top of page
  • by Brunelson

Rage Against The Machine: "tenho a mesma configuração de pedais para guitarra até hoje"


Em uma nova entrevista para a revista Guitar World, o auto-proclamado "DJ da banda" e guitarrista do RAGE AGAINST THE MACHINE, Tom Morello, compartilhou a sabedoria de sua carreira que passou por cima do livro de regras.

O seu trabalho também como guitarrista do AUDIOSLAVE, PROPHETS OF RAGE e em carreira solo, o tornou um dos guitarristas de rock mais influentes de sua geração: “É hora da aula”, disse Tom Morello. “Então, lave as suas mãos e afine a sua guitarra".

Confira essa entrevista na íntegra:


Depois de tocar algo 150 vezes perfeitamente, você pode seguir em frente...

“Foi um dia muito fatídico quando aprendi a alternar a palheta corretamente na forma de tocar. Enquanto eu era autodidata, ocasionalmente ia para uma loja de guitarras em Highland Park, Illinois, se eu quisesse aprender uma música, onde um professor hippie chapado me mostrava as minhas músicas favoritas de Alice Cooper e BLACK SABBATH que eu não conseguia tocar".

"Um dia, ele estava doente e fui mandado para uma sala com outro professor de guitarra, que era Michael Angelo Batio... O famoso guitarrista antes dele se tornar conhecido! Tive somente 01 aula com ele, mas ele me deixou pra baixo pedindo para tocar alguma coisa. Abri caminho por algumas faixas, tentando me exibir e soando muito banal".

“Ele havia me dito: 'Parece que você quer tocar rápido, mas não sabe como', e eu respondi: 'Você está correto, senhor!' Então, ele escreveu uma série de exercícios em uma folha de papel, que eram exercícios básicos de palhetada para tocar em modos diferentes".

“Ele me forçou a começar devagar e disse que, depois de dominar o exercício, eu poderia aumentar o metrônomo em um ponto e eventualmente seguir em frente cada vez mais rápido. Eu acreditei no que ele me disse e foi uma lição que mudou a minha vida, onde muitos anos depois, me levou a tocar solos de canções como 'Take The Power Back' (1º disco, "Rage Against The Machine", 1992) e '#1 Zero' (2º disco do AUDIOSLAVE, "Out of Exile", 2005)”.


"Take The Power Back"


"#1 Zero"


Crie um vocabulário alternativo de sons para contar a sua própria história...

“Comecei a tocar tarde, por volta dos 17 anos de idade, e nunca tinha ouvido falar de outro guitarrista que fizesse álbuns usando barulhos dessa forma. Exceto Robert Johnson, que teve que 'vender a sua alma ao diabo' para ficar bom! Dada a minha educação católica, isso não era realmente uma opção, então, eu tive que trabalhar as minhas 10 mil horas".

“A maior parte desse tempo foi gasto emulando os meus heróis da guitarra como Eddie Van Halen e Randy Rhoads, e mais tarde, Steve Vai e Yngwie Malmsteen. Percebi que, se você dedicar por horas, pode realmente entrar no mesmo 'estádio' que esses músicos, mas o que eu não tinha era a minha própria voz no instrumento".

“Foi realmente no início do RAGE AGAINST THE MACHINE que me identifiquei como o DJ da banda e parei de olhar para a guitarra como um instrumento sagrado no qual só havia uma maneira de tocar. Em vez disso, pra mim, tornou-se um pedaço de madeira com 06 cordas, alguns componentes eletrônicos, alguns botões e uma chave seletora que poderia ser desconstruída".

“Qualquer coisa na guitarra era um jogo justo, desde a chave Allen usada para mudar as cordas, o jack da guitarra e até mesmo os próprios captadores. Comecei a manipular o instrumento para criar o meu próprio universo alternativo de ruído. Você pode nem precisar da guitarra em certas partes, de quando encosto o cabo da guitarra, que está passando pelo pedal wah-wah, contra a palma da minha mão... Por que não reinventar as coisas?”

Procure inspiração em qualquer lugar e de qualquer forma...

“Depois que tirei as vendas dos meus olhos e percebi que os parâmetros de tocar guitarra rock and roll não eram apenas os de Chuck Berry para Eddie Van Halen, comecei a praticar sons diferentes, fossem arranhões em samplers de DJ's, javalis no cio no zoológico ou helicópteros voando no ceú".


“Mesmo que eu não pudesse imitar exatamente estes sons, mas praticar ruídos que não eram da guitarra me levou a tocar numa direção totalmente diferente. Parecia que uma nova pista estava se abrindo e não havia mais ninguém andando nessa pista. Comecei a construir todo um mundo sônico a partir desses ruídos de animais de celeiro, velhos filmes de guerra e discos do PUBLIC ENEMY”.

Use o pedal Delay para criar um ataque infinito de guitarra...

“Foi na mesma loja de guitarras em Highland Park onde comprei um pedal Delay para guitarra. Me lembro daquela sensação quando você conecta o primeiro pedal de efeitos que você já teve, acionando todos os botões ao máximo para fazer esta cacofonia selvagem e insana como uma nevasca... É muito emocionante!"

“Então, você compra o pedal e volta pra casa, usando e alternando-o com um som mais sutil como um leve tapa na cara, ou uma nuance forte do clima. Nunca perdi aquele sentimento original e eu queria carregar essa merda para ver o quão selvagem ela poderia ficar".

“Em músicas do RAGE AGAINST THE MACHINE como "Revolver" (2º disco, "Evil Empire", 1996), que tem uma introdução marcante, eu a toquei com uma guitarra Ibanez feita sob medida com um captador maluco que gerava ruído. Eu percorria essas araras bizarras, grasnados e uivos de onça usando o pedal Delay no máximo".

"Revolver"


“A tapeçaria de som era como uma floresta ganhando vida! Para a canção 'Cochise' (1º disco, 'Audioslave', 2002), usei o Delay realmente de uma forma difícil, onde para cada nota que você toca há uma duplicação instantânea dela. Batendo uma caneta ou lápis contra as cordas em rápida sucessão, silenciando-as e movendo o pedal Whammy pra cima e pra baixo, encontrei um som exatamente como o dos helicópteros da polícia circulando o céu de Los Angeles”.


"Cochise"


Treine o seu ouvido através de improvisações aleatórias...

“Quando eu estava treinando guitarra em minhas 10, 20 mil horas, eu sempre usava 02 horas das 08 horas diárias do meu treinamento para me dedicar a improvisações aleatórias. Eu literalmente pegaria o botão da rádio e giraria para parar em qualquer estação que fosse, onde tentaria me encaixar no som que estive tocando, fosse música clássica, jazz, new wave, rap ou rock and roll".

“Passei muito tempo tocando junto com John Coltrane e Charlie Parker, tentando sentir o meu caminho para a vibração dessas músicas sem nenhum treinamento real de jazz. Esse é um dos meus estilos de música favoritos e realmente me ajudou na minha forma de tocar. De Django Reinhardt a Wes Montgomery, tipo, eles foram uma grande influência pra mim e é por isso que o solo da canção 'Settle For Nothing' (1º disco do RAGE AGAINST THE MACHINE) tem tantas cromáticas e tabulações mais parecidas com uma parte de jazz".

"Settle For Nothing"


Use a ferramenta certa para o trabalho, seja ela qual for...

“Quando estávamos gravando as demos para o 1º álbum do RAGE AGAINST THE MACHINE, tínhamos um engenheiro de som chamado Auburn Burrell e eu peguei emprestada a sua guitarra Les Paul para a parte final da música 'Bullet in The Head' - me refiro àquela grande seção final da canção".

"Mas quando fomos gravar o álbum, eu estava com a minha guitarra Telecaster e a Arm The Homeless, e cada um de nós da banda tinha U$ 600 dólares para gastar em equipamentos".

“Só que eu queria uma Les Paul para dobrar as minhas guitarras principais na gravação. Eu vi uma Les Paul para vender na vitrine da loja West LA Music em Santa Monica, California, e era exatamente da mesma cor do molho picante do Taco Bell. A razão de eu saber disso é porque o Taco Bell era um dos principais alimentos básicos de onde eu morava na época".

“Pensei comigo mesmo naquela hora: ‘Essa guitarra se parece exatamente com o molho de taco que comemos o tempo todo!’ E foi por isso que a comprei... Não era uma guitarra particularmente cara e raramente ficava afinada, mas daquele dia em diante, se tornou a minha guitarra overdub principal para todas as minhas músicas tocadas em afinação drop-D, incluindo a canção 'Killing in The Name' e no final das músicas 'Freedom' e 'Take The Power Back'. Também a usei outro dia desses nas minhas gravações mais recentes”.

"Killing in The Name"


Domine a teoria musical...

“Havia um livro brilhante chamado, 'The Guitar Handbook', que realmente me ajudou a desenvolver algumas teorias musicais, especialmente em termos de saber como chamar as escalas que eu estava tocando. Eu tinha descoberto 86% sozinho as escalas e fiquei muito surpreso ao descobrir que, na verdade, a sensação e as escalas de diferentes solos que eu já tocava, tinham nomes (risos)".

“Para harmônico menor, eu diria que Randy Rhoads foi a principal influência pra mim. Ele tinha um pé firmemente plantado nessa tonalidade menor clássica, proficiência quase semelhante à do violino, e outra mão no blues tocando no enésimo grau. Isto sempre me atraiu”.

Abrace as suas limitações em vez de lutar contra elas...

“Uma coisa que fui falsamente acusado de fazer ao longo dos anos é usar 01 milhão de pedais de efeitos. Isso não é verdade!"

“É basicamente o Whammy, com o impulso para ir para as oitavas quando preciso, o Delay e o Wah-Wah. Na verdade, apenas outro dia lancei a minha assinatura Dunlop Cry Baby, que parece revolucionária com estrelas vermelhas e slogans. É o funcionamento interno exato do pedal que comprei quando tinha 18 anos de idade e acabei usando em todas as gravações e shows que já toquei... É isso o que eu uso".

“Todo aquele som maluco vem desses pedais. No início, foi uma questão de conveniência financeira, pois eu não tinha dinheiro para comprar pedais de guitarra. Quando consegui o meu primeiro contrato de gravação com uma banda chamada LOCK UP, antes do RAGE AGAINST THE MACHINE, comprei uma pedaleira cara e que não sabia como usar. Foi muito complicado pra mim e quando alguém me explicou como usá-la, senti que fazia a minha guitarra soar pior do que melhor".

“Eu pensei: ‘Dane-se, vou apenas continuar com o que tenho!’ Gosto de abraçar as limitações e tive a mesma configuração de guitarra, exatamente o mesmo amplificador e pedais por toda a minha carreira. Decidi que essa seria a minha configuração e não ficaria louco com a compra de novas peças de equipamento para buscar sons, mas sim, sondar as profundezas da minha imaginação e criatividade para pegar essa configuração limitada e obter o máximo que posso dela”.

Quanto mais você treina, mais você gosta de praticar...

“Tudo o que posso fazer é repassar as informações e a inspiração que me foram dadas. Se você quer ficar bom no instrumento, você tem que praticar pelo menos 01 hora por dia todos os dias e sem falhar. Todas essas 03 partes são importantes e não importa se você está doente ou tem uma prova para fazer de manhã, você tem que fazer desse jeito sem falta".

“Descobri que, quando fiz isso, notei que o meu jogo estava melhorando, tanto que me encorajou a treinar 02 horas por dia todos os dias e sem falhar. Depois 04, 06 e finalmente 08 horas por dia. Talvez a minha natureza obsessiva-compulsiva tenha ajudado...”

Aprenda com e na frente dos outros...

“Você tem que tocar com outros músicos, cara. Isso é fundamental para aprender e não se tornar mais um destruidor de porões do YouTube. Interagir com outras pessoas significa que você vai crescer e aprender muito. Tocar ao vivo também é muito importante".

“Depois que a minha banda de punk rock do colégio treinou as nossas canções com empenho, nos sentimos muito confiantes para nos apresentar. Então, nós nos colocamos na frente de um público e nossas habilidades combinadas despencaram cerca de 45%, porque ficamos muito nervosos. Não há nada como acordes ao vivo disparando pelo local para revelar o que você pode melhorar e fornecer nessa conexão com o público - que é a coisa mais importante para criar uma futura inspiração”.

Mais Recentes
Destaques
bottom of page