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  • by Brunelson

Perry Farrell: "você não pode ser pai e ficar drogado o tempo todo", diz o vocalista do Ja


Jane's Addiction

Ele inventou o Lollapalooza Festival e liderou uma das bandas mais influentes da história dos EUA - e aos 61 anos, o guru extravagante do rock alternativo ainda pensa grande e longe.


Sentado com as pernas cruzadas em seu jardim, Perry Farrell - em recente entrevista para o jornal britânico The Guardian - ainda tem uma mandíbula tão saliente que parece esculpida nas montanhas acima da Sunset Strip (famoso bairro de Los Angeles). O seu cabelo permanece uma onda espessa e limpa, mal salpicada de cinza.


O vocalista do JANE'S ADDICTION e fundador do Lollapalooza Festival, parece que entendeu muito bem o que seu ex-companheiro de turnês, Iggy Pop, lhe ensinou sobre o segredo de evitar a devastação pelo uso de drogas, para usufruir de um envelhecimento jovial.


Em 1993, apaixonado pelas "speedballs" (mistura de heroína com cocaína) e pela própria heroína e cocaína, Farrell parecia consideravelmente menos imortal.


Formado em 1985, JANE'S ADDICTION havia se tornado um rolo compressor multi-platinado que remodelou o rock alternativo em algo debochado e extravagante. Quando o próximo empreendimento de Farrell, a banda PORNO FOR PYROS, liderou as paradas de rock dos EUA com o seu rock psicodélico, a revista Rolling Stone o descreveu na época como o astro do rock mais provável de morrer no próximo ano...


No entanto, aqui está ele, 03 décadas depois, bebericando alguns goles de michelada, na cidade de Santa Monica, California, enquanto os seus cachorros de estimação brincam em um bosque de limoeiros.


“Eu entendo agora que você não pode ser pai e ficar completamente drogado o tempo todo, se não, você volta pra trás na vida”, diz Farrell, que tem três filhos. “Há um certo período na vida para experimentar drogas porque você tem energia e a mente sã, mas eu não quero que ninguém se machuque ou morra. Perdi entes queridos por causa disso, mas não posso mentir para você e dizer que também não me beneficiei com isso".


A sua exuberância indumentária é comparativamente discreta, em comparação com o seu cabelo em forma de cone de neve e vestido num terno violeta, mas ainda há atenção aos detalhes no conjunto justo de jeans, jaqueta azul marinho e camisa de seda tropical usada de forma aberta para revelar um pingente de corvo prateado.


“Não tenha pressa”, diz ele, oferecendo aforismos sobre a sua longa carreira. “Certifique-se de que tudo o que você faz é de qualidade e feito com a intenção certa. Faça com que seja feita com amor e não tenha pressa para ser famoso ou popular. Faça arte porque você deve e porque é divertido. Você nunca sabe... 35 anos depois, você pode florescer. Eu me considero um desabrochar tardio, aqui, com quase 62 anos, sabe? Demorei e me certifiquei de me divertir, e entendo que o mundo é um lugar muito engraçado”.


Numa conversa de 90 minutos, dentre vários assuntos ele revelou os seus sonhos de paz no Oriente Médio, dizendo: “Eu iria para a Palestina ou Israel com o Lollapalooza e os maiores músicos do mundo, e faríamos uma celebração, partiríamos o pão, fazeríamos música e planejaria o futuro”.


Farrell também disse sobre como corrigir as desigualdades da indústria da música: “Precisamos trabalhar com todos os músicos e colocá-los juntos para dizer: 'Vamos começar a nossa própria rede de distribuição, porque ganhar U$ 5 mil dólares por 01 milhão de streams é patético!" Em outro assunto polêmico, ele falou sobre a legalização das drogas: "Eu tornaria todas as drogas legais. As pessoas usam drogas de qualquer maneira e a guerra às drogas é uma bagunça ruinosa e destrutiva que não funciona”.


Ele se lembra do seu idealismo e ambição maximalistas que o transformaram de Peretz Bernstein - um adolescente da Flórida que comprou uma passagem de ônibus para a Califórnia com apenas U$ 90 dólares no bolso, material de arte na mochila, uma prancha de surfe e um pouco de maconha - em Perry Farrell, o padrinho do grunge e já homenageado na lista das 10 pessoas mais legais de todos os tempos no rock. Filho de um joalheiro com relação emocionalmente remota e de uma mãe escultora que se matou quando ele ainda era criança, Farrell navegou por uma passagem sonora entre LED ZEPPELIN, BAUHAUS, VAN HALEN e VELVET UNDERGROUND, para confluir na sua banda, JANE'S ADDICTION.


Mas primeiro, ele teve que trazer à existência o seu caráter introspectivo.


“Eu costumava me olhar no espelho e imitar os trejeitos de Mick Jagger e David Bowie, mas eu sabia que também poderia cantar”, lembra Farrell. “Eu me mudei para Hollywood e entrei no mundo do pós-punk, sabe? Todo mundo tinha uma ideia de moda, tipo, o que você ouvia afetava a sua aparência: 'Ok, você é um garoto rockabilly, mas também gosta de gótico e punk, então, você vai atravessar pelo MISFITS e pelo THE CRAMPS'".


Farrell acabou se mudando para uma casa vitoriana superlotada e em ruínas perto do distrito de Melrose Avenue, em Los Angeles, no ápice da cena glam rock. Ele começou a tocar música com o baixista Eric Avery, o guitarrista adolescente Dave Navarro e o baterista Stephen Perkins. Uma colega de quarto viciada em drogas chamada Jane, tinha se mudado para esta mesma casa e junto com o namorado dela - um traficante abusivo chamado Sergio - foi a inspiração de Farrell para dar nome à sua banda.


Enquanto que Los Angeles era dominada por bandas hair metal, JANE'S ADDICTION criava uma mistura subversiva de funk rock, rock industrial, pós-punk e rock clássico. Farrell escreveu canções sobre serial killer, drogados e no seu hino "Been Caught Stealing" sobre furtos em lojas.


Os dois primeiros álbuns de estúdio da banda, "Nothing’s Shocking" (1988) e "Ritual de lo Habitual" (1990), são clássicos alternativos.


Cada geração recebe o seu Jim Morrison que merece. O embrião da geração X tinha ganhado Perry Farrell.


“Sinto uma tremenda responsabilidade de continuar com o grande espírito xamânico de Los Angeles”, diz Farrell, se referindo ao frontman do THE DOORS. “Quero mostrar que falamos a verdade, somos corajosos, não temos medo e somos duros. Mergulhamos profundamente nas interdimensões de nossos próprios corações para tentar extrair a verdade e em seguida, colocá-la no mundo”.


Voltando à música, o impacto do JANE'S ADDICTION na história do rock continua inegável.


Flea, baixista do RED HOT CHILI PEPPERS, chamou o JANE'S ADDICTION de "a banda de rock mais importante dos anos 80".


Chris Cornell havia citado o seu enorme impacto no SOUNDGARDEN e no grunge.


Tom Morello, guitarrista do RAGE AGAINST THE MACHINE, disse uma vez que foi o JANE'S ADDICTION e não o NIRVANA, que resgatou o rock da selva do hair metal.


Enquanto isso, a moderna indústria de festivais dos EUA provavelmente se originaria do Lollapalooza. Concebido como uma versão itinerante de turnê dos festivais britânicos como o Reading Festival, Farrell transformou a turnê de "despedida" do JANE'S ADDICTION em 1991 num grande evento junto com o NINE INCH NAILS, o rapper Ice T e vários outros convidados...


Era a visão de Farrell de uma nação alternativa em larga escala.


Nesta entrevista, você sente que ele considera as suas realizações extra-musicais tão significativas quanto a sua música. Ele tem uma tendência filantrópica que o levou a todos os lugares, desde uma viagem em 2001 ao Sudão para comprar a liberdade de 2.300 mil pessoas escravizadas por milícias, até se dirigir a Londres para conversar a respeito do aquecimento global com o 1º ministro Tony Blair em 2007.


“O truque é fazer com que cada nação se coordene para dizer: ‘Queremos que o planeta Terra seja tão bom que, aonde quer que formos, haja um novo fluxo de água limpa para onde eu possa ir’”, diz Farrell. "Eu não preciso necessariamente ficar neste local que estou indo, mas que eu seja bem-vindo lá. Esse é o jeito que nós, músicos, viajamos, sabe? Nós nos entretemos com o local e então você diz: ‘Isso é comida fresca da agricultura local e nunca iria conseguir uma pimenta assim’. E no final do dia você fala: ‘Cara, muito obrigado! Agora que somos amigos e nos conhecemos, você tem que vir à minha casa na próxima vez'”.


Apesar de todo o peso que assola a vida em 2020, é fácil ser seduzido pela positividade de Farrell. Ele é um dos poucos que não apenas sobreviveu, mas realmente conseguiu e parece legitimamente determinado a ajudar o máximo de pessoas que puder. Ele é um estudioso da Bíblia (especificamente do Velho Testamento), mas não possui tendência evangélica. Ele é apenas alguém que procura sinais de divindade e se contenta em encontrá-los no meio mundano.


“Aí está”, diz Farrell, gesticulando amplamente para o seu jardim em tom de despedida, como se estivesse nas páginas do jardim do Éden. “É o universo e as coisas que eu não sei... Buracos de minhoca e o insondável. O que posso entender é o que posso ver com os meus próprios olhos agora. Eu amo cachorros, amo árvores, as pessoas e amo a música. Tudo é fornecido aqui. Ele, ela, isso e tudo mais, Deus é tudo isso adicionado. O que é tão bonito é que pudemos ver como é o caos e como estamos hoje é uma obra de arte do c...!"

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