Ramones: matéria secundária de capa da 89 Revista Rock em 2000 - Parte 1
Lá em 2000, a revista brasileira 89 Revista Rock havia publicado uma matéria secundária de capa sobre os RAMONES (foto), onde foi sintetizada toda a história da banda, de sua discografia e relato de quem assistiu 03 shows do grupo que criou o punk rock.
A grande revelação que foi noticiada nesta reportagem, foi que os RAMONES haviam feito ainda 02 shows isolados depois do suposto último show em 1996.
Em 1999 fizeram uma apresentação em New York referente a um show beneficente para uma casa que cuidava de crianças com leucemia (doença que levou o nosso querido Joey Ramone). E no começo de 2000 realizaram um show surpresa na meca do punk rock, o clube CBGB, também em New York - só lembrando que não está registrado (ou não foi encontrado) os setlists desses 02 shows...
E com isso, a esperança de que a banda poderia retornar às atividades...
Confira a 1ª parte desta matéria, onde é narrada a história dos RAMONES:
03 acordes e 04 jaquetas de couro, uma breve história dos RAMONES
No fim dos anos 70 a febre do rock progressivo esfriou. O público jovem estava cansado de escutar músicas extensas falando de gnomos, viagens astrais e com instrumentais feitos por virtuosos. Nos EUA e na Inglaterra começaram a pipocar bandas que tocavam em botecos e resgatavam a selvageria roqueira. Dentre elas, uma começava a se destacar no cenário norte-americano: RAMONES.
Em 1974, três rapazes maltrapilhos, vindos do subúrbio de New York, fãs de BEATLES e BEACH BOYS, faziam um som rápido e tão brutal quanto o pessoal da cidade de Detroit - terra dos "anjinhos" Alice Cooper e MC5. Todos os integrantes da banda adotaram o mesmo sobrenome, como se fizessem parte de uma grande irmandade. Afinal, eles não eram apenas mais um grupo de rock. Eles eram os RAMONES.
O nome do conjunto - e sobrenome adotado por todos que passaram pela banda - surgiu de um pseudônimo (Phil Ramone) que Paul McCartney usava nos hotéis em que se hospedava quando os BEATLES ainda se chamavam SILVER BEATLES. A primeira formação contava com Jeffrey Hyman (bateria), John Cummings (guitarra) e Douglas Colvin (baixo e vocal).
Como uma família de desenho animado, assumiram os nomes artísticos de Joey, Johnny e Dee Dee Ramone, respectivamente. Com a entrada do baterista Tommy Ramone (Tom Erdelyi), Joey ficou encarregado dos vocais. Ainda em 1974, fizeram alguns shows desastrosos e dois anos depois a gravadora independente Sire Records lançou o álbum "Ramones", o 1º disco do quarteto.
Na capa, a banda trajava jeans rasgados e jaquetas de couro. Nas letras havia simplicidade e ironia acompanhadas por um instrumental básico. Como dizia um dos primeiros releases distribuídos pela banda: "Três acordes e quatro jaquetas de couro". A áurea mística do rock de garagem estava de volta graças aos RAMONES e seu som bateu forte nos ouvidos dos eternos rivais ingleses.
Pais do Punk
Na Inglaterra, o punk rock se infiltrou na neblina de Londres e produziu os desaforados SEX PISTOLS e os engajados THE CLASH. O esperto Malcolm McLaren, proprietário de uma butique chamada Sex, e a produtora de moda Viviane Westwood, basearam-se no visual de bandas norte-americanas como NEW YORK DOLLS e RAMONES, para "inventar" o SEX PISTOLS e toda a estética punk.
Em pouco tempo, o Reino Unido virou a meca do punk e a mídia inglesa tentou transformar a Inglaterra no berço do movimento. Mas fatores como o ano de estreia fonográfica dos RAMONES (1976) e a nítida influência que eles provocaram na garotada britânica depois da primeira turnê em terras inglesas - dois shows por lá em 1976 contaram com a presença dos pré-ilustres Sid Vicious, THE DAMNED, THE CLASH, entre outros - não deixaram dúvida: o punk rock começou com os RAMONES.
Mesmo assim, uma parcela do público roqueiro ainda achava a banda muito estranha, sobretudo as rádios que insistiam em ignora-la. Mas o sucesso foi inevitável.
"Blitzkrieg Bop"
Em 1977 detonaram mais uma obra-prima, o disco "Leave Home" (2º álbum). O disco é ótimo e mantém o nível do primeiro trabalho, mas nem tudo era perfeito. Dee Dee se viciou em heroína e cocaína e quando não estava tocando, ficava chapado pelos cantos.
"Pinhead"
Apesar dos problemas internos, no mesmo ano os RAMONES lançaram a obra-prima "Rocket to Russia" (3º álbum). O disco ganhou críticas elogiosas e chegou ao 6º lugar numa votação promovida pelo jornal norte-americano Village Voice.
Ao vivo, "Surfin' Bird" (uma regravação de um clássico do grupo protopunk TRASHMEN) e "Sheena is a Punk Rocker" viraram canções obrigatórias.
"Sheena is a Punk Rocker"
Durante a festa de Ano Novo de 1977/78, fizeram um show no Rainbow Theatre em Londres, que acabou virando o disco "It's Alive", lançado apenas em 1979.
"Now I Wanna Sniff Some Glue"
No final de 1978, a banda sofreu a primeira baixa depois da fama com o baterista Tommy abandonando a família Ramone. O batera saiu amigavelmente e foi se dedicar à produção de discos, inclusive alguns dos próprios RAMONES. Para substituir Tommy, Johnny chamou o seu amigo Marc Bell, do grupo Richard Hell & THE VOIDOIDS. O baterista adotou o sobrenome (óbvio!) e virou Marky Ramone.
Menos de 01 mês depois estava com os "irmãos" gravando o álbum "Road to Ruin" (4º disco). A troca de baterista não afetou o som do grupo. Ao contrário, "Road to Ruin" é um disco ótimo.
"I Just Want to Have Something to Do"
No mesmo ano, aproveitaram a popularidade e fizeram Rock'n'Roll High School, um filme B produzido pelo diretor Roger Corman (A Pequena Loja dos Horrores, de 1960). O filme é uma comédia tipicamente americana, na qual os RAMONES interpretam alunos indisciplinados e retardados.
Em 1979, SEX PISTOLS já tinha acabado, THE CLASH havia se enveredado por caminhos experimentais e os RAMONES estavam desanimados. Já tinham lançado 04 discos de estúdio e 01 ao vivo e parte da crítica e público ainda os acusavam de falta de criatividade.
Estranhos no Ninho
RAMONES chegaram aos anos 80 buscando uma sonoridade diferente. Bandas como DEAD KENNEDYS e BLACK FLAG estavam chamando a atenção e os RAMONES se sentiam ultrapassados.
Para sair do marasmo, resolveram realizar um sonho: chamaram o lendário produtor Phil Spector (BEATLES e ROLLING STONES) parar trabalhar com eles no disco seguinte. Spector impôs tanto perfeccionismo às gravações que chegou a irritar Johnny, acostumado a gravar sua guitarra com poucas sessões de estúdio (o primeiro disco foi gravado em 18 horas).
O álbum "End of The Century" (5º disco) saiu com poucas mudanças, porém acrescido de novos timbres e de uma gravação límpida como em nenhum trabalho anterior. As vendas foram surpreendentes, porém, enquanto os RAMONES experimentavam o sucesso, problemas internos se agravaram com Dee Dee pirando nas drogas e Johnny descontente com os novos rumos da banda.
"Rock 'n' Roll High School"
O disco "Pleasant Dreams" saiu em 1981 (6º álbum) e foi gravado num clima tenso. Dessa vez, a sonoridade pop estava mais explícita, agravando mais a insatisfação de Johnny. Mesmo assim, a canção "The KKK Took My Baby Away" virou uma das prediletas dos fãs, com uma letra sarcástica que envolvia a imbecil Ku Klux Klan, enquanto a música "We Want The Airwaves" soltava a raiva do grupo sobre as rádios gringas que temiam tocar RAMONES.
"The KKK Took My Baby Away"
Eles resgataram a sonoridade sujona após um intervalo de 02 anos, quando lançaram o álbum "Subterranean Jungle" (7º disco, 1983). A obra-prima da vez foi a canção "Psycho Therapy", seguida de um videoclipe que mostrava Joey fazendo papel de louco numa clínica, com direito a avental e tudo no melhor estilo do filme Um Estranho No Ninho.
Mais problemas internos: Marky Ramone estava mergulhado no álcool, atrapalhando o seu desempenho na banda. Para completar, Marky aparece na capa do disco numa foto longe dos companheiros, o que já indicava que a saída do baterista era iminente.
"Psycho Therapy"
Em 1984, a banda lançou o álbum "Too Tough to Die" (8º disco), um disco que beira o heavy com o batera Richie Ramone (Richard Beau) no lugar de Marky. Canções ensandecidas como "Wart Hog" colocaram os RAMONES à frente do cenário heavy-punk.
"Wart Hog"
Mantendo essa linha, ainda detonaram mais 02 petardos: "Animal Boy" (9º disco, 1986) e "Halfway to Sanity" (10º disco, 1987). Nesse ano, saíram numa turnê que incluiu, pela primeira de muitas vezes, o Brasil na rota.
"Somebody Put Something in My Drink"
"I Wanna Live"
Rap Ramone
RAMONES ficaram 02 anos sem gravar e nesse período a banda enfrentou uma das fases mais difíceis. Enquanto a gravadora lançou uma coletânea, "Ramones Mania", Richie saiu da banda para se casar. Para o seu lugar voltou Marky - sóbrio e cheio de vontade de tocar.
Em 1989 lançaram o álbum "Brain Drain" (11º disco), um dos maiores sucessos da banda. Os problemas com drogas de Dee Dee chegaram ao limite e o baixista abandonou a "família" para se tornar artista de hip-hop. Ele cortou o cabelo, mudou o nome para Dee Dee King e saiu pelas ruas ouvindo rap num gravador. Os companheiros da banda só conseguiam pensar numa explicação: o cara tinha pirado de vez.
O grupo ficou um longo período sem produzir e nesse meio tempo a gravadora lançou mais 02 coletâneas, "All The Stuff and More Vols. I e II". Para o lugar de Dee Dee foi convocado CJ Ramone (Christopher Ward).
"I Believe in Miracles"
Locos Hermanos
Em 1991, a banda foi homenageada no tributo "Gabba Gabba Hey", com BAD RELIGION, L7, entre outros, coverizando os clássicos ramônicos. Voltaram à America Latina e sentiram o sucesso junto aos fãs brasileiros e argentinos, incluindo de vez estes países na rota das turnês. No mesmo ano, gravaram o segundo disco ao vivo "Loco Live".
"Pet Sematary"
Seguiram-se outros shows pela América Latina. No Brasil e Argentina estabeleceu-se a Ramonesmania quase no mesmo estilo da Beatlemania, com legiões de fãs seguindo a banda por todo canto. Em 1992, o grupo lançou o disco "Mondo Bizarro" (12º álbum), disco de ouro no Brasil.
"Poison Heart"
Adios Amigos
Em 1993 foi lançado o álbum "Acid Eaters" (13º disco), um tributo a vários artistas que eles gostavam como Bob Dylan e JEFFERSON AIRPLANE.
"My Back Pages"
Em 1995 o grupo avisou que estava se separando. Como presente para os fãs, gravaram o álbum "Adios Amigos" (14º disco). Em 1996, a banda anunciou shows de despedida que incluem o Brasil e um espetáculo antológico na Argentina com a participação de Iggy Pop. Desde então, foram lançadas apenas os discos "Greatest Hits Live" e "We're Outta Here" com os últimos shows do grupo.
Recentemente saiu a coletânea "Ramones Anthology". Após a separação, cada Ramone foi para um lado: Marky e CJ decidiram-se pela carreira solo, Joey desenvolveu projetos paralelos e Johnny passou o tempo vendo filmes de terror.
"I Don't Wanna Grow Up"
No final dos anos 90 descobriu-se que Joey tem leucemia. Em 1999 a banda fez uma apresentação beneficente em New York a fim de juntar fundos para uma casa que cuida de crianças com a doença e no começo deste ano realizaram um show surpresa no mitológico CBGB.
No Brasil, os fãs preparam um tributo, ainda para 2000, só com bandas nacionais. Por enquanto, ninguém sabe afirmar se os RAMONES vão um dia voltar a tocar juntos. O que se sabe é que, ao contrário dos 03 minutos da maioria das suas canções, a história do grupo dentro do rock'n roll vai durar para sempre.
Gabba Gabba Hey!