Costume Blue: lançando novo clipe celebrando a insustentável leveza de “Chão”
by Brunelson
28 de mar. de 2021
2 min de leitura
A morte de um pai, o nascimento de uma filha. Tais acontecimentos se deram praticamente ao mesmo tempo para o letrista e baterista da banda COSTUME BLUE, Cristiano Araujo, em 2017.
"Chão", canção do álbum lançado em 2019, "Ausência" – título que sintetiza, aliás, a ideia de perda – foi o modo com que o músico buscou artisticamente sublimar essa dualidade, conviver com sentimentos tão intensos e contrastantes.
Viver o luto? Saudar a vida?
Passados quatro anos, a canção ganha versão em clipe lançado no Youtube, com direção de Gabby Vessoni, artista radicada no Rio de Janeiro. Sem contar com imagens de shows atuais do COSTUME BLUE, a videomaker (e cantora) compôs um painel em que a sucessão dos quadros sugere dualidade e ambiguidade. Combinou imagens da natureza (vida?), captadas pelo próprio letrista e da solidão das cidades (morte?), obtidas em bancos de vídeos, que se amalgamam a imagens (de arquivo) do grupo COSTUME BLUE nos palcos.
Viver o luto? Saudar a vida?
Se a letra de "Chão" (a partir da melodia de Marcelo Bulhões) é tomada pelo dualismo e pela aceitação do próprio impasse, o lançamento do clipe no atual momento – de um rastro avassalador de mortes pela Covid e da chegada de uma vacina – deslocou para contornos amplos (impossíveis de prever quando a canção foi lançada) a dualidade morte/vida.
Pedestres dispersos em qualquer cidade do mundo, um tronco de árvore, a mudez de um inseto, a solidão do rosto de uma mulher, a visão noturna de carros anônimos em uma avenida, uma revoada de pombos, a silhueta de uma bailarina – tais “quadros” formam um painel em que a própria indeterminação é afirmada.
E se a melancolia da melodia é contrabalançada com lampejos de “esperança” por versos da letra (“o sol para avivar a velha estrela”, “brilho manancial”, “alteza em seu olhar”, “no fio da tarde, recolhe a minha mão”), as imagens do clipe levam o espectador/ouvinte a “não tomar partido”, ao mesmo tempo em que parece se combinar com a riqueza e amplitude sonora dos arranjos do tecladista Ricardo Marins.
Assim, sugere uma experiência de celebração da “insustentável leveza” da vida e no que ela há de inevitável, a morte (o que não se confunde com aceitação da barbárie). No fim – talvez – celebração da própria beleza da finitude.
COSTUME BLUE é: - Ricardo Marins (piano, sintetizador, violão e vozes) - Marcelo Bulhões (voz, guitarra e slide) - Cristiano Araujo (bateria) - Chico Lopes (contrabaixo) - Alessandro Sá (guitarra).
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