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  • by Brunelson

Nirvana: detalhes sobre o disco “In Utero” e última música gravada em estúdio

Em 2002, a revista Rolling Stone havia lançado uma matéria falando sobre o último álbum de estúdio do NIRVANA, “In Utero”, e da última sessão em estúdio onde gravaram a inédita música “You Know You’re Right”. Esta reportagem foi descrita em forma retrospectiva e atual.


Seguem alguns trechos:


A batalha no estúdio (reportagem de Junho/1993)


O fato do NIRVANA saber como o disco “In Utero” deveria soar (4º e último trabalho de estúdio, 1993) não impediu que a gravação fosse regida por conflitos burocráticos, assim como reportou o jornalista Fred Goodman em Junho/1993.


Ah..., trabalhar sob o manto da obscuridade! 02 anos depois do clássico álbum “Nevermind” tê-los transformado em deuses do grunge (2º disco, 1991), os membros do NIRVANA se encontram lutando pelo status de grupo alternativo e negando as alegações de que tenha se rendido à pressão da gravadora e dos empresários para dar uma cara mais comercial a “Nevermind”.


Já a tempestade que cercou o último álbum da banda, havia começado quando o produtor alternativo/hardcore, Steve Albini – que já trabalhou com PIXIES, HELMET, SUPERCHUNK, PJ HARVEY e que veio a produzir “In Utero” – havia declarado ao jornal Chicago Tribune ter duvidado que a gravadora da qual o NIRVANA faz parte, Geffen Records, lançaria o álbum.


Albini havia dito: “A Geffen e os empresários da banda odiaram o disco, sendo que eu não tinha esperança nenhuma de que o álbum fosse lançado”.


Embora as observações de Albini não tenham despertado resposta imediata da gravadora e da banda, uma matéria publicada pela revista Newsweek o fez, com Kurt Cobain sendo obrigado a enviar um comunicado para a revista, dizendo: “Não houve pressão da nossa gravadora para que mudássemos as músicas que gravamos com Albini. Temos 100% de controle sobre a nossa música”.


Os produtores, Scott Litt (mais conhecido pelo trabalho feito com o R.E.M) e Andy Wallace (que mixou “Nevermind”), foram chamados para trabalhar nas canções gravadas, mas a banda, gravadora e os empresários, falaram que não foi feita nenhuma tentativa em querer amenizar a música do NIRVANA.


Gary Gersh, relações-públicas da Geffen Records e que foi a pessoa que trouxe a banda para a gravadora, falou: “É um monte de merda o que estão dizendo. Eles acharam que deveriam trabalhar um pouco mais nas músicas e concordei com eles... Achei que o som do álbum precisava de ajustes e pedimos a Steve Albini para fazê-los, mas ele se recusou. O panorama que Steve traça – de que um grande conglomerado corporativo aleijou o NIRVANA – simplesmente não é verdade. Kurt Cobain é como um filho para mim”.


Depois, Albini já estava soando mais conciliador: “Gostei de trabalhar no disco e admiro a banda. Desde o início, achei que eles deveriam simplesmente deixar claro o que queriam e fico feliz que tenham feito isso”. Embora os integrantes do NIRVANA não falem diretamente com a imprensa, eles parecem extraordinariamente preocupados com a cobertura que as afirmações de Albini geraram.


Uma cópia da carta enviada ao editor da Newsweek assinada por Cobain e os parceiros Dave Grohl e Krist Novoselic - repudiando o artigo - também circulou entre veículos da imprensa. Por que toda essa preocupação? Ao definir as canções que gravou com a banda como “radicais demais para o gosto da Geffen”, Albini pareceu ter colocado o NIRVANA sob os holofotes.


Apesar do enorme sucesso comercial de “Nevermind”, a banda continua sendo uma das figuras de mais credibilidade dentro da música alternativa, sendo que esse próximo disco, com certeza será minuciosamente examinado em busca de qualquer concessão comercial. Ainda mais com as declarações de Albini parecendo sugerir que qualquer mudança que a banda faça no material já gravado, será resultado da pressão supostamente feita pela gravadora e pelos empresários da banda. Albini falou: “Estou satisfeito em deixar que a banda fale por si própria”.



“In Utero” chega as lojas


Em Junho/1994 (02 meses depois do fim da banda), o jornalista Neil Strauss analisou os últimos passos de Kurt Cobain e descobriu os problemas por trás do lançamento do derradeiro álbum de estúdio do Nirvana.


Mesmo considerando que Kurt Cobain havia prometido não sair mais em turnês longas, a menos que pudesse manter as dores crônicas de estômago sob controle, o NIRVANA caiu na estrada para uma longa sequência de shows nos EUA e uma série de entrevistas, incluindo uma para a revista Rolling Stone em Outubro/1993. De acordo com algumas fontes, Cobain se desintoxicou do vício em heroína antes da turnê...


Em 08 de Janeiro/1994, o NIRVANA apresentou o que seria o último show em território americano - realizado na sua casa, Seattle. A banda passou as semanas seguintes relaxando na cidade.


Durante o período de pré-lançamento de “In Utero”, em uma atitude considerada pouco comum por muitos, Cobain autorizou a Geffen a fazer alterações no disco. Para chegar as grandes redes como Kmart e WalMart, que haviam rejeitado o álbum anteriormente, a gravadora decidiu remover da contracapa a colagem de modelos de fetos que Cobain havia feito.

A Geffen também mudou o título da música “Rape Me” para “Waif Me”, nome escolhido pelo próprio Cobain - de acordo com Ray Farrell, do departamento de vendas da gravadora. Farrell disse: “No começo, Kurt queria que ela se chamasse ‘Sexually Assault Me’ (Ataque-Me Sexualmente), mas mesmo assim iria dar o que falar... No fim, ele escolheu ‘Waif Me’, porque, assim como ‘rape’ (estupro), a palavra não define um gênero específico. ‘Waif’ (abandono) representa alguém à mercê de outra pessoa”.


A versão alterada foi também lançada em Singapura – único país onde “In Utero” havia sido banido.



A ressaca após o lançamento


Poucos meses antes do fim da banda em Abril/1994, no mês de Janeiro/1994, Cobain revelou ao jornalista David Fricke que já não aguentava mais explorar a velha e infalível receita para as suas músicas com: “Verso calmo, refrão explosivo”.


Seguem somente alguns trechos dessa entrevista:


David Fricke: As suas melhores músicas – “Smells Like Teen Spirit”, “Come as You Are”, “Rape Me”, “Pennyroyal Tea” – abrem com um verso mais calmo e então, vem o refrão no volume máximo. O que vem primeiro na sua cabeça, o verso ou o refrão?


Kurt Cobain: (Faz uma longa pausa e sorri) Não sei mesmo... Acho que faço o verso primeiro, mas estou ficando cansado dessa fórmula, sabe? E é realmente uma fórmula pronta... Não há muito o que eu possa fazer a respeito, porque dominamos esse processo enquanto banda, mas estamos cansados disso. É um estilo de dinâmica, mas só estou usando esses 02 tipos. Há muito mais que eu poderia usar, mas estamos trabalhado nessa fórmula por tanto tempo, essa coisa de ir do silêncio ao barulho, que está se tornando uma coisa chata para mim. É tipo: “Ok, eu tenho esse riff. Vou tocar baixinho com o som limpo e sem distorção enquanto canto. Depois, ligo a distorção e você toca a bateria com mais força”. Quero aprender um meio-termo, sabe? Ir e voltar de um jeito quase psicodélico no sentido de haver muito mais estrutura. É algo bem difícil de fazer e não sei se somos capazes como músicos.


David Fricke: Canções em “In Utero” como “Dumb” e “All Apologies”, demonstram que você quer atingir as pessoas sem apelar para a receita tradicional.


Kurt Cobain: Com certeza! Queria ter composto mais algumas músicas como essas. Colocar a canção “About a Girl” em nosso 1º álbum de estúdio, “Bleach” (1989), foi um risco, sabe? Naquela época, havia muita pressão dentro do underground – do mesmo tipo que você sofre quando está no colégio - e colocar uma música meio pop que lembrava um R.E.M desafinado em um disco grunge no meio de toda aquela cena, foi arriscado. Fracassamos em mostrar o lado mais calmo e mais dinâmico da banda, porque os garotos querem ouvir uma guitarra barulhenta, sabe? Também gostamos de tocar essas coisas, mas não sei até quando vou conseguir berrar e ficar me esgoelando todas as noites. Às vezes, queria ter seguido o mesmo caminho de BOB DYLAN e cantar músicas que não acabassem com a minha voz a cada show, assim poderia ter uma carreira longa se quisesse.



Musica além da vida


Em Outubro/2002, o biógrafo oficial de Kurt Cobain, Charles R. Cross, investigou como foi a sessão que gerou a inédita canção, “You Know You’re Right”, que foi a última gravação do NIRVANA em estúdio (Janeiro/1994) e lançada após a morte de Cobain


Courtney Love havia postado em seu site no mês de Setembro/2002: “A briga pelo NIRVANA acabou e vocês vão ter as gravações que queriam”. A disputa – que culminou com 02 anos de processos judiciais entre Courtney e os membros sobreviventes da banda, Krist Novoselic e Dave Grohl – terminou quando ambas as partes concordaram em lançar uma coletânea com os apanhados dos maiores sucessos do NIRVANA - e que leva o mesmo nome da banda.


Embora os autos do processo descrevam “centenas” de demos inéditas gravadas por Cobain ainda guardadas a 07 chaves, “You Know You’re Right” é uma das poucas canções finalizadas pelo grupo.


O produtor Adam Kasper (que produziu essa última sessão do NIRVANA em estúdio, onde mais tarde veio a produzir álbuns do PEARL JAM, FOO FIGHTERS e outros), havia dito: “É uma das melhores músicas deles, sabe? Está provavelmente entre as 10 melhores”.


A canção “You Know You’re Right” foi gravada em 30 de Janeiro/1994, 02 dias antes da banda deixar Seattle rumo a uma turnê de 03 meses pela Europa - e praticamente 02 meses antes da morte de Cobain. O NIRVANA havia alugado o estúdio por 03 dias, mas por causa dos problemas que tinha com as drogas, Cobain não compareceu nos 02 primeiros dias.


Grohl e Novoselic passaram esse tempo trabalhando nas músicas de Grohl, várias delas regravadas posteriormente para o 1º álbum do FOO FIGHTERS. Em 30 de Janeiro, Cobain apareceu e surpreendentemente de bom humor. Eles trabalharam em algumas músicas de Grohl e improvisaram em cima de alguns riffs de Novoselic. Adam Kasper relembra: “Eu acho que eles estavam tentando abrir mais o processo de composição”.


Depois de uma pausa para pizza, os membros da banda voltaram para o estúdio para o que seria a sessão final do NIRVANA. Cobain sugeriu uma música que havia tocado somente 01 vez...


O proprietário do estúdio, Robert Lang, também se recorda: “Kurt arrumou parte dos versos na última hora e ainda não tinha o título para a canção”. Após 02 tentativas, o grupo gravou o que seria a máster da música “You Know You’re Right”.


Novoselic explicou: “Kurt tinha o riff e nós o ‘nirvanizamos’”. Na sala de controle, Kasper e Lang ficaram embasbacados, com Lang dizendo: “Quando começaram a tocar, fiquei quase sem fala...”


Cobain gravou mais 04 tomadas do seu vocal e Kasper duplicou a trilha, enquanto Kurt ficava deitado no chão de mármore do estúdio. A única reclamação do vocalista naquele dia foi sobre as dores crônicas nas costas - ele disse que o chão duro às aliviava.


Talvez, a condição física dele tenha contribuído para a letra sugestiva, onde no verso ele diz: “Things have never been so swell” (“As coisas nunca estiveram tão inchadas”), fazendo par com um refrão gritando: “Pain!” (“Dor!”) em sua voz mais primitiva. Kasper lembrou: “Isso dizia muito e era típico de Kurt. Era como uma mensagem”.


Kurt Cobain nunca explicou o significado dessa letra e ninguém na sala ousou perguntar-lhe sobre o que era. A banda combinou com Lang de voltar ao estúdio depois da turnê europeia para terminar as músicas do que seria o 5º trabalho de estúdio do NIRVANA.


No fim da noite, o frontman gravou o último overdub para a guitarra e a canção “You Know You’re Right” estava pronta. A sessão havia terminado e Cobain simplesmente saiu pela porta do estúdio...


Confira o vídeo clipe da música "You Know You're Right":

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