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  • by Brunelson

Smashing Pumpkins: "não acho que seremos reconhecidos daqui há 20 anos", disse Corgan em 1998


Lá em 1998, o vocalista/guitarrista Billy Corgan e a baixista D'arcy Wretzky - ambos membros fundadores do SMASHING PUMPKINS - haviam sido entrevistados pela rádio australiana Triple J.

Nessa entrevista, a banda estava em turnê do álbum recém-lançado na época, "Adore" (4º disco, 1998).



Para contextualizar e voltando em 1995, anunciando que o 3º disco da banda seria um álbum duplo, muitos temiam que poderia ser um fracasso comercial. Lembrem, era 1995 e quem viveu aquela época sabe do que estamos falando. Os álbuns duplos eram considerados "auto-indulgentes". Algo que apenas um pequeno número de bandas de rock conseguiu fazer com sucesso.

Mas o SMASHING PUMPKINS apoiou a sua visão e lançaram o seu monstro de 28 músicas, o disco "Mellon Collie and The Infinite Sadness" (3º disco, 1995).

O álbum não apenas alcançou o 1º lugar nos EUA (o seu 1º disco nº 1), mas também liderou os rankings na Austrália, Nova Zelândia, Canadá e Suécia, e alcançou o Top 10 em 12 outros países.

Foram 04 canções desse álbum que ficaram 1º lugar no ranking da Billboard - "Bullet With Butterfly Wings", "1979", "Tonight Tonight" e "Zero" - e o disco rendeu à banda 07 indicações ao Grammy, levando o prêmio de Melhor Performance de Hard Rock - além de um carrinho cheio no MTV VMA.


Sendo uma oferta musical conceitual e extensa de uma era definida por bandas como NIRVANA, PEARL JAM, SOUNDGARDEN, ALICE IN CHAINS, STONE TEMPLE PILOTS, MUDHONEY, SCREAMING TREES e MELVINS (relacionando de propósito só a galera grunge), o álbum "Mellon Collie and The Infinite Sadness" é frequentemente considerado um dos últimos grandes discos do rock alternativo dos anos 90.

E para onde foi o SMASHING PUMPKINS a partir daí? Como acompanhar um clássico em sua carreira?

03 anos depois desse auge criativo, SMASHING PUMPKINS estava em turnê na Austrália do seu 4º álbum de estúdio, "Adore" (1998).

Billy Corgan e D'arcy Wretzky ainda estavam em bons termos, mas o outro membro fundador da banda, o baterista Jimmy Chamberlin, havia sido demitido em plena turnê no ano de 1996 por causa do seu uso de drogas.

Corgan começou descrevendo o disco "Adore" como um "naufrágio", e Wretzky apenas ficou lá, brincando com o seu microfone. Depois de um começo estranho, Corgan começou a se abrir sobre a abordagem ao álbum.

“O disco 'Adore' foi uma maneira de se afastar para um novo espaço, longe do jeito que o SMASHING PUMPKINS era”, disse Corgan. "É realmente querer abraçar tudo com uma mente aberta. No passado, restringíamos o nosso foco para que pudéssemos fazer algo que tivesse uma declaração muito precisa, tipo, o disco de estreia, 'Gish' (1991), era mais pesado. O álbum 'Siamese Dream' (2º disco, 1993) era mais psicodélico e o álbum 'Mellon Collie and The Infinite Sadness' (3º disco, 1995) foi esse grande monólito".


"Somos nós apenas tentando tocar música que nos sentimos muito próximos em fazer e sem ter uma agenda, do tipo: 'Temos que sair em turnê aqui e aqui, ou temos que ser mais pesados do que a tal banda'. Somos apenas nós tocando a nossa música, sabe?"

Embora o disco "Adore" não tenha alcançado o mesmo nível de sucesso comercial de seu antecessor, ainda é um grande álbum que só vai melhorando com o passar do tempo.

"Adore" foi o álbum nº 01 na Austrália, que Corgan disse que: "Pra mim, sempre foi como parâmetro e no mesmo nível de comparação, no que diz respeito a ter sucesso nos EUA". O disco "Adore" também alcançou bons resultados em toda a Europa, o que os álbuns anteriores haviam lutado para fazer.

Ainda assim, Corgan sabia que um disco "suave" do SMASHING PUMPKINS não agradaria a todos.

"Há alguns fãs que querem voltar ao antigo apogeu do rock do SMASHING PUMPKINS, mas nós resolvemos fazer esse tipo de música no álbum 'Adore'", disse Corgan. "No que nos diz respeito, fizemos isso melhor do que qualquer um". O frontman sentiu fortemente querer explorar novos territórios musicais depois do disco "Mellon Collie and The Infinite Sadness".

"Você não pode viver nesse espaço para sempre e não pode continuar tentando ser algo que não sente mais necessariamente", afirmou Corgan. "Há um certo tipo de perda de inocência acontecendo, onde as pessoas estão sentindo falta dos 'bons velhos tempos' com o NIRVANA, PEARL JAM e o SMASHING PUMPKINS".

"Mas se você não estava lá ou não viveu essa época, você deveria ter estado para entender e é isso. Você não pode sustentar esse tipo de energia para sempre e musicalmente falando, chegou ao fim e o SMASHING PUMPKINS é a banda que está disposta a dizer que não há mais nada disso nela. A Austrália foi um dos primeiros países a realmente abraçar o nosso 1º álbum, 'Gish' (1991), e o que as pessoas não percebem é que poderíamos tocar o disco 'Gish' o dia todo em 01 hora, mas não é o que queremos fazer no momento".

Corgan continuou: "Não seria uma experiência satisfatória. Porque nós já fizemos isso e fizemos numa época em que nos sentíamos muito fortes em fazer esse tipo de material".

Corgan estava convencido de que se o SMASHING PUMPKINS tentasse replicar o sucesso dos seus álbuns anteriores, seria puramente algo fabricado e inautêntico: "Nós estaríamos fazendo isso porque é o que alguém quer que façamos", disse ele. "O que, claro, é sempre o indicador para fazermos exatamente o contrário. Se alguém quiser que fiquemos pesados de novo no som, eles devem aparecer e dizer: 'Continue fazendo essas coisa suave aí', e então, lançaremos o álbum mais pesado que você já ouviu, cara".

D'arcy Wretzky concordou, entrando na conversa: "Somos filhos da psicologia reversa".

É o toque pessoal desde sempre do SMASHING PUMPKINS...

Enquanto alguns fãs podem ter se sentido decepcionados com o álbum "Adore", milhões o amaram. Wretzky atribuiu isso à capacidade da banda de se conectar com as pessoas: "Estamos escrevendo sobre coisas reais e universais. Coisas com as quais todos podem se relacionar".

Corgan concordou que o sucesso contínuo da banda foi em parte porque eles nunca se esquivaram de compartilhar experiências pessoais e emocionais em sua música: "Conheci escritores altamente respeitados que me falaram: 'Não é desconfortável para você entrar nesse material tão profundo? Eu não sei se eu poderia falar sobre como o meu pai me bateu'".

"Pra mim, é o único caminho. É o único lugar que resta no rock'n'roll", acrescentou Corgan. "Você não poderia tocar mais pesado e você não poderia escrever músicas melhores do que os BEATLES. O único lugar que me restava era ir para um material tão emocionalmente explosivo que seria quase difícil de ouvir, e foi pra lá que nós fomos".

Corgan admitiu que essa intensidade em toda a carreira do grupo, atraiu uma reação de amor/ódio à banda.

"É uma conexão física real que as pessoas têm com você", disse Corgan. "Acho que é por isso que recebemos essa adulação completa ou a outra metade que simplesmente não entende nada do que estamos fazendo. Isso não está muito longe de como somos como pessoas, sabe? Ainda somos bastante hardcore e talvez seja apenas um reflexo de nossa própria atitude voltando para nós".

Essa abordagem de tudo ou nada nem sempre foi fácil e é marca característica de Corgan em toda a sua carreira.

"Eu definitivamente passo por momentos de dúvida em que me pego pensando: 'Eu não poderia simplesmente escrever sobre morangos, árvores e coisas assim?'", disse Corgan. "Mas há momentos no palco e momentos em que conheço pessoas ou recebo uma carta, e percebo que é muito importante que alguém tenha a coragem de dizer certas coisas pra mim e isso representa algo simbolicamente falando".

"Para a nossa geração, representamos pessoas que estão dispostas a serem elas mesmas e resistirem ao sistema, e não apenas fazerem as coisas porque 'é assim que é feito', você me entende? Temos as nossas próprias opiniões e algumas delas estão erradas e algumas estão certas, mas não temos vergonha de sermos nós mesmos".



Para Corgan, SMASHING PUMPKINS e toda a explosão do grunge e rock alternativo no começo dos anos 90 foi uma reação às bandas de rock hiper-estilizadas (glam/hair metal) da década de 80: "O rock'n'roll até os anos 90 era sobre ser outra pessoa", disse Corgan. "Sobre criar outro personagem ou viver uma fantasia idealizada, o que era uma coisa exagerada. Nós provavelmente somos uma das primeiras bandas a dizer: 'Nós vamos ser nós mesmos' e se isso realmente nos machucou e ainda nos machuca, achamos que está tudo bem ser você mesmo".

Essa autenticidade lhes rendeu uma legião de fãs dedicados em todo o mundo, mas também abriu críticas quando o grupo seguiu uma direção musical inesperada depois do álbum "Mellon Collie and The Infinite Sadness".

"É frustrante", admitiu Corgan. "Por um lado, somos produtos da mídia. Usamos a mídia, estamos aqui em uma estação de rádio, estaremos na capa de uma revista, faremos um grande videoclipe e estaremos em todo o mundo, mas ao mesmo tempo, acho que a mídia criou uma percepção de nós que sufoca a nossa música. Eu não acho que a verdadeira realização da música que fizemos será reconhecida até décadas adiante, quando as pessoas olharem para trás daqui há 20 anos".

Corgan finalizou: "Assim como as pessoas olhavam para a música dos anos 60 e percebiam o quão poderosa ela era, mas por anos e para muita parcela do mainstream, a música dos anos 60 foi apenas descartada como música hippie ou um produto de toda essa merda hippie. Para o SMASHING PUMPKINS, acho que o tempo nos ajudará porque quando as pessoas se afastarem da política, das drogas, das notícias sobre mortes e de todas essas outras coisas que parecem nos cercar, elas verão que escrevemos muitas e ótimas músicas".


"To Sheila" (Álbum: "Adore", 1998)


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