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  • by Brunelson

Jimi Hendrix: quando saiu em turnê com Engelbert Humperdinck, Cat Stevens e The Walker Brothers


Depois de se mudar para a Inglaterra e formar a sua banda em 1966, Jimi Hendrix foi convidado a se juntar aos cantores Engelbert Humperdinck, Cat Stevens e a banda THE WALKER BROTHERS, para uma turnê na época pela Grã-Bretanha.


Naquele momento, Hendrix havia lançado apenas alguns singles e estava dando os retoques finais para o lançamento do seu álbum de estreia, "Are You Experienced" (1967).


E desde o início, a turnê foi uma receita para o desastre.

THE WALKER BROTHERS, que era a atração principal, tinha um som pop suave com vocais harmonizados. Sem dúvida, os sons sedosos de Cat Stevens e Engelbert Humperdinck agradariam a maioria dos fãs do THE WALKER BROTHERS, porém, o uivo psicodélico exagerado de Jimi Hendrix para aquele público em si, iria se destacar com um polegar virado pra baixo e todo "ensanguentado".

No período que antecedeu a turnê, Hendrix havia sido entrevistado pela Disc Magazine e falou: “Mal posso esperar pela turnê, mas estou um pouco preocupado com o tipo de público que iremos nos apresentar. Se eles forem para assistir o THE WALKER BROTHERS, eles não vão querer nos assistir. Eu só espero que a plateia nos ouça, mas se eles gritarem pelo THE WALKER BROTHERS durante a nossa apresentação, eu simplesmente os ignorarei e tocarei somente pra mim. É comum nos EUA artistas mistos saírem juntos em turnês, como o THE BEACH BOYS e James Brown na mesma turnê”.

Depois de 01 semana, a Disc Magazine noticiou o 1º show dessa turnê: “Para Jimi Hendrix, essa turnê é uma nova experiência e ele não foi nem um pouco abatido por sua recepção bastante branda na 1ª noite, dizendo: ‘Isso é quase como um descanso pra mim depois da vida agitada de trabalho constante se apresentando em clubes noturnos’. Hendrix não estava assustado e nem triste com a recepção do público, e acredita que a plateia teria ficado mais entusiasmada com a sua atuação se ele já tivesse lançado o seu disco de estreia, 'Are You Experienced', que ele e a sua banda estão terminando de gravar”.


Nessa mesma reportagem, Hendrix adicionou: "Eu realmente odeio perder. Você não pode me culpar por ser egoísta tentando levar as nossas músicas ao público o mais rápido possível”.

Chris Welch, jornalista da revista britânica Melody Maker, havia feito uma resenha sobre este show de abertura de Jimi Hendrix na turnê, detalhando o "ataque de piromania" no final de sua apresentação: “Jimi Hendrix foi atingido por problemas técnicos em seu amplificador e embora fosse visualmente empolgante, a sua guitarra não podia ser ouvida acima da bateria estrondosa de Mitch Mitchell. Eles usavam roupas de palco lindamente coloridas, quase tão brilhantes quanto as chamas que saltavam da guitarra de Jimi Hendrix no final do show. Hendrix estava deitado no palco tocando a sua guitarra com os dentes, quando de repente ela pegou fogo do nada”.

A reportagem continuou: “No final, Jimi Hendrix saiu correndo por trás do palco seguido pelo seu grupo, com a guitarra queimando perigosamente perto das cortinas. Infelizmente, Hendrix e o responsável pelo palco, Nick Jones, foram levemente queimados no acidente. Um atendente correu para o palco com um extintor de incêndio e apagou as chamas, que saltaram 3 metros no ar enquanto o público gritava de forma surpresa. Hendrix falou: 'Eu estava de joelhos na hora e a guitarra continuou me dando leves choques elétricos quando começou a pegar fogo. Fiquei meio chocado e foi por isso que acabei saindo correndo do palco'”.

O cantor Cat Stevens lembrou deste incidente numa entrevista para a rádio britânica da BBC em 2020, como sendo o 1º flerte de Hendrix com a pirotecnia: “No 1º show de nossa turnê, acho que foi no Rainbow Theatre, em Londres, nós ouvimos alguém gritar: 'Hey! Há um incêndio no palco!'"

Em outra entrevista para a Disc Magazine após uma série de acontecimentos destrutivos por parte de Hendrix que vinham acontecendo durante a turnê (quebrando os seus instrumentos e sua postura e comportamento virtuosistas nos shows), Hendrix reconheceu que o gerente geral da turnê estava descontente com as suas travessuras: “O empresário da turnê, Don Finlayson, me disse para parar de usar tudo aquilo na minha atuação porque ele disse que era obsceno e vulgar. Fui ameaçado todas as noites da turnê até agora e não vou parar por causa dele. Não há nada de vulgar nisso tudo. Eu tenho usado esse ato desde que vim à Grã-Bretanha e só não sei de onde essas pessoas tiraram a ideia de que é um ato obsceno”.

Nessa mesma época, Hendrix falou para a revista Melody Maker: “Nós nos recusamos a mudar nossa atuação e como resultado, o meu amplificador é cortado nessas horas, o que acaba se tornando no momento mais engraçado do show. E está sendo muito engraçado estar me apresentando nessa turnê... Antes de subir ao palco, me viro para pegar a minha guitarra e descubro que está com uma corda arrebentada, ou descubro que a minha guitarra está desafinada depois de já ter afiná-la, tipo, não sei o que dizer sobre essas coisas. Eles simplesmente não dão a mínima para nós, mas eles não vão se livrar de nós a menos que sejamos oficialmente expulsos da turnê”.

Apesar da intimidação da administração da turnê e da controvérsia em torno da natureza da apresentação de Hendrix, a sua banda não foi descartada da turnê. A série de shows chegou ao fim após 02 noites seguidas no Granada Theatre, em Londres.

Em uma entrevista alguns anos depois, após a morte de Hendrix, o cantor Engelbert Humperdinck relembrou dessa infame turnê: “Em um certo momento durante aquela turnê, o meu guitarrista não pôde comparecer num show e Jimi Hendrix veio até mim e disse: 'Não se preocupe, cara. Eu toco pra você'. E eu lhe respondi: 'Você não pode tocar livre e solto como vem fazendo, porque você já é uma estrela por si só'. E Hendrix falou: 'Vou lhe dizer o que vou fazer, vou tocar escondido atrás da cortina no fundo do palco'. Sim, ele tocou no meu show e era como ouvir 03 guitarras sendo tocadas atrás da cortina”.

Humperdinck concluiu: “Jimi Hendrix era um personagem bastante incomum mesmo naquela época. Ele não apenas queimava as suas guitarras, as quebravam e fazia todas aquelas coisas, mas basicamente ele era um ser humano muito legal. Um dia, durante aquela turnê, eu cheguei perto dele e lhe disse: 'Jimi, essa jaqueta que você está usando é muito legal, cara'. E ele me respondeu: 'Então, eu vou te dar. Fique você com ela'. Na hora eu não aceitei, mas agora gostaria de ter aceitado, pelo menos eu teria algo muito especial de uma pessoa muito especial".


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