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  • by Brunelson

Radiohead: entrevista e matéria de capa da revista Spin de 2003


Confira a reportagem de capa que a revista Spin havia feito sobre o RADIOHEAD em julho de 2003, quando estavam na época lançando o seu novo álbum de estúdio, "Hail to The Thief" (6º disco).

Segue:

A banda de rock mais relevante da Terra e talvez a mais velada decide se abrir sobre o seu 6º álbum de estúdio, "Hail to The Thief", o que o título realmente significa e por que eles temem pelo nosso futuro.

Por anos, o RADIOHEAD tem sido conhecido como artistas frios e cortantes que fazem tudo - principalmente entrevistas - da maneira mais difícil. Então, por que eles agora estão agindo como um bando de caras comuns e tagarelas que simplesmente lêem muitos livros e temem pelo nosso futuro? Bom, o vocalista Thom Yorke e os seus colegas estão finalmente tentando se explicar.

E é melhor você ouvir...

Conhecer Thom é Fácil


Todo mundo vai lhe dizer que não é e eles estão todos errados - há pessoas que insistem que Thom Yorke é um sociopata misantrópico e que ele termina as entrevistas sem um bom motivo. Eles irão sugerir que a probabilidade dele falar francamente é aproximadamente a mesma dele desparafusar 02 parafusos do seu pescoço e remover uma placa cibernética, revelando repentinamente um endo-esqueleto de titânio que foi construído por androides espaciais futuristas.

Mas isso não é verdade.

Thom Yorke é estranho, mais ou menos... Mas você conheceu o lado mais estranho.


Ele é basicamente apenas um homem intenso de 34 anos de idade com o seu 1,66m de altura, que usa moletons com capuz e mangas muito longas para os seus braços e isso o faz parecer um aluno nervoso no jardim de infância. Ele não parece ter penteado o cabelo desde o álbum "The Bends" de 1995 (2º disco) e a sua barba parece indecisa, se é que isso é possível.

Mas aqui está o ponto principal: ele é um cara legal. Não exatamente gregário, mas educado. Ele não é mecânico nem messiânico. E é disso que todos parecem sentir falta dele e do RADIOHEAD como um todo. Eles podem fazer rock matemático transcendente, frágil e pré-apocalíptico para uma geração de fãs com visões futuristas, mas ainda são apenas um bando de caras comuns numa banda de rock.

Estou sentado com Yorke no restaurante de um hotel em Oxford, Inglaterra, chamado Old Parsonage. Ele chegou 20 minutos atrasado para a nossa entrevista, explicando que tinha que correr pra casa e fazer ioga porque estava “me sentindo um pouco estranho”. Ele está estudando o cardápio do restaurante e reclamando que está ficando sem opções para comer - além de ser vegetariano, ele parou de comer qualquer coisa feita com trigo, pois nos últimos 06 meses, ele teve uma grande erupção cutânea e acha que o trigo é o culpado. Por fim, ele decide comer tomates assados e feijões na manteiga, uma refeição que ele chama de “cara” (custou cerca de U$ 17 dólares). Estamos falando sobre política (mais ou menos) e seu filho de 02 anos de idade, Noah (mais ou menos), e pergunto a ele como esses dois assuntos se encaixam - em outras palavras, como se tornar pai mudou as suas crenças políticas e como isso afetou a composição do disco "Hail to The Thief", o 6º álbum de estúdio da banda de rock mais relevante do mundo.

A sua resposta começa previsivelmente, mas acaba rápida.

“Ter um filho me deixou muito preocupado com o futuro e como as coisas no mundo estão sendo conduzidas, supostamente em meu nome”, diz ele entre goles de água mineral. “Eu me pergunto se os nossos filhos terão um futuro, mas o problema com a sua pergunta - e nós dois sabemos disso - é que se eu discutir os detalhes do que estou me referindo na revista Spin, receberei ameaças de morte. E francamente não estou disposto a receber ameaças de morte, porque valorizo a minha vida e a segurança da minha família. Eu percebo que isso é meio chato, mas sei o que está acontecendo lá fora".

A relutância de Yorke não é uma surpresa.


Desde abril, o RADIOHEAD enfatiza que o álbum "Hail to The Thief" não é um disco político e que o título do mesmo não é uma referência à polêmica vitória de George W. Bush sobre Al Gore nas eleições presidenciais americanas de 2000. Na verdade, Yorke afirma ter ouvido a frase do título do disco durante um programa de rádio analisando uma eleição de 1888. Isso é um pouco paradoxal, porque esse argumento parece válido e impossível. Não há letras abertamente políticas no disco, mas parece político. E Yorke não é exatamente apartidário. Em um recente comício antiguerra em Gloucestershire, Inglaterra, ele declarou publicamente que: “Os EUA estão sendo governados por fanáticos maníacos religiosos que roubaram a eleição”.

Então, o que devemos fazer com isso?

“Se a motivação para nomear o nosso álbum tivesse sido baseada apenas na eleição dos EUA, eu acharia isso muito superficial”, disse ele. “Pra mim, trata-se de forças que não são necessariamente humanas, forças que estão criando esse clima de medo. Ao fazer esse disco, fiquei obcecado com a forma como certas pessoas são capazes de infligir uma dor incrível a outras enquanto acreditam que estão fazendo a coisa certa. Eles estão tirando as almas das pessoas antes mesmo delas morrerem. A minha namorada – ela é especialista em Dante – me disse que essa era a teoria de Dante sobre autoridade. Eu estava dominado por todo esse medo e escuridão e esse medo é o 'ladrão' do título do álbum”.

Bom, ok, talvez rotular Yorke de “cara normal” possa ser um exagero. Talvez ele seja um pouco paranoico, mas ele não é um androide paranoico. Ele é apenas um humanoide paranoico e certamente tem senso de humor sobre isso. Depois que ele menciona casualmente a sua namorada, lhe pergunto se algum dia ele vai se casar.

“Essa é uma pergunta totalmente pessoal. Próxima pergunta...”, diz ele rispidamente e por um momento parece que estou assistindo ao documentário do RADIOHEAD de 1999, o mídia fóbico, "Meeting People is Easy", mas então eu começo a rir e ele ri também. De repente, ele é apenas um humanoide barbudo que está comendo tomates, completamente ciente de como a minha pergunta foi ridícula. "O que é isso?" ele me pergunta. “Você trabalha para a revista US Weekly agora?”

A Maior Parte do Que Você Acredita Sobre o Radiohead Está Errado

“A primeira vez que vi Thom, ele estava pulando sobre um carro”. Isso não é algo que eu esperava que o guitarrista do RADIOHEAD, Ed O'Brien, me dissesse, mas ele parece estar falando sério mesmo. “Thom era um ginasta incrível no ensino médio”, continuou ele. “Ninguém sabe disso sobre ele, mas você pode ter uma noção apenas observando-o se mover. Ele é muito forte. Ele deu uma cambalhota bem em cima de um capô de um carro. É como se Morrissey fosse um grande corredor de longa distância no ensino médio e ninguém soubesse disso também".

O'Brien é o 5º e último membro da banda com quem falei nas últimas 08 horas, cada um em uma sala diferente do hotel Old Parsonage. Tenho corrido de sala em sala em busca de respostas e O'Brien é a última pessoa com quem estou falando hoje. Ele é diferente dos outros 04 caras da banda. Ele é significativamente bem mais alto, é o único que não mora na cidade natal do RADIOHEAD, Oxford, e fala como um hippie inteligente. Também há rumores de que ele é o membro mais "orientado para o rock" do RADIOHEAD, preferindo as estruturas convencionais de canções mais antigas do RADIOHEAD, como "Just" (2º disco) e "Ripcord" (1º disco, "Pablo Honey", 1993).

Aqui, novamente, a minha suposição estava errada.

“As pessoas realmente acham que eu gosto do rock seco e direto?” ele perguntou quando eu toco no assunto. “Há uma ironia nisso, porque sempre me interessei mais em criar sons experimentais e é por isso que tendo a gravitar em torno do material do álbum 'Kid A' do RADIOHEAD (4º disco, 2000). Se eu fizesse um álbum solo – e não tenho planos de fazer isso, mas se eu fizesse – seria uma música etérea”.

Parte da razão pela qual O'Brien é considerado o roqueiro designado do RADIOHEAD é que ele é o mais interessado em rock clássico. Ele gosta especialmente de conversar sobre o U2, que parece ser a 3ª maior influência musical do RADIOHEAD (os dois primeiros são o THE SMITHS, a quem todos os 05 membros amam inequivocamente, e o PIXIES, cujos discos o outro guitarrista da banda, Jonny Greenwood, aprendeu a tocar guitarra escutando junto).

Na maioria das vezes, os outros 04 membros do grupo não falam sobre rock mainstream.

O'Brien começa falando: “Estou interessado no U2, no ROLLING STONES e em Neil Young & CRAZY HORSE. Eu amo a dinâmica desses músicos trabalhando juntos e tudo o que vem com isso. É uma coisa complicada de se fazer ao longo do tempo e é por isso que eu respeito tanto o U2. Não me interpretem mal, eu adoro o ROLLING STONES, mas eles não fazem um bom álbum desde 1972. 'Exile on Main Street' foi o último grande álbum do ROLLING STONES, mas o U2 está nisso há 20 anos e aquela música, 'Stuck in a Moment You Can't Get Out Of' (2000), foi incrível. E isso depois de 20 anos, foi quando o ROLLING STONES estava lançando o disco ao vivo, 'Still Life' (1982)”.

É intrigante ouvir O'Brien discutir a dinâmica da banda, porque o RADIOHEAD raramente discute a mecânica interna de sua organização. A sua dinâmica é relativamente desconhecida, sendo que os membros do grupo tendem a descrever o processo criativo como "a nossa própria metodologia”, e é assim que funciona.

Yorke escreve o material sozinho (geralmente ao piano) e entrega gravações demo para os outros da banda. Todos ouvem por algumas semanas e deduzem o que podem contribuir, então, eles se encontram, ensaiam e arranjam as músicas como uma unidade (de acordo com Jonny, o arranjo é a sua etapa favorita no estúdio). Eles tocam as músicas ao vivo para ver o que funciona e o que não funciona e depois vão para o estúdio gravá-las.

Com o disco "Hail to The Thief" o processo de gravação foi intencionalmente curto. A maior parte do álbum foi gravado em 02 semanas em Los Angeles com o produtor de longa data, Nigel Godrich, geralmente 01 música por dia (supostamente, o 1º som que você ouve no álbum é Jonny plugando a sua guitarra na 1ª manhã em que eles chegaram no estúdio para gravar). O que é surpreendente é como os outros 04 membros da banda são conciliadores com Yorke. Eles são todos músicos talentosos, mas é Yorke quem dirige a visão da banda. No entanto, isso parece não causar nenhum problema.

“Em uma banda como o SMASHING PUMPKINS e esse tipo de situação de composição, causaria problemas, porque fica-se com a impressão de que certos membros daquela banda se sentiam substituíveis”, disse O'Brien. “Mas se você se sentir bem consigo mesmo, será honesto e generoso com as outras pessoas. Espero que Thom faça um álbum solo no futuro e não há dúvida de que ele o fará. E vai ser incrível pra caralho, mas como banda, somos todos individualmente essenciais. No RADIOHEAD ninguém é substituível”.

Obviamente, esse é o tipo de declaração hiper democrática que todas as bandas fazem, mas parece um pouco mais genuíno com o RADIOHEAD, devido à complexidade em camadas de suas paisagens sonoras - quase nada é verso-refrão-verso, riff de guitarra, linha de baixo, batida de bateria, colaboração e polinização cruzada são inevitáveis.


Parece que a contribuição musical de Jonny continua a se expandir, por exemplo, ele escreveu toda a música “A Wolf at The Door” (Yorke apenas adicionou a letra). Aos 31 anos de idade, ele é o membro mais jovem do RADIOHEAD e também pode ser o mais cognitivamente musical. Ele gosta de falar sobre detalhes.

“Para cada música como ‘I Will’, que chegou totalmente formada e foi imediatamente perfeita, há músicas como ‘Sail to The Moon’ que inicialmente não eram ótimas”, disse Jonny. “Não estou sendo rude, mas a canção ‘Sail to The Moon’ não foi muito bem escrita, tinha acordes diferentes e apenas era uma ideia pela metade. Só surgiu depois que toda a banda trabalhou nela e descobrimos como as estruturas deveriam ser, sendo que o nosso baterista, Philip Selway, teve uma ideia de como a música poderia ser arranjada e então, se tornou a melhor canção do nosso disco”.

De certa forma, tudo parece incrivelmente simples, mas as coisas nem sempre foram tão fáceis. O'Brien disse que o álbum "Hail to The Thief" representa "o fim de uma era" e que eles levaram "esse tipo de música" (como você quiser definir) o mais longe possível. Mas essa declaração parece refletir mais a sua nova visão de vida, que, estar nessa banda é uma experiência excepcional e relativamente indolor.

Eles Gostam de Ser o Radiohead, Mas Há 06 Anos Atrás, Não

“O pior momento em nossa carreira foi fazer shows no Reino Unido logo após o lançamento do álbum 'OK Computer' (3º disco, 1997)”, disse o baixista Colin Greenwood, irmão mais velho de Jonny. “Não há nada pior do que ter que tocar para 20 mil pessoas quando alguém - quando Thom - absolutamente não quer estar lá e você pode ver aquele olhar em seus olhos a 100 metros de distância. Você odeia ter que colocar o seu amigo nessa experiência. Você se pergunta como as coisas chegaram a esse ponto”.

Colin está dizendo isso enquanto almoça na sala de estar do hotel. É a 2ª das 04 refeições que ele fará hoje, afirmando que a ansiedade com o disco "Hail to The Thief" aumentou o seu metabolismo. Colin é o membro mais amigável e pateta da banda e a pessoa mais entusiasmada que já conheci. Às vezes ele fecha os olhos um de cada vez por 20 segundos, quase como se o mundo fosse brilhante demais para se olhar e parece não haver assunto pelo qual ele não seja obcecado.


Ele me diz que devo visitar o Museu de História Natural da Universidade de Oxford para ver os dodôs empalhados (fui mesmo verificar) e insiste que eu visite uma exposição de cartografia na Biblioteca Bodleian (o que eu não fiz). Ele menciona alegremente ter visto um cervo bebê enquanto dirigia para a sessão de fotos da revista Spin, como se tivesse sido uma rara visão do monstro do Lago Ness. Ele menciona cerca de 15 livros diferentes durante a nossa entrevista e até me dá um de presente ("Imperial Vanities" de Brian Thompson). Todos nessa banda provavelmente lêem mais do que você que está lendo essa matéria.


Sair com o RADIOHEAD é como ficar chapado com um bando de bibliotecários. A certa altura, faço uma pergunta teórica a Colin, que é casado com a escritora e crítica literária americana, Molly McGrann: se a música do RADIOHEAD fosse uma obra literária, seria ficção ou não-ficção?

“Acho que seria não-ficção”, disse ele. “As letras de Thom são como um comentário contínuo sobre o que está acontecendo no mundo, quase como se você estivesse olhando pela janela de um trem-bala japonês e as coisas estivessem voando. É como um obturador se fechando sucessivamente.”

Essa é uma descrição adequada para as letras do álbum "Hail to The Thief", particularmente em canções menos abstratas como “A Punchup at a Wedding” (uma narrativa sobre as reações clichês a uma gafe social), “We Suck Young Blood” (sobre a insipidez da celebridade) e “Myxomatosis”, talvez uma das mais interessantes do disco.


A mixomatose é um vírus que inadvertidamente devastou a população de coelhos britânicos depois de ter sido introduzido na década de 50, o que cobriu campos rurais com carcaças de coelhos. A doença não é sobre o que a música trata literalmente, mas ouvir a explicação de Yorke ilustra por que tentar dissecar as metáforas na música do RADIOHEAD é praticamente impossível - os pontos não se conectam.

“Eu me lembro dos meus pais apontando o dedo para todos esses coelhos mortos na estrada quando eu era criança enquanto passávamos de carro”, disse Yorke. “Eu não sabia muito sobre o vírus, nem mesmo como se soletrava, mas adorei a palavra. Eu amei o jeito que soou. A música é na verdade sobre controle da mente. Tenho certeza de que você já passou por situações em que teve as suas ideias editadas ou reescritas quando elas não se encaixavam convenientemente na agenda de outra pessoa. E então, quando alguém lhe perguntar sobre essas ideias mais tarde, você não pode nem discutir com ela, porque agora as suas ideias existem naquele formato que foi editado".

“É difícil lembrar como as coisas realmente acontecem, porque há tanto controle da mente e tantas agendas da mídia”, continua Yorke. “Há uma frase nessa música que diz: 'Os meus pensamentos são equivocados e um pouco ingênuos'. Esse é o olhar rabugento que você recebe de um especialista quando o acusam de ser um teórico da conspiração. Nos EUA, eles ainda usam a acusação de 'teórico da conspiração' como a condenação final. Eu tenho lido este livro do autor Gore Vidal, 'Dreaming War', e sei que Vidal é sempre acusado de ser um teórico da conspiração, mas a evidência que ele usa é muito semelhante à evidência usada por muitos respeitados historiadores britânicos. No entanto, eles ainda o chamam de louco. Pra mim, isso é parte do que é 'mixomatose', é sobre desejar que todas as pessoas que dizem que você é louco estivessem realmente certas. Isso tornaria a vida muito mais fácil para elas”.

Essa auto análise é digna de nota, porque mostra de onde Yorke vem intelectualmente, no entanto, evita uma pergunta incisiva: o que o controle da mente tem a ver com um vírus que mata coelhos?

A resposta é “nada”.

Yorke intitulou “Myxomatosis” pelo mesmo motivo que repete a frase “the rain drops” 46 vezes durante a música “Sit Down Stand Up". Ele simplesmente gostou do jeito que soou na gravação. As sílabas caem como dominós e a consonância desmorona como um castelo de cartas. Às vezes você não consegue encontrar o significado por trás da metáfora porque não há metáfora.

A preocupação de Yorke em escolher palavras para como elas soam (em oposto ao que significam) é parte do motivo pelo qual o culto de seguidores do RADIOHEAD é tão amplo, com todos os seus álbuns, exceto "Amnesiac" (5º disco, 2001), ganhando Disco de Platina. Se as frases não têm clareza e nenhuma dura realidade, as pessoas podem transformá-las em tudo no que precisam. Se você precisa que as palavras nas músicas do álbum "Hail to The Thief" sejam políticas, elas certamente possuem esse potencial. Se você precisar para explicar por que a sua namorada não o ama, as letras das canções também podem fazer isso. É um estilo de composição que Yorke pegou emprestado de Michael Stipe, vocalista do R.E.M.


Não por coincidência, R.E.M. foram os últimos intelectuais de banda de rock levados tão a sério quanto o RADIOHEAD é levado hoje.

“O que eu amo neles”, disse uma vez o vocalista do R.E.M, Michael Stipe, de um estúdio de gravação em Vancouver, Canadá, “é que a música do RADIOHEAD me permite criar o meu próprio filme dentro da minha cabeça. É disso que eu gosto em todas as músicas deles”.

O relacionamento entre Stipe e Yorke é difícil de quantificar, já que é difícil para músicos de rock superfamosos em diferentes continentes terem qualquer tipo de amizade normal (desde que viajaram juntos em 1995 na turnê do álbum "Monster" do R.E.M, eles mantem contato esporádico por telefone e e-mail).


No entanto, isso está claro: a orientação que Stipe forneceu a Yorke no auge da fama do RADIOHEAD quase certamente impediu a banda de se separar. Ouvindo Stipe explicar, a interação deles foi quase acadêmica. Ele fala sobre a complexidade de “lidar com as palavras” e como todos os performers “faltam algo em seu DNA” e que é quase impossível para os artistas equilibrarem a sua insegurança inerente com o ego exigido para se exibir em público.

Enquanto isso, a descrição de Yorke é consideravelmente mais simples.

“A coisa mais legal que Michael Stipe fez por mim foi me tirar de um buraco do qual eu nunca teria escapado”, disse Yorke. “Isso foi logo após o lançamento do disco 'OK Computer'. Tudo o que ele realmente fez foi me ouvir falar sobre a experiência que eu estava passando, mas não há muita gente que se identifique com esse tipo de situação, sabe? Isso foi muito legal da parte dele. Eu gostaria de tirar algumas outras pessoas de buracos em algum momento também”.







Eu digo a Yorke que ele deveria entrar em contato com o vocalista do WHITE STRIPES sobre isso, Jack White, mas ele diz: “Acho que ele não precisa da minha ajuda”. Essa é outra das peculiaridades de Yorke, ele tende a presumir que todos na Terra têm uma vida mais unida do que a dele. Às vezes, ele coloca as mãos nas laterais do crânio e inadvertidamente reproduz a figura da pintura de Edvard Munch, O Grito. Conversando, ele parece completamente racional e calmo, mas está convencido de que está perdendo a cabeça.


E provavelmente é culpa do jornalista e apresentador de notícias da TV americana, Bill O'Reilly.

“Eu me sinto absolutamente louco às vezes”, diz ele. “Qualquer um que ligue a TV e realmente pense no que está assistindo tem que acreditar que está ficando louco ou que está perdendo algo que todo mundo está enxergando. Quando assisto ao canal da Fox News, não consigo acreditar em quanta 'coragem' essas pessoas têm e como assumem que as pessoas vão engolir essa merda que eles falam. E me pego pensando que devo estar perdendo alguma coisa também".

Acho que é para isso que o álbum "Hail to The Thief" é, em última análise, para pessoas que procuram ordem no mundo e simplesmente não a veem. Colin acha que grande parte do disco é sobre a destruição do espaço humano por forças corporativas (ele faz comparações temáticas entre o disco e a coleção de ensaios do escritor Jonathan Franzen, "How to Be Alone").

Jonny acha que pode ser sobre aceitar a condição do mundo e se concentrar na própria família. Selway fala sobre “forças obscuras” que impulsionaram a criação do disco. O'Brien casualmente se pergunta se "pode ​​ser tarde demais para esse planeta".

Parte do mistério duradouro do RADIOHEAD pode ser mesmo que os outros caras da banda não entendam completamente o que as letras de Yorke estão tentando transmitir. Ainda assim, as músicas são todas sobre a mesma coisa: aprender como entender um novo tipo de mundo. E embora isso nem sempre seja simples, não é necessariamente deprimente.

E ainda me pego pensando: “Devo estar perdendo alguma coisa”.



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