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  • by Brunelson

Smashing Pumpkins: “não estamos tentando recriar nada do que já fizemos antes"


As ressurreições na história do rock são difíceis.

O vocalista/guitarrista do SMASHING PUMPKINS, Billy Corgan, está ciente de que eles são especialmente complicados quando você é visto como aquele que sempre bateu de frente com a imprensa e jornalistas, além de ter levado boa parte da carreira carregando sozinho a banda sendo o único membro original.

Porém, uma 2ª vinda (referente ao retorno dos membros originais em 2018, somente a baixista D'arcy não voltou) pode produzir uma música mais produtiva e criativa - ousamos dizer, talvez no mesmo nível da 1ª vez. Também dá aos membros da banda a chance de reescrever a sua história ao montar um segundo ato ainda mais intrigante.

“Eu compararia a aquele momento em sua vida onde você percebe que precisa da sua família”, disse Corgan, 53 anos, em uma entrevista por telefone de Chicago, sua cidade natal, para o jornal canadense Toronto Sun. “Eles podem tê-lo deixado louco no passado (membros da banda), mas eles estavam lá por você de uma forma que alguém que você conheceu em algum lugar ao longo da vida, não poderia estar... Acho que chegamos a esse ponto na vida”.

Nos anos 90, SMASHING PUMPKINS era uma banda que caiu na rede grunge da imprensa, um grupo multiplatinado que compôs alguns dos maiores sucessos da época, incluindo as músicas "Today", "Cherub Rock", "Bullet with Butterfly Wings" e "Tonight, Tonight", mas após o lançamento do álbum "Machina The Machines of God em 2000 (5º disco), os rockers alternativos se separaram amargamente, com Billy Corgan perseguindo os seus próprios álbuns solo e revivendo diferentes iterações do SMASHING PUMPKINS de 2007 à 2015, onde nenhum dos álbuns lançados neste período experimentou o sucesso comercial dos primeiros anos da banda.

Com isso, Corgan estava pronto para aposentar de vez o SMASHING PUMPKINS.

“Na verdade, eu tinha decidido que estava pronto para isso”, disse ele, referindo-se ao período que se seguiu após o término da turnê do álbum "Monuments to an Elegy" (8º disco, 2014). “Eu não ia fazer um grande anúncio, só iria apenas parar e choramingar".

Foi quando nos meses que se seguiram em 2016, o guitarrista original, James Iha, que junto com o baterista original, Jimmy Chamberlin (retornando à banda já em 2015), aceitaram o convite de Corgan para não enterrarem o SMASHING PUMPKINS de vez.

“Foi mais ou menos na época em que tomei essa decisão interna de que iria aposentar o SMASHING PUMPKINS e não havia mais nada que eu poderia fazer, quando, do nada, James Iha entrou em contato comigo. Ele me escreveu do nada e isso abriu a porta para a possibilidade de revisitá-lo”.

Quando o 30º aniversário do SMASHING PUMPKINS se aproximava em 2018, Corgan abordou a ideia de uma turnê de reunião e até convidou a baixista original, D'arcy Wretzky, para retornar ao grupo, mas ela se esquivou literalmente. Antes que Corgan percebesse, a banda, acompanhada pelo fiel guitarrista Jeff Schroeder desde 2007 e o baixista Jack Bates desde 2015, estava de volta ao estúdio gravando canções inéditas com o produtor superstar, Rick Rubin, para o álbum de retorno da formação original, "Shiny and Oh So Bright, Vol. 1" (9º disco, 2018).

Mas isso foi apenas o começo. No verão de 2019, a banda marcou outra rodada da turnê de reunião, que foi rapidamente seguida por outra explosão de letras e gravações angustiantes que resultaram em 20 músicas das quais compõem o novo álbum duplo temperamental do SMASHING PUMPKINS, "Cyr" (10º disco, lançado nesta sexta-feira passada, 27/11/2020).

“Não estamos tentando recriar nada do que já fizemos e estou muito orgulhoso disso”, disse Corgan.

Esta encarnação mais amigável do SMASHING PUMPKINS também viu a banda abraçando alegremente o seu passado. Com os seus planos de turnê para 2020 marginalizados pela pandemia, os ícones do rock alternativo já estão preparando uma sequência para o álbum "Mellon Collie and The Infinite Sadness" (3º disco, 1995), que ficou no topo das paradas no mundo inteiro.

“Estamos trabalhando nisso agora”, diz ele. “São 33 músicas, então, é um empreendimento enorme. Esta será a próxima coisa que lançaremos depois do álbum 'Cyr'”.

Será uma experiência musical subsequente que ele lançou nos anos 90, complementou Corgan.

“A ideia já estava lá nos anos 90 e se tivéssemos continuado depois do álbum 'Machina The Machines of God', eu teria feito algo”, diz ele. “Mas depois da separação, parecia uma ideia que nunca iria acontecer. Em essência, seria o 3º ato de um filme que nunca seria realizado, mas com a banda de volta todos juntos, eu disse a eles que era algo que gostaria de fazer”.

A reunião o fez pensar no passado e na banda que desmoronou sob essas ambições elevadas há muitos anos, mas Billy Corgan não "mora" mais lá já faz muito tempo.

“Eu pensei sobre isso porque realmente acho que foi um erro terminar”, ele diz, suavemente. “Mas é como uma daquelas coisas em que você se pergunta: ‘E se a banda não tivesse terminado naquela época?’ Tanta coisa saiu dessas decisões que é quase impossível retroceder o que teria sido diferente”.

Em uma pausa na gravação, Corgan falou sobre: por que o momento atual com o SMASHING PUMPKINS é mais especial do que antes; apreciando o legado da banda; e por que ser desprezado pelo Rock and Roll Hall of Fame não o incomoda.

Confira a entrevista de Billy Corgan ao jornal Toronto Sun:

Jornalista: O álbum de retorno com os membros originais em 2018, "Shiny and Oh So Bright, Vol. 1", apresentou apenas 08 músicas e quando assisti um show de vocês em 2019, parecia que eu estava vendo o SMASHING PUMPKINS pela 1ª vez. Musicalmente, aonde você queria ir agora com o álbum "Cyr"?

Billy Corgan: O meu principal argumento dentro da banda é que precisávamos voltar ao caminho de fazer novas músicas da mesma forma que fazíamos quando éramos jovens, tipo: "Vamos apenas fazer músicas que sejam empolgantes para nós. Não vamos ficar presos em como deve soar ou quais são as expectativas". Então, eu acho que o álbum realmente representa apenas seguir esse caminho de empolgação e não ficar preocupado com as consequências. Alguns dos discos que fizemos que os ouvintes gostaram, estávamos dispostos a correr o risco de que as pessoas não gostassem deles.


Jornalista: Ouvir o disco "Cyr" me lembrou da minha primeira experiência ao ouvir o álbum "Adore" do SMASHING PUMPKINS (4º disco, 1998). Porém, a banda parece estar disposta a ir além musicalmente aqui no álbum "Cyr" e experimentar muitos sons diferentes...

Corgan: Nós perseguimos qualquer que fosse a ideia mais emocionante, por mais longe que fosse a ponto de quase gerar um desconforto. Queríamos chegar a um lugar onde você realmente não sabe o que está fazendo e então, esperançosamente, nossos instintos iriam começar a partir daí.


Jornalista: O disco "Cyr" é acompanhado por uma nova série animada em 05 partes chamada "In Ashes". Existe um tema abrangente para este álbum?

Corgan: Eu escrevi essas músicas antes de toda essa loucura (pandemia, eleições), mas de muitas maneiras, parece ser um reflexo da loucura. Não sei se foi presciente ou o quê. Eu acho que lida com alguma forma de distopia - uma alma contra algum tipo de coisa no mundo - mas esse tem sido um tema recorrente já faz muitos anos.


Jornalista: Quando você soube que a magia inicial entre você e James Iha estava de volta?

Corgan: Assim, quando trouxe a banda de volta em 2007, a questão principal era sempre: "Por quê? O que significa ter uma banda com esse nome se não são as mesmas pessoas?" A música não podia simplesmente ser ouvida, sabe? Sempre foi ouvido pelo prisma de quem estava lá ou quem não estava. Algo sobre estarmos juntos de novo levantou essa nuvem e talvez tenha restabelecido a ideia de voltar a forma de como abordamos uma canção pela primeira vez.


Jornalista: Foi difícil lutar contra o legado da banda durante esses anos enquanto você tentava criar uma nova versão do SMASHING PUMPKINS?

Corgan: Foi e eu não pensei que seria. Se você me perguntasse lá em 2000: "Ok, você está fora da banda. Quanto isso vai ser um problema em sua vida diária?" Eu teria respondido: "10%". Mas de alguma forma, tornou-se um problema de 50%. Parte disso sou eu e a minha relutância em ver por que isso era importante para as pessoas. Se você já viu o nosso documentário, "If All Goes Wrong" (2008), verá que estávamos tocando longas jams, músicas desconhecidas e lados-b nos shows e o público não reagiu bem a elas e ficamos totalmente chocados.


Jornalista: Lembro que você repreendeu as pessoas na plateia num show aqui em Toronto, acho que mais de 01 década atrás, por pedirem que você tocasse a clássica canção "Cherub Rock".

Corgan: (risos) Esse foi o começo da minha reação... Em minha mente artística, a autoimolação é um ato vencedor. Ninguém iria definir o SMASHING PUMPKINS, exceto eu. Costumava dizer às pessoas: "Eu construí isso e vou explodi-lo quando quiser".


Jornalista: Com o 2º ato da banda em pleno andamento, como você manteve essa centelha viva?

Corgan: Acho que apreciamos mais o que todos trazemos para a mesa e isto é um reconhecimento muito profundo. Chegamos ao ponto em que precisamos uns dos outros e podemos nos apoiar um no outro, e está tudo bem, sabe? Há algo lá que é mais importante do que a banda e essa é a base sobre a qual toda a loucura do que aconteceu no início foi construída.


Jornalista: É mais especial desta vez?

Corgan: Acho que são duas experiências diferentes. A primeira vez foi como se apaixonar pela primeira vez. Tudo era tão novo. Tenho uma memória muito distinta de se apresentar aqui em Toronto nos anos 90... Lembro de estar no palco e todos os banners do time de hóquei da cidade estavam erguidos e eu aprecio esse tipo de história. Tocamos no Madison Square Garden em New York e no Forum em Los Angeles, e você só imaginava tocar nesses lugares somente uma vez na vida. A propósito, 04 anos antes de tocarmos nesses lugares, eu estava trabalhando em uma loja de discos e não tinha perspectiva nenhuma (risos). Hoje, há mais satisfação por termos sobrevivido e as pessoas ainda se importam e estão nos ouvindo. A música é boa e o relacionamento é bom, então, é um nível diferente de realização. Um é mais brilhante, mas acho que este é mais satisfatório.


Jornalista: Pra mim, a entrada em cena do SMASHING PUMPKINS foi uma coisa meteórica. Como você se ajustou ao enorme sucesso que teve após o lançamento do álbum "Siamese Dream" (2º disco, 1993)?

Corgan: Nós meio que não nos ajustamos... Acho que só foi melhorado pelo fato de estarmos trabalhando muito, mas olhando para trás, vejo que realmente nos afetou. Você está trabalhando o tempo todo e num minuto você está se apresentando num clube noturno e no próximo minuto você está se apresentando numa arena gigante. Quando terminamos a turnê do álbum "Gish" (1º disco, 1991), voltamos ao estúdio e gravamos o álbum "Siamese Dream". Então, quando esse disco estava pronto e fizemos toda a turnê dele, nós voltamos ao estúdio e gravamos o álbum "Mellon Collie and The Infinite Sadness" e logo voltamos para a estrada e viajamos por 22 meses. Olhando para trás, isso nos afetou e também os nossos relacionamentos de uma maneira que nunca poderíamos ter previsto. Acho que se há algum arrependimento é que não sabíamos o que essa pressão faria a nós. Eu gostaria que tivéssemos feito um trabalho melhor cuidando uns dos outros durante esse tempo, em vez de vir um em direção ao outro para atacar... Apenas seguimos direções diferentes e isso é parte do que causou muitos problemas depois na banda.

Jornalista: Eu imagino que depois do disco "Mellon Collie and The Infinite Sadness" você teve muitos representantes de gravadoras tentando guiá-lo em uma determinada direção...

Corgan: Era todo o clichê ruim do SPINAL TAP que você poderia imaginar.


Jornalista: Como você resistiu a isso e não se repetiu musicalmente?

Corgan: Eu estava saindo de um ponto alto com a turnê do álbum "Mellon Collie and The Infinite Sadness" e então, a próxima coisa que eu sabia era que havia muita negatividade. Eu estava acostumado a ser convidado para coisas e de repente não éramos mais convidados. Foi como se tivéssemos sido expulsos de algum tipo de reino (risos). Parecia estranho... O que é estranho agora é como os artistas hoje em dia fazem o que fazíamos o tempo todo. Miley Cyrus está literalmente mudando as direções musicais com quase todos os discos, mas na época nós éramos tratados como uma bizarrice grosseira. Nós dizíamos: "Olhe para os BEATLES ou LED ZEPPELIN e veja a mudança da sonoridade deles". E as pessoas respondiam sobre a nossa transição para o disco "Adore": "Como uma banda poderia fazer o maior álbum do mundo e depois seguir num caminho totalmente oposto?" Pra mim, isso é o cúmulo da estupidez. Era como se alguém estivesse atacando a sua inteligência, sabe? Éramos chamados de estúpidos porque nos afastamos da única coisa que todo mundo queria.


Jornalista: Você consegue ver a influência do SMASHING PUMPKINS nos artistas de hoje?

Corgan: Só agradeço porque sei por que eles estão fazendo isso.


Jornalista: Poucas outras bandas dos anos 90 ainda estão por aí. Você conseguiu apreciar a sua longevidade artística?


Corgan: Muito mesmo... Nem sempre fui a pessoa mais grata em público porque acho que estava sempre perseguindo o próximo, mas cheguei ao ponto em que sou tocado por essa questão. Talvez seja porque eu tenho filhos, mas eu aprecio mais o tempo das coisas, a mudança geracional e como as memórias das pessoas se formam... Quando você percebe que é parte da memória de alguém ou parte da sua experiência de vida e você significa algo para elas, eu recebo isso de forma muito humilde.


Jornalista: Presumi que a banda já estaria consagrada no Rock and Roll Hall of Fame, mas vocês ainda não estão. Você já se perguntou por quê?

Corgan: Essa é uma pergunta estranha de responder, porque não concordo com o processo pelo qual os jurados do Hall of Fame estão tomando as suas decisões. Então, se você não concorda com algo, é meio difícil reclamar se você não foi escolhido nesse processo. Demorou 15 anos para eles elegerem o KISS! Eles são, tipo, a 5ª banda que mais vendeu discos de todos os tempos e fazem música desde 1974. Como o KISS demorou tanto para ser eleito? JUDAS PRIEST ainda não foi eleito e como eles não foram? As pessoas que tomam essas decisões se baseiam em critérios com os quais eu não concordo. Quais são os critérios? É gosto? É impacto? São vendas? É longevidade? Ninguém sabe lhe dizer... No meu mundo, JUDAS PRIEST, BLACK SABBATH, KISS, DEEP PURPLE e RUSH são todos dignos de terem entrado no Hall of Fame logo no 1º ano de elegibilidade, mas a história da instituição diz que não.


Jornalista: Você escreveu com eloquência sobre a morte de Eddie Van Halen nas redes sociais. Perder alguém assim faz parar e perceber que você só tem alguns anos para dizer o que quer dizer musicalmente?

Corgan: Eu penso de forma diferente. Eu amo que vivemos em um mundo que quando um homem com a grandeza do brilhantismo de Eddie Van Halen morre, o mundo pode parar e dizer: "Ele era realmente especial". Eu amo este mundo em que vivemos.


Jornalista: Quais são os 05 álbuns de rock que significam mais para você?

Corgan: QUEEN ("Queen II"), BLACK SABBATH ("Master of Reality"), JUDAS PRIEST ("Unleashed in The East"), BEATLES ("Revolver") e Bob Dylan ("Desire").


Jornalista: Que conselho você daria ao seu eu mais jovem?

Corgan: Fique quieto (risos)... Não diga uma palavra.


Jornalista: Para finalizar e junto com isso, qual foi o melhor conselho que você já recebeu?

Corgan: O meu pai me disse: "Escreva as suas próprias canções". Ele sempre reclamava da banda em que fazia parte e de como não conseguia o que esperava do mercado musical. Quando ele me viu ainda jovem entrando na música, ele me disse: "Se você quiser ter uma opinião sobre o que vai acontecer com você, escreva as suas próprias canções". Esse é provavelmente o conselho mais sábio que já recebi na minha vida.

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