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  • by Brunelson

Ramones: resenha do disco "Brain Drain"


Ramones

A biografia dos RAMONES, “Hey Ho Let’s Go: A História dos Ramones”, escrita pelo jornalista musical inglês, Everett True, foi lançada originalmente em 2002. Este jornalista era da revista Melody Maker e foi a mesma pessoa que "descobriu" o grunge em 1989 e mostrou à imprensa britânica, antes ainda do gênero explodir no mainstream em 1991.


Portanto, segue logo abaixo um trecho desse livro onde é destacado o 11º álbum de estúdio dos RAMONES, “Brain Drain”, e que havia sido lançado em 1989:




É chover no molhado, mas “Brain Drain” (11º disco), o último álbum dos RAMONES pela Sire Records (gravadora desde sempre do grupo), é o melhor trabalho entre as fracas produções da banda no final dos anos 80.


O equilíbrio estava de volta.


Joey Ramone (vocalista) participou com 06 músicas e Dee Dee Ramone (baixista) entregou o mesmo número, incluindo o excelente single, “Pet Sematary”. A letra, escrita para uma adaptação cinematográfica do livro de Stephen King e que leva o mesmo nome, está entre as suas composições mais maduras. A letra diz: “Sob a arca de madeira marcada pelo tempo / Antigos duendes e guerreiros” – assustador e evocativo do cemitério de Sleepy Hollow, onde também foi gravado o famoso vídeo clipe. Conta a lenda que Dee Dee escreveu a música sob encomenda, enquanto Stephen King estava sentado na sala ao lado.


“Stephen King era um grande fã dos RAMONES”, Joey me disse naquele ano. “Ele nos contatou diretamente e perguntou se faríamos a música tema do filme”. Recentemente, na Europa, a banda havia assinado com a sua nova gravadora, Chrysalis Records, e o vocalista parecia muito feliz: “Estão fazendo um ótimo trabalho! Fizemos o vídeo clipe na 1ª noite de lua cheia com todos os nossos amigos. Eles encontraram um verdadeiro cemitério para nós e fomos enterrados vivos. Fomos levados em um carro funerário e o motorista nos disse: ‘Vocês são as primeiras pessoas vivas que eu transporto’”.


Joey continuou: “No dia seguinte, tocamos na cidade de Buffalo, New York, e o nosso caminhão de equipamentos explodiu na rodovia. Derreteu completamente... Tivemos sorte, porque os policiais estaduais estavam por perto. Eles também eram nossos fãs e ajudaram a equipe a descarregar o equipamento – eu tenho certeza de que a nossa equipe deixaria queimar. O tráfego ficou interrompido por horas e enquanto o caminhão estava queimando, escorregou por uma encosta da estrada e tombou... Houve um monte de coisas estranhas acontecendo nessa época”.


A voz de Joey tinha voltado ao normal, talvez porque ele estivesse cuidando melhor das suas próprias músicas. Certamente, pérolas como a canção “All Screwed Up” – parceria entre Joey, o baterista Marky Ramone (pouco usual) e ainda Daniel Rey e Andy Shernoff (guitarristas de estúdio dos "bro" e grandes amigos do grupo) – e o cover da música “Palisades Park”, o sucesso adolescente de 1962 de FREDDY CANNON - com a sua barraquinha de cachorro-quente - possuíam vigor e charme que há muito tempo andavam ausentes no som dos RAMONES.


“É divertido fazer covers..., se for a música certa”, Joey explicou. “Estávamos na estrada indo para um show na Philadelphia ou algum outro lugar da região, ouvindo a estação de sucessos antigos na rádio e ouvimos a música ‘Palisades Park’. Então, resolvemos gravar rapidinho”.


A canção “I Believe in Miracles”, da parceria Dee Dee/Daniel Rey, é uma música pra cima, otimista, uma canção aberta ao extremo, com a mínima guitarra solo mal soando fora do lugar – “A vida é dura”, disse Joey. “E daí? Algumas pessoas estão curtindo música soturna, mórbida e gótica. Não é o que eu quero para os RAMONES”.


Mesmo as canções (quase) trash como “Zero Zero UFO” e a (iniciante) speed metal “Ignorance is Bliss”, soam menos forçadas e mais naturais. Joey havia dito que a música “Ignorance is Bliss” era sobre a desintegração da humanidade: “É sobre tomar alguma atitude antes que seja irreversível. Fiz esta música na época em que fui convidado para participar de um evento beneficente”.


Alguns fãs não gostaram nada do novo álbum – George Tabb (roadie da banda) acha que o disco “Brain Drain” soa muito mal: “Como se o som estivesse saindo por latas de metal, sabe? Foi o cara de cabelo moicano quem fez isso? Ou foi aquele produtor do MOTORHEAD?”


Foi “aquele produtor do MOTORHEAD”, Bill Laswell. Ele também tinha trabalhado com a banda PIL e com IGGY POP, e era um aficionado pela world music. Produziu todo o disco “Brain Drain”, com exceção da música “Merry Christmas” (incluído presumivelmente para manter os custos baixos). Pessoalmente, acho que Bill fez um ótimo trabalho – ou talvez, tivesse ficado melhor se tivesse um material melhor.


Apesar da música “dor de cotovelo” da parceria Dee Dee/Daniel Rey, chamada “Don’t Bust My Chops”, parecer horrivelmente vingativa – dirigida a uma ex-namorada, com frases como: “Boca suja é tudo o que eu posso suportar / Cai fora daqui, vadia, porque você não está em lugar algum” – há mais que ótimas melodias para retificar a situação. As canções “Can’t Get You Outta My Mind” e “Come Back Baby”, ambas de Joey, são músicas para derreter corações com performance vocal combinado. Bill Laswell também fez com que a guitarra soasse menos bruta e mais simpática – graças, sem dúvida, ao coordenador musical, Daniel Rey (como guitarrista adicional em estúdio).


“Quando eu fui ao Sorcerer Sound Studio para falar sobre a capa do álbum”, o fotógrafo George Dubose relembra, “Monte Melnick (gerente de turnê da banda) disse que eu tinha que esperar até que houvesse uma pausa na gravação e então, deveria me esgueirar até a sala de controle sem que Bill me visse, porque nem ao grupo era permitido entrar enquanto ele estivesse trabalhando. Eu estava jogando sinuca com Monte Melnick no andar de cima, quando ouvi algumas linhas de baixo. Olhei para lá através da janela de vidro e havia um cara tocando o baixo – ‘Quem é aquele, Monte?’ ‘Ah, aquele é Daniel Rey. Ele está só gravando algumas partes do baixo’. Então, continuamos a jogar e meia hora depois ouvi um som de guitarra, olhei e... ‘Quem é aquele cara?’ ‘Ah, é o Daniel, agora tocando guitarra’. Monte fechou a persiana e me disse: ‘Acho que você já viu demais’”.


Para a capa do álbum, os RAMONES usaram uma imagem perturbadora de Matt Mahurin (aclamado diretor de vídeos). O nome da banda aparece em tipologia grande em forma quadrada e o título do álbum em uma fonte com respingos de sangue, como se estivesse encharcada do mesmo. “Somos fascinados pelo bizarro”, disse Joey. “Todo mundo é fascinado por alguma coisa. Algumas pessoas gostam de carros, outras adoram arte e museus. Com a gente é um pouco de tudo – carros, aberrações e arte”.


“Vimos o pôster original do filme Pet Sematary (O Cemitério Maldito) que havia sido rejeitado pela Paramount Pictures”, o vocalista contou, “e caímos de amores por ele. No dia posterior de quando a arte já estava finalizada/rejeitada, a Paramount decidiu aprovar o pôster para que fosse usado somente na Europa, só porque nós havíamos gostado muito dele. Então, eu liguei para um artista em Los Angeles e pedi para fazer algo similar. No final, ele fez um ótimo trabalho e acabou sendo a capa do disco”.


O álbum “Brain Drain” foi lançado em Maio/1989, promovido na mídia dentro de uma touca cirúrgica. A reação da imprensa foi, como sempre, variada. O polêmico DJ de rádio em New York, Howard Stern, escolheu a canção “Pet Sematary” como a música do ano – mas olhando para Howard, com o seu cabelo comprido e altura ao estilo de Joey, e com calça de brim, não era de se estranhar. A revista Stereo Review saudou sem alarde o “metal de Dee Dee Ramone” e as “sensibilidades melódicas de Joey Ramone”. A revista Melody Maker escreveu que: “Este não é apenas outro álbum dos RAMONES. Tem no mínimo 02 minutos de glória sublime, com as baladas de angústia adolescente como as canções, ‘All Screwed Up’ e ‘Come Back Baby’, e um momento de ‘parar o coração’ ao estilo de Phil Spector (renomado produtor do 5º álbum dos RAMONES) com a canção ‘Merry Christmas’”. A revista New Music Express disse que era: “Uma boa razão de: por que Deus deu aos homens a guitarra”.


Sobre “Brain Drain”, Joey o considera como um dos seus discos favoritos dos RAMONES: “Um ponto alto dos RAMONES. Era muito estimulante trabalhar com Bill Laswell, onde cada música é ótima e diferente uma das outras. É também muito forte em substância e execução”.


A música “Pet Sematary” foi bem nas paradas e parecia que as coisas estavam melhorando uma vez mais para os RAMONES. Dee Dee estava mais feliz do que havia estado em anos e era aplicado em negar quaisquer rumores sobre uma potencial carreira-solo: “Eu não estou deixando os RAMONES!”, ele disse em alto e bom som para alguém no telefone. “Quantas vezes eu tenho que dizer!?”


Então, em Julho/1989, Johnny Ramone (guitarrista) recebeu um telefonema do escritório do empresário da banda: “Dee Dee está saindo do grupo”.


Em seu livro autobiográfico, “Coração Envenenado”, Dee Dee enumera várias reclamações contra a sua antiga banda: que Johnny estava tomando muitas decisões sobre a parte musical do grupo para alguém que sequer era músico; que o escritório do empresário ligava todos os dias às 06:00hs da manhã durante as turnês pedindo novas canções (soa exagerado); que pessoas ficavam em seu quarto de hotel na madrugada cheirando cocaína; falando sobre como os membros da banda se sentiam miseráveis e como gostariam de deixar o grupo (Joey, quase com certeza).


“Isso estava acabando com os meus nervos”, Dee Dee escreveu. “Johnny só sabia criticar tudo. Parecia o jeito dele de se divertir... Isso tornou difícil gravar ‘Brain Drain’, porque todos viviam para me atazanar. Isso me afastou – eu sequer toquei baixo nesse álbum”. Nesta fase, diferentemente do que aconteceu no disco “End of The Century” (5º álbum, 1980), a impressão era de que Dee Dee estava falando a verdade. “Fico surpreendido com pessoas que continuam acreditando na imagem de família feliz dos RAMONES. Todos na banda tinham problemas, seja com a namorada, com dinheiro e problemas mentais”.


Dee Dee declarou que estava sóbrio há alguns anos desde a sua saída dos RAMONES, porém, o fato de estar sempre vomitando por conta do coquetel de antidepressivos que ele tomava, contrapunha-se a esta sobriedade. Sua ex-mulher, Vera, confirmou essa história: “Ele estava sóbrio por um bom tempo, mas estava sóbrio por mim e por todos, não por ele mesmo. Diziam que ele estava em uma precoce crise de meia-idade... Quando nos conhecemos, ele fazia U$ 100,00 dólares por semana, mas tinha hábitos onde gastava U$ 100,00 dólares por dia. Eu nunca soube que ele era um junkie. O problema dele era mais mental do que qualquer outra coisa, sabe? Ele sofria com mudanças de humor muito rápidas e depressões. Às vezes ficava violento, mas sempre lidamos bem com isso”.


Vera relatou que Dee Dee sofria de paranoia profunda e tinha uma personalidade obsessiva. Em uma fase, usava 08 relógios de uma só vez, em outra, queria fazer 02 novas tatuagens todos os dias – ele era coberto de tatuagens.


“Dee Dee é maníaco-depressivo (bi-polar) e também sofre de síndrome de personalidades múltiplas”, opina o diretor de vídeos da banda, George Seminara. “Dee Dee legal, Dee Dee amuado, Dee Dee colérico – são manifestações de uma mesma personalidade, porém, todas muito dramáticas. Ele parece não ter compreensão do que constitui a realidade. Ele compõe toneladas de canções, escreve 02 ou 03 livros, cria a sua arte... A falta de sucesso causa a forma depressiva, mas por que ele não faz mais sucesso?”


“Dee Dee saiu da banda porque ele queria ser um astro do rap”, disse Marky (o que realmente veio acontecer com o lançamento do seu único e medíocre álbum solo, agora, sob o nome de Dee Dee King). “Aquela era a sua chance. Quando eu retornei à banda, levei-o a esses encontros anônimos em que as pessoas falam pelos problemas que já passaram (ou passam) e ele as escutou. Mas parou de frequentar após umas poucas reuniões e acabou voltando a fumar maconha. Ele realmente não tomou mais 01 gota de álcool nessa época, mas depois se afundou em todos os tipos de drogas possíveis. Foi a mesma coisa que aconteceu com Joey durante certo tempo”.


Johnny culpava o elemento feminino na equação, como tinha feito com Richie Ramone (ex-baterista) alguns anos antes: “Nunca soube de verdade o que se passava na cabeça de Dee Dee. Ele havia deixado a sua esposa 01 mês antes e lembro de ter sido um mau sinal, mas eu nunca pensei que ele chegaria a se demitir, sabe?”


“Eu estava cansado daquele visual de garotinho – o corte de cabelo ‘tigela’ com aquela jaqueta de couro”, Dee Dee falou para a revista Spin naquele ano. “04 homens de meia-idade tentando bancar os adolescentes. Eu estava ficando doente em tocar sempre esse mesmo número passadista. Eu me vestia na banda como quando achava que era um inútil, sabe? Esses caras são um bando de vagabundos... Joey nunca toma banho, ele fede!”


“Eu sabia que estava saindo da banda naquela última turnê na California”, disse Dee Dee ainda para a revista Spin, destilando todo o veneno depois de anos rezando conforme a cartilha dos RAMONES. “Acho que eles estão felizes porque os RAMONES sempre ficam felizes depois que alguém sai da banda. Isso traz vida nova ao grupo, o que possibilita saírem por aí dizendo que estão com a corda toda...”


Dee Dee nunca mais retornaria aos RAMONES, mas durante todo esse tempo, porém, ele esteve em contato – escrevendo músicas para os últimos álbuns da banda. Ele tinha que fazer isso... A quem mais o grupo pediria músicas? Para Johnny?


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“Dee Dee fez o seu disco de rap. Ele apareceu em uma turnê, nos 02 últimos shows com os RAMONES, usando uma corrente de ouro e calças muito largas. Os membros da banda ficaram passados, tipo: ‘Qual é a sua Dee Dee, tá louco? Tira essa roupa já! Não tem nada a ver com os RAMONES!’ Ele não gostou da reação e essa ocasião foi o final do pavio – daí ele se demitiu. Ele saiu da banda para fazer o que ele queria... Certo, ótimo. No fim, ele não estava mesmo no esquema dos RAMONES, isso era óbvio. Graças a Deus que CJ Ramone veio para a banda, porque ele revitalizou os RAMONES dando a eles uns 10 anos de rejuvenescimento. Todos tiveram que encolher as suas barrigas para dentro para fazer frente a ele. Foi ótimo ele ter entrado. Dee Dee estava caindo e os levando junto... Caso não tivessem achado outro baixista, teria sido o fim da banda” (Monte Melnick, gerente de turnê dos RAMONES).


“CJ Ramone foi uma injeção de sangue novo na banda. Ele foi a melhor coisa que poderia ter acontecido naquela época. Eu não tenho nada contra Dee Dee, mas..., ele estava muito infeliz. Continuou compondo para a banda, então tivemos o melhor dos 02. CJ fez a banda parecer bem, jovem, vital e não tínhamos mais os problemas que Dee Dee estava criando. Todos eram afetados por eles... Na última vez em que fomos à Inglaterra para uma turnê, Monte Melnick me ligou de madrugada para me dizer que ele tinha que sair do seu quarto de hotel, porque alguém tinha que cuidar de Dee Dee” (Arturo Vega, iluminador, designer da banda e criador do clássico logo dos RAMONES).


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A estréia do novo baixista como um ramone aconteceu durante a maratona televisiva ocorrida no Dia do Trabalho, em 04 de Setembro/1989. Johnny estava tipicamente crítico ao seu novo baixista: “Ele estava péssimo”, resmungou. “O dedo de CJ estava cortado depois de uma música e ele ficava rodando pelo palco sem parar..., mas ele foi ótimo no 2º show”.


Este 2º show aconteceu na cidade de Leicester/Inglaterra, em 30 de Setembro/1989, no começo de uma turnê britânica de 02 semanas. Não foi o mais fácil dos começos: “Eu tive muitos problemas com as pessoas, porque elas queriam ver Dee Dee Ramone”, admite CJ. “Fui cuspido constantemente e bombardeado com fezes, de verdade! Foi brutal, mas eu sabia que uma hora venceria, porque tinha confiança em minhas habilidades e não deixaria que ninguém as arruinasse. Depois, nesse mesmo show, apareci para o bis coberto de merda, suado e tirei a minha camisa. Johnny me detonou por causa disso, gritando: ‘Nós nunca tiramos as nossas camisas!’, mas para mim era uma questão de higiene e obviamente fui pego pela emoção. Estava todo sujo de merda que jogaram em mim no palco, mas isso não era nada com que não pudesse lidar”.


Relatos sobre a noite seguinte, em Liverpool, pareciam provar Johnny direto em sua máxima - de que o profissionalismo importava mais que tudo: “Nunca os vi melhor”, destilou o crítico, Dave Galbraith, “porque nunca os vi mais ajustados, sob controle”. CJ começou batucando com seus dedos porque estava tocando tão forte que arrebentou as cordas – e um conjunto de cordas de baixo custava U$ 25,00 dólares, isso significava que ele poderia gastar U$ 100,00 dólares por semana (04 shows) só em cordas. “No começo”, disse CJ, “eu deixava pedaços de pele no baixo e dava curto circuito nos captadores com o meu sangue, porque eu sangrava mesmo! Uma vez, quebrei a unha bem na metade do dedo”.


“CJ era bom e entusiasmado”, lembra o fã/guitarrista, Mark Bannister, que viu 01 dos shows na Brixton Academy, Londres, em 1989. “Embora eu não tenha entendido o porquê dele ter cantado a música ‘Wart Hog’ (lançada no 8º disco, 1984). Mais tarde, descobri que muitas pessoas não faziam ideia de que Dee Dee havia saído da banda, porque o nome de Dee Dee já havia sido impresso nos anúncios e nos ingressos dos shows da turnê”.


A turnê continuou na Austrália e na Nova Zelândia, para em seguida se apresentar em uma Alemanha unificada – a sua 1ª data em 22 de Novembro/1989 na cidade de Offenbach, ocorreu logo depois da queda do muro de Berlim.


“Foi uma doidera”, relembra o novo baixista. “Estávamos no muro um dia com a MTV e havia um pequeno buraco do tamanho de uma bola de basquete, sendo que havia 02 guardas do outro lado. Eles me ofereceram para vender uma fivela de cinto e um quepe militar. Comprei deles e apertamos as nossas mãos através do buraco. Era tão estranho ser parte de uma situação onde você é parte da história... Fomos uma das primeiras bandas a tocar na Alemanha Oriental depois da queda do muro. O lugar em que tocamos era uma fábrica, onde no passado construíam submarinos para os nazistas. Àquelas alturas já tinham esvaziado tudo – a multidão estava muito louca, dançando com um pouco mais de violência do que no lado Ocidental. Todos da Alemanha Oriental pagavam meio ingresso”.


Quase todo mundo concordou que a vinda de CJ tinha trazido aos RAMONES uma adição de sangue novo - literalmente. A partida de Dee Dee esteve longe de ser o fim para os RAMONES e de fato, havia surtido um efeito inverso e os RAMONES poderiam agora excursionar por vários anos. Johnny, seguro por saber que com Marky sóbrio, Joey na linha e Dee Dee fora, não haveria mais confusão para perturbar o seu novo modelo racionalizado.


O fato dos RAMONES terem perdido o seu principal compositor e esse processo ter feito a transição de "banda presente" para "banda tributo" (com somente 02 dos membros originais ainda no grupo, completado com um fã tocando baixo e outro fã ajudando na produção), parecia escapar a todos. Isso não é para denegrir as contribuições de CJ no baixo e de Daniel Rey na produção – ambos grandes músicos entusiastas, talentosos e Deus sabe que os RAMONES não teriam continuado sem eles, mas..., talvez a banda não devesse ter continuado... Difícil como imaginar a vida sem os RAMONES era a ideia de vê-los se tornando paródia de si mesmos.


Pensamentos como esses eram heresia, especialmente diante de cerca de 130 shows programados para o ano seguinte... (o que não era nada diferente do que acontecia todo ano na rotina dos RAMONES).


A agenda dos RAMONES para 1990 beira o brutal: uma enorme quantidade de datas na Escandinávia em Março, um grande número de shows nos EUA durante os 05 primeiros meses do ano, um grande festival na Alemanha em Junho, tocaram no Japão em Setembro (antes de iniciarem outra turnê europeia, que dessa vez incluía a Iugoslávia), onde os fãs os seguiam por todo lugar pelo saguão do hotel, na estrada, no trem-bala e cobrindo os músicos de presentes. “Parecia a 2ª vinda dos BEATLES”, Joey comentou.


“O nosso público nunca foi tão grande como é agora”, continuou Joey. “Nossos fãs gostam de todos os tipos de música. No começo do grupo, a garotada perguntava: ‘Hey, caras! Vocês curtem a banda GRATEFUL DEAD?’ O nosso público agora é de uma nova geração, sabe? A gente se tornou uma grande banda. Muitos ouviram os RAMONES do começo e outros tantos só os álbuns mais recentes. É meio estranho, mas é legal! O bom é que todas as bandas em nossa volta são nossos fãs. Você vê as nossas camisas em todos os tipos de grupo, como GUNS N'ROSES, METALLICA, ANTHRAX e mais todas as bandas de metal altamente enérgicas, e então, todas as bandas do passado também... Até os universitários estão curtindo! Com a gente, você pode curtir jazz e RAMONES, blues e RAMONES. É como deve ser”.


Você alguma vez imaginou que iria fazer mais de 10 álbuns na sua vida?


“Nada”, afirmou Joey, “Queríamos apenas fazer 01 show. Que fosse natural e uma coisa de cada vez. Lembro de Johnny dizendo: ‘Devemos fazer um álbum, assim teremos 01 disco para nós’. Isso foi o que eu sempre quis fazer desde que tinha 13 anos. Sempre soube... Era a música”.


Toneladas de músicos de velhas (porém populares) bandas de metal estavam apoiando os RAMONES abertamente, através de suas camisas com fotos dos RAMONES estampadas – SKID ROW, WRATHCHILD, THE CULT, ANTHRAX, DEF LEPPARD, LA GUNS, MEGADETH, ALICE COOPER, GEORGIA SATELLITES, POISON – em uma forma de reconhecimento tardio. O MOTORHEAD, uma das poucas bandas decentes dessa lista ao lado do METALLICA, ainda lançou uma canção tributo aos "bro" em 1991, chamada “R.A.M.O.N.E.S” – uma música que Joey chamou de: “Uma honra definitiva, como se John Lennon tivesse escrito uma música para nós”.


Nesta mesma época, a clássica canção, “Blitzkrieg Bop” (lançada no 1º álbum da banda em 1976), foi usada em um comercial da cerveja Budweiser: “É o ritmo e a batida que estávamos procurando” (???), explicou o produtor do comercial. “Os RAMONES são representativos da geração atual”.


Na verdade, havia ainda muitos músicos legais que consideravam os RAMONES e gostavam deles – desde o SONIC YOUTH e THE WEDDING PRESENT, às bandas de Seattle que estavam começando a querer sair do bueiro, como o NIRVANA, SOUNDGARDEN e MUDHONEY – mas o apoio dessas bandas ainda não era notado pelo mainstream. Depois, com a explosão do grunge, esses grupos venderiam mais discos do que os RAMONES.


O nascimento do grunge (no mainstream) em 1991 - onde todas essas bandas reverenciavam os RAMONES, sendo influenciados também pela sonoridade e estética punk - ajudou a moldar para o bem a nova situação em que os "bro" estavam sendo colocados agora...


Sem um novo álbum de estúdio para lançar em turnê, a banda viajou pelo mundo em 1991: Austrália (Janeiro), Japão (Fevereiro), Espanha (Março), EUA e Argentina (Abril), Brasil (Maio), EUA novamente (Junho), Itália e Suíça (Julho), Canadá e festivais europeus (Agosto), férias (Setembro), EUA pela 3ª vez (Outubro), Europa novamente (Novembro) e finalmente, Reino Unido e pela 4ª vez EUA (Dezembro).


Na América do Sul, 15 mil pessoas foram ver os RAMONES em Buenos Aires. “Nós não podíamos sair do hotel por causa dos fãs”, disse Joey. “É um povo apaixonado. Literalmente, eles querem um naco da sua carne para guardar de lembrança. Depois que o avião aterrissou, estávamos andando até ao terminal, olhamos para cima e o andar superior do aeroporto estava lotado de fãs, gritando: ‘Hey Ho! Let’s Go!’”


Outras 20 mil pessoas (por noite) viram os "bro" em 03 datas no Brasil.


Na Bélgica, os RAMONES foram a banda que fechou o festival, que teve ainda a participação de grupos como o SONIC YOUTH, NIRVANA e DINOSAUR JR.


Muitos fãs viram o abraço das bandas grunge nos RAMONES e com isso eles também seguiram atrás... Com certeza, quando o NIRVANA apareceu no começo dos anos 90, foi uma lufada de ar fresco, um retorno momentâneo à ideia do rock como música viva, passível de ser criada com inteligência, humor e alma. Mais ainda, para um músico que clamava o punk como a sua herança e que deu sustentação aos RAMONES, era como uma grande festa de fraternidade universitária, tipo: “Hey, somos todos roqueiros debaixo da pele!”.


Mas os RAMONES – assim como o NIRVANA – eram originalmente uma banda com belas melodias acessíveis ao mainstream, com as suas sensibilidades firmemente em sintonia com as clássicas músicas de rádio dos anos 60. E NÃO NENHUM TIPO DE SOM METALEIRO, apesar de todas as tentativas aplicadas de Johnny com o speed-metal e o hardcore – com exceção de que os RAMONES (assim como o NIRVANA) tocavam no palco com mais paixão, vigor e poder do que 1.000 mil bandas metaleiras ruins.


Pós-Nirvana, pós-1991 e o sucesso do álbum “Nevermind” (2º disco do NIRVANA, 1991), o punk rock tornou-se massivo em todo o planeta. Dentre várias, vieram ainda mais bandas como: GREEN DAY, OFFSPRING, RANCID, BLINK 182...


Havia um mínimo de arte no que os RAMONES fizeram no começo – as letras simples, muitas repetições e as milhares de melodias escondidas em 03 acordes. Nenhuma das bandas dos anos 90 tinha isso - o NIRVANA tinha - e não era de se admirar que o público de massa nunca entendera os RAMONES.


“Kurt Cobain (frontman do NIRVANA) era um talento maior”, disse Tommy Ramone (1º baterista dos RAMONES), “e não havia um talento do seu calibre há muito tempo. Não sei se os considero uma banda de punk rock... A conexão é que, obviamente, Kurt era muito influenciado pelo punk, então, quando ele se tornou um campeão de vendas, o mundo finalmente se deu conta de que o gênero poderia vender. O seu sentimento e angústia eram punks, mas não necessariamente a sua música”.


Se todos estes relatos e acontecimentos citados não forem reconhecimento do mainstream, fica difícil saber o que é então... Mesmo a banda não percebendo naquele momento, os RAMONES finalmente haviam chegado lá.


Track-list:


1. I Believe in Miracles

2. Zero Zero UFO

3. Don't Bust My Chops

4. Punishment Fits The Crime

5. All Screwed Up

6. Palisades Park

7. Pet Sematary

8. Learn to Listen

9. Can't Get You Outta My Mind

10. Ignorance is Bliss

11. Come Back Baby

12. Merry Christmas

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