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  • by Brunelson

Soundgarden: o disco “Down on The Upside” em homenagem a Chris Cornell


Soundgarden

Bem, isso é realmente uma coisa triste de se falar...


A notícia do falecimento de Chris Cornell - outra morte de um intempestivo rockstar que foi catapultado ao sucesso nos anos 90 - está começando a transparecer o suicídio de Kurt Cobain como um mero incidente isolado, para um start inicial de ícones do grunge e do rock alternativo que iriam decretar o destino mortal de suas vidas. A morte vem para todos nós, mas dessa forma que foi é muito triste e inesperado.


Também é estranho para mim, porque tenho pensado recentemente em Cornell ultimamente. Ao longo dos últimos 06 meses, encontrei-me ouvindo muito o 5º álbum de estúdio do SOUNDGARDEN, “Down on The Upside” (1996). Foi o disco que seguiu o álbum mais bem sucedido da banda, “Superunknown” (1994), e a “sabedoria mainstream” predominante da época dizia que o disco “Down on The Upside” não honrava o disco anterior. Na melhor das hipóteses, “Down on The Upside” foi uma retirada voluntária do lado comercial que o álbum “Superunkown” nos apresentou em várias músicas e um esforço para sair da mão de ferro dos bajuladores do mainstream. Na pior das hipóteses, as músicas poderiam não ser tão cativantes para os seus autores (vide quais delas realmente eram tocadas constantemente nos shows do grupo) e dentro de 01 ano desde o lançamento do álbum - além da clássica divergência interna - eles resolveram acabar com as atividades da banda.


Mas ouvindo esse disco nos últimos meses, percebi que talvez fosse o melhor do SOUNDGARDEN em se tratando de confluências de sons e aplicação de instrumentos exóticos. A 1ª metade do álbum é dominada pelos 03 singles do disco, que não teriam soado fora de lugar se fossem lançados em “Superunkown” – são eles: "Pretty Noose", "Burden in My Hand", e "Blow Up The Outside World" (esse último seria a que mostra a influência mais descarada dos BEATLES em toda a discografia do SOUNDGARDEN), mas a 2ª metade é onde as coisas ficam realmente interessantes.


As canções "Never Named" e "No Attention" são alguns dos rocks mais bem sucedidos que eles já gravaram, sendo tocadas pela banda como uma verdadeira luta pela vida. Pulando para a próxima música, o guitarrista Kim Thayil prende a respiração e lança um belo encaixe na canção "Never The Machine Forever".


As músicas "Tighter and Tighter" e "Overfloater" são 02 ótimos exemplos da banda querendo flertar com as suas influências no blues. A canção "Switch Opens" é uma coisa retorcida, tornando-se épica e quase cômica ao ouvir Cornell heroicamente enxertar uma melodia para a canção orgulhosamente atonal do baterista Matt Cameron, "Applebite".


Correr pelo álbum inteiro lhe traz a sensação de uma tensão nodosa, porque é o som de 04 caras em uma sala que não estão dispostos a desenrolar qualquer nó que seja para agradar ao outro - e isso é muito respeitável e emocionante. Esses caras não estavam “escorregando” pela música, eles estavam tocando de propósito por essa linha nodosa de cada um. Eles simplesmente não estavam dispostos a enfeitar as bordas sonoras desta vez.


O disco “Down on The Upside” retém todas as digressões e rabiscos que foram cortados do álbum “Superunkown”, sendo que a falta de brevidade foi percebida como uma fraqueza... Mas não é! Não é menos ambicioso do que “Superunkown”, é mais, muito mais! Mas, em meados dos anos 90 (pós-NIRVANA), a ambição esfarrapada não era geralmente bem vinda...


Mas sendo um ótimo disco e muito respeitável, para mim, uma das canções favoritas desse álbum seria a música que encerra o mesmo, a curta "Boot Camp". É uma das grandes assinaturas do disco e foi a 1ª música que resolvi escutar quando fiquei sabendo daquela terrível notícia. Não é quase uma música, é mais um esboço de miniaturas, abrindo com a banda lentamente travando um dos seus familiares perfis, perfeitamente calibrado com marcas registradas de psicodelia a lá BEATLES. E então, de repente, surgindo como um pássaro voando alto acima de um deserto sufocante dos arpejos vorazes da guitarra de Kim Thayil, aparece aquela voz... Aquela voz do caralho!!! Essa voz maravilhosa e incrível que nos ultrapassará todas as explosões através das nuvens e finalmente, neste álbum lindamente caótico, você consegue sentir algum tipo de paz.


O disco soa inteiramente etéreo e catártico.


Após uma inspeção mais próxima das letras, a música “Boot Camp” pode ser sobre qualquer coisa, mas trata da questão: paz. Trata-se de ficar preso, ter medo de revelar-se. Trata-se de querer algo mais - algo muito mais e constantemente. Faz com que a realidade do suicídio de Cornell não seja chocante – por ele estar nos dando placas de aviso - mas devastadoramente inevitável.


Há mais de 20 anos, um homem escreveu o seu próprio epitáfio, mas enterrado na última canção do disco em uma elegia despercebida...


Segue a tradução da canção “Boot Camp” junto com o áudio:


Eu devo obedecer às regras

Eu devo ser manso e legal

Sem encarar as nuvens

Eu devo ficar no chão

Em grupos de ratos

A fumaça está em nossos olhos

Como os bebês em exibição

Como anjos em uma gaiola

Eu devo ser puro e verdadeiro

Eu devo conter os meus pontos de vista

Deve haver outra coisa

Deve haver algo de bom

Tão distante

Bem longe daqui

E vou estar aqui pelo bem

Para o bem


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