e dormindo enfileirados no chão.

“Eu vendi a Kurt um monte de guitarras e pedais de efeitos para o álbum 'Nevermind'”, disse Rick King. “Quando eles assinaram com a Geffen Records e começaram a ganhar dinheiro, Kurt ainda era muito frugal. Ele comprou algumas Fenders Stratocasters japonesas para canhotos e instalou humbuckers nela, mas ele não gastava muito dinheiro em guitarras novas”.

Aparentemente, Cobain desenvolveu um gosto pelas guitarras Fender pouco antes de gravar o disco "Nevermind": “Eu gosto de guitarras no estilo Fender porque elas têm braços finos”, disse Cobain nessa entrevista.

“Recorri às Fenders Stratocasters japonesas porque são as guitarras para canhotos mais disponíveis que tem". Durante esse período, Cobain também adquiriu uma Fender Jaguar '65 para canhoto (foto) que tinha um humbucker DiMarzio Super Distortion na posição da ponte e um DiMarzio PAF na outra posição. Essas modificações foram feitas antes de Cobain comprar a guitarra.


Ele também comprou uma Fender Mustang '69 da série Lake Placid Azul (foto) para canhotos daquela época.


“De todas as guitarras do mundo, a Fender Mustang é a minha favorita”, disse Cobain à revista Guitar World. “Elas são baratas, totalmente ineficientes, parecem uma porcaria e são muito pequenas. Elas também não ficam afinadas e quando você quer afinar as cordas, você tem que solta-las e removê-las completamente da ponte".

“Você tem que girar esses pequenos parafusos com os dedos e torcer para que tenha calculado corretamente. Se você errar, terá que repetir o processo indefinidamente até acertar. Quem inventou essa guitarra era um idiota... Acho que estou chamando Leo Fender de idiota”.

Para superar esses problemas de ajuste, Cobain teve a sua guitarra Mustang '69 equipada com uma ponte Gotoh Tune-O-Matic, uma modificação que era realizada rotineiramente nas Mustangs que ele posteriormente adquiriu.

Alguns afirmam que a preferência de Cobain por guitarras low-end era uma afirmação punk, mas ele insistiu que era uma questão de necessidade: "São baratas, sou canhoto e não é muito fácil encontrar guitarras para canhotos de alta qualidade e com preços razoáveis”.

Antes de entrar no estúdio para gravar o disco "Nevermind", Cobain comprou um rack consistindo de um pré-amplificador Mesa/Boogie Studio, um amplificador Crown e uma variedade de gabinetes Marshall 4x12.

“Nunca consigo encontrar um amplificador que seja poderoso o suficiente”, disse Cobain à revista Guitar World. “E eu não quero lidar com o transporte de 10 cabeças Marshall. Sou preguiçoso e gosto de ter tudo num pacote só. Para um pré-amplificador, eu tenho um Mesa/Boogie e aumento todos os médios”.

Cobain trouxe este equipamento junto com as suas guitarras Mustang, Jaguar, Stratocaster japonesa e seus pedais Boss DS-1, Electro-Harmonix e o Small Clone para o Sound City Studios em Van Nuys, Califórnia, onde a banda gravou o clássico álbum "Nevermind" com o produtor Butch Vig.

“Kurt tinha um Mesa/Boogie, mas também usamos muito um Fender Bassman e um Vox AC30 na gravação do disco 'Nevermind'”, lembrou Vig. "Prefiro que o amplificador soe distorcido em vez de usar efeitos especiais ou pedais, pois acho que perde um pouco de corpo e plenitude do som".

Ainda assim, Vig permitiu que Cobain usasse alguns pedais de efeitos no álbum, especialmente porque ele percebeu que o velho pedal e companheiro de Kurt desde sempre - aquele mesmo Boss DS-1 laranja (foto) - era o principal fator em seu timbre e que ele também levou consigo até o fim da vida.


Cobain também usou o Small Clone com muita liberdade:“Isto é o som agudo da guitarra que você ouve na fase pré-refrão da música 'Smells Like Teen Spirit' e também na música 'Come As You Are'”, disse Vig. “Também usamos um pedal fuzz box Electro-Harmonix Big Muff por meio de um Fender Bassman na canção 'Lithium' para obter um som mais forte e conciso”.

O seu velho violão Stella foi usado novamente para a música "Something in The Way". Vig gravou a performance enquanto Cobain estava sentado no sofá da sala de controle.


Já em outra canção e contra a vontade de Vig, Cobain plugou a sua guitarra direto na mesa de som para "Territorial Pissings".

Ao término da gravação da música "Lithium", Cobain instigou a banda a tocarem o noise jam que se tornou a faixa escondida no final do disco, chamada "Endless Nameless" - esta música não aparece nas primeiras 50 mil cópias do disco. No final da faixa, Cobain pode ser ouvido quebrando a sua Stratocaster japonesa.


Esta seria a ficha corrida dos equipamentos instrumentais utilizados por Kurt Cobain, desde a sua adolescência até as gravações do icônico álbum "Nevermind" do NIRVANA.




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