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Queens of The Stone Age: "não há problema em admitir que não sei de nada e me reservar o direito de me surpreender com a vida", disse Josh Homme

  • by Brunelson
  • 2 de ago.
  • 9 min de leitura

Atualizado: 5 de ago.

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Confira a matéria e entrevista que o frontman do QUEENS OF THE STONE AGE, Josh Homme, concedeu recentemente ao site Consequence, falando sobre o mais novo lançamento da banda, o documentário e áudio de "Alive in The Catacombs" (foto), onde o grupo gravou uma apresentação acústica e sem público nas Catacumbas de Paris em 2024.




A descida às catacumbas do QUEENS OF THE STONE AGE trouxe Josh Homme de volta à vida


Homme adora uma boa metáfora. Nos primeiros 30 minutos do nosso bate-papo, o vocalista/guitarrista da banda já havia jogado facões na selva, ferros de marcar em fogueiras e touros de rodeio encostados em portões, foi quando ele chegou à sua analogia talvez mais reveladora.


Homme fala sobre a urgência que sente em criar arte significativa, algo que vá além do temporário: "Essas coisas parecem esculturas de gelo, sabe? São frágeis e não vão ficar aqui para sempre. Você gostaria que ficassem, mas... Quantos anos você tem?" Homme para e me pergunta (eu tenho 29 anos de idade). "Quantas pessoas da sua idade e dos seus amigos ainda estão curtindo Frank Sinatra ou Dean Martin? Eles estão desaparecendo, certo?"


Todo artista sonha em criar algo duradouro, mas Homme é particularmente sensível à fragilidade e à efemeridade. Talvez isto se deva ao fato dele ter tentado se conformar com sua própria e inevitável morte, uma ideia exemplificada pelo recente projeto lançado pelo QUEENS OF THE STONE AGE, o áudio e documentário chamado "Alive in The Catacombs" (2025).


Nos últimos anos, Homme lidou com um diagnóstico de câncer e a subsequente recuperação, mas em julho de 2024, enquanto o QUEENS OF THE STONE AGE estava em turnê pela Europa, surgiu outra crise de saúde — uma sobre a qual Homme manteve-se deliberadamente vago ao explicar por uma questão de privacidade. Dias antes da banda voltar para casa, eles enfrentaram uma decisão crucial: abandonar sua busca de 20 anos para gravar uma apresentação intimista nas Catacumbas de Paris e ficar na Europa por mais 02 dias. E assim, encontrar uma maneira de Homme suportar a dor que estava sentindo e continuar com a apresentação conforme planejado.


Eles optaram por ficar, gravando o que se tornaria, "Alive in The Catacombs". Menos de 01 dia depois, Homme estava de volta aos EUA, sedado para uma cirurgia de emergência que forçaria a banda a cancelar o restante da turnê europeia de 2024.




A performance resultante, registrada no documentário "Alive in The Catacombs e no vinil ao vivo de 05 (ou 06) músicas que o acompanha, mostra o QUEENS OF THE STONE AGE despojado de seus amplificadores estrondosos e reverente à aura assombrosa e melancólica do espaço em que se encontravam. O projeto exigiu que se tornassem vulneráveis e levantou uma questão intrigante para uma banda com quase 30 anos de história: o que um local como as Catacumbas de Paris exige do QUEENS OF THE STONE AGE e como eles podem reinterpretar seu repertório para atender a isso?


"Esse lugar é perfeito. Não faça nada... Às vezes, a melhor decisão é não fazer nada", disse Homme.


Ele tem razão em como a apresentação foi dramaticamente minimalista, com a banda acompanhada de 03 músicos de cordas, com o baterista Jon Theodore usando pauzinhos e outras peças de percussão improvisadas e o baixista Michael Shuman oferecendo harmonias vocais cruas e deslumbrantes junto com Homme. Mas com os andamentos diminuindo a um ritmo lento, Homme lidando com uma dor cáustica e os ossos de 06 milhões de parisienses assistindo, as interpretações das músicas estavam absolutamente carregadas de peso.


As catacumbas não são um espaço subterrâneo qualquer. Descer pela rede de túneis e cavernas significa entrar no que Homme descreve como "o ventre de alguma coisa orgânica", onde a umidade escorre pelos tetos de calcário e quase todas as superfícies são revestidas com restos humanos reais e artisticamente dispostos: "Os pilares estão completamente incrustados de crânios, fêmures e metacarpos", disse Homme. "Você está cercado pelo que você se tornará."


O longo período de recuperação de Homme - que ficou acamado por 07 meses - lhe obrigou a uma nova forma de lidar com o tempo e o legado da banda. Em dezembro de 2024, quando os médicos lhe disseram que ele ficaria bem, algo havia mudado: "Eu me sentia como um touro de rodeio encostado no portão. É como se, quando você abrisse esse portão, eu iria correr e correr".


A urgência não é apenas criar mais músicas (o que Homme garante estar em andamento), mas sim, criar algo que deixe uma impressão permanente nos ouvintes. Homme tem um jeito peculiar de descrever sua missão artística: "Cada coisa que eu e os caras da banda fazemos, quando colocamos aquele ferro de marcar no fogo, eu quero trabalhar nelas e deixá-las lá até ficar em brasa, para que eu possa, pelo menos por enquanto, tentar marcar lindamente todos as pessoas que forem nos escutar", disse ele rindo. "Sei que outras pessoas usam a marca delas para consumo de produtos alimentícios e seja lá o que for que estejam fazendo, mas eu quero queimar vocês com a minha marca, ok? Minha marca é escarificação".


Isso apresenta um paradoxo do qual Homme parece profundamente ciente. Se até Frank Sinatra e Dean Martin estão "desaparecendo", que esperança um artista contemporâneo como ele tem de uma verdadeira permanência?


"Há tantas bandas e tantos músicos por aí... Você não tem ideia se o que você está fazendo já não foi feito ontem em outras cidades como Buffalo, New York...", ele admite.


Em vez de causar desespero, esse conhecimento alimenta sua intensidade criativa. O objetivo de Homme não é necessariamente a imortalidade, mas criar algo tão cru e autêntico que deixe uma marca indelével em quem o encontra. É isso que ele quer que seja sua "escarificação", trata-se da qualidade do impacto e não da longevidade da fama.


Especialmente depois do processo mais vulnerável que envolveu a produção do último álbum de estúdio do QUEENS OF THE STONE AGE, "In Times New Roman", o 8º disco da banda lançado em 2023, onde Homme sente que não há como voltar atrás. É por isso que ele escolheu confrontar a morte e seu catálogo tão diretamente com o projeto "Alive in The Catacombs", em última análise, a serviço de proporcionar aos seus fãs uma experiência mais intransigente: "Prefiro ser a banda preferida de todos os tempos de somente 15 pessoas, do que ser a 15ª banda preferida de todos os tempos de 50 mil pessoas", disse ele. "E principalmente com o passar dos anos, só tenho uma maneira de fazer isso, que é me jogar de um penhasco (mais uma metáfora)".


Ele terá que se jogar nesse limite todas as noites para os próximos shows da banda - atualmente em sua 5ª perna da turnê europeia divulgando o álbum "In Times New Roman" - onde irão apresentar as canções (e outras) que foram tocadas no "Alive in The Catacombs" da mesma forma acústica em que foram registradas. A turnê intimista verá o QUEENS OF THE STONE AGE reprisando a filosofia despojada e repleta de reinvenções desse projeto para um público realmente vivo. 


Mas não espere uma apresentação acústica característica: "Não vamos tocar a música 'Layla'", disse Homme, se referindo à versão suave de Eric Clapton para esse clássico apresentado no MTV Unplugged em 1992. Em vez disso, Homme se refere à sua metáfora anterior ao pensar nos próximos shows representando o "Alive in The Catacombs": "A questão é: 'Como fazemos essa nova escultura de gelo, aterrorizante e frágil do jeito que é, em uma versão mais intensa possível?'"


Essas apresentações ao vivo acontecerão em teatros e clubes noturnos pequenos, em vez dos tradicionais locais maiores e arenas em que o QUEENS OF THE STONE AGE se apresenta, com Homme incentivando os fãs que comprarem os ingressos a irem fantasiados aos shows. 


Mas como se fantasiar exatamente?


"Pode ser vestido em um smoking", explica Homme antes de oferecer uma diretriz muito mais simples: "Na verdade, é algo entre um funeral, um baile de formatura e um casamento".


É mais um exemplo de como Homme busca criar algo que dure além do temporário: "Acho que música e ir a shows não devem ser apenas parte da sua rotina. O ideal é que seja uma noite da qual você sempre se lembrará, porque se divertiu muito".


Ele cita um show do QUEENS OF THE STONE AGE realizado recentemente na cidade universitária de Madison nos EUA, Estado de Wisconsin, como exemplo dessa transcendência: "Eram vovôs com seus netos, pessoas góticas, motoqueiros, hippies, drogados, gente certinha, universitários... Foi uma bagunça do caralho", diz ele com um sorriso sobre o público presente. "Eu não suporto grupos. Amo tanto os indivíduos, então, adoraria ver um grupo de indivíduos, se isto fosse possível..."


Além do "código de vestimenta", Homme quer manter segredo sobre a próxima turnê representando "Alive in The Catacombs" e se algum plano para 2026 já foi concretizado: "Uma das melhores partes do que posso fazer é sobre revelação", diz ele, após negar plausivelmente qualquer detalhe mencionado sobre a vindoura turnê de "Alive in The Catacombs". "Acabei ficando fascinado não apenas por criar algo novo, mas por desenvolvê-lo".


Embora ele e a banda estejam se esforçando para manter o mistério, Homme afirma estar no início do que parece ser uma fase criativa após sua crise de doença e subsequente recuperação. Isso inclui novas músicas do QUEENS OF THE STONE AGE, outro disco com sua banda paralela, o EAGLES OF DEATH METAL, mais projetos com sua já conhecida Desert Sessions, ou até mesmo uma banda inteiramente nova.


Há também a questão de possíveis reuniões, tanto com o THEM CROOKED VULTURES quanto com o KYUSS, onde ambos continuam "marcados" no que ele chama de "cartão de dança": "Todo mundo tem um trabalho bastante específico no THEM CROOKED VULTURES", disse ele, "e o trabalho de nos juntar novamente é de Dave Grohl. Isso não é o meu trabalho, porque foi ele quem nos juntou em 2009". 


Quanto ao KYUSS, Homme resume sucintamente seu desejo de reformar a sua banda dos anos 90: "Seria maravilhoso pontuar adequadamente o legado disso".


Para Homme, agora tudo se resume ao tempo e à falta dele. Ele pode ser um touro esperando para sair correndo pela porteira, mas parte do projeto "Alive in The Catacombs" e do longo período que se seguiu é aprender a conviver com a incerteza: "Com o tempo, percebi que não há problema em admitir que não sei de nada e que não há problema em me reservar o direito de me surpreender com a vida", explicou Homme.


Essa atitude lhe deu uma nova perspectiva sobre trabalhos mais antigos, como a canção "I Never Came", uma música assombrosa lançada originalmente no 4º álbum de estúdio do QUEENS OF THE STONE AGE, "Lullabies to Paralyze" (2005), que encontrou vida nova nas Catacumbas de Paris: "Às vezes, as coisas possuem um momento de libertação, sabe? A canção, 'I Never Came', está prestes a encontrar seu momento, seja lá o que isto signifique", diz ele.


"Fazer música realmente me ensinou muito sobre o que eu mais quero, que é aprender a aceitar as coisas como elas são. Tudo isso é como um exercício, um ritual e uma meditação para descobrir como se desapegar das coisas e entender que você não está no controle. Eu não estou no controle e está tudo bem, cara". Homme faz uma pausa e com uma risada leve, acrescenta: "Não quero que tudo tenha que ser tão profundo, mas essa é a minha religião e a minha meditação, e essa é a minha maneira de montar o cubo mágico da vida".


Considerando tudo o que ele passou nos últimos anos, é difícil culpar Homme por se jogar de cabeça no fundo do poço. Assim como seu uso frequente de metáforas, ele não consegue se conter em sua obsessão de tentar dar voz ao inexprimível, confrontar as realidades mais assustadoras e criar algo que possa ser preservado ao longo do tempo agora de mãos dadas com a sua condição de artista. Depois de se desfazer de tantas camadas, essa é a única maneira que ele conhece de criar, assim como toda a banda faz ao longo de sua apresentação em "Alive in The Catacombs".


Resta saber se essas esculturas de gelo perdurarão além do seu criador, embora talvez não seja esse o ponto. Ao "enfrentar" as catacumbas e sua própria mortalidade, Homme encontrou um tipo diferente de permanência: a consciência de que não está escondendo nada.


"Você está cercado pelo que você se tornará", finaliza Homme em sua entrevista, sobre se apresentar entre 06 milhões de ossos nas Catacumbas de Paris. 


É menos um presságio do que um catalisador para a libertação. Se o tempo é curto e a morte se aproxima, cada momento, cada música e cada apresentação se torna muito mais preciosa. A escultura de gelo pode estar destinada a derreter, mas enquanto estiver de pé, ainda pode ser de tirar o fôlego.




"I Never Came" ("Alive in The Catacombs")





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