Ninguém os teria culpado e certamente não era esperado, mas em 29 de setembro de 2009, ALICE IN CHAINS começou oficialmente uma das grandes histórias do seu 2º ato na história do rock, ao lançar o álbum de retorno do grupo, "Black Gives Way to Blue" (6º trabalho de estúdio).
Voltando no tempo, durante o início dos anos 90 o ALICE IN CHAINS emergiu como um dos quatro núcleos da cena de Seattle, muitas vezes creditado como: a explosão do grunge.
A banda teve um grande sucesso nos anos 90, com os vocais de Layne Staley muitas vezes lindamente combinados com os vocais do guitarrista Jerry Cantrell para entregarem alguns dos maiores sucessos da história do rock.
Chegando em 1996, a queda de Staley no vício das drogas reduziu a capacidade da banda de continuar e eles já estavam um pouco estagnados após o lançamento do álbum "Alice in Chains" em 1995 (5º trabalho de estúdio), sem nem mesmo terem feito uma turnê própria - e mesmo assim esse disco estreou em 1º lugar no ranking da Billboard.
Em 1998, Staley chegou a gravar os vocais em 02 músicas inéditas para uma coletânea do ALICE IN CHAINS, foram elas: "Died" e "Get Born Again", mas a banda nunca mais se reuniu para realizarem as turnês ou gravar um novo álbum de estúdio.
Foi em 2002 que Layne Staley veio a falecer por overdose de heroína e o grupo não havia se manifestado para querer continuar de alguma forma.
Numa entrevista passada para a revista Drum, o baterista Sean Kinney relembrou dos últimos momentos escassos que passou como uma banda ativa no ALICE IN CHAINS: "Layne Staley era o ponto focal da banda, assim como todos os cantores são, mas a verdade é que eram todos nós do grupo que participávamos ativamente nas composições das músicas... Mesmo assim, eu definitivamente tinha a minha mão firme no volante pois sabia que a banda estava caindo do penhasco".
Ele continuou: "E a razão pela qual recuamos de vez quando Layne faleceu, você sabe, quando você decide encerrar a carreira com 03 álbuns e 02 EP's que fizeram muito sucesso, não é realmente a melhor mudança a se fazer na carreira, certo? Mas fizemos isso porque nos amamos, não queríamos morrer em público e eu sei com certeza em meu coração que se continuássemos logo em 2002, eu não estaria fazendo essa entrevista com você... Isto simplesmente não estaria acontecendo".
Com a morte de Staley, a história da banda poderia facilmente ter terminado ali mesmo, apesar do ALICE IN CHAINS não ter se apresentado ao vivo desde 1996. Os membros da banda seguiram em frente com outros projetos, abordaram alguns dos seus próprios conflitos internos e lamentaram a morte de Staley antes de encerrarem o contrato com a gravadora em 2004.
Mas em 2005, uma boa causa reuniu os membros da banda novamente. Kinney entrou em contato com os membros sobreviventes sobre a ideia de fazer um show beneficente para as vítimas do desastre do tsunami de 2004. Junto com o compositor desde sempre do ALICE IN CHAINS, Jerry Cantrell, e o baixista Mike Inez, o trio foi acompanhado no palco por vários vocalistas convidados se revezando para levar as músicas da banda neste show beneficente.
Porém, essa apresentação de reunião desencadeou emocionalmente algo a mais na banda e o trio decidiu que tinha mais a dizer, eventualmente agendando uma turnê completa na sequência.
Eles só precisavam de alguém como membro fixo para levar os vocais de Layne Staley...
O vocalista/guitarrista da banda COMES WITH THE FALL, William DuVall, foi um dos convidados especiais para ajudar o ALICE IN CHAINS naquele show beneficente. DuVall já tinha uma amizade com Cantrell, pois o COMES WITH THE FALL havia sido a banda de abertura para os shows solo de Jerry Cantrell, além de DuVall ter participado da banda solo de Cantrell anos depois.
DuVall não foi inicialmente anunciado como o novo vocalista do ALICE IN CHAINS, com Cantrell declarando à MTV em 2006 antes dessa turnê de reunião: "Estamos inventando à medida que avançamos. É uma coisa exploratória e estamos apenas nos divertindo com isso. Gostaríamos de sair e tocar para as pessoas que nos apoiaram e amam a nossa música por todos esses anos. Só queremos comemorar o que fizemos e celebrar as lembranças que temos por Layne Staley". No entanto, Cantrell provocou: "Nós tocamos com alguns vocalistas que podem realmente trazer e adicionar as suas próprias coisas sem serem um clone de Layne. Não estamos interessados em pisar no rico legado de Layne Staley".
Eventualmente, DuVall emergiu desse período, com Cantrell e Kinney revelando que bastou 01 audição para ele conseguir o cargo de vocalista na banda.
Conforme entrevistas, Vinnie Dombroski, da banda SPONGE, também havia sido chamado para fazer o teste de audição para assumir o cargo de vocalista no ALICE IN CHAINS, mas foi DuVall quem realmente ficou com a vaga.
No decorrer da turnê de reunião, a banda continuou o que parecia certo até aquele ponto, onde decidiram criar novas músicas. Kinney havia dito nessa mesma entrevista: "Eu nunca telefonei para Jerry e ele nunca me ligou e disse: 'Hey, vamos juntar a banda novamente?' Estávamos dando cada passo extremamente de forma cautelosa e lenta, e apenas fazendo o que parecia certo no momento, sabe? Se é verdadeiro, estamos fazendo isso por motivos genuínos e estamos todos de bem com isso, então, podemos dar um pequeno passo".
"Você sabe, nenhum de nós estava falido para querer voltar com a banda. Ninguém de nós precisa ser um idiota para acariciarmos o próprio ego. Quero dizer, nós realmente não operamos assim e queríamos apenas que fosse bom, vindo de um lugar certo, se tratando de fazer novas músicas e seguir em frente".
"Nós nos unimos fazendo aquela turnê e nos entrosando musicalmente nos palcos", disse DuVall sobre a sua entrada no ALICE IN CHAINS numa entrevista passada para o jornal de Los Angeles, L.A. Times. "Mas obviamente houve uma história de fundo emocional que é muito pesada para todos nós aqui".
O grupo começou a compor as canções para o novo álbum em 2007 e eventualmente se juntou ao produtor Nick Raskulinecz no outono de 2008 para começar a gravar o que seria o disco "Black Gives Way to Blue" - primeiro no Studio 606 em Northridge, Califórnia (estúdio do FOO FIGHTERS) e depois no Henson Studios, em Los Angeles.
"Sendo um fã desde sempre do ALICE IN CHAINS, eu sei o que eu quero ouvir", disse Raskulinecz ao L.A. Times. "É um disco de performance, ok? Não há nenhum truque, somente aqueles caras tocando os instrumentos, cantando as suas partes e fazendo isso indefinidamente até chegarmos no que queríamos".
Antes de continuar com as novas e velhas músicas, a banda se encontrou com a mãe de Layne Staley e outros membros da família do saudoso vocalista, buscando aprovação deles para continuar. A mãe de Staley deu-lhes a sua bênção.
“Foi muito importante que estivesse tudo bem para eles”, disse a empresária da banda, Susan Silver. "No recomeço, houve muitos passos de bebê... Especialmente o primeiro ano, que foi uma cura tão profunda para todos".
Um dos principais passos dados foi o surgimento de Cantrell como uma voz mais proeminente ainda para a banda.
Embora a sua voz fosse frequentemente ouvida e às vezes apresentada em 1º plano durante a primeira era do ALICE IN CHAINS, Layne Staley é que era considerado o vocalista da banda.
Em entrevista para o site Aquarian, Cantrell havia afirmado que teve que se esforçar um pouco mais do que nunca nesta nova fase da banda: "Layne sempre me deu muita confiança para fazer isso, tipo, levar vocais solo nas canções e você pode ouvir que a cada álbum lançado nos anos 90, eu meio que começo a crescer nesse papel. Atribuo muito disso à confiança que Layne me deu e basicamente com ele apenas me dizendo: ‘Cara, você tem que cantar, porra! Essas músicas são suas, você escreve todo esse material excelente e não é como se eu não gostasse de cantá-las ou algo assim, mas são pessoais para você e você deveria cantá-las... Você consegue'. Sempre serei eternamente grato a ele por isso".
Agora, DuVall era o complemento perfeito para Cantrell, assim como Cantrell foi para Staley.
Ainda assim, havia um grande obstáculo pela frente para a banda - a aceitação dos fãs.
Já houve álbuns de reunião antes com outros grupos, mas por várias razões, muitas vezes era difícil para os álbuns de reunião corresponderem às expectativas dos fãs e com Staley não mais por perto e um vocalista desconhecido se juntando ao grupo, havia motivos para preocupação sobre o quê a nova fase do ALICE IN CHAINS iria trazer.
Mas a banda conseguiu andar nessa linha tênue de respeitar o seu legado e ao mesmo tempo começar algo novo. As novas músicas eram exclusivamente deles (aquele mesmo estilo), mas também poderia continuar a desenvolver o que eles começaram nos anos 90.
"É bom soar como você mesmo", disse Kinney quando entrevistado pela Billboard. "Na verdade, não é realmente tão difícil e eu sei que as pessoas estão maravilhadas que realmente soamos como nós mesmos... Eu entendo a apreensão inicial que foi, mas não é realmente um exagero soar como você sempre soou".
Os fãs foram apresentados pela primeira vez à nova era da banda através da música "A Looking in View", uma canção que deveria ser apenas uma prévia do novo material do grupo, mas que nos foi apresentada com mais de 07 minutos de duração. As rádios pegaram mesmo assim essa música para ser tocada e foi entusiasticamente abraçada pelos fãs. Alcançou a 12ª posição no ranking da Billboard e mais tarde foi indicada ao Grammy de Melhor Performance de Hard Rock.
Cantrell explicou sobre as letras da canção "A Looking in View": "A música basicamente fala de uma série de coisas que o mantém 'enrolado' por dentro. Uma cela que nós mesmos construímos com uma porta destrancada na qual escolhemos permanecer dentro dela, focando a nossa atenção para dentro em vez de alcançar um mundo muito maior... Acho que isso é comum em todos nós e é engraçado como lutamos para nos agarrar a um 'osso' e como é difícil largá-lo para seguir em frente".
"A Looking in View"
As músicas "Acid Bubble", "Last of My Kind" e "Private Hell", todas lideradas por um vocal angustiado de DuVall, garantiram que o álbum "Black Gives Way to Blue" fosse ouvido de cima a baixo, enquanto a solene canção que leva o nome do disco, encerra o álbum colocando o carimbo perfeito no final da obra.
O disco "Black Gives Way to Blue" definitivamente abordou a morte de Layne Staley, servindo a uma catarse tão emocional para Cantrell que ele ficou fisicamente doente enquanto gravava o álbum: "Eu fiquei mortalmente doente", Cantrell lembrou para a revista Guitar World. "Eu tinha uma enxaqueca misteriosa, uma dor física intensa e até fiz uma punção lombar para examinar certas coisas. Os médicos nunca conseguiram encontrar nada de errado comigo e senti que estava vomitando toda essa dor não digerida de perder Layne Staley".
Aproveitando o ensejo, na canção "When The Sun Rose Again", parece que Layne Staley está fazendo os back-vocais na música (assim como em grande parte desse álbum...)
Eles também incluíram um convidado de alto perfil, com Elton John concordando em tocar piano para a música "Black Gives Way to Blue". Cantrell conheceu John em Las Vegas e decidiu ligar para ele para ver se estaria interessado para uma participação especial no disco: "Ele entendeu perfeitamente", disse Cantrell ao site Noisecreep. "Ele falava, tipo: 'Eu entendo o que a música fala, cara, eu acho que é um sentimento lindo e acho que é uma coisa adorável. Eu amo isso e quero tocar nessa canção'".
Olhando em retrospecto para essa música, Cantrell complementou: "Eu estou muito, muito orgulhoso dessa música. Estou orgulhoso dela por uma série de razões. É tudo uma questão de encarar, possuir as suas coisas, tipo, possuir as suas coisas boas e ruins, continuando a caminhar e viver uma vida".
"Black Gives Way to Blue"