Sonic Youth: guitarrista Lee Ranaldo comenta sobre a influência do Grateful Dead
by Brunelson
15 de nov. de 2020
4 min de leitura
A combinação de Thurston Moore (vocalista/guitarrista), Kim Gordon (vocalista/baixista), Steve Shelley (baterista) e Lee Ranaldo (guitarrista), fez do SONIC YOUTH uma força imparável que redefiniu o rock alternativo para sempre e uma das bandas responsáveis por abrirem a porta chamada "grunge".
Os pioneiros de New York tiveram as suas influências de cantos inesperados das pessoas que os inspiraram de maneiras não convencionais. Um desses nomes era a banda GRATEFUL DEAD, um grupo que Lee Ranaldo admirava por causa de sua atitude inabalável em relação à música.
Como pioneiros da paisagem musical underground no início dos anos 80, SONIC YOUTH emergiu ao longo dos anos como uma das bandas de rock alternativo mais influentes e queridas do planeta. Juntos, eles inadvertidamente marcaram o ritmo de um novo gênero musical, um gênero que inspirou muitas bandas como o DINOSAUR JR., NIRVANA, PAVEMENT, BECK, WEEZER e incontáveis outras.
Eles criaram um som e uma referência que define o grupo - sem firulas. Quando você cria o seu próprio som distinto, a influência vem de diferentes quadrantes e é por isso que a banda GRATEFUL DEAD significou tanto para Lee Ranaldo.
Ouvir o álbum "Europe '72" do GRATEFUL DEAD acabou sendo um momento de afirmação na vida para o guitarrista do SONIC YOUTH, Lee Ranaldo. Quando ele ouviu esse disco ainda como um adolescente, algo instantaneamente clicou dentro dele.
O álbum "Europe '72" é um disco triplo ao vivo que cobriu a turnê do GRATEFUL DEAD na Europa em abril e maio daquele ano. A turnê foi tão cara e logisticamente complicada que a gravadora do GRATEFUL DEAD se certificou de que toda a turnê fosse gravada, com os destaques entrando num álbum ao vivo que recuperaria os custos da turnê. Ele então se tornou um dos seus discos de maior sucesso comercial e aclamado pela crítica, bem como um dos álbuns ao vivo definitivos na história do rock.
Ranaldo, que um tempo atrás foi convidado pelo site Pitchfork (o mesmo que tinha concedido nota "0" para o álbum do SONIC YOUTH em seu lançamento, "NYC Ghosts & Flowers", 11º disco, 2000, e que depois se retratou em nota oficial corrigindo a sua avaliação) para passar por diferentes momentos de sua vida e dizer qual o álbum mais importante para ele, o guitarrista citou este álbum ao vivo do GRATEFUL DEAD como uma época em que nos seus próprios 15 anos de idade estava testemunhando algo novo na música.
“Aquele foi um momento estranho em minha vida, porque eu tive muitas influências, mas não tinha realmente classificado as mais fortes em mim”, Ranaldo destacou na entrevista.
Ele continuou: “'Europe '72' foi um álbum super influente cheio de músicas fantásticas e com uma musicalidade experimental incrível! Sempre valorizei esses dois aspectos no que o SONIC YOUTH fez ao longo dos anos, ser capaz de ser muito abstrato e muito concreto dentro de uma mesma música”, percebendo sobre como ele vê semelhanças entre os dois grupos.
“Esse disco foi muito importante pra mim porque massageava estes 02 sensores, além de provavelmente teve muito a ver com as drogas e com o aumento da consciência adolescente. Na época, a noção do uso de drogas não era toda somente com intuito 'festeiro', se é que você me entende, mas sim um indicativo de uma busca por algum tipo de caneta Technicolor além do preto e branco da vida cotidiana, tipo uma qualidade de busca interior que levou muitas pessoas daquela geração para estradas inovadoras, musicalmente falando, bem como para becos sem saída do vício”, acrescentou Ranaldo honestamente.
A referência de Ranaldo sobre o conceito de consumo de drogas é interessante, especialmente porque a sua visão sobre o assunto é capaz de ampliar a consciência ao invés de ter uma atitude de "festeiro" como ele mesmo citou.SONIC YOUTH nunca foi uma banda com a estampa de drogados ou junkies, o que os faziam sobressair criando músicas noise e viajantes como "caretas", em comparação aos seus contemporâneos com fama de uso de drogas e compondo canções com a fórmula de praxe "verso-refrão-verso-refrão-solo-refrão" - conforme Ranaldo comentou em recente entrevista a Gastão Moreira.É seguro dizer que Ranaldo conseguiu eliminar o consumo de drogas do seu sistema antes mesmo de formar o SONIC YOUTH e isso compensou a maior parte do relacionamento da própria banda com as drogas.
O que fez ouvir GRATEFUL DEAD naquela tenra idade foi abrir novos limites para Ranaldo, áreas que antes ele não sabia que existiam e o atraiu para este mundo de experimentação. O tempo que ele passou como um adolescente experimentando alucinógenos, transformou Ranaldo em um universo de cores, sons e sentimentos que ele nem mesmo saberia que existiam de outra forma.Mesmo que um Lee Ranaldo de 15 anos de idade não soubesse na época como esse álbum mudaria a sua vida, o espírito do GRATEFUL DEAD estaria preso a ele desde então. Para finalizar, sabemos que o SONIC YOUTH e GRATEFUL DEAD não compartilham musicalmente muito em comum na superfície, mas aquela atitude pioneira de quebrar o livro de regras em relação à música é algo que Ranaldo pegou inconscientemente quando era um adolescente escutando o disco "Europe '72".Lee Ranaldo sempre empresta a sua voz em pelo menos uma música do SONIC YOUTH em seus álbuns de estúdio, uma bela voz radiofônica que não faz questão de se destacar, apenas de extravasar...Confira o áudio de estúdio da música "Walkin' Blue" com Lee Ranaldo nos vocais, lançada no último álbum do SONIC YOUTH, "The Eternal" (16º disco, 2009):
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