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  • by Brunelson

Grunge: a partir do gênero, como foi e para onde irá a história do rock?


Grunge

1991: o ano em que o grunge foi abraçado pelo mainstream. A música do NIRVANA, "Smells Like Teen Spirit", foi lançada como single em Setembro e tudo mudou. Um manifesto para a juventude insatisfeita da era do presidente Reagan.


2018: A música rock ainda está em estado de remissão e está vaga já faz muitos anos. Todos anseiam que os dias de glória do rock alternativo retornem e você ainda consegue alguns lançamentos sólidos de bandas como FOO FIGHTERS, PEARL JAM, STONE TEMPLE PILOTS, ALICE IN CHAINS, PROPHETS OF RAGE, QUEENS OF THE STONE AGE, RADIOHEAD, SMASHING PUMPKINS, TOOL, RED HOT CHILI PEPPERS, JACK WHITE, WEEZER e de outros gêneros também...


Lembrando que há muitas bandas underground de qualidade que nunca dão esse salto para fora do burburinho independente, apesar de termos algumas novas bandas sólidas no mainstream, como ROYAL BLOOD e HIGHLY SUSPECT. No entanto, parece que eles nunca irão chegar ao ápice de suas carreiras lançando discos de impacto como "Ten" (1º álbum do PEARL JAM, 1991), "Superunknown" (4º álbum do SOUNDGARDEN, 1994), "Dirt" (3º trabalho de estúdio do ALICE IN CHAINS, 1992) ou "Nevermind" (2º álbum do NIRVANA, 1991).


Algo aconteceu ao longo do caminho que colocou um limite na música rock. Tivemos alguns pequenos movimentos ao longo do caminho - new metal e bandas garage rock que ficaram em evidência no início do ano 2000, como LINKIN PARK, SYSTEM OF A DOWN, WHITE STRIPES e THE STROKES, apenas para citar algumas - mas parece que a cena rock está morta como um prego na parede aos olhos do público. Ele está lá, pequeno e visível para todo mundo ver, mas...


Nós não experimentamos mais um momento na veia como foi do rockabilly (anos 50), da invasão britânica (anos 60), o hard rock (final dos anos 60 para 70), punk rock (final dos anos 70), hardcore e heavy metal (anos 80, ok, muitas no underground, sabemos do glam metal) ou o movimento grunge (anos 90).


Aquela 1ª metade dos anos 90 foi legítima para aqueles que viveram essa época, com bandas que fizeram tanto barulho quanto podiam e que trouxeram de carona novamente a evidência do punk rock e de bandas mais obscuras - antes de se definharem a partir da morte de Kurt Cobain.


Nos anos seguintes, tivemos um eco repugnantemente oco do movimento grunge na mania das bandas pós-grunge que surgiram, uma cena que fez uma ridícula zombaria de si mesma. Grupos novos surgindo na 2ª metade dos anos 90 que eram nada consciente de suas atitudes clichês, que fez com que muitos adolescentes que não viveram o grunge olhassem para aquilo como os 02 lados de uma mesma moeda: alguns acreditando erradamente ser uma continuação legítima do grunge, ou então, outros não curtindo aquelas bandas e acreditando que aquilo também era grunge, generalizando e empacotando tudo no mesmo saco junto com as lendárias bandas do início dos anos 90.


As rádios alternativas estavam carentes de algo novo...


Grunge nunca foi um gênero de música, ele abraçou inúmeros gêneros musicais. Era uma palavra de ordem usada por grupos de pesquisa de mercado para vender produtos a jovens descontentes, uma forma de divulgar bandas de punk rock, hard rock e heavy metal que cresceram juntos e igualmente escutando os discos do BLACK SABBATH dos seus pais, os discos do ABBA das suas mães e os discos dos BEATLES de ambos - pegou o mainstream tão de jeito, que lançou a moda grunge nas vitrines de lojas e em vídeo clipes com artistas pop usando flanelas. O termo se tornou tão sinônimo do início dos anos 90, que tentar dizer como uma banda que você está revivendo o grunge, seria um desserviço à sua própria carreira futura comparando-se a um ato de tributo ao invés de ser um pioneiro em si mesmo. Tudo bem ser grunge, mas não precisa reviver a época...


Muitas bandas jovens hoje gostam de se referir a si mesmas como grunge ou que estão tentando trazer de volta o grunge. Abraçando outros gêneros, muitas parecem querer o sucesso, mas não caminham em plena medida. Muitas dessas bandas são músicos talentosos e técnicos, mas faltam canções com ganchos discerníveis com sentimentos que chamariam a atenção. Eu ouço muitas bandas jovens argumentando sobre a integridade artística e o medo de se vender. Muitas vezes, se for sugerir uma maneira de ajudá-las a obter atenção na internet, há uma reação contra em receber "inúmeras visualizações que não seria o jeito certo de ganhar atenção".


É passível de entender... Visualizações você clica e depois descarta, que nem um papel jogado numa lixeira. Diferente daquela velha propaganda de boca a boca e que faz você se levantar da cadeira e ir pessoalmente ao show de uma banda para verificar. Ganhamos conhecimento sentado, clicando e olhando para uma tela quadrada, sim! Mas também ganhamos lotes de acomodação ao alcance de 01 clique...


Muitas pessoas afirmam que qualquer outro grande movimento do rock nunca acontecerá de novo, devido à fragmentação do público musical na internet. Também acho... Assim como IGGY POP disse há poucos anos atrás, as músicas nessa era cibernética são de 10 segundos. O usuário (antigamente era ouvinte) clica e pensa: "Ah, boa música" e já vai passando a música para frente, ou então, já acha uma porcaria sem deixar a canção expor o seu discurso e vai passando o cursor para frente para escutar outras partes, pulando (sendo otimista) para outra música. Ou como ele também disse, canções para propagandas e vinhetas que são expostas em sua mini-execução.


Foi-se o tempo de respeito à música. O respeito em si própria, abrindo portas subjetivas e discernimentos inconscientes ao sujeito na sua íntegra. Do artista se despindo em alma ao lançar o disco, do tempo gasto e doando tudo de si apresentando também uma obra física, que para muita gente vira 01 foto de estampa no youtube, sem valorizar o produto em ambos os sentidos. De escutar um disco pela 1ª canção e encerrar a audição somente na última música do mesmo, é raro acontecer. Muita gente não consegue entender... É fragmentado hoje em dia.


E sendo justo e olhando o outro lado, não é uma coisa horrível assinar com uma grande gravadora. Não precisa corromper a sua integridade, índole e sinceridade, mas o que acontece em muitas bandas neste século atual, é que não parece algo como vindo de uma cultura e arte, e sim, um produto.


É uma linha tênue, mas lembremos que o ódio ao sucesso financeiro nunca foi um componente da cena grunge. Novamente, o sucesso financeiro não foi a meta, e sim, consequência.


O mito de que Kurt Cobain odiava o sucesso é sempre ressaltado pelo fato de que ele especificamente teve conversas com a sua gravadora, Geffen Records, sobre fazer do NIRVANA a maior banda do mundo - ele usou dos seus ingredientes comerciais na música “About a Girl”, lançada no 1º disco em 1989, "Bleach", e aplicou a cada canção lançada em seu 2º álbum em 1991, "Nevermind".


Pegue a entrevista da revista Rolling Stone em 1993, onde o próprio Kurt quebra a mitologia em torno do sujeito: "Chorão, queixoso, neurótico e mal-intencionado que odeia tudo, odeia o estrelato do rock, odeio a minha vida…", dizendo: "Nunca estive num momento tão feliz na minha vida como agora".


Apesar do fracasso nas vendas de discos atualmente, não importa se a internet tornou fragmentado o público consumidor de música. Tudo o que precisamos é de um único fã de rock com talento, especial para a sensibilidade em compor melodias e composições cativantes fora do artificialismo mecanizado, fora da plastificação e da procura primária e somente pelo sucesso. Só precisamos de alguém que traga o rock de volta à vanguarda e volte a inspirar outras bandas a alcançar o mesmo.


Era comum os artistas ressaltarem em entrevistas, que a história do rock sempre teve os seus verdadeiros e chamativos picos de 10 em 10 anos... Acho que a conta hoje precisa multiplicar por 03.

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