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Jimmy Chamberlin: baterista do Smashing Pumpkins revela bastidores de gravação e relacionamento musi

  • Foto do escritor: by Brunelson
    by Brunelson
  • 28 de set. de 2020
  • 11 min de leitura

Smashing Pumpkins

Jimmy Chamberlin, baterista membro fundador do SMASHING PUMPKINS, é outro grande músico que prova como diferentes indivíduos aglutinam diferentes influências, energias e ideias musicais, se tornando em grandes na história do rock.


Chamberlin foi recentemente entrevistado pelo site XSnoize e pudemos reconhecer as suas díspares influências quando ele falou sobre a honra em poder expor as suas linguagens de bateria sobre o componente improvisado da música jazz, na época que o SMASHING PUMPKINS se formou e transformando o álbum de estreia, "Gish" (1991), num prisma onde ele capturou sentimentos em diferentes ambientes de escrita.


SMASHING PUMPKINS está em iminência de lançar o seu 10º álbum de estúdio, "Cyr", disco duplo que virá em novembro de 2020. Este já é o segundo álbum gravado com o retorno da formação original da banda (somente a baixista D'arcy não voltou).


Confira alguns trechos dessa entrevista:


Jornalista: Você começou a gravitar em direção à criatividade solo depois que o SMASHING PUMPKINS havia encerrado as atividades em 2000. O fato de Billy Corgan (frontman) estar focado sempre em criação solo, creio que também fez você começar a compor muito mais, desempenhando o seu papel na sua banda paralela, Jimmy Chamberlin Complex, que apresenta um som mais eclético. O que fez você querer compor sozinho?


Jimmy Chamberlin: É uma boa pergunta! Eu estou sempre criando e compondo, sabe? Sempre estou no meu estúdio que tenho no porão da minha casa e sempre compondo. Não diria necessariamente que isto começou a partir de algum ponto, só acho que é uma coisa dentro de mim que costuma sair de vez em quando.


Quanto a minha banda paralela, Jimmy Chamberlin Complex, sempre foi um ótimo veículo para esse tipo de auto expressão para todos os membros do grupo. Todos são incentivados a trazer ideias para discutirmos na mesa e a qualquer momento, quando essas ideias atingem massa crítica e sentimos que precisamos dar uma chance para aquilo nascer, nós nos reunimos e gravamos um álbum (risos). Referente a minha parte escrita, sempre foi um processo orgânico.


Mesmo no último álbum do SMASHING PUMPKINS que gravamos... Digo, não o último, mas o álbum que gravamos antes da separação em 2000, "Machina The Machines of God" (5º disco, 2000, último gravado com a formação original completa), eu me lembro que interpretei um monte das minhas ideias para Billy Corgan e ele realmente começou a envolver sua cabeça em algumas das coisas que eu estava escrevendo, sabe? Ter alguém como Billy para encorajá-lo, ser criativo e realmente explorar essa parte de sua identidade, é uma coisa muito poderosa, cara... E eu não aceitava os seus conselhos de forma leviana, eu tentava colocar as suas sugestões em prática o máximo que podia e realmente forçava ao mesmo tempo explorar o meu lado criativo. Porque desse jeito me torna um colaborador melhor no SMASHING PUMPKINS se eu estou entendendo toda essa base, sabe?



Jornalista: Você falou uma vez em entrevista que “como baterista, você pode constantemente voltar às raízes do jazz e continuar a aprender”. Enquanto você está tocando, percebemos que você sempre aborda as coisas de maneiras diferentes. De certa forma, o novo disco da sua banda solo, "Honor", soa como uma unidade de diferentes abordagens. Canções como “Humility” e “Service” uniram de forma composta o jazz e elementos do rock progressivo. É o resultado de um processo de aprendizado constante ou é somente a maneira como você decidiu abordar em específico as coisas neste álbum?


Chamberlin: Eu acho que é um tipo qualquer de exploração em um novo terreno, mas não estou dizendo que estou cobrindo qualquer terreno que não foi coberto antes. Eu acho que a ideia, conforme você envelhece e se sente confortável com diferentes componentes de sua arte, faz você perceber que as pontes que foram construídas ou as barreiras que foram construídas entre elas são realmente desnecessárias. Então, à medida que envelheço, descubro que não há nenhuma razão para não casar o jazz com o rock e sempre foi assim também no SMASHING PUMPKINS. Fui encorajado a tocar da mesma forma que toco e não me preocupar muito com a moeda cultural disso ou com as regras que se aplicam ao rock alternativo.


Eu realmente pude fazer o que eu queria e continuo assim até hoje! Com isso e estando numa banda com esse tipo de sucesso, são explorações que lhe dão confiança e sabedoria para conhecer essas antigas regras anacrônicas. De saber dizer: "Isso não se encaixa com isso! E isso não combina com aquilo!”. Estas barreiras estavam lá nos anos 90 pelo motivo do momento que foi, mas agora, eu acho que realmente não há mais lugar na música para proibir esses tipos de inspirações e esses tipos de passagens criativas.


A minha forma de tocar é uma compilação de tantas influências diferentes. Tudo, desde Elvin Jones a Paco De Lucia na guitarra clássica ou John McLaughlin, Miles Davis, obviamente, Coltrane e Duke Ellington. E claro, esses caras são ótimos músicos técnicos, mas principalmente famosos por quebrar limites, certo? E realmente empurrar a música para além desse tipo de membrana falsa que encapsula qualquer gênero. Então, eu acho que, para mim, como artista, é o que mais me interessa. De uma forma não bizarra, onde eu realmente quero casar o expressionismo da vanguarda com o reggae, por exemplo... Coisas que meio que estão fora de questão, sabe? Embora isso possa ser legal, eu só acho que derrubar os crachás estereotipados que colocamos na música é um bom lugar para começar algo criativamente falando.



Jornalista: Durante a gravação do clássico álbum do SMASHING PUMPKINS, "Mellon Collie and The Infinite Sadness" (3º disco, 1995), parece que você abordou cada música do álbum de uma maneira diferente, adicionando novas cores à tela. Como resultado, você tem canções como “Tonight, Tonight”, “1979”, “Bullet With Butterfly Wings” e “Jellybelly”, de alguma forma amarradas e ainda ressoando como partes diferentes de uma composição. Foi uma certa atitude que você trouxe enquanto escrevia as suas partes e gravava?


Chamberlin: Sim, de novo, eu acho que, obviamente você quer ser destemido em sua criatividade e confiante o suficiente para explorar os limites das possibilidades em uma composição. E pelo menos pra mim, eu gosto de fazer isso de uma forma responsável para trabalhar o que quer que eu esteja criando, que sempre será algo subserviente à narrativa. Você quer ser emocionalmente congruente com a música que está acompanhando e muitas daquelas partes de bateria foram apenas uma reação ao que eu estava ouvindo na época... A nação visceral na música “Jellybelly” ou as orquestrações de algo como na canção “Tonight, Tonight”, tipo, estas são as minhas reações emocionais a essas músicas, por tê-las ouvido, ter uma compreensão e apreciação de todas as canções que são semelhantes às composições que ouvi ao longo dos anos.


Eu escutava de tudo na época, porque como um jovem baterista como eu era, chegando numa cena monstruosa que foi, você realmente tinha que ouvir muita coisa diferente, porque não havia YouTube, certo? Você não poderia simplesmente acessar e assistir alguém, então, as perguntas “Como?” e "O quê?" sempre foram mistérios para mim.


Mas o "Por que?" foi muito mais claro para mim. Eu entendia porque as pessoas estavam fazendo coisas diferentes e ouvindo coisas diferentes. Você escutava aquilo e teria uma reação emocional, onde você entenderia o motivo de tal coisa, sabe? Mas agora... Parece que as pessoas descobrem ou entendem logo o "Como?" e "O quê?", mas "Onde inserir isso?" ou “Por que você tocaria isso?” parece ter desaparecido.


Acho que, com esse conhecimento, quando você ouve algo tão emocional como a música "Tonight, Tonight" ou a canção "Jellybelly", você quer reagir de uma forma igualmente emocional e fornecer a essa música o fogo que ela precisa, ou a sensibilidade de que precisa ou a dinâmica que ela precisa para apoiar a narrativa. E no SMASHING PUMPKINS a narrativa é sempre suprema, só porque lhe concede um destino para as suas escolhas. E tudo não precisa ser nebuloso quando você entende que a música é sobre perda, sobre conquista ou sobre a manifestação de algo grande. Quando você tem essas coisas na frente e com uma técnica suficiente, a sua forma de tocar o levará automaticamente para esses tipos de arenas comuns na sua mente e alma.



Jornalista: A complexidade emocional sempre foi uma das principais características do SMASHING PUMPKINS. Quão diferente é quando você não tem certos elementos estruturais nos quais pode confiar? Por exemplo, letras ou refrões para que a sua emotividade e expressividade se tornem a sua língua oficial?


Chamberlin: Isso inicia outro fragmento de diálogo em que todos da banda podem trilhar juntos por esse caminho e quando é feito com sucesso, você tem aqueles grandes momentos na música, certo? E não estou dizendo "que legal!" para que milhões de pessoas gostem. Só estou dizendo porque é bom enquanto nós estamos tocando juntos. Obviamente, a outra parte de quer as pessoas gostem ou não, é subjetiva, mas para nós do SMASHING PUMPKINS, é como nos faz sentir tocando aquela música num determinado momento e com as nossas métricas associadas a ela, porque isso possui um valor muito além do que estamos fazendo ali juntos, tipo, é semelhante àquela questão da narrativa que estávamos conversando, que a deixa suprema... É um caminho diferente de como você chega à narrativa e como a narrativa é exemplificada no exercício prático.



Jornalista: No estúdio você sempre começa a escrever novas partes de bateria? Ou você pode vir com algumas ideias prontas de arranjos e etc?


Chamberlin: Então, quando entramos no estúdio, realmente já sabemos onde queremos chegar, sabe? A menos que você esteja tentando se limitar especificamente em algo para inspirar a sua criatividade, onde qualquer tipo de novidade deve ser sempre bem-vinda no estúdio, tipo: “Hey, eu ouvi isso na rádio! Isso meio que me lembrou daquilo! Isso meio que me lembrou daquele sentimento...”, você me entende? Esse tipo de coisa é um bom ponto de partida e se você tem um riff super pesado que queira tocar para a banda, se deixe levar, cara...


E quando você toca com caras que são tão bons, tanto no Jimmy Chamberlin Complex quanto no SMASHING PUMPKINS, tipo, esses caras estão no topo e são alguns dos melhores músicos do mundo, então, é divertido pra mim. Ser baterista e sair por aí, tentando ser o melhor que posso, porque sei que esses caras estão níveis acima, sabe? Quando você tem esse tipo de oportunidade, não quer desperdiçá-la.



Jornalista: Para todos os músicos, é típico chegar a um ponto em que o artista vai largando aos poucos as "emulações" de suas influências e começam a soar de forma singular, como eles próprios, em vez de ficar "copiando" algo... Havia uma certa complexidade neste assunto ao gravar o álbum de estreia do SMASHING PUMPKINS, "Gish" (1991)? E foi no começo de sua carreira que você alcançou uma harmonia dentro de si ou foi somente um pouco mais tarde?


Chamberlin: Eu não sei... Realmente não olho para a minha linha do tempo em termos de quando comecei a ser eu mesmo, sabe? Eu apenas senti que sempre fui esse cara e sempre toquei desta forma. Até as minhas primeiras gravações demo, quando tinha 15 anos de idade, eu tocava como era para tocar. Eu acho que sou apenas um subproduto das pessoas que ouço, das pessoas que respeito e das emoções que desejo expressar. Agora, a minha forma de tocar é um pouco mais conservadora de quando era quando gravamos o disco "Gish", mas ao mesmo tempo não acho que seja tão diferente assim.


Eu escutei o álbum "Gish" nesses dias, porque Billy e eu estávamos conversando sobre a sonoridade desse disco e quando fui escuta-lo, eu fiquei muito surpreso com o quão cristalino ele soa. Porque eu me lembro que não tivemos muito tempo para grava-lo, sabe? Não tínhamos muito dinheiro e a bateria foi toda feita somente em algumas tomadas e por poucos dias e então, nós meio que seguíamos em frente.


Mas ouvindo o disco "Gish" hoje e o colocando naquele tempo, é um álbum complexo sim. É muito mais um documento de um momento no tempo... O que eu acho que torna esse álbum tão especial, é porque não tivemos tempo para trabalhar nele e você ouve essas oportunidades sendo arriscadas nas músicas. Claro, nos outros álbuns que fizemos, quando você se arriscava assim e as coisas dessem errado, você sempre poderia refaze-lo. Você pode usar várias tomadas para gravar a música e se torna um tipo diferente de pressão e quer saber? Quando é gravado da forma que foi o disco "Gish", você consegue ouvir isso na música e é uma declaração bastante ousada.


Se você ouvir o álbum "Gish" no contexto do que estava acontecendo no rock alternativo naquela época... Só tente se lembrar de como era a batida das coisas no início dos anos 90, tipo, eu me lembro de muitas pessoas coçando a cabeça quando o nosso disco foi lançado. As pessoas nos diziam: “Por que vocês querem tocar desse jeito assim?” e para nós era a coisa mais legal de todas, cara! Quando formamos o SMASHING PUMPKINS, eu não estava pensando que seríamos uma banda de rock progressivo ou que iríamos tocar em arenas, mas certamente ficamos muito felizes quando começamos a compor músicas como “I’m The One”, “Tristessa”, “Bury Me” e as outras que também foram lançadas no disco "Gish".


Aquilo era tudo um sonho para mim (risos)! Pegando corda no que você falou, foi com o passar do tempo que eu fui encorajado a ser eu mesmo. Billy falava pra mim: “Cara, tudo o que você faz é incrível! Vamos fazer mais dessas coisas!” Então, eu acho que isso tem muito a ver com a sua confiança e com a sua capacidade de fomentar a sua identidade.


Então, eu acho que para os jovens músicos, encontrar os colaboradores que estão de ok com o que você está fazendo, dar a eles a licença e permissão para explorar as outras regiões de si mesmo, tipo, pra mim é o melhor lugar possível onde você pode estar como músico.



Jornalista: Seguindo essas palavras, toda essa experiência com outras pessoas se torna um certo ponto de recarga na vida de um músico. O quanto essa experiência em particular influenciou no sotaque musical no álbum de retorno dos membros originais do SMASHING PUMPKINS em 2018, "Shiny and Oh So Bright / Vol. 1" (9º disco)?


Chamberlin: Eu achei um álbum divertido de se fazer... Na época, Billy estava com uma visão direta de composição e gravação, o que soa claramente nas músicas. Mas novamente, o objetivo principal dessas coisas é simplesmente ir lá no estúdio e ponto final. Ninguém pensa na hora: “Ah, eu só irei participar se for para ter sucesso”, porque esse tipo de coisa pra mim é perigosa, sabe? Se você começar a pensar: “Vou fazer desse jeito assim, porque eu já fiz isso com sucesso antes”, você não vai a lugar nenhum, cara... Até mesmo com o vindouro álbum do SMASHING PUMPKINS, "Cyr", ele possui muitas substituições para a bateria, pois Billy e eu nos desafiamos a compor um álbum do SMASHING PUMPKINS sem usar grandes guitarras e a bateria clássica.


Resumindo é assim: você pode dar um tiro no próprio pé, mas não explorar esses lugares é realmente um péssimo serviço para você. Particularmente, eu gosto muito de: “Não gosto desta parte do meu corpo! Eu não gosto dessa parte de mim! Não gosto do jeito que sou nessas situações!”, porque essas são as partes que constituem o nosso ser e eu acho que, quanto mais podemos aceitar essas coisas e celebrá-las de alguma forma, mais seres humanos intactos nos tornamos.



Jornalista: Para encerrar essa entrevista... E quando o SMASHING PUMPKINS se encontra para tocarem e ensaiarem juntos, o que lhe ajuda a capturar esses sentimentos?


Chamberlin: Acho que todo mundo já se conhece para saber quais músicas estão na sua hora ou não. Com certeza isso não acontece a qualquer momento e sempre que você estiver disponível, você deve estar pronto para aproveitar essas coisas. É tipo: “Oh, meu Deus! Estou tão feliz por estarmos fazendo isso juntos! Eu tenho 06 meses de ideias que quero mostrar pra vocês e estava esperando por isso...” É apenas se tornar disponível para a forma como as correntes da vida estão levando você e eu acho que esse tipo de sensibilidade está acima de tudo.


Claro, se você conhece os harmônicos em que está vivendo de forma natural e no seu devido tempo, é mais fácil fornecer harmonia e contextos adicionais para essas coisas quando a banda está em congruência, em vez de falar: “Ok! Não importa o que aconteça, entre os dias tal e tal iremos gravar um novo álbum e será lançado logo na sequência". Talvez não, cara! Pra mim, é melhor estar sempre criativo e em vigília, para quando a banda for se reunir, podermos celebrar juntos essa criatividade na sua própria velocidade.

 
 
 

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