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  • by Brunelson

Revista Graphic Book: matéria de capa sobre o Nirvana nos anos 2000


Nirvana

Segue a reportagem na íntegra sobre o NIRVANA que havia sido matéria de capa da revista brasileira Graphic Book (Ano 2 - nº 20, foto). Não consegui identificar exatamente o ano de lançamento, mas creio que deve ser no máximo até meados dos anos 2000.


Com o benefício do retrospecto, o site rockinthehead apontou alguns detalhes e corrigiu outros, para que a história da banda transparecesse sincera aos fatos.


Confira:



O mundo hoje não tem mais Kurt Cobain.


Há alguns anos, o mundo perdeu não só um grande músico, mas o criador de todo um movimento. Kurt e o NIRVANA criaram não só um novo tipo de som, mas um novo estilo e uma nova atitude na música. O rock estava carente de novidades e o NIRVANA surgiu para acabar com a mesmice que imperava. Com suas atitudes únicas e despretensiosas, a banda colocou Seattle no mapa da música mundial e trouxe o grunge ao topo de qualquer parada, em qualquer país.


De nada adiantava tentar fazer algo diferente. No início dos anos 90, era preciso ser sujo e era preciso ser grunge. Quebrar instrumentos no palco, tocar músicas simples, pesadas e nem um pouquinho trabalhadas, virou palavra de ordem no meio rocker, sendo que até a moda mudou. Blusas de flanela, camisas velhas, calças rasgadas... Valia de tudo para se aproximar ao visual do pessoal de Seattle.


Infelizmente, NIRVANA - e principalmente Kurt - se afundou no próprio sucesso. As drogas começaram a fazer parte cada vez mais constante na vida de Kurt, que acabou se suicidando. O movimento grunge morreu junto com seu criador, mas a herança deixada por ele está aí até hoje e nunca vai morrer. Porque uma coisa não pode ser negada: NIRVANA foi a banda mais importante dos anos 90, apenas porque teve a coragem de inovar e de mostrar atitude.


Confira algumas das principais frases que a revista Graphic Book selecionou e que foram ditas ao longo dos anos pelos membros do NIRVANA: Kurt Cobain (vocalista/guitarrista), Krist Novoselic (baixista) e Dave Grohl (baterista):


Kurt Cobain: "Nós temos 100% de controle sobre a nossa música. O que faz um disco ficar bom são as canções e se não conseguirmos grava-las do jeito que queremos, NIRVANA não lança o disco".


Kurt Cobain: "Todas as drogas são perda de tempo. Elas destroem sua memória e seu respeito, e tudo mais que vem com a sua auto-estima... Eu descobri que elas são uma perda de tempo".


Dave Grohl: "Eu não gosto de pessoas fazendo as coisas para mim. Eu não gosto de gente indo comprar comida para mim e não gosto de ligar para o serviço de quarto do hotel para pedir que me tragam cigarros... Isso simplesmente não é normal".


Krist Novoselic: "Lembrem-se de Kurt pelo o que ele era: carinhoso, generoso e meigo. Vamos guardar a música conosco. Isso nós sempre iremos ter".


Kurt Cobain: "Eu não posso dizer o quanto meu comportamento mudou desde que a minha filha nasceu. Eu não quero a minha filha crescendo com as pessoas falando que os seus pais são viciados".


Kurt Cobain: "Eu esperava que o disco 'Nevermind' fosse vender legal nas primeiras 02 semanas e só. Quando percebi que estávamos na MTV, eu suspeitei que venderia bem mais".


Krist Novoselic: "Eu não quero ser nenhum herói do rock. Eu não quero ser o cara com a mensagem certa para tudo, não tenho cabeça para isso. Eu apenas toco baixo numa banda".


Dave Grohl: "Se o nosso sucesso valeu alguma coisa, foi para nos ensinar humildade e percebermos que somos tão normais e fodidos como qualquer um".


UM SUCESSO REPENTINO


Kurt Donald Cobain nasceu em 1967, na pequena cidade de Aberdeen, próxima de Seattle. Viveu uma infância difícil, seus pais se divorciaram quando ele era criança e sua mãe o expulsou de casa quando era adolescente. Anos depois, Kurt se mudou para Seattle - uma cidade maior - o que significava melhores oportunidades.


Antes disso, mas já morando sozinho, Kurt começou então a frequentar o circuito underground das cidades de Aberdeen e Olympia, conhecendo muita gente envolvida no ramo da música. Um desses amigos foi Krist Novoselic, um croata que morava na cidade. Kurt e Krist formam uma banda, mas nada muito sério. Tocavam em qualquer lugar apenas para ganhar uns trocados. Os dois mudaram de baterista muitas vezes e nem sequer sonhavam com o sucesso. Tudo o que queriam era tocar para se divertir, beber e batalhar um dinheirinho.


Acontece que o som deles foi melhorando e começaram a chamar atenção. Nesta época, a banda ainda contava com Chad Channing na bateria. Após algum tempo tocando juntos, surgiu o convite para gravarem um disco pela pequena gravadora Sub Pop. Era um selo baseado em Seattle que lançava apenas material underground da cidade. Entre as bandas que foram lançadas pela gravadora, estão o MUDHONEY e SOUNDGARDEN.


Então, NIRVANA gravou o álbum "Bleach", seu 1º disco em 1989. Na época não vendeu praticamente nada (referente ao mainstream, pois no underground a banda estava ficando conhecida).


Seria em 1991 que ocorreria a grande mudança. Já com Dave Grohl na bateria, foi lançado nesse ano o álbum "Nevermind", o 2º disco da banda. Seria apenas mais um disco, mas de repente a música "Smells Like Teen Spirit" estourou no país inteiro e tocava diariamente na MTV.


Resultado: mais de 10 milhões de cópias vendidas mundialmente e o NIRVANA é transformado repentinamente na banda mais famosa do momento.


A venda do álbum surpreendeu a todos, principalmente a própria banda que não esperava fazer tanto sucesso, quanto mais de maneira tão rápida. Só para comparação, NIRVANA desbancou da lista dos mais vendidos os dois volumes de "Use Your Illusion" do GUNS N'ROSES, um disco que estava sendo esperado há anos pelos fãs. Foi realmente um fenômeno, que abalou emocionalmente os membros da banda, principalmente Kurt Cobain.


OS PAIS DO GRUNGE


Com o sucesso avassalador que fazia o NIRVANA, a imprensa mundial resolveu voltar as atenções para a cena de Seattle. De uma hora para outra, bastava para uma banda ser de Seattle que era certeza de que iria chamar a atenção. Uma série delas acabaram fazendo sucesso devido à atenção despertada pelo NIRVANA, como alguns bons exemplos: SOUNDGARDEN, que era uma banda com vários anos de estrada, mas que só estourou mesmo depois do lançamento do disco "Nevermind"; PEARL JAM, que chamou muito a atenção no seu disco de estreia; ALICE IN CHAINS, MUDHONEY, SCREAMING TREES e até bandas que já haviam terminado, como o MOTHER LOVE BONE, tiveram discos relançados para aproveitar a "moda Seattle".


Aliás, inventou-se até um nome para o tipo de som que o NIRVANA e a turma de Seattle faziam: era o grunge.


Até hoje não foi muito bem explicado o que isso significa, mas a definição era bem simples. Grunge era um som sujo, forte, com guitarras rápidas e pesadas, sem nenhuma preocupação com vocais melódicos e virtuosismo instrumental. Som de garagem mesmo! Bandas de toda a parte do mundo começaram a tocar grunge, a mais nova tendência musical.


Acabou-se criando uma escola, pois as bandas que estavam começando na época foram muito influenciadas por esse som mais sujo. Era uma música relativamente fácil de fazer, pois dispensava grandes trabalhos musicais e arranjos muito elaborados (não para todos os grupos, os que flertavam com o heavy metal demonstraram muita técnica).


O importante simplesmente é que fosse pesado e alto, muito alto! E claro, o visual e principalmente a atitude importava muito - nada de coisas muito certinhas. Se você queria ser grunge de verdade, o seu comportamento deveria ser tão sujo quanto o seu som. Kurt Cobain ficou famoso por destruir tudo no palco durante o show, desde os instrumentos (não só o dele, mas o do resto da banda também), como amplificadores e o que mais estivesse disponível.


E não era só o estilo musical que influenciava o mundo, não. Também o guarda-roupa do pessoal de Seattle era clonado em nível mundial. Cabelos compridos, mas sujos e desalinhados. Bermudões, botinhas no estilo coturno ou tênis de skate, camisas velhas (de preferência com alguma banda de Seattle estampada) e o item principal da coleção grunge: uma blusa xadrez de flanela.


Seattle é uma cidade fria onde chove muito. Uma blusa de flanela é um agasalho barato e consumido avidamente pelos roqueiros da região. Acontece que fãs do mundo todo adotaram esse mesmo estilo e não importava o tempo que estivesse fazendo, se chovia ou fazia sol, lá estava a galera com a sua blusa de flanela. No Brasil era até engraçado ver aquele monte de gente agasalhada em pleno verão. Tudo pelo estilo...


DESTRUINDO TUDO AO VIVO


No auge de seu sucesso, no final de 1991 e início de 1992, a banda já não fazia shows em qualquer lugar.


Aparições na televisão eram constantes, os clipes já acumulavam prêmios e o álbum "Nevermind" vendia como nunca. NIRVANA já deixava de ser a sensação do momento para se tornar idolatrado em escala mundial, alcançando um sucesso com o qual nenhum dos 03 integrantes da banda sonhava.


A bem da verdade, nunca ficou muito claro se algum dia os três quiseram tal sucesso...


Boa parte dessa popularidade foi alcançada graças às apresentações ao vivo da banda. Fosse em alguma pocilga de Seattle, fosse em um ginásio lotado na Europa, em algum prêmio da MTV ou qualquer outro programa de TV, NIRVANA sempre arrebentava - literalmente. As performances de Kurt e seus companheiros ficaram famosas mundialmente. Sim, quebrar guitarras no palco muita gente já quebrou - Jimi Hendrix, Pete Townshend (guitarrista do THE WHO), Paul Stanley (vocalista/guitarrista do KISS) - isso não é novidade.


Acontece que Kurt fazia dessa "tradicional" quebra um verdadeiro ato circense, parecia que realmente fazia parte do espetáculo - e para Kurt fazia. Tanto que ele quebrava não só as guitarras, mas todo o equipamento. Bateria, amplificadores, caixas de som, microfone... Tudo era alvo para Kurt descarregar a sua fúria. Ele pulava sobre a guitarra, se jogava na bateria (certa vez deslocou o ombro em uma dessas acrobacias). Não importa em que local a banda estivesse se apresentando ou quantas músicas iria tocar. Sempre, mas sempre mesmo, Kurt destruía o que estivesse dividindo o palco com ele.


Mas não pensem que Dave e Krist assistiam passivamente ao massacre de equipamentos. Era só Kurt dar a primeira pancada em sua guitarra, que seus dois fiéis escudeiros já corriam em seu auxílio. Também não havia muita alternativa, pois o show agora era aquele, com a plateia delirando a cada porrada que era desferida sobre os pobres amplificadores. Música, nem pensar...


Mesmo se a dupla quisesse tocar mais alguma coisa, não haveria equipamento disponível. Estava tudo destruído ou em processo de ser quebrado pelo quase maníaco Kurt. Sem nenhuma outra opção, Krist e Dave também saíam distribuindo suas bordoadas no equipamento. Krist quebrava o seu baixo e Dave se encarregava de acabar com o que sobrava de sua bateria - depois de Kurt mergulhar em cima dela.


Pode parecer doentio, mas os fãs adoravam e lotavam cada vez mais os shows, sempre esperando o momento crucial do quebra-quebra. Isso era grunge de verdade.


A UNIÃO FAZ A FORÇA


O ano de 1992 não tinha nem terminado e o maior comentário entre os jovens era um só: o show do NIRVANA que aconteceria em janeiro de 1993. Era época do Hollywood Rock Festival no Brasil e o grunge dominava o país. Por onde fosse, era quase impossível não topar com alguém, principalmente adolescentes, vestindo uma blusa de flanela e uma camisa de alguma banda de Seattle.


E a camisa que mais se via era a do NIRVANA.


Aproveitando as incríveis vendas que o disco "Nevermind" alcançava no Brasil e embarcando totalmente na onda do grunge, a organização do Hollywood Rock Festival preparou o festival dos sonhos para a molecada grunge.


As atrações principais eram o ALICE IN CHAINS, L7, RED HOT CHILI PEPPERS e o maior fenômeno grunge dos anos 90, NIRVANA. Os ingressos foram disputados a tapa. Na noite do show, o estádio do Morumbi em São Paulo estava lotado de blusas de flanela, todas esperando seu ídolo maior pisar no palco. Kurt já estava aprontando mil e uma em sua passagem pelo Brasil e todos estavam loucos pelo show.


Acontece que o NIRVANA já não era mais o mesmo. Kurt já estava casado com Courtney Love e se afundava cada vez mais nas drogas. A banda que nunca ligou para o sucesso parecia que também não ligava para a vida. Kurt já começava descer a ladeira...


Quando os 03 subiram no palco do Morumbi, tinham status de celebridades e eram tratados como o maior nome do rock naqueles dias. Musicalmente o que se viu foi de uma nulidade impressionante. Kurt, visivelmente chapado com alguma coisa muito forte, mal conseguia cantar e errava praticamente todas as notas. Krist só dava risada e não se esforçava nem um pouco para corrigir as barbaridades musicais que o companheiro estava cometendo. O único que parecia um pouco mais interessado em tocar alguma coisa era Dave Grohl, que espancava furiosamente a sua bateria. A banda chegou até a chamar Flea, baixista do RED HOT CHILI PEPPERS, para fazer um solo de trompete durante a canção "Smells Like Teen Spirit" (single do disco "Nevermind"), mas o cúmulo foi quando a banda resolveu trocar de posições.


Kurt foi tocar bateria, Dave pegou o baixo e Krist a guitarra. Então, a banda resolveu assassinar uma série de músicas como "Should I Stay or Should I Go" do THE CLASH. Simplesmente horrível. O resultado não podia ser outro - lá pelo meio do show, muita gente já tinha deixado o local.


Foi então que Kurt resolveu começar o que todos esperavam, a destruição sistemática do equipamento. Pobres guitarras e amplificadores. Não sobrou nada intacto perante a fúria do quase insano Cobain. Não teve bis e nem dava com o equipamento destruído. Teve gente que adorou o show, venerando a "atitude grunge" de Kurt, mas musicalmente falando, a banda já começava a fazer a curva descendente que culminaria com o suicídio de Kurt Cobain.


O Brasil assistiu ao início do fim...

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