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  • by Brunelson

Nirvana: depoimento emocionante no box de "With The Lights Out"


Nirvana

* PARTE 01/02


Em 2004, para homenagear os 10 anos da morte do vocalista e guitarrista do NIRVANA, Kurt Cobain, foi lançado um super box de 03 CD’s + 01 DVD, chamado "With The Lights Out", mostrando de forma cronológica toda a história de vida do NIRVANA através de várias músicas inéditas, sobras de estúdio, covers, gravações caseiras, demos e apresentações ao vivo.


Mas isto só foi possível depois de muito sufoco com a viúva do ex-frontman da banda, Courtney Love, brigando na justiça contra os ex-integrantes do NIRVANA, que queriam o lançamento deste box desde 2001, para celebrar os 10 anos de lançamento do 2º álbum de estúdio da banda e que mudou o cenário do rock’n roll a partir daí, o disco “Nevermind”.


Pois bem, no encarte do livrinho que vem junto nesse box, há uma declaração emocionante do amigo de Kurt Cobain e vocalista/guitarrista do SONIC YOUTH, Thurston Moore. Banda esta que foi muito influente na carreira do NIRVANA, tanto pelas suas influências musicais, quanto pelo belo “empurrão” que a banda deu ao NIRVANA, recomendando-os à sua grande gravadora na época, Geffen Records, que depois foi realmente a mesma gravadora que contratou o NIRVANA a partir dos processos de gravação e produção do álbum “Nevermind” - até o fim da banda em 1994.


SONIC YOUTH havia convidado o NIRVANA para se juntar a eles na turnê europeia dos festivais de verão em 1991, sendo que nesta turnê o NIRVANA ainda era uma banda “desconhecida” (pois o álbum “Nevermind” já havia sido gravado, mas ainda não tinha sido lançado), se apresentando somente durante o dia nesses festivais, sendo sempre a 1ª ou a 2ª banda a se apresentar.


Então, segue logo abaixo o histórico depoimento de Thurston Moore na íntegra:




Quando a nossa designer de iluminação, Suzanne, saiu em turnê com o NIRVANA em 1992, ela voltou com histórias a contar sobre os passeios de van, onde Krist (baixista), Dave (baterista) e Kurt (vocalista e guitarrista), ficavam escutando as bandas REM, PIXIES e os BEATLES em fitas cassete o tempo todo. Um pouco diferente da nossa van, onde ela era, ou de poluição sonora (de mim mesmo), ou de músicas hippies a la cidade de San Francisco (Lee Ranaldo, guitarrista), ou antigos blues desse velho país (Steve Shelley, baterista). Mas Suzanne gostava mais era das fitas cassete de Kim Gordon (vocalista e baixista), com bandas como o DINOSAUR JR. e ROYAL TRUX. Os zumbidos das fitas de blues de Steve realmente chateavam Suzanne, que reclamava dizendo que eram músicas para velhos - assim ela deduziu.


Na época, falando de uma forma direta e em linha reta agora, nenhum de nós admitíamos ser entusiastas do REM e do PIXIES, assim como dos movimentos mais delineados para o pop rock. E para encontrar uma banda de peso e afiada como o NIRVANA, referenciá-los foi a primeira confusão para nós, mas certamente fazia sentido na forma como foi informada a acessibilidade da música que o NIRVANA nos apresentou. A nossa conexão primária foi mais através de uma associação comum e direta com as unidades subterrâneas de bandas como, SCRATCH ACID, KILLDOZER, BIG BLACK (esta era a banda de Steve Albini, o cara que gravou o álbum "In Utero", do NIRVANA), BUTTHOLE SURFERS, SACCHARINE TRUST, MINUTEMEN e certamente, pelos mentores do NIRVANA que eram da mesma cidade natal deles, MELVINS.


Foi a fusão do BEATLES (através da sua melodia) com essas bandas desafiadoras citadas acima, juntamente com a voz de Kurt que era um híbrido punk rock de John Lennon com Lemmy Kilmister (vocalista e baixista do MOTORHEAD), que funcionou como uma mágica tóxica. Estes elementos foram os que primeiro me acertaram em cheio quando o NIRVANA chutou completamente as nossas bundas no show que eles fizeram e que nós o assistimos pela 1ª vez, no Maxwell Club, em Hoboken, New Jersey, no dia 13 de Julho de 1989 (que fazia parte da turnê do 1º álbum de estúdio do NIRVANA, “Bleach”, lançado no mesmo ano), além, é claro, da demolição de palco e dos instrumentos que eles fizeram no final deste show.


Eu, Kim, J. Mascis (vocalista e guitarrista do DINOSAUR JR.) e Suzanne, passamos aquela noite depois do show pensando, tipo: “Mas que merda foi aquela?” Quero dizer, ninguém dessas bandas citadas antes tinham muito dinheiro, inclusive nós e especialmente esses caras do NIRVANA, que ficavam jogando os seus amplificadores através do palco, desperdiçando as suas guitarras, baixo e bateria, tudo terminando com um Krist Novoselic de mais de 02 metros de altura aplicando o seu belo “mergulho do cisne” na bateria de Chad (baterista do NIRVANA na época).


Bruce Pavitt, que é um dos diretores do selo musical independente de Seattle, Sub Pop, reconheceu os grupos acima mencionados no início do seu negócio, para promover as bandas pós-punk do seu eixo regional para todo os EUA. Em um momento em meados da década de 80, ele tocou com a sua banda aqui em New York e ficou um tempo conosco na cidade. Nós andamos pelas ruas com ele, visitamos algumas galerias e vimos alguns shows. Ele tinha essa visão de lançar uma série de álbuns de bandas que refletiam as suas específicas comunidades de toda a América. Depois, ele finalmente se estabeleceu em Seattle, perto de onde originalmente tinha lançado e distribuído o rótulo da Sub Pop em fanzines e fitas cassete.


Depois de lançar o 1º álbum com o selo da Sub Pop, que se chamou “Sub Pop 100”, em 1986, esse disco incluía bandas do gênero de várias cidades/estados e países como, SCRATCH ACID (Texas), WIPERS (Oregon), SONIC YOUTH (New York), NAKED RAYGUN (Chicago), U-MEN (Seattle), DANGEROUS BIRDS (Boston), BOY DIRT CAR (Milwaukee), SAVAGE REPUBLIC (Los Angeles), SHONEN KNIFE (Japão) e tantas outras. Então, ele começou a concentrar-se na ação de “grelhar” essas bandas de rock, expondo-as diretamente para as ruas e ainda pela porta da frente. Ele lançou esses grupos ao lado das “consagradas” bandas de Seattle daquela época, que eram o GREEN RIVER (Jeff Ament e Stone Gossard, respectivamente, baixista e guitarrista do PEARL JAM, além de Mark Arm e Steve Turner, respectivamente, vocalista e guitarrista do MUDHONEY, faziam parte desse grupo), SOUNDGARDEN e a catalítica banda, MUDHONEY.


Suzanne trabalhou também no Pier Platters, que era uma loja de discos da cidade de Hoboken e que naquele tempo era o único lugar para obter uma nova música underground independente, que fosse da própria região ou da cidade de New York. O 1º álbum do MUDHONEY foi pressionado num vinil marrom da cor fecal, que escorregou como uma luva em claras nos ouvidos das pessoas, o qual ela havia feito um pedido de 50 unidades desse álbum que foram vendidos rapidamente da vitrine da loja que ela trabalhava. Com certeza, foi uma funcionária que tomou uma atitude totalmente de patrão.


Nós estávamos empenhados com a Sub Pop e estávamos indo ao Maxwell Club para verificar essas caras novas que ninguém conhecia, NIRVANA, que também havia acabado de assinar com a Sub Pop. Suzanne havia feito a arte do álbum que foi o 1º single do NIRVANA, e ela havia nos dito que este single era bom, mas que talvez não fosse uma coisa tão empolgante como havia sido o 1º álbum do MUDHONEY, por exemplo. As nossas expectativas estavam moderadas para vê-los, mas eu estava curioso pela estranheza do 1º single de uma banda que ninguém conhece, ser um cover de sistema operacional da banda SHOCKING BLUE, que era a música, “Love Buzz”.


Nós ficamos bem na frente do palco com talvez umas 30 pessoas somente para vê-los e foi uma apresentação tão insana quanto incrível! Naquela época, eles eram um quarteto com um cara na 2ª guitarra, chamado Jason Everman, que depois ele viria a ser o baixista do SOUNDGARDEN, mas que não durou muito tempo em ambas as bandas. Olhando a capa do 1º álbum de estúdio do NIRVANA, “Bleach” (1989), Kurt se parece com Jason (lembrando que Jason não tocou uma nota sequer nesse disco), todos com os longos cabelos espalhados no rosto, balançando-os da maneira mais difícil possível.


Esta era bem a época em que o punk rock começou a incorporar as influências do heavy metal como um desvio desta cena. A banda BLACK FLAG também foi instigada nesses termos, deixando os cabelos crescerem e defendendo alguns ídolos do heavy metal. O heavy metal foi realmente perceptível em Seattle no final dos anos 80 como uma via de escape radical dos gêneros hardcore e do guitar band.


Os nossos primeiros shows em Seattle foram juntos com a banda GREEN RIVER, que era um grupo que musicalmente estava caminhando em direções estranhas, mas em conjunto, tanto abraçando o público punk rock, do rock de garagem e até do hair metal (glam rock). É o tipo de trabalho que o MUDHONEY refinou, também da mesma origem depois que o GREEN RIVER acabou, se concentrando daí mais nos movimentos punk rock e do rock de garagem, sendo que a influência do heavy metal foi para as outras bandas da época - mas o glamour era para todos.


Você podia sentir a emoção da cena com os punks metendo metal nas suas músicas, mas ninguém realmente tinha a vantagem psicodélica que o BLACK FLAG estava exibindo - embora eu suponha que o MELVINS também já tinha algo semelhante acontecendo com eles mais adiante. Independentemente disso, a cena underground estava em transição em todo os EUA e era óbvio que o NIRVANA era uma entidade de galvanização.


Depois do show do NIRVANA que assistimos, nós saímos e eu me lembro de J. Mascis falando para Kurt, que ele estava reconfigurando a sua banda, chamada DINOSAUR JR., chamando a ex-baixista do SCREAMING TREES, Donna Dresch, para ser a baixista da banda dele, e eu me lembro de Kurt dizendo para J. Mascis: "Não faça isso, se junte a nossa banda em vez disso!" J. Mascis olhou incrédulo para Kurt, pensando: “Eu era tudo para ele”.


NIRVANA eram mestres da repetição. O punk rock sempre utilizou a repetição a partir das variações de 03 acordes assassinos dos RAMONES, para sempre se lembrarem em sintonizar a sua frequência para conceder saudações severas ao pai do punk rock. A cidade de New York possui compositores de guitarra de alta energia, como Glen Branca e Rhys Chatham, criando euforia do punk puro reunido a sintonia de sonoridade 02 vezes mais rápida de dedilhar uma guitarra. Tudo parecia ótimo e foi enganosamente simples, porque eles só trabalharam através da visão de um artista que eles certamente os tinham acima de si...


NIRVANA tinha aproveitado a magia da repetição através dos fenômenos do hardcore americano, investindo os meios físicos de bandas como, MINOR THREAT e NEGATIVE APPROACH. A genialidade de Kurt foi de “melodiza-la”, tomando as peças que ele mais gostava, ou seja, as melodias doces de rock dos BEATLES, PIXIES, REM, VASELINES e de outras bandas, e repetindo os riffs uma vez e outra vez, da sua própria maneira punk rock de tocar, até chegar ao ponto em que você pensa que a sua alma vai explodir em chamas. Com certeza, foi uma mistura chefe e feita por um compasso de tempo muito legal e radical.


A estética feliz e estranha do pop rock com o punk de porão que o NIRVANA criou, tornou-se tão significante quanto o rótulo hardcore de editora e gravadora do selo independente, chamado Dischord Records, lançado em 1980. Ou mais ainda com o ruído estranho do punk regime militar de bandas, que o também selo independente, SST Records, havia lançado no mercado - como a banda BLACK FLAG, por exemplo. Foi uma convergência tempestiva que iluminou a todos os envolvidos...


Até o final de 1991, todos nós estávamos bastante delirantes de estar com e em NIRVANA pelo mundo. Nos passeios que fizemos juntos, tudo foram recordações de bons tempos e também de pontapés - aparentemente intermináveis. A mudança de paradigma do GUNS N' ROSES sendo a banda da moda para a cultura jovem em geral, para o NIRVANA fez a cena punk independente ficar nervosa por qualquer associação que poderia haver com a indústria musical de luxo. As bases criativas do punk rock se dispersaram e reuniram uma nova dinâmica de toda a rede durante a década de 90, abraçando todo e qualquer gênero de vanguarda que estavam fora do radar da mídia.


Por outro lado, foi um período incrivelmente saudável e inspirador, o que resultou em uma surpreendente cena de música e arte underground contemporânea. Uma cena investida de energia viva de Kurt e aqueles em que ele teria intelectualmente prosperado.


Kurt não estava “a disposição” quando nós voamos para Seattle no final do verão de 1993. Kim, Suzanne e eu, fomos para a casa de Krist Novoselic, junto com Dave Grohl, para comermos algumas “larvas” no jantar. Foi uma vibração estranha para mim, porque eu sentia uma profunda emoção com o que o NIRVANA havia feito musicalmente até aquele ponto, e apenas estar com Krist e Dave no jantar, verificando as suas novas máquinas de pinball e deles estarem tão felizes quanto poderiam estar - talvez já sabendo que a dinâmica interior da banda estava sendo forçada naquele momento - eu me senti um pouco intimidado e confuso com o ambiente ali. Muito da minha sensação naquele momento foi de que, talvez, os meus próprios desejos pessoais haviam se deslocados para outro lugar, longe do rock do NIRVANA - embora eles ainda tinham um feitiço desta tal magia em mim. E além da vibe estranha daquela noite, houve também uma sensação de angústia que era aparente e desanimadora em Krist.


Krist havia colocado um álbum da banda CHEAP TRICK para tocar e Suzanne, que era mais da idade dele do que da minha, foi a pessoa que se identificou com o som. Mas eu estava sendo irritado por Krist com aquele hino de som dos anos 80, e na hora eu brinquei com ele, dizendo para colocar discos de bandas que não fossem do gênero new wave para tocar, para assim destruir de vez com aquele estilo de som que eu estava escutando.


Eu desejei um som do NIRVANA para abraçar aquele ruído e liberdade “frisbee” do CHEAP TRICK. Em algum momento, Dave disse que ia embora, dizendo que iria à sua casa para ouvir as mixagens finalizadas que o produtor Steve Albini havia feito para o último álbum de estúdio do NIRVANA, “In Utero” (1993), e que Dave ainda não tinha escutado como que elas haviam ficado. Eu totalmente também queria ouvir essas gravações, sendo que Dave tinha a fita cassete no carro...


Então, Krist pegou a sua moto, nós entramos no carro de Dave e todos nós subimos um morro que ficava atrás da casa de Krist, para ficarmos lá no alto escutando estas, até então, inéditas gravações. Nós fumamos um pouco de maconha e bebemos cerveja para realizar o que realmente eu estava interessado naquela hora: escutar as músicas novas do NIRVANA! A maconha tinha me deixado ainda mais assustado, autoconsciente e realmente super pensativo sobre a fragilidade desses caras e sobre a ação pesada, como uma rocha mística, do que eles ainda estavam envolvidos.


Eles me mostraram algumas das músicas deste álbum. A 1ª canção que eu ouvi, se chamava "Moist Vagina" (que a gravadora não permitiu que entrasse no disco), onde Kurt ficava entoando em mais e mais ardilosas e danificadas repetições de: "marijuana! marijuana! marijuana!". Eu lembro de ter pensado na hora que aquilo era a melhor coisa que eu já tinha escutado na vida, uma reunião enlouquecida de psicose atonal com uma agressão a soco do rock grunge. Eles detonaram, cara!


"Tem que ser a 1ª música do disco!", eu declarei. Seria completamente incrível, uma música que iria abrir o novo álbum do NIRVANA, onde Kurt expõe a sua paixão e alma, e onde tudo se resume a..., maconha. Soando banal, contudo, totalmente icônico e bonito. É quase como se o hippie e o punk tivessem se tornado, por um momento cósmico, unificados.


Krist e Dave não ficaram muito convencidos com a minha precipitação de fala. Eles então decidiram colocar para eu escutar o que pensavam que era a música que a gravadora iria querer usar como o 1º single do disco, a canção "All Apologies". E sim! Eu achei a música única, muito bonita e clássica também. Então, nós descemos o morro e voltamos para a casa de Krist. Chegando lá, Dave correu para a sala de jogos e começou a surrar a bateria que tinha na casa, sendo que eu e Krist entramos em seguida na sala, eu na guitarra e Krist com o seu baixo, e nós “martelamos” em torno de algum tempo. Dave e Krist falaram depois, sobre esta session, de como nós 03 apresentamos e tocamos tantas músicas diferentes na prática, mas que era uma pena que nenhuma dessas músicas haviam sido gravadas - sendo que muitas delas eram totalmente incríveis, cara!


Quando o disco “In Utero” foi entregue para a gravadora, houve uma consternação sobre o rótulo desse álbum, por ele não ter a acessibilidade do disco “Nevermind” (1991). NIRVANA sentiu como os caras da gravadora não estavam dando o devido valor e reconhecimento ao novo álbum, em relação ao seu próprio verdadeiro valor intrínseco. Eu pensei que o disco iria ser descartado pela gravadora - mas havia ficado claro para todos de que o álbum “In Utero” seria um empurrador de fronteiras, de novas ideias e interessantes sinalizações, para que a banda pudesse se desenvolver mais ainda.


Voltando no tempo para alguns meses depois daquele fatídico 1º show do NIRVANA que vimos, eu liguei para Kurt, para lhe dizer o meu ponto de vista sobre a música que eles estavam fazendo. O som do NIRVANA, juntamente com a influência aparente de bandas underground como JESUS LIZARD, SEBADOH e outras, era uma música totalmente nova e genuína. Falei para ele no telefone para tocarmos juntos no Teatro Crest, em Sacramento, num show que nós iríamos fazer em Agosto de 1990. Quando nos encontramos em Sacramento, eles nos entregaram uma fita cassete do que a banda estava trabalhando na época e que viria a ser o sucessor do álbum “Bleach”. Esta fita cassete levava o nome de “Sheep”.


Imagine as bandas completas do SONIC YOUTH e do NIRVANA, mais os seus devidos roadies, todos atolados em nossa van enquanto viajávamos de volta para casa, depois deste show na cidade de Sacramento..., foi muito legal, cara! Mas escutar aquelas novas músicas dessa fita cassete (as quais iriam entrar no próximo álbum de estúdio deles, “Nevermind”) foi um movimento um pouco chocante, tendo como base a unidade cheia de fundição que o disco “Bleach” apresentava. Eu me lembro de que houve uma discussão amigável entre nós, de que eles estavam indo, talvez, por um caminho um pouco mais pop. É claro que o álbum “Nevermind” se tornou um clássico universal, mas mesmo assim o NIRVANA ainda tinha a propensão de ser uma banda mais estranha e experimental em grande estilo. Através da névoa de conflitos e stress que o álbum “In Utero” estava causando entre os seus empresários, banda e gravadora - por ele não lembrar em nada o disco “Nevermind” - para a banda, isto pouco significava...


Krist e Dave foram convidados a comparecerem na cerimônia do MTV Video Music Awards, em 1995, devido a uma homenagem póstuma final que seria feita para Kurt. Elegeram Dave Markey para colocá-lo em conjunto com Krist e Dave durante o recebimento do prêmio, porque Markey tinha viajado com o NIRVANA e com o SONIC YOUTH durante a turnê europeia de verão, em conjunto que nós fizemos em 1991, e que culminou no documentário dirigido pelo próprio Markey, chamado: “1991: The Year Punk Broke”, um filme em que Markey teve uma sólida 01 hora acrescida de cenas deletadas e diálogos cortados para o potencial de relançamento em DVD, e que também estava em destaque nessa mesma cerimônia.


Para incluir essas novas matérias no DVD, nós nos reunimos no apartamento minúsculo de Markey em West Hollywood, e vasculhamos as caixas de fitas de vídeo que Kurt havia feito de filmes caseiros, e que ele mesmo havia filmado durante os seus anos de colégio, assim como as compilações bizarras que ele fez de acesso público que os canais abertos da TV mostravam. Os filmes eram estranhos e maravilhosos ao mesmo tempo.


Tem uma filmagem que mostra um jovem Kurt contemplando movimentos sujos e abstratos de grandes dimensões, com peças de jogo de tabuleiro. Krist queria usar tanto disso quanto possível para as imagens inéditas que iriam entrar na reedição desse DVD, porque para ele, essas coisas eram um negócio real da coisa em oposição às imagens mais populares que a MTV queria para o DVD.


O discurso de Markey durou cerca de 01 minuto de duração e ele e o seu discurso foram, para a maioria do público presente, como uma formiga estranha e sozinha no escuro - mas para nós foi um discurso reflexivo sobre Kurt e de coisas que nós já sabíamos. Kim e eu fomos para a cerimônia e o documentário foi jogado nos telões do evento durante a preliminar da entrega desse prêmio, flutuando sobre as celebridades ali presentes com imagens editadas de uma forma desrespeitosa e totalmente fora do contexto, indo muito além da compreensão do evento que a noite apresentava. O executivo sentado ao meu lado estava distraído e disse em voz alta enquanto o documentário era apresentado: "Mas que diabos é isso?". Krist e Dave estavam subindo ao palco para receber a homenagem e para falarem os seus discursos, e eu segurava a mão de Kim, enquanto ela chorava em silêncio... Todos nós estávamos nos sentindo muito tristes cercados por tanta desatenção e tagarelice dos outros...


Sites de fãs detalhando intensivos áudios e vídeos durante toda a existência do NIRVANA (de 1987 à 1994), sejam oficiais ou piratas, existem em abundância pelo planeta. Estas coleções são legítimas e um poço de ouro, graças a devoção de amigos e colegas que continuam a trabalhar com a banda e que amam manter o legado do NIRVANA vivo.


NIRVANA foi a maior voz da sua geração e continuará a ser. Com apenas algumas gravações lançadas oficialmente, eles identificaram e validaram a demografia de uma juventude complexada e faccionada, vivendo no meio de uma indústria de homogeneização cultural que, hora alternava em ser entretida e hora alternava em ser um desserviço. NIRVANA expressava a raiva, diversão, sátira, derrota, emoção e debate. Eles só queriam fazer parte da cena que eles mesmos começaram, no lugar e com as pessoas que os inspiraram. A música deles governou com tanta força que eles se tornaram muito mais do que imaginariam ser, quer eles tenham gostado ou não. Talvez, eles se sentiram que estavam perdendo o contato dos seus pés com o chão, isso lá no final da banda falando..., mas nós sempre soubemos que, não importa quão alto eles voaram, eles nunca realmente nos deixaram.



por: Thurston Moore (vocalista e guitarrista da banda SONIC YOUTH).


New York, Setembro de 2004.

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