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by Brunelson

Dave Grohl: "eu não gosto de assistir aos meus vídeos"


Foo Fighters

O ano de 2020 era para ser a volta olímpica da vitória para Dave Grohl: um aniversário meticulosamente planejado para marcar os 25 anos da sua banda, FOO FIGHTERS, com o lançamento do novo álbum (que será o 10º disco), um revival da turnê numa van pelas mesmas cidades que a o grupo passou em 1995 e muito mais.


Mas, como tantos outros cujos melhores planos foram rapidamente deixados de lado pelo coronavírus - embora com todas as vantagens, é claro, de ser um astro do rock internacional - Grohl está aprendendo a se reajustar drasticamente e se inclinando em outras atividades.


O frontman do FOO FIGHTERS foi entrevistado recentemente pela revista Entertainment Weekly e falou sobre os seus piores medos, suas esperanças para o futuro e outros assuntos.


Seguem alguns trechos dessa entrevista:



Jornalista: É justo dizer que a música está atraindo muita gente agora devido a pandemia mundial.


Dave Grohl: Sim, não, é verdade... Quero dizer, graças a Deus pelo novo disco da Fiona Apple! É lindo, mas durante as primeiras 04 semanas dessa quarentena eu nem sequer encostei no meu violão, tipo, não queria tocar violão, pois estava tão focado na minha família, no país, no mundo e nas notícias que eu meio que recuei da música. E lentamente estou começando a tocar algumas coisas novamente.


Decidi que queria começar uma página em rede social e essa é a minha obsessão agora. Eu acordo de manhã e fico, tipo: "Hmmm, será que vou contar uma história com Joan Jett ou com Iggy Pop?" Geralmente leva alguns dias para eu escolher, escrever e corrigir as histórias, mas agora o mais importante para mim é que as pessoas encontrem um pouco de esperança e alegria na vida, em vez de simplesmente cair numa escura espiral.



Jornalista: Você deve ter sido procurado muitas vezes nos últimos 30 anos pelas editoras de livros - a sua mãe até tem um livro lançado. Você acha que alguma vez se sentará para escrever um livro de memórias adequado?


Grohl: Ah, com certeza. Você sabe, anos atrás eu estava num churrasco e conheci um agente de livros e ele me disse: "Você já pensou em escrever um livro?" E eu respondi: "Bem, um dia, é claro..." E ele falou: "É realmente fácil, você faz 04 ou 05 horas de entrevistas e alguém o escreverá com a sua voz e será ótimo". Eu só pensei na hora: "Vai se foder com isso!"


Eu venho de uma família de escritores e concordo que sou uma ovelha negra, mas não sou tão ruim assim, meu Deus. Então, imaginei que você sabia que se eu escrevesse um livro, ele estaria na palma da minha mão. Estou considerando isso já faz uma porrada de anos, mas A: eu nunca tive tempo, B: eu nunca senti que estava pronto porque todos os dias acontece algo que eu adoraria escrever sobre e eu odeio escrever uma espécie de autobiografia típica. Anos atrás pensei: "Bem, talvez seja apenas uma coleção de histórias em vez de ser a minha vida inteira em 300 páginas... Poderia ser apenas histórias engraçadas".


Quero dizer, ouça a maioria dos músicos de rock que são ótimos contadores de histórias, não é verdade? Como a maioria dos músicos de rock que passaram mais de algumas horas na parte dos fundos de um ônibus de turnê, trocando histórias sobre todas as pessoas com as quais eles perderam ou tocaram juntos.



Jornalista: Eu sei que você passou o ano de 2019 focando muito para se preparar para este aniversário em 2020. Você é o tipo de artista que é super crítico em relação a si mesmo?


Grohl: Eu não gosto de assistir vídeos meus, sabe? Lembro que antes mesmo do FOO FIGHTERS começar, eu estava sozinho num estúdio no porão da minha casa gravando essas músicas e nunca deixando ninguém ouvi-las, porque eu não gostava do som da minha voz, não gostava das letras, não gostava de algumas composições, tipo, não acho que sou um ótimo guitarrista, sabe? A lista é longa...


Então, eu meio que mantive essas músicas para mim e as usei como algum tipo de exercício terapêutico e então, quando a banda começou e começamos a tocar juntos, é claro que eu queria que fosse ótimo. Eu queria que o público visse e ouvisse uma banda que era digna do preço do ingresso, então, eu basicamente ouvia as gravações e via como poderia melhorar e pensava muito em melhorar a banda, tipo, pessoalmente queria ser melhor.


E isso me deixava louco quando íamos nos apresentar num programa de auditório da TV tarde da noite e quando iria assistir em casa me partia o coração. Levou anos e anos para eu perceber, você sabe, quem eu estou tentando ser? Por que estou me "punindo"? O melhor que posso fazer é isso? E acho que uma vez que comecei a relaxar e perceber que um dos elementos mais importantes de ser artista é ser você mesmo, as coisas ficaram melhores ou pelo menos me senti melhor.



Jornalista: E agora com a quarentena existe o desempenho de grandes audiências em casa, o que é lindo.


Grohl: Bem, você sabe, antes de tudo, quando se trata de tecnologia moderna, eu sou praticamente um... Eu mal posso usar um laptop ou um iPhone. Eu sou realmente tão analógico que é ridículo, mas estou fazendo um curso intensivo agora.


Na outra semana recebi uma ligação de que o canal da BBC iria reunir um grupo de músicos de estrelas para tocar a música "Times Like These" do FOO FIGHTERS e cara, fiquei tão lisonjeado que você não tem idéia, quase chorei. Quero dizer, eles querem tocar uma música que eu havia escrito num guardanapo em um momento difícil da minha vida em que eu estava assustado, mas também estava esperançoso de que eles usassem essa música por uma causa tão boa e então, para reunir todos esses artistas incríveis, eu me senti muito humilde com tudo isso, sabe?


Então eles já começaram o processo de pessoas se filmando cantando os versos e refrões. Eles não me pediram necessariamente para cantar a música inteira, mas eles disseram: "Se você gostaria de cantar um verso ou um refrão, adoraríamos tê-lo". Então, eu estou assistindo todas essas apresentações e vendo as pessoas cantarem e é lindo, sabendo que a versão que o FOO FIGHTERS toca dessa canção mais parece como o MOTORHEAD tocando num bar na rua.


Mas de qualquer maneira eles enfatizaram: "Apenas certifique-se de filmar-se inteiro na tela".



Jornalista: Eu quero deixar você ir embora porque parece que você tem dever de casa para fazer.


Grohl: Sim, essa é a minha filha me chamando. "Eu já vou!" Escute, eu tenho dever de casa, tenho que preparar a janta hoje à noite e tenho que comprar alguns alimentos... Eu vou fazer chili para janta, é uma delicia.



Jornalista: Então, uma última pergunta. A idéia de shows ao vivo, festivais e grandes multidões parece tão estranha e distante agora, mas você tem esperança de que a indústria da música possa voltar naquele ritmo?


Grohl: Sim, voltará. Sinceramente acredito que, em algum momento, as pessoas voltem para o "sol" e voltem a compartilhar música juntos, tipo, eu acho que é da natureza humana, sabe? Quem sabe quanto tempo vai demorar, mas porra, estaremos lá. Eu sei disso.

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