Stone Temple Pilots: "considero emotiva a música brasileira, bossa nova e o country"
by Brunelson
15 de mar. de 2021
Com as guitarras praticamente banidas das sessões de gravação, STONE TEMPLE PILOTS criou assim o álbum "Perdida" (8º disco, 2020), um álbum leve que soa perfeito o escutando deitado numa rede.
Passando 01 ano de seu lançamento, a banda foi entrevistada pelo site Louder Sound e refletiram sobre esse álbum.
“O disco 'Perdida' é o tipo de álbum que sempre quis fazer”, disse o vocalista Jeff Gutt, apresentado oficialmente pela banda em 2017 e já com 02 álbuns como novo cantor do STONE TEMPLE PILOTS. "Você está na estrada há tanto tempo e tem todos esses amplificadores e bateria soando bem altos, então, você meio quer apenas se sentar e escrever uma música calma perto da lareira... É bom respirar fundo e compor algo bonito”.
Salientando o adjetivo, "bonito" vem agarrado ao corpo musical do STONE TEMPLE PILOTS desde o seu álbum de estreia, "Core" (1992), também tornando o grupo num dos gigantes do grunge.
Depois de tudo o que já sabemos na história da banda e acelerando até 2018, a perseverança do STONE TEMPLE PILOTS gerou o primeiro álbum com Jeff Gutt nos vocais, "Stone Temple Pilots" (7º disco), o que gerou um sorriso de satisfação aos velhos cicatrizados guerreiros após passarem por outra batalha...
Em 2020, surgiu o álbum "Perdida" com uma seleção predominantemente acústica de músicas modestas e elegantemente arranjadas, já liricamente pesadas com títulos tristes e melancólicos. Alguns destaques ficariam para as músicas "Fare Thee Well", "Three Wishes" e "She's My Queen".
Há também uma bossa nova (novamente ela) cadenciada na dolorosa canção cantada pelo baixista Robert DeLeo, "Years", além do que o disco vai nos apresentando no meio do caminho com um toque de cordas requintadas, saxofone, flauta e até mesmo um marxofone.
Essas camadas adicionam cor a um álbum rico em folk, valsa, influência de música espanhola e altas inflexões solitárias.
O disco "Perdida" é uma música feita por homens de meia-idade que passaram por alguma merda nos últimos anos - falecimentos de Scott Weiland e Chester Bennington. Desavenças, batalhas pela custódia da banda, sentimento de desgosto e perdas, são todos assuntos pesados que estão aqui nesse álbum, mas de forma sublimada em vez de uma declaração impetuosa.
“Há muitas coisas para ficar melancólico”, revelou Gutt com uma triste risada. “Este álbum foi feito mais para nós, sabe? E para todos nós é muito pessoal, porque conversamos sobre essas coisas durante as turnês e sobre o que cada um estava passando. Se eu apenas escrevesse sobre mim, já teria ficado sem assunto há muito tempo e eu tento ver a vida através dos olhos de outras pessoas acompanhado de um lugar vindo da compaixão".
Ainda em 2016, quando Gutt fez o seu teste de audição para ser o novo vocalista da banda (para substituir Chester Bennington, que por sua vez substituiu o vocalista original Scott Weiland), ajudou claramente o fato dele poder apertar os mesmos botões tonais de Weiland, o que foi um dos alicerces do STONE TEMPLE PILOTS que garantiram o seu lugar na mesa principal do grunge nos anos 90 com os seus 05 primeiros álbuns de estúdio.
Crucialmente, Gutt também tem uma verdadeira simpatia de composição com os membros de longa data - Robert DeLeo, o irmão guitarrista Dean DeLeo e o baterista Eric Kretz.
Dean se lembra de estar sentado com um violão ao lado de Gutt, dizendo: “Jeff estava criando as suas melodias e foi quando sentimos que as músicas estavam realmente tomando forma. Aquele foi um lindo momento em que o disco 'Perdida' se abriu e me permitiu realmente saber quais e como seriam as músicas".
O guitarrista continuou: “Jeff é brilhante nisso... Foi muito parecido trabalhar com Scott, porque Jeff tinha um ótimo senso do que cada música estava pedindo e um ótimo senso de melodia e entrega vocal. O seu desempenho vocal no álbum 'Perdida' ficou incrível”.
“Jeff realmente se superou”, acrescentou Robert. “Ele precisava... É um álbum muito pessoal e ele realmente fez um trabalho incrível em ver onde estava pessoalmente em cada música. Depois de gravarmos o nosso álbum homônimo de 2018 e em seguida prosseguir com o disco 'Perdida', você sente ou não o quê fazer e Jeff sentiu exatamente onde precisava ir. Tivemos tempo nas turnês para expressar um ao outro onde estávamos e moldar as coisas no que acabou se tornando no álbum 'Perdida'".
Olhando para trás na discografia do STONE TEMPLE PILOTS, eles sempre temperaram os seus momentos mais pesados com interlúdios doces e suaves.
Eles sempre serão conhecidos por hinos empolgados como das músicas "Sex Type Thing", "Plush" (ambas do 1º disco) e "Interstate Love Song" (2º disco, "Purple", 1994), mas as raízes do álbum "Perdida" estão nos momentos mais suaves da banda, como nas canções "Creep" (1º disco), "And So I Know" (3º disco, "Tiny Music... Songs From The Vatican Gift Shop", 1996) e "A Song For Sleeping" (5º disco, "Shangri-La Dee Da", 2001) - citando somente algumas dentre vários exemplos.
Sem contar os sets acústicos que a banda sempre levou no meio dos shows elétricos...
“Desta vez, dedicamos um álbum inteiro a essa expressão, ao invés de provar somente os seus sabores”, disse Robert. “Todo mundo tem um estilo de músicas para escutar, mas realmente se resume ao que está no fundo da sua alma e isso pode vir de muitas maneiras diferentes. Como ouvinte, considero a música brasileira, bossa nova e o country muito emotivos, e é daí que vem e vai a minha expressão".
O eclético senso musical dos irmãos DeLeo foi forjado no final dos anos 60 e início dos anos 70, à medida que eles cresceram em uma casa multi-geracional e amantes da música de New Jersey, onde você podia ser acalmado pelos sons de Antônio Carlos Jobim, com a serenata de Andy Williams ou agarrado pela garganta por Jimi Hendrix.
“Este sempre foi o plano”, acrescentou Dean. “Se você voltar ao álbum 'Core', foi sempre sobre ficar longe dos power chords típicos do punk rock e usar acordes bonitos e não convencionais. Aprendemos muito com Antônio Carlos Jobim, THE CARPENTERS e com todo aquele grande hard rock dos anos 60 e 70”.
Se esses implementos icônicos do rock e música popular estão no álbum "Perdida", eles são reduzidos a um nível de bom gosto e de acordo com a qualidade do álbum como um todo.
Em um universo paralelo, 2020 teria visto a banda levar esse álbum em turnê e ficaríamos curiosos de ver como seria, com uma base de um novo conjunto acústico englobando aqueles momentos mais sutis e desplugados dos últimos quase 30 anos.
Apesar disso, STONE TEMPLE PILOTS não se aquietou apresentando performances via internet na íntegra dos seus 02 primeiros discos, além de confessarem que estão compondo músicas novas em suas casas durante a pandemia.
Jeff Gutt finalizou a entrevista, mostrando como todos da banda estão orgulhosos por terem gravado um disco como "Perdida" e por estarem em atividade.
“É tão revigorante estar em um bando de profissionais”, entusiasmou-se Gutt. “Se os DeLeos chegam no estúdio e falam: ‘Eu tenho uma música nova’, você pensa: ‘Bom, isso vai ser ótimo!’ Tem sido uma grande coisa pra mim me juntar a essas pessoas tão incríveis".
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