R.E.M: "mais pessoas estão percebendo que as redes sociais não é tudo isso" - Parte 8 (última)
by Brunelson
2 de fev. de 2022
Em 2019, para marcar o 25º aniversário de outro álbum icônico do R.E.M, "Monster" (9º disco, 1994), o vocalista Michael Stipe e o baixista Mike Mills haviam sido entrevistados pela revista britânicaNew Music Express, falando sobre a turnê agridoce desse álbum que foi marcada pelas mortes de Kurt Cobain e do ator River Phoenix, ambos amigos de Stipe, além de outros assuntos como a separação amigável da banda em 2011.
Nesta 8ª e última parte que separamos para você, segue o final da entrevista onde eles conversam sobre assuntos aleatórios não direcionados ao disco "Monster", como músicas inéditas arquivadas, o momento social-histórico que estavam passando em 2019 e mais:
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Jornalista: Você já ouviu a sua influência em outros artistas?
Mike Mills: Não cabe a nós dizer. Isso é injusto com as bandas e a única influência que eu talvez admitiria, talvez seja fornecer um modelo para as bandas mostrarem que você pode conduzir a sua carreira de uma certa maneira, com integridade e ainda assim ter sucesso. Você pode ouvir conselhos de outras pessoas, mas não precisa sempre aceitar e às vezes, é melhor se não aceitar. Esse é o nosso único real legado.
Jornalista: Recentemente, vocês lançaram a música inédita, "Fascinating", para arrecadar dinheiro aos esforços de socorro do furacão Dorian. Há muitas outras coisas não ouvidas deixadas no cofre do R.E.M?
Mills: Existem algumas coisas... Não há muitas que estejam completas como esta canção, que já estava completa e mixada, mas simplesmente não a lançamos na época no disco. Isso foi algo muito importante pra mim porque passei muito tempo em Bahamas, literalmente naquela ilha que foi totalmente devastada e destruída e conheço as pessoas que perderam as suas famílias. Voltei para os EUA e chamei o pessoal da banda, dizendo que gostaria de fazer algo o mais poderoso possível sobre isso e a melhor coisa que podíamos fazer era lançar uma música que ninguém tinha ouvido. Eu realmente agradeci a banda por concordarem com isso e espero que fizemos a nossa pequena parte em ajudar.
Jornalista: E há mais músicas inéditas por aí?
Mills: Existem outras coisas flutuando por aí, mas não tanto. Com a maior parte que temos, se valesse a pena lançar, já teríamos lançado.
Jornalista: A banda R.E.M. foi mencionada dentre as que perderam as gravações másters no fogo ocorrido nos estúdios da Universal. Vocês sabem se perderam muita coisa?
Mills: Não sabemos ainda e eles ainda estão procurando o que restou. É um desastre em termos de manutenção de discos e eles escondem coisas e o que estão dispostos a admitir do que sobrou do incêndio.
Jornalista: Isso deve ser muito doloroso?
Michael Stipe: Como um solitário fã de música, apenas imaginar que algo pode ser tratado de forma tão inadequada, é muito triste.
Mills: A maioria das pessoas não sabe o quão importante são as gravações másters. Um fã pode dizer: "Ah, você já tem uma cópia", e sim, você tem, mas toda vez que você faz uma cópia, você perde algo sonoramente falando. Como músico, você sabe como isso é uma perda.
Jornalista: Estamos nos aproximando do final da década. O que você acha que essa década foi definida?
Mills: Ativismo.
Stipe: Muito bom!
Mills: As pessoas percebendo que podem e devem dizer algo se quiserem mudar.
Stipe: Isso é lindo. A minha resposta é muito mais espalhafatosa: mídia social e quanta comunicação está evoluindo em um ritmo que nos coloca em desvantagem para realmente nos comunicarmos. A ideia do debate foi jogada pela janela... A mídia mudou drasticamente de uma maneira muito ruim para algo que é muito mais sobre entretenimento. Você não precisa olhar muito além do nosso próprio presidente para perceber que não há maior exemplo de entretenimento como notícia. Estamos em uma situação difícil, mas me sinto otimista de que podemos mudar as coisas.
Jornalista: Para finalizar essa entrevista, você acha que a próxima década será mais brilhante?
Stipe: Acho que mais pessoas estão começando a perceber que as plataformas de mídia social das quais não gosto e das quais nunca participei, não são tudo isso. Mesmo aquela em que participei uma vez e depois apaguei uma, duas e três vezes. Eu nunca mais vou voltar e temos que ter muito cuidado para não criar mais cisma entre as gerações do que já existiria naturalmente... Eu gosto mais da resposta de Mike, então: ativismo! Vamos encerrar com isso.
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