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  • by Brunelson

Mike McCready: guitarrista do Pearl Jam e sua lendária Fender Stratocaster '60


Confira alguns trechos da entrevista e matéria que o guitarrista do PEARL JAM, Mike McCready, concedeu ao site Guitar.com. O carro chefe da matéria é sobre a sua guitarra Fender Stratocaster '60 (foto), que ele vem carregando consigo até hoje desde 1992.




Como todo bate-papo entre fãs da banda, sempre foi uma pira acompanhar in loco a passagem do tempo cicatrizada nessa icônica guitarra...


O guitarrista também detalha o uso dessa Stratocaster em algumas músicas do PEARL JAM, como "Dance of The Clairvoyants" e "Nothing as it Seems", do MAD SEASON com "River of Deceit" e do TEMPLE OF THE DOG com "Hunger Strike", dentre outros assuntos.


Segue:



Enquanto o ícone da guitarra grunge obtém o seu próprio modelo de assinatura Master Built Limited Edition baseado em sua surrada Fender Stratocaster 1960, Mike McCready, de bandas como PEARL JAM, TEMPLE OF THE DOG e MAD SEASON, nos conta sobre o seu caso de amor ao longo de sua carreira com a guitarra e o choque ao descobrir que não era uma '59.

Quando o álbum de estreia do PEARL JAM, "Ten" (1991), começou a causar sérias ondas no mainstream devido a explosão do grunge de Seattle em 1991, o guitarrista Mike McCready tinha uma coisa em mente quando os pagamentos começaram a cair em sua conta bancária: “Eu li que o guitarrista Stevie Ray Vaughan usou uma Stratocaster de 1959 e o vi 04 vezes ao vivo, e ele sempre me surpreendia”, Mike nos conta. “Então, esse foi o impulso inicial por trás da minha compra: Stevie Ray Vaughan toca com essa guitarra, esta é a primeira vez que tenho dinheiro, então, eu vou comprar essa guitarra".

McCready encontrou em Los Angeles o que acreditava ser uma Stratocaster original de 1959 e a mesma se tornou sinônimo do guitarrista ao longo de uma carreira de 30 anos com os gigantes de Seattle e uma série de projetos paralelos. A guitarra foi recriada em detalhes meticulosos pelo construtor mestre da Fender Custom Shop, Vincent Van Trigt, para uma tiragem limitada de 200 instrumentos e no processo foi descoberto que na verdade era um modelo de 1960.

McCready ficou otimista com a revelação.

“Sabe, eu estava tão convencido de que era uma '59 que fiz uma tatuagem do número 59 no braço”, ri McCready. “George Wood, que dirige o armazém/estúdio do PEARL JAM, meio que queria me mostrar que era uma '60, porque eu estava sempre falando sobre o quanto eu amo a minha '59, minha '59 era isso e minha '59 era aquilo. Ele não queria quebrar o meu coração, mas ele disse: 'Hey, você sabe, você comprou uma '60...' E então, eu ainda estou meio chocado e surpreso que acabou por ser uma '60, mas no final das contas não importa porque eu amo muito essa guitarra e ela soa tão incrivelmente bem”.

Além disso, a guitarra '59 de Stevie Ray Vaughan acabou se revelando um híbrido dos anos 60 com pickguards de 1959, então, McCready talvez esteja prestando mais homenagem ao seu herói todos esses anos, muito mais do que percebeu no momento em que a comprou.

O que é realmente importante para McCready sobre a guitarra - tanto o seu modelo original quanto o novo modelo que ele acabou adquirindo depois - é como ela toca e soa, e o guitarrista está encantado com as duas guitarras.

“A Fender fez um trabalho incrível”, ele confirma, “e o maior exemplo que posso dar é que as duas estarão em pé uma ao lado da outra, a minha verdadeira, e o novo modelo, e eu peguei o novo modelo 03 vezes em ocasiões diferentes pensando que era a original. Eu não estou brincando, eu simplesmente começava a tocar e só depois perceberia: ‘Ok, esta não é a minha guitarra’. Então, se parece exatamente com a minha guitarra original, soa quase exatamente como ela, mas pra mim, o mais importante é que o braço da guitarra soe dessa forma”.


Busca profunda

Este braço é um flamejado serrado com um perfil ‘oval C’ de 1960 e uma escala de jacarandá flat lam com 21 trastes vintage. A parte de trás está muito gasta e tem um grau de franzido em relação a madeira que aumenta a sensação de 1959.

É aqui que McCready pensa que a mágica está.

“Eu não sei exatamente como dizer isso, mas eu coloco muito valor na alma de uma guitarra”, ele expande, “em quanto tempo uma guitarra foi tocada por outra pessoa, quão desgastada ela está com anos de trabalho, músicas e como está o estado do braço dela".

“Mesmo em termos de comprar uma nova guitarra, o braço tem que tocar perfeitamente pra mim na primeira vez que eu a toque. Do contrário, nunca poderei me ajustar ao que é. Espero que faça sentido pra mim, porque tenho algumas guitarras assim com as quais nunca cheguei lá... Elas são legais, mas nunca tocaram tão bem do jeito que eu gostaria".

“Mas a minha original '59, desculpe, '60, essa guitarra já soava de forma fantástica assim que eu a adquiri em 1992 e continuou ao longo dos anos. Então, o segredo está nos anos de trabalho e tocar a música 'Even Flow' nela umas 700 vezes ou o que quer quantas vezes já tocamos”.


"Even Flow" (ao vivo, 2003)


Outro aspecto da guitarra que é importante para McCready é o sistema de alavanca. No modelo Custom Shop, a Fender usou um modelo sincronizado de estilo vintage com bloco de ponte Callaham, casado com máquinas de ajuste de estilo vintage. A estabilidade é a chave para McCready aqui e ele está feliz com os resultados.

“Normalmente no arremate, eu tenho 05 molas na parte de trás da minha guitarra”, explica ele, “então, é um sistema de tremolo mais apertado e não tão solto. Eu preciso disso para tocar a canção 'Jeremy' e vou usá-lo novamente no refrão da música 'Even Flow'".

“Vou usar a alavanca como uma ferramenta rítmica, então, duas coisas: a guitarra precisa ficar afinada depois de fazer tudo isso, o que é uma coisa difícil de acontecer nas guitarras, mas com a minha '60, na maior parte das vezes ela fica afinada depois de usar a alavanca. Isso é algo que eu realmente preciso quando estou usando uma alavanca, porque, embora não a use o tempo todo, quando a faço é para coisas específicas em solos e partes únicas que as músicas exigem".

“Eu não consigo pensar além da canção 'Jeremy', porque realmente busco isso no final da música quando estou recebendo o feedback das caixas de som. A outra coisa é que tem que ser cordas muito fortes, mas mesmo assim eu ainda as arrebento o tempo todo!”


"Jeremy" (ao vivo, 2000)


O som da Stratocaster tem sido parte integrante de sua forma de tocar desde que se juntou ao guitarrista Stone Gossard e ao baixista Jeff Ament após o colapso da banda anterior deles, MOTHER LOVE BONE, devido a morte do vocalista Andrew Wood em 1990.


A primeira produção gravada pelo novo trio seria um tributo a Wood, ainda com o colega de apartamento de Wood, o vocalista do SOUNDGARDEN, Chris Cornell, além do baterista da mesma banda, Matt Cameron. Juntos, eles formaram e lançaram o único álbum de estúdio do TEMPLE OF THE DOG em 1991 - que por sinal está fazendo 30 anos em 2021.

A versatilidade da Fender Stratocaster foi algo que McCready foi capaz de colocar em uso imediato, embora ele não estivesse tocando com a sua '60 naquela época do TEMPLE OF THE DOG.

“Adoro ter 05 posições diferentes numa Stratocaster, em vez de apenas 03. Eu uso todas elas em momentos diferentes”, explica McCready. “Estou voltando aqui, mas uso a 2ª posição ‘fora de fase’ e acho que foi explicado que esse é um termo errado para usar, mas eu a uso mesmo assim... Eu estou tocando assim no início da música 'Hunger Strike' do TEMPLE OF THE DOG".


"Hunger Strike"


“E quando eu toco a canção 'Yellow Ledbetter' do PEARL JAM nos shows, uso a mesma posição para tocar os versos e a introdução da música, pois gera um som que eu sempre quis ouvir. Stevie Ray Vaughan fazia isso, então, eu estava tentando fazer também”.


"Yellow Ledbetter" (ao vivo, 2006)


A Fender Limited Edition Mike McCready Stratocaster apresenta captadores personalizados, combinados com os originais que são conectados a um interruptor de cinco vias usando fiação vintage, incluindo um capacitor de tom "agudo". McCready insiste que esta é a essência de sua guitarra.

“Quando estou fazendo experimentos ou o que quer que seja, estou constantemente alternando as posições dos botões e mudo eles toda vez. Posso começar a girar para ter sons agudos e em seguida, posso inverter todo o caminho para captar um som mais grave. Faço uma coisa meio blues, vou para a regulagem do meio e mexo por todo o lugar nas posições da chave também. Uso 04 posições diferentes na mesma música e é como se o meu cérebro também precisasse dessa variedade”.


Mike mágico

Desde aqueles primeiros discos até o lançamento do último álbum do PEARL JAM, "Gigaton" (11º disco, 2020), a Stratocaster de McCready continuou a desempenhar um papel relevante na magia que ele traz para a banda ou em seus grupos paralelos. Na verdade, muitas vezes esta é a guitarra que McCready usa quando a música do PEARL JAM segue para águas menos previsíveis.

"Gigaton" foi talvez o disco mais diverso e experimental da banda desde o álbum "Binaural" (6º disco, 2000), e ambos os álbuns apresentam momentos favoritos de McCready com a sua Stratocaster.


O 1º single do álbum "Gigaton", a música "Dance of The Clairvoyants", foi um aceno inspirado no TALKING HEADS para os anos 80, onde McCready escolheu instantaneamente a sua Stratocaster para toca-la.

“Essa foi uma das nossas músicas mais estranhas que eu acho que já gravamos”, lembra Mike. “Eu me lembro que o nosso baterista, Matt Cameron, trouxe esse loop de bateria e achei que era legal, mas nunca pensei que alguém fosse tentar, não achei que Eddie cantaria sobre ele, eu não sabia o que estava acontecendo e como continuar com aquela coisa. Stone Gossard (guitarrista) acabou colocando essa faixa de ritmo nela e então começou a fazer sentido. Eu queria abordá-la no estilo de tocar guitarra da "era David Bowie", sabe? Aquele funk rock com uma reverberação forte e era isso que eu queria e sabia que conseguiria este som com a guitarra Stratocaster. Eu só sei que posso confiar plenamente nessa guitarra para fazer isso acontecer".


"Dance of The Clairvoyants"


E sobre o 1º single do álbum "Binaural"?


“Sobre a música 'Nothing as it Seems' é a mesma coisa. Esta é talvez um dos meus solos de som favoritos porque usei um grande e estranho pedal que foi feito pela Gretsch, fiquei com ele por cerca de 01 ano e foi a coisa mais estranha... Eu esqueci o nome, mas tem, tipo, um som vocoder nele e foi feito no final dos anos 60 ou início dos anos 70 (provavelmente o Expandafuzz - Ed). Acho que quase tirou a Gretsch do mercado, enfim, eu usei esse pedal e o produtor do disco 'Binaural', Tchad Blake, conseguiu este som na gravação. Eu nunca mais fui capaz de obtê-lo assim novamente, exceto naquele disco, mas essa é a minha Fender Stratocaster através daquele estranho pedal Gretsch. É assim que conseguimos aquele zumbido estranho que você ouve na música 'Nothing as it Seems' e que eu adoro”.


"Nothing as it Seems"


Relembrando do seu tempo como guitarrista do MAD SEASON quando estavam gravando o único álbum de estúdio, "Above" (1995) - um supergrupo de Seattle de curta duração que tinha também o vocalista do ALICE IN CHAINS, Layne Staley, o baterista do SCREAMING TREES, Barrett Martin, e John Baker Saunders no baixo - McCready nos conta novamente que sabia quando precisava da sua Stratocaster '60: “Quando escrevi a música 'River of Deceit' para o álbum do MAD SEASON, eu estava pensando em termos daquele som 'fora de fase' de qual falei antes. Eu a uso para a introdução, mas na verdade, para a música inteira, exceto no refrão onde eu a coloco no captador de agudos, então, eu sabia que precisava dessa guitarra para tocar 'River of Deceit'. Eu sabia que queria este som para o riff e sei que essa guitarra vai me dar isso".


"River of Deceit" (ao vivo, 1995)


“Eu também a usei na música 'November Hotel' nesse disco do MAD SEASON, porque sei que posso controlar o tipo de feedback que recebo dessa Stratocaster".


Cicatrizes de batalha

A autenticidade do dano cosmético neste modelo de assinatura é algo que sem dúvida agradará aos fãs e colecionadores do PEARL JAM, mas ao examinar o uso e desgaste do resto da guitarra, McCready avisa que, embora seja atualmente uma réplica exata da original, pode não ficar assim por muito tempo...

“Muitos dos arranhões nas costas dela não são meus”, insiste Mike.


O guitarrista concluiu: “Eles já estavam lá, mas se você olhar para o topo da guitarra, onde estou tocando acima das cordas, esses arranhões são meus. E se você olhar as fotos de 1992 de quando a comprei e comparar até agora, você verá como esta área arranhada ficou cada vez maior e maior depois de anos apenas tocando com muita força. Se você olhar para esta guitarra quando comecei a tocá-la em 1992, você mal consegue ver esses arranhões”.


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