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  • by Brunelson

Ramones: resenha do disco "Too Tough to Die" pelo jornalista da revista Rolling Stone


Ramones

Em 1984, a banda RAMONES lançava o seu 8º álbum de estúdio, “Too Tough to Die”.


E chegando ao ano de 2002, esse disco havia sido relançado com a adição de músicas inéditas, conhecidas e 01 cover, através de demos e sobras de estúdio. Além do livrinho que acompanha o álbum que mostra várias fotos inéditas incluídas e uma resenha escrita pelo jornalista da revista Rolling Stone, Billy Altman.


Então, segue logo abaixo a resenha traduzida na íntegra sobre o álbum “Too Tough to Die”:




Assim como o título desse álbum já diz, dificilmente poderia existir outro nome mais apropriado para aquele momento...


Já havia se passado 01 década desde que os 04 filhos impetuosos do distrito de Queens, New York, haviam estreado pela 1ª vez em cima de um palco - e que havia sido no clube CBGB, localizado no centro de Manhattan onde os RAMONES mergulharam e dispararam a formação de bolhas da frase, "Hey Ho Let’s Go!”, vestidos em apropriadas roupas com camisas, jeans rasgado, tênis e jaquetas de couro preta.


Em última análise, foram voleios de abertura de uma nova revolução que ficou conhecida em todo o mundo como punk rock.


Com o lançamento do seu 8º álbum de estúdio em 1984, os RAMONES marcaram o seu aniversário de 10 anos como uma banda. E dado o que eles já haviam passado como indivíduos, como uma banda e como emblema de para-raios do punk, qual outra possível explicação poderia haver para a sua sobrevivência - que era no estilo “contra-todas-as-probabilidades” - do que o espírito invencível da entidade “o-todo-é-maior-do-que-a-soma-das-partes” que os RAMONES eram - quando na verdade tudo foi dito e feito simplesmente para ser “Muito 'Durão' Para Morrer” (que seria a tradução livre de “Too Tough to Die").


"Eu tenho tatuado em mim as palavras “Too Tough to Die”, você sabe, junto com um diabo segurando o seu tridente", divulgou o baixista Dee Dee Ramone no mês de Março/2002, apenas 03 meses antes do seu falecimento. "Porque é assim que eu sempre senti sobre nós, você me entende? Nós sempre sentimos que estávamos lutando por aquilo que acreditávamos e o nosso modo de luta era para não desistir... Especialmente durante esse período no início dos anos 80 onde estávamos passando por um momento difícil..., mas nós não estávamos nos rendendo".


Na verdade, o início da década de 80 foi áspero para os RAMONES. Enquanto que a década havia começado com o promissor álbum “End of The Century” (5º disco, lançado em 1980 e gravado pelo famoso produtor Phil Spector, e que havia sido o álbum mais bem sucedido até aquele momento dos RAMONES no mainstream, atingindo o ranking de nº 44 nas paradas da Billboard), os 02 próximos discos de estúdio: “Pleasant Dreams” (6º disco, lançado em 1981 e que foi gravado pelo veterano músico e ex-vocalista/guitarrista da banda britânica 10cc, Graham Gouldman) e “Subterranean Jungle” (7º disco, lançado em 1983 e que foi gravado, em parte, por mais um produtor associado aos anos 60, o rei do rock “chiclete” que escreveu e produziu vários hits que deram fama à banda TOMMY JAMES & THE SHONDELLS, Ritchie Cordell), haviam se tornados em decepções no mercado musical.


Além disso, entre o movimento crescente do punk hardcore liderado pela banda BLACK FLAG, de Los Angeles, e a ascendência de bandas como o THE CLASH na Inglaterra e a banda U2 na Irlanda, mais parecia que os RAMONES estavam correndo o perigo de serem ultrapassados pela sua própria descendência espiritual. Enquanto que ninguém duvidava da sua primária e enorme influência sobre a história do rock'n roll, o próprio senso de propósitos da banda também estava se tornando em algo indiscutivelmente nublado.


Internamente, a banda estava recebendo mais do que a sua quota de problemas. Marky Ramone, baterista da banda desde que o membro original (Tommy Ramone) havia parado de se apresentar com a banda em 1978, havia sido demitido do grupo no início de 1983, logo quando o álbum “Subterranean Jungle” havia sido gravado - devido a problemas com o álcool. Sendo que Marky, então, foi substituído pelo ex-integrante da banda VELVETEEN, Richie Reinhardt (que nessa banda ele era chamado de Richie Beau, sendo que agora o seu novo nome era Richie Ramone). O novo baterista estava apenas começando a se encaixar na banda quando no mês de Agosto/1983, o guitarrista Johnny Ramone foi ferido e acabou na “prateleira” por um bom número de meses, se recuperando de uma fratura no seu crânio.


Este imprevisto de tempo foi levado a um exame de consciência por todos os interessados e uma vez que a banda começava a se preparar para o seu próximo álbum de estúdio, um novo sentimento se instalara na consciência coletiva de todos os membros do grupo. "Houve apenas algumas vezes desde 1979, que nós raramente nos comunicávamos uns com os outros", lembrou Johnny. "Mas como nós, nesta época, realmente nos preparamos para criar o álbum "Too Tough to Die", ou seja, nós estávamos focados no mesmo sentido e isso sim fez a diferença. Nós sabíamos que precisávamos voltar para um tipo de material mais pesado, o que realmente acabou se tornando conhecido nesse álbum. O material mais comercial da banda realmente não havia funcionado e nós sabíamos que tínhamos ainda muita coisa de melhor a apresentar em relação às coisas que achávamos que já era o nosso melhor".


Dee Dee adicionou: "Eu estava feliz que havia tentado fazer coisas diferentes na banda. Por exemplo, eu realmente gostei de trabalhar com Graham Gouldman em nosso 6º álbum de estúdio, “Pleasant Dreams”, porque ele era um baixista como eu, sendo que ele me ensinou muitas coisas... Mas todos nós sabíamos que a banda realmente precisava criar um álbum mais no estilo 'mental' de ser dos RAMONES, assim como foi feito nos primeiros álbuns do grupo. Algo que falava de dentro do nosso cérebro e que soasse natural também".


Parecia lógico então, que se a banda estava tentando voltar para o lugar onde eles sempre pertenceram, eles então iriam pedir ajuda sônica para o já mencionado Tommy Ramone - que em seu alter ego como Tommy Erdelyi, havia dobrado as suas funções como co-produtor e baterista da banda nos 03 primeiros álbuns de estúdio e como produtor somente no 4º disco. "Nós sempre nos sentimos mais confortáveis com Tommy e com o nosso engenheiro de som/produtor, Ed Stasium", disse Johnny. "Tommy sempre soube como o som dos RAMONES deveria soar e eu acho que nós sempre soamos o nosso melhor nos álbuns em que Tommy havia participado também".


Dee Dee concordou: "A coisa toda do 'menos é mais', foi Tommy quem teve uma grande parte nisso", observou o baixista. "Ele sempre foi capaz de traduzir a visão ideal que nós tínhamos em mente de uma nova canção - quando apresentávamos a ele em gravação demo - para depois nos instruir corretamente quando iríamos grava-la em estúdio".


"Eu estava ficando muito claustrofóbico com as turnês e isso realmente me desgastou... É por isso que eu saí da banda", explicou Tommy, referente à sua decisão em deixar o grupo em 1978. "Eu queria apenas produzir e ajudar a escrever as canções, sendo que eu fiz isso por um bom tempo ainda..., mas depois eu não ficava mais direto ao redor dos caras da banda o tempo todo, você me entende? Com a mesma frequência de quando eu era o baterista deles... Eu ainda comecei a me envolver em outros projetos e naturalmente acabei ficando um pouco afastado dos caras da banda. Mesmo assim, eu sempre ia vê-los quando os RAMONES estavam se apresentando aqui em New York. Um dia, Dee Dee havia me telefonado e perguntou se eu queria trabalhar com eles novamente e disse, 'claro!', foi simples assim... Pelo menos, Dee Dee começou simples assim...", disse rindo, Tommy.


No final da primavera/1984, enquanto que a banda e Tommy começavam o trabalho de pré-produção no estúdio Media Sound, New York (mesmo estúdio onde foi gravado o 3º, 4º e o 6º álbum dos RAMONES), o gerente do grupo nessa época, Gary Kurfirst, na esperança de obter algum “hit” de sucesso para o semblante dos RAMONES, se aproximou de outro dos seus clientes para que o mesmo lhe ajudasse a trabalhar com a banda: o músico Dave Stewart da dupla musical britânica, EURYTHMICS.


"Nós realmente não queríamos outro produtor envolvido", lembrou Johnny. "Então, nós concordamos que Dave Stewart poderia gravar 01 música somente, enquanto que nós iríamos sozinhos fazer o resto do álbum..., e como vimos, a proposta se encaixou".


A canção de Dee Dee, "Howling at The Moon”, possui um refrão contagiante para ser cantado em coro, com uma letra temática no estilo Robin Hood de ser (onde uma parte da letra diz: "Eu quero roubar dos ricos para dar aos pobres") e que recebeu uma produção de pleno direito demonstrando o ambicioso manejo de Dave Stewart - que trouxe ainda o tecladista da banda TOM PETTY & THE HEARTBREAKERS, Benmont Tench, para adicionar uma atmosfera à música (essa canção foi de fato lançada como single, completo ainda com um vídeo clip de acompanhamento, mas como a maioria das gravações dos RAMONES, este single havia sido rejeitado e banido pelos sempre nervosos DJ’s de rádio e programadores de TV).


Como se viu, a música "Howling at The Moon" era apenas a ponta do iceberg das composições de Dee Dee para o disco, que o mesmo ainda teve uma mão inspirada para escrever e compor 09 das 12 canções que acabaram entrando em “Too Tough to Die”. "Lembro-me que Joey não estava se sentindo bem enquanto nós estávamos se preparando para gravar o álbum", observou Dee Dee, sobre os recorrentes problemas de saúde do vocalista da sua banda e pela carga maior em ter que compor a maioria das músicas do disco. "Johnny e eu já havíamos estado juntos em vários estúdios por muitas vezes, mas o tipo de coisa que nos desencadeava um ‘insight’ (aquela lâmpada que 'acende' em nossa cabeça), nunca mais havia acontecido conosco..., sendo que era a 1ª vez que isso estava acontecendo com a gente novamente depois de um longo tempo, você me entende?"


Esforçando-se para voltar ao básico, o baixista e o guitarrista voltaram para o seu antigo modo de escrever músicas juntos. "Eu vinha por cima com uma progressão de acordes e geralmente com um título", disse Johnny. "E uma vez, nós descobrindo os espaços que existiam para as palavras serem colocadas, Dee Dee era ótimo vindo por cima com as suas letras que se encaixavam nas músicas".


Essas letras, assim como evidenciadas não só pela canção "Howling at The Moon", mas também pelos cartões de entrada como as músicas "I’m Not Afraid of Live" e "Planet Earth 1988", exibiram a brotação de uma consciência social e uma preocupação sincera sobre o mundo como um todo, sentimentos estes que deixavam Dee Dee feliz por estar na banda se expressando do seu jeito e por ser compreendido por todos do grupo. "Eu estava começando a formar algumas opiniões sobre a necessidade de um pouco de paz no mundo", disse ele. "Eu podia sentir muita violência e hostilidade no ar e precisava tentar dizer algo sobre isso", o que ele certamente conseguiu.


As imagens angustiantes que a letra da música "Planet Earth 1988" nos proporcionam, provaram ser particularmente proféticas. Uma parte da letra diz: "A solução para a paz não está clara / A ameaça terrorista é um medo moderno... Morte, destruição, bombas em abundância / Os ricos estão rindo dos pobres / As nossas prisões estão cheias ao máximo / Discriminação contra os negros".


Assim como a importância em discutir sobre um assunto tão relevante como esse (paz no mundo), bem como o conteúdo lírico que o álbum nos apresenta em geral, o disco “Too Tough to Die” ainda nos mostra uma maturidade impressionante - sobrando espaço para algumas velhas piadas e incluindo a importante participação do guitarrista da banda punk SHRAPNEL, Daniel Rey, compondo junto com Joey a música "Daytime Dilemma", que fala sobre uma garota que pega o seu namorado lhe traindo com a própria mãe dela!


E assim, também se fez as músicas do álbum “Too Tough to Die” que voltaram de fato a se encontrar com a banda, ambos reivindicando pelas velhas glórias bem como se estendendo por novas direções. Com os fortes vocais de Joey Ramone liderando o caminho (testemunhem essa abordagem com o poder de perfuração do seu vocal na música "Chasing The Night"), a canção que abre o álbum, “Mama’s Boy”, e a última música do disco, “No Go”, refletem quase que uma inclinação ao estilo rockabilly dos anos 50.


Enquanto isso, o sapateado frenético das canções "Wart Hog" e "Endless Vacation" (ambas com a rara participação de Popeye com uma serra elétrica nas mãos, representado e liderado pelos vocais de Dee Dee) é uma demonstração de que os pirralhos de algumas bandas do gênero hardcore realmente não sabiam nada sobre os RAMONES.


E falando sobre raras espécies, a música "Durango 95" marcou a 1ª e única música instrumental dos RAMONES desde sempre, um ritmo especial galopante e fantasmagórico da guitarra de Johnny para a música de menos de 01 minuto de duração.


Até mesmo o novo baterista (Richie Ramone) também entrou no ato das composições contribuindo com tons escuros para a adequadamente paranoica canção, "Humankind".


Lançado no mês de Outubro/1984, o álbum "Too Tough to Die" corajosamente proclamou a contínua viabilidade e relevância dos RAMONES. "Um monte de gente já havia começado a desistir de nós", Joey notaria anos mais tarde. "Mas o disco 'Too Tough to Die' nos reintegrou e nos colocou de volta ao topo".


Se a relação dos RAMONES com o mainstream ainda era, digamos assim, de uma tal forma que eles ainda não poderiam deixar de se sentirem totalmente sozinhos - assim como o protagonista Dee Dee escreveu nas letras da música "Danger Zone" - eles também entenderam que a missão que se comprometeram a realizar desde o início de carreira, chegando agora em 1984, havia se tornado em um estado quase que santificado. "Apesar de às vezes ter sido muito difícil para nós continuarmos, nunca nos sentimos que iríamos nos tornar em mártires do punk rock", afirmou Dee Dee. "Não importasse o que estava acontecendo em torno de nós, tentamos sempre compor e tocar de uma forma direta e verdadeira".


Como ele mesmo proclama a sua afirmação de propósitos na letra da música que leva o mesmo nome do álbum: "Eu não falo contos / Eu não minto ... Aureola em volta da minha cabeça / Muito 'durão' para morrer”.


Ouvindo esse álbum quase 20 anos depois, é claro que a música dos RAMONES e o seu legado permanecem vivos até hoje...


por: Billy Altman (escritor e jornalista da revista Rolling Stone).


Ano: 2002.


Track-list:


1- Mamas' Boy

2- I'm Not Afraid of Life

3- Too Tough to Die

4- Durango 95

5- Wart Hog

6- Danger Zone

7- Chasing The Night

8- Howling at The Moon

9- Daytime Dilemma

10- Planet Earth 1988

11- Humankind

12- Endless Vacation

13- No Go


* Bonus Tracks


14- Street Fighting Man (cover ROLLING STONES)

15- Smash You

16- Howling at The Moon (demo)

17- Planet Earth 1988 (vocals Dee Dee Ramone)

18- Daytime Dilemma (demo)

19- Endless Vacation (demo)

20- Danger Zone (vocals Dee Dee Ramone)

21- Out of Here

22- Mama's Boy (demo)

23- I'm Not an Answer

24- Too Tough to Die (vocals Dee Dee Ramone)

25- No Go (demo)

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