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  • by Brunelson

Sonic Youth: resenha do disco "Goo" pelos próprios membros da banda


Sonic Youth

O álbum "Goo" do SONIC YOUTH (6º disco, 1990), foi a sua estreia numa grande gravadora (Geffen Records, a mesma que iria contratar o NIRVANA) e apresentando uma das capas mais icônicas da história do rock'n roll, completou 30 anos de vida em 2020.


Em 1990, SONIC YOUTH não pertencia ao cerco das "criancinhas legais" da turma. Antes do lançamento do álbum "Goo", eles eram uma banda que você só conhecia pelas matérias em revistas de música, já que nenhuma das lojas de discos em nossa área possuía o catálogo da gravadora underground SST Records.


Agora contratados pela Geffen Records, o grupo não estava mais confinado ao cenário artístico interno de New York. Encontrando uma bela tristeza em sua audição e a "paz" interior em um turbilhão de feedbacks de guitarra, o disco "Goo" atingiu uma nova base de fãs que não foram introduzidos antes pelo noise e microfonias do SONIC YOUTH.


O álbum "Goo" permanece sem dúvida um dos discos mais culturais na história do rock pela sua controversa capa. A mesma foi parodiada por vários artistas e estampas de camisas, assim como a capa do disco dos BEATLES, "Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band".


Assim como é igualmente notável e revoltante a relevância das mensagens do álbum "Goo", como: pessoas marginalizadas pelo sistema, principalmente mulheres e pessoas de cor, unindo-se à "opressão corporativa masculina e branca".


Recentemente, a revista Spin conseguiu entrevistar todos os membros do SONIC YOUTH para celebrar este importante disco, o qual inspirou uma das músicas de maior sucesso na história da banda, "Kool Thing" - e que contou com a participação especial do rapper Chuck D, do PUBLIC ENEMY, na gravação desta canção.


Pela primeira vez desde que a banda se separou em 2011, a revista Spin conversou com todos os quatro membros do SONIC YOUTH sobre como um dos álbuns mais legais já feitos foi concebido, embalado de forma inesquecível e levado à turnê junto com Neil Young - que consequentemente tornou Young mais barulhento em suas apresentações.


Confira esta entrevista traduzida na íntegra:


Steve Shelley (baterista): Nós nos encontramos com muitas gravadoras depois que lançamos o álbum "Daydream Nation" (5º disco, 1988). Estávamos tendo um problema com os selos que tínhamos feito parcerias na época e era difícil ser pago pelos discos que você tinha vendido. A Geffen Records ainda era pequena em comparação com as outras principais gravadoras e ainda era tecnicamente um selo independente dirigido por David Geffen. Isso mudou depois que assinamos com eles, gerando as fusões com a MCA Records e outras gravadoras, o que foi um pouco decepcionante... Conhecemos mais pessoas do que apenas o nosso cara de Relações Públicas, Gary Gersh (que também iria trabalhar com o NIRVANA), mas um grande fator para nós assinarmos com eles foi por causa desse cara chamado Mark Kates, que na época comandava uma rádio da faculdade. Mark estava mais familiarizado com o SONIC YOUTH e com o nosso mundo, mais do que Gary era, e nos relacionamos com Mark e ainda somos amigos dele até hoje.


Lee Ranaldo (guitarrista): Foi o nosso primeiro disco por uma grande gravadora e queríamos que fosse realmente bom. Estávamos recebendo cinco ou dez vezes mais a quantia em dinheiro para gravar um disco em comparação com os outros que tínhamos lançado. Me lembro que a gravação desse álbum foi recheada de overdubs e me lembro de pensar num certo ponto que, se tivéssemos somente gravado a partir das faixas básicas que tínhamos feito e acrescentado os vocais, teríamos esse disco que seria ainda mais poderoso do que acabou sendo... Talvez seja um sonho para um dia tentar remixa-lo para ficar deste jeito que eu falei.


Shelley: Até certo ponto, parecia que eles estavam nos colocando no gueto do rock das faculdades, o que acabou sendo uma coisa boa, porque antes que você percebesse, o selo já tinha bandas afiliadas como o TEENAGE FANCLUB, NIRVANA e Beck. Então, nós tínhamos uma pequena família na Geffen Records.


Thurston Moore (vocalista/guitarrista): Eu acho que validamos o selo da Geffen Records para muitas bandas, certamente para Beck e o NIRVANA, sem dúvida... Se não estivéssemos com o selo, teria sido uma cena diferente. A única razão pela qual trabalhamos com a Geffen Records foi pelo fato de Mark Kates estar trabalhando lá e ele ter saído da rádio da faculdade. Era tudo sobre seguir as pessoas que nos apoiavam, sabe? Ninguém mais queria tocar os nossos discos, mas os radialistas das faculdades tocavam e muitos deles trabalharam em grandes gravadoras fazendo as suas divisões na rádio. Mark era um exemplo clássico de alguém saindo da rádio da faculdade e que sempre anunciava bandas como nós, mas de repente ele estava trabalhando em uma grande gravadora e desejava que as bandas que ele gostava fossem representadas por uma grande gravadora. Esse foi o único motivo para assinarmos com um selo como a Geffen Records, tipo, se uma pessoa que representasse algumas das bandas glam metal na época nos visse tocando, provavelmente não teríamos a oportunidade de assinar com um grande selo.


Moore: Só Deus sabe como soaria o disco "Goo" se o gravássemos num porão ou coisa do tipo. Foi assim que tínhamos gravado o nosso 1º álbum de estúdio, "Confusion is Sex" (1983), e o nosso 2º EP, "Kill Your Idols" (1983)... Talvez o disco "Goo" tivesse saído da mesma maneira, sabe? Tudo o que sei é que fizemos algumas demos para o álbum "Goo" e há aspectos daquelas demos que acho mais interessantes do que acabou saindo na gravação oficial. Eu realmente gostei da energia daquelas demos, porque parece que a gravação oficial numa mesa de 24 canais espalhou um pouco as coisas e deixou o som mais dissipado. Você sabe, é um processo de aprendizado sobre a tecnologia e tudo mais e nós nunca fomos uma banda de estúdio no sentido do PINK FLOYD, você me entende? Onde eles estavam realmente utilizando cada centímetro de recurso que uma gravação em estúdio pode lhe oferecer. Só viemos a trabalhar dessa forma quando tínhamos o nosso próprio estúdio, mais tarde, no decorrer dos anos 90.


Kim Gordon (vocalista/baixista): Nós estávamos empolgados, porque aquela havia sido a nossa primeira situação de gravação num estúdio de ponta.


Ranaldo: Foi o nosso primeiro disco por uma grande gravadora e nós estávamos nos conhecendo ainda, por exemplo: "Essa mixagem para tal música está boa o suficiente?" Depois vimos que aquilo era muito fácil de fazer num estúdio e eu vi isso acontecer com outras bandas da nossa cena que se tornaram grandes e ficaram um pouco assustadas ao gravar o seu primeiro disco num grande estúdio. Não tínhamos certeza se aquelas mixagens eram o que realmente queríamos, então, paramos de trabalhar com o produtor da época depois de algumas sessões... Estávamos desesperados para tentar terminar este disco, então, a gravadora trouxe o produtor Ron St. Germain e nós meio que o chamamos de "cowboy do console". Ele também era um piloto e eu acho que ele realmente gostava de tudo sobre tecnologia. Germain fez um bom trabalho mixando as músicas, embora provavelmente não tenha sido exatamente do jeito que teríamos feito se fosse por nossa conta própria.


Moore: Me lembro do engenheiro de som nos dizendo que iríamos gravar na sala B do estúdio, porque o PUBLIC ENEMY faria as suas sessões na sala A. Quando ficamos sabendo disso, falamos: "Onde assinamos?" Porque era a situação perfeita, pois o PUBLIC ENEMY era tão grande e quando começamos a gravar lá, nós víamos todos os tipos de pessoas envolvidas com a gravação do álbum do PUBLIC ENEMY, tipo, eu tenho um disco do PUBLIC ENEMY aqui em casa com umas 40 assinaturas nele de toda a equipe do grupo, sabe? O rapper Ice Cube tinha aparecido lá no estúdio um dia e outros artistas do tipo...


Shelley: Estávamos gravando ao mesmo tempo que o PUBLIC ENEMY e Kim Gordon convidou Chuck D para fazer uma participação especial na canção "Kool Thing". Às vezes, Flavor Flav (outro vocalista do PUBLIC ENEMY) passava um tempo conosco e ficava conversando com a gente, meio curioso sobre nós de como essa banda ficava fazendo todas essas guitarras barulhentas e noises.


Moore: Perguntamos a Chuck D se ele queria ouvir a música primeiro, mas ele havia nos dito: "Não, tudo bem... Basta colocar os fones de ouvido e faze-lo de vez". Cara, foi super legal da parte dele e ele fez aquela gravação apenas em uma tomada, sabe? Ele ouviu, escutou a fala de Kim no meio da música e ele apenas fluiu com o seu estilo livre e foi isso.


Gordon: O hip-hop era uma parte muito grande da música de New York e era um lugar onde tantas coisas colidiam, tipo, junto com a tradição do jazz da cidade se fazia todo tipo de fusão que você poderia imaginar... Parecia que andar por uma rua em New York naquela época, era apenas esse constante bombardeio de sons de todos os tipos.


Confira o videoclipe da canção do SONIC YOUTH citada nesta matéria, "Kool Thing", single do álbum "Goo" e que contou com a participação do vocalista do PUBLIC ENEMY, Chuck D:

Confira a outra matéria que o site rockinthehead já publicou sobre o disco "Goo" do SONIC YOUTH:


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